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Escute seu cérebro e seu coração, diz Steve Wozniak, confudador da Apple

Steve Wozniak

Muitos mitos cercam os primeiros dias da Apple, companhia fundada em 1976 por Steve Jobs e Steve Wozniak que se tornou uma das mais valiosas do mundo. “Não acredite nos filmes”, disse Wozniak mais de uma vez em sua palestra na HSM Expo, evento em São Paulo.

É certeira, no entanto, a divisão de papeis e personalidade dos dois, que foram melhores amigos por anos. “Jobs era um vendedor nato e sempre quis ser fundador de uma companhia com dinheiro. Era seu objetivo na vida. Eu só quero estar num laboratório inventando e programando minhas coisas.”

Apesar de ser um funcionário honorário da Apple até hoje, ele deixou a empresa em 1981, desiludido com o jeito que os negócios eram tocados – um lado que nunca o interessou. Wozniak é, acima de tudo, um empreendedor. “Empreendedores são as pessoas que têm ideias e querem criá-las e mostrá-las para a sociedade”, resumiu.

Nos anos 1970, quando estudava engenharia na UC Berkeley, na Califórnia, ele se interessou pela mudanças ao seu redor, tanto culturais quanto tecnológicas. “Tínhamos o microprocessador e uma revolução social acontecendo e eu sabia que dali viriam melhorias na educação, na comunicação”, contou. “Então fui para casa, construí um computador em algumas semanas e comecei a circular meus designs de graça e ajudar outros a construírem seus computadores. Eu queria que as pessoas tivessem a motivação.”

O design tinha sido rejeitado pela HP, onde Wozniak trabalhava, cinco vezes. Steve Jobs disse apenas: “Deveríamos começar nossa empresa”. Era o Apple I. “Eu fiz aquilo por diversão”, riu Wozniak, sempre jovial.

O Apple II, primeiro grande hit e vendido às dezenas de milhares, veio um ano depois. Entre 1977 e 1980, ano em que se tornou uma empresa de capital aberto, a receita anual da Apple subiu de US$ 774 mil para US$ 118 milhões.

A invenção mais importante da Apple

Questionado sobre a criação da Apple que mudou sua vida, Wozniak responde rapidamente: “Foram os aplicativos terceirizados”. As fases iniciais de desenvolvimento do iPhone, lançado em 2007, não previam esse tipo de coisa. Com o lançamento da Appstore, no entanto, a empresa resolveu apostar na economia colaborativa e abrir a possibilidade de que outras pessoas desenvolvessem aplicações para o smartphone. 

“Daí surgiram coisas que nunca poderíamos ter imaginado”, empolga-se ele, que até hoje desmonta, remonta e conecta sistemas eletrônicos para se divertir. “A Siri foi um app terceirizado e eu achei, no começo, que era só para chamar um táxi! Não entendi – e depois me impressionei.”

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Inteligência artificial é um ponto de muito interesse para ele. Machine learning, que está por trás de invenções como a Siri, é um aspecto desse universo. “Pode ser algo muito útil: aqui está algo que conhecemos e eu quero que a máquina faça isso melhor”, fala. “Quero viver num mundo humano e ter uma máquina que me entenda.”

Seja jogar xadrez melhor que um campeão mundial ou dirigir sem um motorista, o processo de machine learning é algo que o empolga. E o desenvolvimento desse futuro segue totalmente em mãos humanas. “São as pessoas que decidem que tarefa o computador deveria executar. Ele não está lá pensando: ‘Hum, o que eu deveria fazer hoje?’”

A importância da curiosidade

Para Wozniak, a curiosidade é fundamental na vida de um empreendedor e deve ser incentivada desde a infância. (Ele sugere que interessados em sua área, sejam eles crianças ou não, adquiram um Raspberry Pi, um computador minúsculo de US$ 25 inventado justamente para incentivar o aprendizado de programação.)

“Eu poderia ter crescido em qualquer lugar e ainda descobriria o que me intrigava”, disse ele, que frequentemente ganhava prêmios de ciência na escola e construía projetos de graça para os outros. “Meu amor por computadores é uma paixão de vida inteira e eu queria criá-los melhor do que qualquer outro ser humano.”

É a mesma curiosidade e busca pelo novo que está por trás da disrupção e das grandes invenções, o santo graal da indústria tecnológica. Para que as empresas não o percam de vista, Wozniak sugere a criação de um novo cargo: Chief Disruption Office (CDO).

“Ele responderia apenas para o conselho diretor e não para o CEO e sua responsabilidade seria buscar novas direções, construir protótipos e ver se sua equipe acha ouro”, disse. “Ele precisa buscar em todos os lugares: o que as pessoas estão fazendo em suas garagens agora?”

Conselhos de empreendedorismo

Na história da tecnologia recente, grandes invenções nasceram justamente em garagens californianas, como o primeiro computador da Apple, o primeiro computador da Microsoft e o começo do Google e da HP.

E como criar um Vale do Silício fora dos EUA? Embora seja o primeiro a dizer que é uma tarefa difícil – em poucas palavras, Wozniak acha que a área deu sorte historicamente –, ele diz que tornar um espaço mais empreendedor passa necessariamente pela oferta de capital.

Por isso, aumentar o número de venture capitalists dispostos a investir em novas ideias é fundamental. “Os governos podem ajudar com incentivos”, opinou.

Mas não adianta ter milhões de reais disponíveis se não houver nada para mostrar. E para criar invenções verdadeiramente incríveis, diz Wozniak, é preciso escutar a si mesmo.

Uma das coisas que ele mais gosta é justamente aconselhar jovens empreendedores. À plateia, ele ofereceu três conselhos atemporais:

1. Construa sua ideia antes de vendê-la

“Se você tem uma ideia, você precisa de alguém para construí-la, como um engenheiro, não só de alguém para fazer o pitch e vendê-la.”

2. Não é preciso ser o pioneiro para dar certo

“Seja o primeiro a fazer um produto de maneira excelente, não o primeiro a fazer.”

3. Escute seu feeling, seu cérebro e seu coração

“Não escute as pesquisa de mercado: você pode estar criando algo que as pessoas ainda não sabem que querem. Eu criei o computador pessoal, Steve Jobs criou o iPhone e Elon Musk criou o carro elétrico da Tesla. Construa um produto tão lindo que você vai quere-lo para si mesmo.”

Aqui, Wozniak contradiz muito do que pregam alguns experts em empreendedorismo: você não deve criar um produto para os outros, e sim para você mesmo. “[Para Steve Jobs] o iphone tinha que ter a elegância e o detalhe de cada coisa do jeito que ele queria. Era um produto que tinha que estar bom para ele, mesmo que depois o mundo virasse a cara”, explica.

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Paula Bellizia, CEO da Microsoft: Se você não está pensando na disrupção do seu negócio, alguém está

Paula Bellizia

No futuro, não existirão mais empresas que apenas usam a tecnologia – toda empresa será, em essência, de tecnologia. Digitais. Quer elas saibam disso ou não. Esse é, pelo menos, o diagnóstico compartilhado pela CEO da Microsoft no Brasil, Paula Bellizia, e a empresa que lidera.

“Existe uma coisa especial na quarta revolução industrial, porque é a primeira vez que essa transformação que acontece na vida humana não tem nenhuma fronteira entre uma ou outra área da ciência. Ela vai mudar várias disciplinas ao mesmo tempo, da biologia à física. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo, agora”, explica a executiva durante o HSM Expo, evento para executivos em São Paulo.

O que isso significa para o mercado de trabalho e a forma como levamos nossas carreiras? Com todos os negócios se tornando essencialmente digitais, o ritmo de disrupção se torna muito mais acelerado e é preciso ter consciência disso para não se tornar obsoleto.

Leia também: O que impede as grande empresas de inovarem? Eric Ries explica!

“Se você não está pensando em fazer a ruptura do seu próprio negócio, nesse exato momento alguém está. Uma startup, um jovem, ou mesmo uma empresa”, resume a executiva. Para ela, adaptar-se a essa nova realidade requer que as empresas se transformem em quatro grandes pontos:

1. Melhorar o relacionamento com o seu cliente

Qual a primeira coisa que vocês fazem quando acordam e a última coisa que fazem quando dormem? “Estão na nuvem. No mundo atual, os clientes estão conectados na nuvem e de forma móvel todos os dias”, constata. Para ela, isso representa uma possibilidade gigantesca de estreitar a relação com o seu cliente, tanto pelo canal de comunicação quanto pela abundância de dados disponíveis.

Como exemplo, ela cita o caso do Palmeiras, que usou a tecnologia para unificar bases até então isoladas e reunir mais de 500 mil torcedores em seu programa de fidelização.

2. Empoderar funcionários

Para Bellizia, a geração millenial só irá trabalhar naquelas empresas em que se sentirem empoderados. “Só vou conseguir conquistar novos talentos se realmente empoderá-los”, conta. Em sua opinião, isso também é um desafio para adequação e adaptação de leis em diversos países. “Hoje na empresa que eu represento a gente é totalmente flexível em relação a horário e local de trabalho, mas ainda estamos presos em limitações da legislação”.

Leia também: O que entrava a inovação no Brasil? veja o que pensa Ronaldo Lemos, um dos criadores do Marco Civil da Internet

3. Otimizar operações

Ainda mais relevante em situações de mercado desfavorável, a otimização de operações já é realidade em diversas empresas estabelecidas. “Nós revisamos todas as operações por uma questão de eficiência, custo, otimização dos recursos internos, e a tecnologia pode ajudar nisso, pode ajudar a escalar o mercado e diminuir o custo”.

Isso vale para qualquer instituição ou indústria. Para ilustrar esse alcance, ela cita o aplicativo Tambero, que ajuda a gerenciar a criação de gado mundo a fora e, em regiões remotas, acaba contribuindo para amenizar os efeitos da fome. “A gente tem uma capacidade de recursos hoje que nunca antes foi possível. O celular de vocês tem uma capacidade de processamento maior que a do computador que levou o homem à Lua”.

4. Transformar produtos e serviços

Uma grande vertente dessa transformação está na inteligência artificial, e qualquer profissional que deseje manter-se relevante no futuro deve atentar-se a essa nova tecnologia. “Não é simplesmente TI, é tecnologia aplicada aos negócios e vai mudar a forma que a gente vive”, explica.

Hoje, a Microsoft tem como missão democratizar o acesso à inteligência artificial, ambição compartilhada também pela IBM, com a liberação do Watson para empreendedores. Mas, afinal, o que é inteligência artificial (IA)? “É a capacidade de raciocinar sobre grandes massas de dados e convertê-los em inteligência”, resume a executiva. É sexy, ela admite, e hoje já é realidade em quatro grandes áreas.

A primeira área trata dos agentes. Pense na Siri, do Iphone, ou Morgana, desenvolvida pela Microsoft. São agentes, uma forma de mediar a interação entre homem e máquina. “Não é só a gente que vai aprender a lidar com tecnologia, mas a tecnologia vai aprender com a gente, com o uso do ser humano. Ela começa a entender como você usa seus dispositivos e faz sugestões personalizadas para você.

A segunda área trata dos aplicativos, que começaram a incorporar a IA (o corretor do celular, por exemplo, deixa de ser irritante e começa a entender como você escreve), e a terceira trata dos serviços. “Nesse caso, são serviços inteligentes que mudam a forma como as indústrias funcionavam”. Ela cita a Volvo, hoje, que por meio de câmeras nos carros consegue entender se o motorista está com sono.

Por último, também surgirão – como já vem surgindo – muitas transformações na área da saúde. A própria Microsoft traçou um plano para resolver o problema do câncer em até dez anos, através da “reprogramação” de células cancerígenas.

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Jim Collins responde a 6 perguntas sobre negócios

Jim Collins ganhou fama ao estudar empresas. O que faz com que algumas companhias sejam excelentes, enquanto outras afundam, é uma das questões sobre a quais ele se debruçou nos últimos anos. Autor de seis livros com mais de 10 milhões de cópias vendidas, entre eles Empresas feitas para vencer e Vencedoras por opção, Collins participou nesta segunda-feira (07/11)  do HSM ExpoManagement, em São Paulo. Ele respondeu a perguntas feitas por executivos brasileiros.

O que faz um bom líder?

Collins passou parte de sua carreira se perguntando o que fazia uma empresa ser excelente, e contou que por muito tempo tentou desconsiderar a análise dos líderes, afinal, é possível encontrar bons líderes em companhias que não deram certo.

“Não queria cair na cultura de adorar as lideranças, mas quando você avalia o ponto de inflexão de uma empresa boa para excelente, não consegue remover o líder da análise, porque ele é fundamental para a excelência”, afirma Collins. No entanto, há uma característica que distingue os líderes das empresas que se tornaram excelentes. “A diferença não é questão de gênio, personalidade ou carisma, é a unidade pessoal. O líder que faz a empresa se tornar excelente tem um espírito de servir — a uma causa, empresa, meta. São pessoas ambiciosas, incansáveis”, diz Collins.

Leia também: Liderança nível 5 – a importância da humildade em um grande líder

“Não tem a ver com o que o líder consegue fazer, mas com aquilo que ele pode criar. Isso transcende a própria pessoa. Líderes bons inspiram as pessoas a o seguirem, líderes excelentes inspiram as pessoas a servirem a uma causa”, diz. “Um grande líder só existe se as pessoas o seguirem quando têm a possibilidade de não seguirem se quiserem. Tem a ver com o que as pessoas fariam se pudessem optar”.

Collins diz ter descoberto que esses líderes não se focaram em suas carreiras, mas nas responsabilidades que lhes eram delegadas a cada momento. “A cada unidade, mesmo que pequena ou pouco importante, o líder tinha o pensamento de que precisava fazer daquela unidade um bolsão de grandeza, que iria cuidar daquele departamento, daquela unidade e daquelas pessoas”.

Como fazer uma empresa se tornar grande, adaptar-se às mudanças e se tornar excelente?

Em primeiro lugar, Collins afirma que as empresas não podem depender unicamente do bom líder para se manter de pé. “É melhor construir um relógio que pode dizer as horas mesmo quando você não está lá”, diz. “A essência para isso é construir uma grande cultura, uma forma de agir, para que a organização se torne excelente. Em uma empresa excelente, a estratégia não aponta para a cultura da empresa, mas a cultura é a própria estratégia”.

Além disso, Jim Collins afirmou que é preciso definir as mudanças e continuidades que devem ser feitas na empresa. “Para qualquer empresa grande e duradora, o princípio é estimular o progresso, mas manter um núcleo — conservar os valores, os princípios básicos e a essência — aquilo que queremos ser”, diz.

O especialista ressaltou também que a busca pela grandeza é um processo contínuo. “Não importa o quanto espetacular seja o seu sucesso, você só se mantém bom na busca pelo próximo objetivo. E, quando acha que chegou lá, já começa a escorregar para a mediocridade”, afirma. Isso depende, em grande parte, de a empresa se colocar um grande e audacioso objetivo, afirmou Collins, citando o objetivo de Bill Gates de que todos os trabalhadores tivessem um computador em sua mesa, e, mais recentemente, a meta de Elon Musk de colonizar Marte.

Inovação é fonte de vantagem competitiva?

Collins começou a responder a essa pergunta afirmando que a criatividade é algo natural e abundante. “Entretanto, a disciplina não é natural. O grande desafio é fazer casar a disciplina e a criatividade, para que a disciplina não acabe por minar a criatividade”, diz. O autor destacou que em seus estudos sobre as empresas excelentes a questão não está apenas na inovação, mas na forma de inovar.

Segundo ele, para uma empresa ser bem-sucedida ao inovar é preciso realizar tentativas suficientes, fazer ajustes ao longo do desenvolvimento da inovação e ter assertividade e foco no objetivo.

“Eu diria que a inovação por si só não é o segredo da vantagem competitiva, mas sim a capacidade de mesclar disciplina com inovação, para que a inovação possa ser escalonada — essa é a fonte da vantagem competitiva de grandes empresas”.

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O que faz com que uma empresa seja mais ou menos resiliente frente a uma crise?

Por que algumas empresas brasileiras foram extremamente afetadas pela crise, e outras já conseguem mostrar sinais de recuperação? Segundo Collins, existem três fatores essenciais para isso: criatividade empírica, disciplina fanática e paranoia produtiva.

“A criatividade empírica é apostar com base em evidências, não na loucura ou no sonho”, afirma Collins. O segundo fator tem relação com a definição de metas e objetivos, independentes do cenário externo. “Embora tudo esteja mudando, é preciso manter a disciplina consistente e seguir a intensidade e ritmo determinados pela própria empresa, não pelas condições externas”.

Já a paranoia produtiva é a capacidade de planejamento e criação de opções para “quando as coisas derem errado, não se as coisas derem errado, porque em algum momento, vai ter alguma coisa que dará errado”, diz.

Como selecionar bons profissionais para os cargos certos?

“É irrelevante ter uma grande visão, se você não tiver as pessoas certas”, afirma Collins. Além de escolher os profissionais mais competentes, é preciso colocá-los na posição em que eles mais se adéquam.

Em segundo lugar, depois de selecionar as pessoas competentes, é preciso oferecer-lhes metas ambiciosas. “Se você não der metas audaciosas aos melhores funcionários, eles irão buscar metas em outras empresas”, afirma Collins.

E, por último, o especialista falou no desafio de tirar as pessoas que não estão contribuindo. “Acho que a grande dificuldade é saber o ponto exato de fazer essa mudança. Os executivos ou agem intempestivamente ou demoram demais”, diz. Ele ressaltou que, por outro lado, é preciso ter sensibilidade ao demitir funcionários. “Não é preciso ser maldoso, é possível ter uma relação saudável. Eu, por exemplo, sempre ligo a essas pessoas no dia do aniversário delas”.

Como manter incentivados os profissionais da geração millennial?

“As pessoas me perguntam frequentemente ‘como lidar com o problema dos millennials’, e eu não entendo a pergunta. Não acho que exista um problema. Creio que é preciso aprender com eles”, diz Collins. Ele afirmou que o maior desafio, na realidade, é saber como atrair e selecionar os melhores profissionais dessa geração.

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Este artigo foi originalmente publicado em Época Negócios

Cris Correa compartilha seus principais aprendizados ao escrever biografias de grandes empresários brasileiros

jornalista Cris Correa Autora de Sonho Grande

Podemos dizer que, ao longo de sua carreira, a jornalista Cris Correa, autora de Sonho Grande, acumulou um bom conhecimento sobre liderança e sucesso. Depois de ser diretora executiva da revista Exame, uma das principais publicações de negócios do país, ela dedicou-se a escrever a história dos sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Publicada em 2013, Sonho Grande já vendeu mais de 300 mil exemplares e costuma ser citado na bibliografia de cursos de administração. Para escrever o livro, passou incontáveis horas pesquisando os modos do trio e conversando com eles próprios e outros executivos relacionados a eles, como o investidor Warren Buffet.

Dois anos depois, lançou Abilio, que narra a trajetória de Abilio Diniz, um dos mais destacados empresários brasileiros, responsável pela construção do império da rede varejista Pão de Açúcar. Mais uma vez, passou tempo suficiente a seu lado para aprender suas lições.

Assista ao bate-papo do Na Prática com Jorge Paulo Lemann

Hoje, durante a HSM Expo, havia pessoas em pé do lado de fora do auditório – lotado – em que ela compartilhou os principais aprendizados do tempo que passou com esses executivos. Nas trajetórias dos três empresários por trás do grupo 3G (dono da AB Inbev, Burger King e Kraft Heinz) e do atual presidente de conselho da BRF, ela enxerga cinco grandes pontos em comum. “Não é uma receita para o sucesso, mas é o que deu muito certo para esses caras”, ela adianta. Veja a seguir:

1. Ambição sem limites

“Aqui no Brasil, a gente tem vergonha de ser ambicioso, mas esses caras foram ambiciosos desde o começo”, opina a jornalista. Ela reconhece que, quando começou a escrever seu primeiro livro, até desconfiou da máxima do empresário Jorge Paulo Lemann de que ‘sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho’. “Parecia um pouco autoajuda”. Mas, com o tempo, percebeu não era.

“Para eles não existe linha de chegada”, explica Cris. “Sempre dá para fazer mais, melhor, e de preferência com menos.” Ela cita como exemplo a trajetória do grupo AB Inbev, que hoje está prestes a produzir uma a cada três cervejas consumidas no mundo. A história começou com a compra da Bhrama por Lemann e seus sócios, seguiu-se da compra de sua principal rival no país, a Antartica – formando a Ambev – e depois viu uma investida dos brasileiros sobre as maiores cervejarias do mundo, culminando na compra da SAB Miller, concluída esse ano. “Você acha que eles querem parar por aí? Eu sei que não”, prevê.

Leia também: O próximo sonho grande de Jorge Paulo Lemann

Segundo ela, a mesma intensidade de ambição está presente em Abilio. Foi seu pai, um imigrante português, que fundou a doceria Pão de Açúcar. Porém, na mão de Abilio, a empresa transformou-se em uma rede estadual de supermercados, depois nacional, e então na maior varejista do país, durante os anos 1990. “Ele não estaria satisfeito com menos que isso.”

Para os quatro, essa ambição não pode ser simplesmente motivada por dinheiro. Todos citados nas listas de brasileiros mais ricos do país, é seguro dizer que possuem dinheiro suficiente para sustentar gerações. “O que está por trás dessa ambição sem limites não é o dinheiro, é fazer coisas grandes e realmente importantes”, conclui.

Quando vendeu o Pão de Açúcar para o grupo francês Casino, Abilio – de acordo com sua biógrafa – nem pensou em pendurar as chuteiras, como muitos o fariam. Comprou parte da BRF e do Carrefour, principal rival de sua antiga rede, e recusa-se a sair de jogo.

2. Meritocracia é lei

Todas as empresas do grupo 3G são marcadas por uma forte cultura empresarial, que tem entre seus pontos principais a meritocracia. Não há espaço para paternalismos. “Quem entrega vai ter todas as oportunidades, mas quem não entrega a porta de fora é o caminho”, resume Cris. Não existem promoções por apadrinhamento, simpatia ou tempo de casa. Os salários fixo são, muitas vezes, na média ou abaixo dos valores praticados pelo mercado, pois as verdadeiras oportunidades de retorno financeiro estão na remuneração variável – o famoso bônus, atrelado sempre a metas ambiciosas.

3. Disciplina e foco

Do estilo de trabalho aos hábitos pessoais, os quatro empresários costumam levar vidas bastante disciplinadas. Praticam esportes com regularidade – Lemann, inclusive, chegou a disputar o Winbledon como tenista – e são avessos a excessos. Em conversa com o Na Prática, em 2015, ele foi categórico: “Não acredito em moleza”.

4. Controle obsessivo de custos

À jornalista, Beto Sicupira repetiu uma de suas frases clássicas: “Custo é como unha: precisa cortar sempre”. Quando ela entrevistava os executivos da Ambev, jamais ofereceram pagar seu estacionamento ou qualquer tipo de mimo; internamente, esse tipo de custo também é rechaçado. Não tem despesa, por menor que seja, que não possa ser cortada. Presidentes e diretores viajam de classe econômica e, muitas vezes, dividem o quarto quando ficam em hotel. É impensável a ideia de motoristas de plantão ou outras mordomias praticadas por outras empresas.

Durante as pesquisas para Sonho Grande, chegou a ela uma história de quando Carlos Brito, na época presidente da Ambev (então maior empresa brasileira), pediu a seus colegas que esperassem um pouco para se encontrar durante uma viagem pois estava terminando de passar sua camisa do quarto do hotel. Os cerca de dez dólares que o serviço provavelmente custaria eram, também, dignos de economia. Todas as empresas do grupo 3G tem o desafio de, ano a anos, reduzirem seus custos – os grandes e os pequenos.

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5. Crise? Que crise?

Como essas pessoas que chegaram ao topo lidam com situações adversas, tanto internas como conjunturais? Quando afastou-se do Pão de Açúcar por discordâncias entre os sócios (e familiares) que controlavam o grupo, Abilio viu a empresa passar por um de seus piores momentos. Estava cogitando falência quando ele retomou a liderança, e para lidar com a situação crítica ele adotou um lema: “Corte, concentre, simplifique”. Tudo que não era essencial foi cortado, e adiou-se todo pagamento possível. “A estratégia, embora dolorosa, era fazer o que desse para tirar o nariz debaixo d’água”, explica Cris. Mas não havia tempo para lamentações. “Com ele não tem choradeira, é vai lá e faz”.

Ela conclui sua apresentação com uma constatação: “Essas pessoas não são super-herois. Elas têm angústia, medo, depressão. Tomam remédios. São pessoas… A diferença é que encaram o desafio de frente!”

 

Phil Libin, cofundador do Evernote, traz lições para startups direto do Vale do Silício

Phil Libin

Phil Libin tem experiência nos dois lados do balcão. Como empreendedor, é cofundador e presidente executivo do Evernote, que funciona como um caderno online e tem cerca de 200 milhões de usuários. Como venture capitalist, trabalha no fundo de investimentos General Catalyst, que tem Snapchat, Kayak e Airbnb no portfólio, escolhendo startups para financiar.

Em sua palestra na HSM Expo, evento para executivos em São Paulo, ele começou falando sobre tradição. “O modelo econômico baseado na escassez diz que, se seu preço for menor que o valor percebido [pelo usuário], você deve tentar fechar essa lacuna a qualquer custo: é o que companhia aéreas fazem porque vêem que há dinheiro na mesa.”

Para startups, porém ele acha mais apta a teoria de Robert J. Dolan, professor da Harvard Business School que defende que se aumente o valor percebido e não o preço. “Você quer que essa lacuna entre os dois seja a maior possível para que sirva como uma motivação”, continuou. “Numa economia digital em que a atenção é disputada, essa é a diferença que no longo prazo cria a retenção de usuários.”

Tudo faz parte do modelo de negócios do Evernote, composto por apenas três gráficos que já conquistaram muitos investidores: um que mostra o número crescente de cadastrados, outro que comprova sua retenção e um terceiro que demonstra que, quanto mais tempo o usuário passa na plataforma, mais vê valor nela.

“É possível adquirir mais usuários com estratégias de crescimento, mas a métrica de retenção é algo que você não consegue comprar”, resumiu. A definição do preço em si, no entanto, não tem receita mágica. “Não temos ideia de qual é o preço ideal: é preciso testá-lo continuamente”, aconselhou.

Tecnologias do futuro

Libin disse que teve a ideia para o Evernote depois de segurar o primeiro iPhone nas mãos, em 2007. Ali estavam boas versões de tecnologias que já circulavam há um tempo, como touch screen, computação em nuvem e implementação de aplicativos. “Quando olhei para aquilo, senti que os próximos cinco anos fariam sentido”, lembra.

Com toda sua vivência no Vale do Silício, o americano explicou que ele não tirou a teoria do chapéu: a tecnologia tem ápices cíclicos. Ela surge primeiro em laboratórios e ambientes acadêmicos, passa para os early adopters e eventualmente se torna suficientemente boa para ser comercializada, usada por empreendedores e cresce de maneira exponencial.

Gráfico de desenvolvimento tecnológico de Phil Libin
[Openspace]

São nos períodos mornos dessa curva em forma de S, contou, que as grandes empresas tecnológicas aparecem. A Amazon, por exemplo, surgiu nos anos 1990 quando a internet se tornou comercialmente viável. O Google apareceu nos anos 2000 graças aos melhores sistemas de busca e pagamentos. E em 2007, ápice mais recente, o desenvolvimento dos dispositivos móveis, redes sociais e Big Data trouxeram sucessos como Dropbox, Uber, Airbnb e o próprio Evernote.

Essa é a estrutura de pensamento que ele utiliza na hora de avaliar startups como venture capitalist. “As pessoas sempre dizem que estourou a bolha quando as coisas se acalmam, mas na verdade tudo está por aí”, resume. Só não está pronto ainda – e criar a empresa ou investir nela na hora certa faz toda a diferença.

Atualmente, Libin observa com atenção o desenvolvimento de NPLs (processamento de linguagem natural), aplicativos de mensagem, drones, realidade virtual, internet das coisas, APIs (interface de programação de aplicativos) e machine learning, quando a máquina aprende sozinha.

Leia também: Como é a cultura do Vale do Silício explicada por quem vive lá

Em conjunto, acredita, tais tecnologias vão criar uma melhor experiência para o usuário, em que ele interage com objetos de maneira mais natural. No lugar de botões, usará comandos de voz, por exemplo. “Como escrevemos, lemos e dirigimos – ou não dirigimos – vai mudar de acordo com esses avanços”, disse.

(Ele guarda no bolso outras tecnologias, como realidade aumentada, carros autônomos e computação quântica, para olhar com cuidado daqui cinco anos. “São promissoras, mas ainda não estão prontas!”)

E caso você encontre Libin na rua, qual seria o pitch perfeito? “Diga-me como será o mundo se sua companhia for bem sucedida e por que eu gostaria de morar nele”, aconselhou. “É bem fácil excluir empreendimentos usando só essa pergunta como base.”

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Mesmo no mundo das compras online, localização ainda importa (e muito!)

David Bell

Um dos grandes gargalos para o crescimento da economia brasileira é sua infraestrutura pouco desenvolvida. Para David Bell, no entanto, esse defeito pode acabar sendo útil para empreendedores brasileiros na economia digital.

Professor da Wharton School, na Universidade da Pennsylvania e uma das melhores escolas de negócios do mundo, ele é referência quando se trata de e-commerce e marketing digital. Seus cursos online, como “Digital Marketing, Social Media and E-Commerce for Your Business”, chegam a ter centenas de milhares de inscritos.

Em São Paulo para a HSM Expo, evento voltado para executivos, ele contou que o Brasil e outros mercados em desenvolvimento, como Índia e China, vão chegar na frente de países desenvolvidos em número de transações online. 

Leia também: Como os profissionais de marketing digital podem se reinventar?

Por que? Serão as economias “mobile first”, em que o cliente aproveita que a infraestrutura online é melhor que a offline para fazer suas compras. O objetivo de Bell – que acaba de lançar seu novo livro, Localização (ainda) é tudo, em português – em sua palestra era justamente ensinar o que uma empresa de sucesso precisa fazer para vencer nesse ambiente.

“O dispositivo móvel é a plataforma para a disrupção”, disse. “Ele engaja constantemente, tem uma interface de usuário simples, é uma máquina inteligente que sabe sua localização, seu contexto e seu conteúdo, manda e recebe pagamentos. Vai mudar todos os negócios, de lavanderias à educação.”

Como fazer sua startup crescer

A chave para crescer de maneira sustentável está em pesquisar continuamente a localização de seu negócio e do consumidor. “A localização do seu cliente ainda importa muito”, disse. “Significa saber suas características, suas preferências e suas opções.” Isso, por sua vez, pode se traduzir em um negócio mais certeiro e rentável.

Para lembrar de tudo que compõe a localização, Bell criou o acróstico GRAVITY: geografia, resistência, adjacência, vizinhança, isolamento e topografia (o “y” serve apenas para completar a palavra, confessou). A mais importante é a adjacência, que trata de como espalhar a demanda em um território.

“Em cada uma das empresas que examinei, a demanda sempre cresce de maneira previsível”, explicou Bell, demonstrando com mapas que ela se espalha a partir de aglomerados pré-existentes. Ou seja, não surge espontanea ou aleatoriamente. “As razões para isso são a homofilia – as pessoas gostam das mesmas coisas – e o contágio, já que vizinhos conversam ou observam comportamentos entre si.”

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Por conta dessa interação, aconselhou, é importante que o empreendedor preste atenção à experiência do usuário em termos de interação com a marca. Preocupação com embalagens, por exemplo, também devem fazer parte da estratégia: afinal, elas vão parar em fotos em redes sociais ou chamam a atenção na rua. “Isso também é conteúdo”, disse.

Uma presença offline também é estratégica. Bell citou os planos da Amazon de abrir uma centena de lojas físicas e os showrooms da Tesla, em que é possível ver e tocar um carro elétrico – mas não comprá-lo. “Os clientes ainda querem tocar produtos e experimentar o serviço de uma marca: como você usa o espaço físico é muito importante”, contou.

“Na economia digital, a habilidade de ter uma relação interpessoal nunca foi mais importante”, falou, ecoando o colunista Thomas Friedman, que esteve no evento mais cedo. “É preciso criar o conteúdo certo, a plataforma certa e encorajar seus clientes a criarem uma comunidade. É algo muito poderoso para um negócio.”

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A pergunta que todo CEO deveria fazer, segundo Martin Reeves

O que você faria se, hoje, fosse nomeado CEO de uma grande empresa. Qual seria sua principal inquietação? A situação é complexa, claro, mas depois de algum tempo de reflexão as respostas costumam ser parecidas: Somos bons no que fazemos? Estamos gerando lucro para nossos acionistas? Estamos batendo nossas metas? E por aí vai…

Para o pesquisador Martin Reeves, essas perguntas não são suficientes. Pelo menos não em tempos de mudanças aceleradas e ritmo intenso de inovações disruptivas, como o que vivemos agora. Nesse contexto, a liderança das empresas precisa se perguntar se está construindo uma empresa para o futuro. “O desempenho de ontem não garante o desempenho de amanhã”, alerta Reeves. Fazem-se necessárias indagações sobre a perpetuação e longevidade do negócio: Por quanto tempo o jogo vai durar? Por quanto tempo a minha empresa vai existir e como eu posso expandir esse tempo?

A armadilha do sucesso

Consultor do BCG (Boston Consulting Group) e autor do livro Sua estratégia precisa de uma estratégia, que acaba de ser lançado no Brasil, Martin Reeves já soma mais de 1 milhão de visualizações em sua TED Talk Como construir um negócio que dure 100 anos. Hoje ele participou do HSM Expo, evento para executivos em São Paulo em que o Na Prática esteve presente, e falou sobre o desafio de criar uma estratégia para (grandes) negócios durarem.

Não se trata de uma tarefa fácil. Ao se tornarem gigantes, consolidadas em um determinado mercado, as empresas ficam mais suscetíveis ao que o pesquisador chama de ‘armadilha do sucesso’. “A medida que as empresas crescem, elas perdem vitalidade. É o paradoxo do crescimento. Quanto mais você tem, mais é difícil conseguir mais.” E, segundo pesquisas recentes que conduziu, esse efeito de ‘envelhecimento’ das empresas está acelerando nos últimos anos. 

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Armadilha do sucesso, portanto, é a tendência – viciosa – das empresas começarem a olhar muito para dentro, tornarem-se burocráticas demais e perderem a capacidade de inovar. Em outras palavras, é gerenciar os resultados do presente sem olhar com a devida atenção para o futuro. Lembre-se da Física: quanto mais pesado o corpo, mais difícil movimentá-lo. Mas como é possível fugir dessa armadilha?

A palesta de estratégias

Como saída para esse ultimato das grandes empresas, Reeves propõe uma paleta de estratégias, conforme imagem abaixo. O recurso ajuda líderes a entenderem que uma mesma abordagem estratégica não vai funcionar em todas as situações que uma empresa enfrenta.

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Para acompanhar um mundo veloz, a abordagem clássica das grandes corporações (Analisar, Planejar, Executar) não vai ser suficiente. Em certas situações, continuará necessária e adequada. Em outras, será preciso lançar mão de novas abordagens estratégicas.

“As empresas precisam ser ativas em todas as dimensões do tempo. Elas têm que gerenciar o negócio atual e reinventar o negócio. Você tem que saber escrever com as duas mãos.” Assim, o executivo de sucesso deve saber executar o que Reeves chama de ‘liderança ambidestra’. Trata-se do líder capaz de, ao mesmo tempo, gerenciar os resultados presentes com disciplina e proporcionar um ambiente de liberdade para inovações. “É preciso liberdade, apetite ao risco, e ao mesmo tempo disciplina e padronização. É um paradoxo, mas as empresas precisam fazer as duas coisas”, conclui.

Colocar isso em prática, muitas vezes, significa criar diferentes áreas na empresa, com diferentes abordagens de gestão e estilos de trabalho. É o raciocínio que está por trás da reformulação do Google sob a holding Alphabet, em 2015. “Num mundo tão veloz, alguns dos seus negócios estão muito maduros, e outros são visonários, Então o Google precisou mudar a maneira como lida com seus negócios mais maduros e com os mais disruptivos, mais arriscados, e fazer isso de maneira modular fica mais fácil”, explica.

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É também o que acontece hoje, por exemplo, na Ambev, que lançou uma unidade de funcionamento bastante autônomo – a ZX Ventures – focada em pesquisar e desenvolver as inovações tecnológicas que vão fazer a empresa se manter atual (criaram, por exemplo, um aplicativo de delivery de cervejas). “Às vezes vale a pena agir como se fosse pequeno embora seja grande, e ter uma estrutura com equipes autoajustáveis, que se adaptam ao mercado, e não apenas obedeçam o que vem de cima”, continua Reeves.

Ele chega a sugerir que as empresas deem uma abordagem dupla aos seus produtos, o que envolve equipes e estratégias diferentes. Por um lado, um time segue na abordagem clássica e pensa como maximizar a geração de valor, aumentar a margem, e por aí vai. Da mesma forma, outra equipe se dedicará a ser um motor de adaptação para novos negócios. Nesse último time, a estratégia clássica de “analisar, planejar e executar” não vai funcionar. No lugar, entra a abordagem adaptativa, também presente na paleta e que prega “variar, selecionar e experimentar”. “Na abordagem tradicional, o plano acontece antes da execução, mas na adaptativa a estratégia aparece durante a execução, no erro e acerto”, ele explica. 

São, na realidade, perguntas diferentes que norteiam cada uma dessas abordagens estratégicas:

Classical (Clássica)
Estamos avançando em nossa vantagem competitiva?

Adaptative (Adaptativa)
Estamos experimentando e falhando o suficiente?

Visionary (Visionária)
Que futuro nos queremos criar?

Shaping (Remodelar)
Por que alguém gostaria de participar do nosso novo ecossistema?
Qual plataforma usar para orquestrar tudo isso?

Renewal (Renovação)
Estamos reinvestindo recursos no futuro? É hora de mudar de estratégia?

Ainda assim, usar várias estratégias na mesma empresa é um grande desafio, e que demandará uma nova postura dos futuros líderes. É, primeiramente, tomar cuidado com o que você mede: “Se só mensura margem e lucratividade no curto prazo, você terá uma visão de curto prazo”. Para preparar os jovens esse novo tipo de liderança, Reeves tem cinco conselhos:

1. Aprenda a aplicar a abordagem estratégica certa em cada caso

2. Crie competências adaptativas e de moldagem

3. Incorpore e abrace as contradições

4. Fique atento à armadilha do sucesso 

5. Seja o animador, o motivador

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Para Thomas Friedman, é hora de sermos radicalmente empreendedores

Thomas Friedman é um dos colunistas mais famosos do mundo. Ganhador de dois prêmios Pulitzer – um por sua cobertura do conflito Israel-Líbano e outro por seus editoriais, que escreve para o “The New York Times” desde 1995 –, ele é referência em relações internacionais.

Além de jornalista, Friedman é também autor. Seu livro mais recente, “Thank you for Being Late”, que pode ser traduzido como ‘Obrigado por estar atrasado‘ mas ainda sem título em português, trata do período de transição atual, que ele vê como composto por três acelerações: da globalização digital, de mudanças climáticas e da revolução tecnológica.

Todas afetam a sociedade e o jeito que seres humanos trabalham e interagem entre si. “Nosso desafio é aprender mais rápido e governar melhor”, resumiu hoje durante sua palestra na HSM Expo, evento para executivos em São Paulo. Caso isso não aconteça, a sociedade corre o risco de ser ultrapassada pela quantidade de novidades surgindo e perder a capacidade de se adaptar.

“Em 2007, surgiram iPhone, Facebook, Twitter, GitHub, Kindle, IBM Watson, Airbnb… E nós perdemos completamente essa gigante inflexão tecnológica porque no ano seguinte veio a crise de 2008”, falou. “E agora o crescimento está tão exponencial que começamos a ver coisas malucas, como carros autônomos e computadores que ganham de qualquer um no xadrez.”

O avanço tecnológico – e Friedman cita a Lei de Moore, de 1965, que prevê que o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses – é especialmente importante para os jovens.

Inteligência artificial

Será sobre eles que recairá grande parte do impacto das mudanças, que remodelarão de tudo: geopolítica, comunidades e ambiente de trabalho. “No trabalho, devemos transformar a inteligência artificial em assistência inteligente, assistentes inteligentes e algoritmos inteligentes para que os trabalhadores possam acompanhar os ritmos das mudanças”, falou.

Para tanto, também é fundamental que os trabalhadores se tornem “alunos de vida inteira”. Ele cita o exemplo da gigante de telefonia AT&T, onde funcionários devem fazer uma série de cursos por ano para atualizar suas habilidades e acompanhar um mercado veloz.

A resiliência nessa nova era será, para ele, questão de adaptação constante. A conclusão ecoa o que já vem sendo previsto por outras pesquisas sobre o futuro do mercado de trabalho, como a divulgada recentemente pelo Fórum Econômico Mundial.

Apesar de todos os robôs, Friedman não vê o ser humano como obsoleto. Pelo contrário: “Haverá muita demanda por trabalhadores não só do campo STEM [ciências, tecnologia, engenharia e matemática], mas por habilidades interpessoais e pela empatia”, falou.

É também uma boa hora para arriscar grandes ideias. Não só porque o poder individual aumentou (e muito!) com todas as novas ferramentas disponíveis, mas também porque a transição exigirá novos pensamentos e abordagens na sociedade como um todo. “Devemos ser radicalmente empreendedores”, opinou.

Friedman encerrou sua participação com um conselho otimista. Em uma pesquisa sobre felicidade no trabalho feita nos EUA com jovens com cinco anos de formados, contou, aqueles que estavam satisfeitos tinham em comum duas coisas.

“Eles tinham estagiado em sua área de interesse antes e tinham um mentor interessado em suas esperanças e sonhos, alguém que os inspirava”, resumiu. “Qualquer coisa que não possa ser baixada, como a conexão entre humanos, é mais importante do que nunca.”

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16 adjetivos que você jamais deveria usar no currículo

Lápis sobre folha em branco

Jeff Haden vive da escrita há mais de 15 anos, é colunista do Inc.com e cinco de seus livros de negócios já foram parar no topo da lista dos mais vendidos da Amazon. Ele é especializado em ghostwriting, o “escritor fantasma” contratado para colocar no papel as ideias de outros.

Ao longo da carreira, ele acumulou muitos conhecimentos sobre liderança, gestão e o poder da palavra certa. Em um post recente no LinkedIn, ele lista 16 termos para evitar a todo custo na hora de se apresentar profissionalmente.

Confira abaixo a tradução do Na Prática e atualize seu currículo:

Você descreve a si mesmo de maneira diferente em seu site, materiais promocionais ou especialmente nas redes sociais do que faz em pessoa? Usa clichês cafonas e superlativos enormes e muitos adjetivos? Você escreve coisas sobre si mesmo que nunca teria a coragem de falar?

Aqui estão algumas palavras que são ótimas quando usadas por outros para te descreverem – mas que você nunca deve usar para se descrever:

1. “Inovador”

A maioria das empresas diz que é inovadora. A maioria das pessoas diz que é inovadora. Na verdade, a maioria não é. (Eu definitivamente não sou.) Não tem problema, porque inovar não é um pré-requisito para o sucesso.

Se você for inovador, não diga: prove. Descreva os produtos que desenvolveu. Descreva os processos que modificou. Dê-nos algo real para que sua inovação não passe em branco mas fique evidente… Que é sempre o melhor tipo de inovador.

2. “Nível mundial”

Usain Bolt: atleta de nível mundial com medalhas olímpicas como prova. Lionel Messi: jogador de futebol de nível mundial com quatro troféus Ballon d’Or como prova. Mas o que é uma empresa ou um profissional de nível mundial? Quem define esse nível? Nesse caso, provavelmente é só você.

3. “Autoridade”

Como disse Margaret Thatcher: “Ser poderoso é como ser uma lady. Se você precisa dizer que é, não é”. Mostre sua expertise no lugar. “Palestrante do TEDxEast ” ou “Previu 50 de 50 estados na eleição de 2012″ (Olá, Nate Silver!) indica um nível de autoridade. A não ser que você consiga provas, “autoridade em marketing de mídias sociais” pode só significar que você passa muito tempo pensando em sua nota no Klout.

4. “Atenção aos resultados”

Sério? Algumas pessoas focam no que foram pagas para focar? Não tinha ideia.

5. “Fornecedor global”

A maioria dos negócios pode vender bens e serviços mundialmente. Os que não podem são bastante óbvios. Use “fornecedor global” apenas se essa capacidade não for suposta ou óbvia. De outra forma, só parece que você está tentando fazer sua pequena empresa parecer maior.

6. “Motivado”

Nunca leve crédito por coisas que você deveria fazer – ou deveria ser.

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7. “Criativo”

Leia certas palavras com muita frequência e elas perdem o impacto. “Criativo” é uma delas. Outras incluem “extenso”, “comprovado”, “influente”, “trabalha bem em times”… Alguns desses termos podem realmente descrevê-lo, mas como estão sendo usados por todo mundo não são mais impactantes.

8. “Dinâmico”

Se você também é “vigorosamente ativo e enérgico”… Fique longe.

9. “Guru”

As pessoas que tentam ser espertas só para serem espertas são qualquer coisa menos isso. (Como no número 8.) Não seja um ninja, sábio, conhecedor, sabichão autointitulado… É ótimo quando clientes lhe descrevem assim afetuosamente. Refira-se a si mesmo assim e vai ficar óbvio que você está tentando impressionar os outros – ou você mesmo.

10. “Curador”

Museus têm curadores. Bibliotecas têm curadores. Links no Twitter que levam a coisas que você acha interessantes não te tornam um curador… Ou uma autoridade ou um guru.

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11. “Apaixonado”

Sei que muitos discordam, mas se você diz que é incrivelmente apaixonado por, sei lá, incorporar estéticas elegantes de design em objetivos cotidianos… Para mim parece um exagero. O mesmo é verdade se você é apaixonado por desenvolver soluções de longo prazo para clientes. Tente colocar as palavras “foco”, “concentração” ou “especialidade” no lugar.

12. “Único”

Impressões digitais são únicas. Flocos de neve são únicos. Você é único – mas seu negócio provavelmente não é. Não tem problema, porque clientes não ligam pra singularidade. Ligar para “melhor”. Mostre que você é melhor que a competição e na mente de seus clientes, você será único.

13. “Incrivelmente”

Folheie alguns currículos aleatórios e vai encontrar uma série de outros descritivos modificados: “incrivelmente apaixonado”, “profundamente esclarecedor”, “extremamente cativante”… Não basta ser esclarecedor ou cativante? Tem que ser profundamente esclarecedor? Confie que já entendemos.

14. “Empreendedor em série”

Algumas pessoas começam múltiplos negócios bem sucedidos de longo prazo. Eles são os empreendedores em série. O resto começa um negócio que fracassa ou dá certo, tenta outra coisa, depois outra coisa e segue nessa repetição até encontrar uma fórmula que funcione. Essas pessoas são empreendedores. Tenha orgulho se for “apenas” um empreendedor. Você deveria.

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15. “Estrategista”

Eu às vezes ajudo fábricas a melhorar na qualidade e na produtividade. Há estratégias que uso para identificar áreas que podem ser aprimoradas, mas não sou de jeito nenhum um estrategista. Estrategistas olham o presente, enxergam algo novo e desenvolvem abordagens para tornar essa visão uma realidade. Eu não crio algo novo. Aplico minha experiência e alguns métodos comprovados para criar melhorias.

Pouquíssimas pessoas são estrategistas. A maioria dos “estrategistas” são coaches, especialistas ou consultores que usam o que sabem para ajudar os outros. É o que o cliente precisa 99% do tempo – ele não precisa nem quer um estrategista.

16. “Colaborativo”

Se seu processo é desenhado para usar meu input e feedback, diga-me como funciona. Descreva o processo. Não diga que vamos trabalhar juntos – descreva como vamos trabalhar juntos.

 

Artigo originalmente publicado no LinkedIn e traduzido pelo Na Prática

O que aprendi com Sheryl Sandberg, a mulher mais poderosa do Facebook

Sheryl Sandberg

A segunda pessoa mais importante do Facebook, ícone da liderança feminina, defensora da igualdade de gênero, autora de bestsellers. Não faltam apostos para descrever Sheryl Sandberg, que se tornou uma das executivas mais conhecidas do mundo com o sucesso do livro “Faça Acontecer” e do subsequente movimento feminista Lean In.

Mais especificamente, tornou-se conhecida do grande público. No mundo dos negócios, Sheryl sempre foi apontada como exemplo a ser seguido. Em uma postagem recente no LinkedIn, Ed Bastian, CEO da Delta Airlines, uma das principais companhias aéreas dos EUA, falou sobre o que aprendeu com ela.

Confira abaixo a tradução feita pelo Na Prática:

Pode não parecer, mas a Delta e o Facebook têm muito em comum. Ambos são empresas que conectam pessoas. Ambos fazem o mundo menor e trabalhamos com a quebra de barreiras que nos separam.

Por isso foi emocionante ver Sheryl Sandberg, Chief Operating Officer do Facebook e fundadora do LeanIn.Org, visitar a sede mundial da Delta em Atlanta para uma reunião com funcionários esse mês. Sheryl compartilhou uma anedota sobre ter encontrado um amigo de vida toda quando ela tinha 7 anos, a bordo de um voo da Delta. Um grande exemplo das muitas relações que começam em nossas aeronaves todos os dias.

Aprendemos muito com sua perspectiva sobre negócios, tecnologia e sua paixão por inspirar mulheres a conquistar suas maiores ambições, incluindo:

Um compromisso para apoiar diversidade é ótimo para os negócios – e bom para todo mundo na empresa

Como uma companhia aérea global, a Delta floresce quando pessoas, ideias e culturas se unem. Nossos clientes e funcionários são cada vez mais de diversos lugares do mundo e representam cada etnia, religião, background e estilo de vida. Abraçar essa diversidade amplia o horizonte de ideias, impulsiona a inovação e nos dá uma vantagem competitiva real.

É similar à missão do Facebook de dar o poder do compartilhamento para as pessoas e tornar o mundo mais aberto e conectado. Eles nos unem virtualmente, enquanto a Delta fisicamente move as pessoas ao redor do planeta, mas o resultado é o mesmo.

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Temos a responsabilidade de ativamente apoiar as mulheres em nossa empresa

Não basta dizer a elas que deveriam aspirar a ser líderes na Delta – precisamos oferecer apoio real. Embora já tenhamos a rede e os grupos de apoio para construir conscientização e apoio para mulheres líderes na Delta, anunciamos durante a visita de Sheryl que a Delta está lançando uma nova seção de círculos Lean In, pequenos grupos que se encontram com regularidade para compartilhar ideias e apoio, para aprender e crescer juntos.

Círculos do Lean In, que são abertos para homens e mulheres, têm sido um grande sucesso – já há 28 mil círculos em 145 países e 85% dos membros creditam os círculos com mudanças positivas em suas vidas. Temos esperanças de que os círculos terão um impacto parecido na Delta.

Abrace a geração emergente

Na Delta, passamos muito pensando sobre como podemos nos tornar a companhia aérea número 1 para a próxima geração de passageiros e funcionários. Facebook e Instagram estão imersos nessa geração já há bastante tempo. Sheryl aconselha: um jeito de ressoar com a força de trabalho da geração emergente é dar a ela uma sensação de pertencimento à uma missão maior. Esperamos que o entusiasmo e a paixão da geração dos millennials possa servir de combustível para nosso objetivo de transformar a Delta na companhia aérea global do futuro.

Mesmo uma empresa madura pode ter a mentalidade de uma startup

A Delta tem mais de 90 anos enquanto o Facebook tem 12, mas Sheryl destaca que toda companhia pode – e deve – adotar a mentalidade flexível de uma startup. Embora isso possa ser desafiador às vezes para uma companhia aérea global com 80 mil funcionários, trabalhamos duro para aplicar esse conselho na prática – um de nossos slogans é “velocidade ganha”. Uma das ferramentas para atingir isso é empoderar nossos funcionários para que possam ser inovadores ao resolver problemas para nossos clientes. Queremos ser a empresa que sempre encontra um jeito de dizer “sim” aos seus clientes.

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9 conselhos do CEO do Waze para startups inovarem de verdade

Noam Bardin

A palestra, marcada para 14h30, começou com alguns minutos de atraso. A caminho do Google Campus, Noam Bardin ficou preso nos engarrafamentos de São Paulo. “Aqui há muito trânsito e isso é uma coisa linda – é nosso negócio”, brincou.

A capital paulista está no topo das cidades metropolitanas que mais utilizam o Waze, o aplicativo israelense que domina o mercado de mapas para motoristas no mundo. O Brasil como um todo, aliás, é o segundo maior mercado da empresa, atrás apenas dos Estados Unidos.

Formado em economia pela Universidade Hebrew e com mestrado em administração pública pela Harvard University John F. Kennedy School of Government, Bardin viu tudo acontecer desde 2009, quando assumiu o cargo de CEO.

O Waze foi adquirido por US$ 966 milhões pelo Google em 2013 – uma ironia que ele gosta de apontar, já que o Google Maps havia quase arruinado o aplicativo quatro anos antes – e hoje fica na sede da empresa, na Califórnia, embora opere de maneira independente.

“Quando o Google Maps veio e aquilo aconteceu, chorei muito. Foi um grande trauma e nos jogou numa época negra, não conseguíamos captar dinheiro”, lembrou Bardin. No fim, porém, seguir em frente foi questão de escolha. “Você pode fazer algo que não é interessante ou algo que vai te colocar em conflito com algumas das maiores empresas do mundo.”

Baixe o ebook: 9 grandes dúvidas sobre começar a empreender

Com cerca de 65 milhões de usuários em 185 países, o aplicativo coleta tantos dados relacionados à mobilidade urbana que criou o projeto Connected Citizens, aberto também à participação municipal. A prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo, otimizou a rota dos caminhões de lixo com as informações. Boston sincronizou seus semáforos. E a capital americana fez um intensivo de fim de semana para tapar todos os buracos sinalizados no Waze durante um fim de semana.

“Estamos vendo o empoderamento do usuário, que fornece a informação e vê a ação sendo tomada”, resume Bardin. Hoje, ele aposta fortemente no desenvolvimento de um sistema de caronas e na diminuição do número de carros rodando.

“No futuro, as pessoas não vão ter carteira de motorista e as crianças vão perguntar, impressionadas, se as pessoas de fato tinham um veículo próprio”, falou. “O que você quer é transporte, não um carro. Nosso próximo grande passo será remover carros das ruas e diminuir o trânsito em até 13% –  é o que quero na minha lápide.”

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Confira abaixo os melhores conselhos que o CEO deu aos jovens empreendedores na sala:

1. Pense a longo prazo
Em 2009, a equipe do Waze se viu forçada a escolher entre dois sistemas: Blackberry, então o telefone mais popular, ou iPhone? “A única razão pela qual estamos aqui hoje é porque tomei a decisão certa”, ri.

“Tenha muito cuidado ao desenvolver coisas para o incumbente atual e o próximo incumbente”, continuou. “Quando as coisas estão estáveis, é mais difícil para uma startup. Mas quando mudam depressa, você pode usar sua habilidade de se mover depressa também e fazer as coisas de um jeito diferente.”

2. Aproveite sua liberdade
Apesar de toda a liberdade que desfruta no Google, o Waze faz parte de um enorme conglomerado e tem uma série de responsabilidades financeiras, corporativas e jurídicas. Saudoso, Bardin declarou: “Você não sabe quão boa é a situação numa startup: há um sentimento mágico quando você pode fazer o que quiser”.

3. Escolha seus investidores com cautela
Após a destruição do plano de negócios inicial – de que adiantava um mapa médio barato quando havia um Google Maps de graça? –, a equipe do Waze viu diversos investidores sumirem. “Quando eu estava no canto chorando, muitos esqueceram meu nome. Não subestime o quanto você vai precisar dessas pessoas”, adverte. “Sua relação com eles será mais próxima do que com seus cofundadores e a primeira rodada é a mais importante. Preste atenção em onde e com quem você captará recursos. Confie em mim: faz diferença.”

4. Proteja sua cultura
Na época da aquisição, o próprio Larry Page garantiu a independência da empresa dentro do conglomerado. A equipe achou que era um blefe, mas ficou feliz em constatar o contrário. “Temos orgulho da cultura que construimos e amamos ir trabalhar”, falou Bardin. “Então os aspectos de integração com o Google são guiados pelo usuário: isso o ajudará de alguma maneira ou não?”

5. Mantenha o foco
“Quanto maior for seu foco, maior será a chance de sucesso”, resumiu. “Sonhe muito grande e execute de maneira muito pequena – seja o melhor de todos naquela coisa pequena.”

Pensando nas diferenças entre começar um negócio em um mercado pequeno, como o israelense, ou num país do porte do Brasil, Bardin destacou o que considera um aspecto crucial. “Em lugares grandes, há uma faca de dois gumes: você quer ser uma empresa local ou global?”, questiona. “Essa decisão precisa ser feita já no início. Se quiser ser global, precisa satisfazer o cliente americano e não seu vizinho. Mesmo que ele reclame, não tire seus olhos do prêmio.”

6. Não pense na competição
“Ninguém nas grandes empresas está pensando sobre você, então você não deveria pensar neles. Se construir o melhor produto, os usuários virão.”

7. Preste atenção no usuário
Bardin bate insistentemente na tecla do foco no usuário. Para ele, muitos aplicativos criados hoje em dia não levam em consideração sua verdadeira utilidade para o cliente final. “Está cada vez mais difícil fazer alguém instalar algo no telefone”, diz. “Não tenha clientes infelizes e faça o que é importante para eles.”

8. Seja apaixonado pelo produto
Quando se mudou para os EUA, em 2010, Bardin decidiu morar a 20 minutos do escritório. Assim, poderia dirigir e usar o aplicativo diariamente. “Todos na empresa usam o app, têm opiniões, procuram bugs”, conta. “Ser apaixonado pelo seu produto é crítico. Se você não liga para ele, ninguém precisa ligar.”

9. Aos CEOs: tenham prioridades
Mesmo numa empresa do porte do Google, não é possível realizar todas as ideias – e prioridade acaba virando a palavra-chave. No Waze, ela muda de tempos em tempos: começou com o número de usuários registrados, passou para número de motoristas, de quilômetros rodados, uso de funcionalidades específicas e por aí vai.

Na hora de definir os objetivos, clareza é fundamental. “Se sua equipe é ótima, as ideias serão ótimas. Qual é a métrica ou fase em que você está agora que deve se tornar o benchmark?”, pergunta. “O trabalho do CEO, especialmente numa startup, é saber qual é a coisa mais importante naquele momento, comunicá-la e focar todos os recursos nisso. Acertar que coisa é essa é a pergunta de um bilhão de dólares.”

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Liderança ou autoridade? Professor de Harvard explica a diferença ao Na Prática

Ron Heifetz

O professor Ronald Heifetz ministra um curso (bastante disputado) de liderança na universidade mais reconhecida do mundo: Harvard. Por essas e outras, pode ser considerado um expert no tema.

Foi ele que fundou o Center for Public Leadership da Universidade de Harvard nos anos 2000, quando já tinha quase vinte anos de experiência no assunto e já havia publicado Leadership without Easy Answers (sem edição em português, pode ser traduzido como Liderança sem respostas fáceis), um dos 10 livros mais recomendados da universidade. Desde então, tornou-se referência na “prática da liderança”, frase que ele emprega com frequência.

Para o professor – que é médico, físico e músico – ser um líder não basta. É a prática contínua, em todo e qualquer nível organizacional, que faz a liderança existir. É esse o raciocínio por trás do conceito de ‘liderança adaptativa’, de sua autoria. “Fundei o centro para aprimorar a qualidade e a quantidade da liderança praticada ao redor do mundo para torná-lo melhor”, resumiu. “Meus cursos são de liderança, não apenas sobre liderança.”

Leia também: A importância da humildade em um grande líder

Entre seus muitos ex-alunos estão o secretário-geral da ONU Ban Ki Moon, o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, premiado em 2016 com o Nobel da Paz, e Tsakhiagiin Elbegdorj, atual presidente da Mongólia. Um deles, Luiz Felipe d’Ávila, trouxe a metodologia ao Brasil e implementou o Centro de Liderança Pública, em São Paulo. “É um centro maravilhoso – você não precisa vir a Boston!”, empolga-se.

Heifetz estará no Brasil no dia 7 de novembro para participar do HSM Expo, maior evento de gestão da América Latina, e conversou com o Na Prática sobre liderança, natureza, eleições e a crise de confiança no cenário mundial.

Na Prática: O que um grande líder tem?

Ronald Heifetz: Coragem, um profundo senso de propósito e a capacidade de aprender publicamente. Isso significa não ter vergonha de aprender em público e entender que o trabalho adaptativo exige tentativa e erro. É como na tecnologia: há a versão 1.0, 1.1, 1.2…

Precisamos ter autoconfiança suficiente para admitir que estamos aprendendo na frente dos outros sem precisar fingir que temos as respostas o tempo todo. É a habilidade de aprender no trabalho e encorajar outros a fazerem isso também.

O sr. vê isso acontecendo? Se uma figura pública muda de ideia, a reação dos outros costuma ser bastante negativa.

Acho que você está descrevendo uma grande limitação que impede pessoas em posições de liderança e autoridade de praticar a liderança. Há uma pressão enorme para agir sempre como o gorila dominante, que bate no peito e sempre sabe onde encontrar comida.

Isso funciona belamente em um ecossistema estável, mas não num ambiente em evolução onde o gorila não sabe o que fazer. Ele precisa então mudar o contrato social e as expectativas dos outros para que eles não apenas confiem no líder ou na líder por não saberem, mas por dizerem que não sabem. E isso exige educar as pessoas para que apreciem as grandes diferenças entre resolver um problema de rotina e um que exige inovação, descoberta e aprendizado social.

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Então deveríamos ensinar liderança na escola?

Sim, poderíamos começar até no ensino fundamental. Queremos que as crianças aprendam não apenas competências sociais de comunicação, resolução de conflitos e negociação, mas também que liderança não é igual a ser a criança dominante – que é possível praticá-la sem isso. Tendemos a crescer equiparando liderança e autoridade e as pessoas que não são dominantes supõe que não é para elas. Assim, muitos cidadãos ficam esperando outros assumirem a liderança. Não acham que é seu trabalho ou que são capazes.

A liderança é uma prática e há muitas pessoas em posições de autoridade que não a praticam e muitas, muitas que a praticam sem autoridade. Pessoas que não esperam ser convocadas, eleitas ou indicadas: elas vêem um problema e assumem a responsabilidade.

Que características terá o líder do futuro?

Há algumas capacidades e habilidades estáveis: coragem, a capacidade de parar para refletir no meio da ação – que exige disciplina psicológica e emocional – e uma paixão por fazer a diferença no mundo, não apenas avançar nele. O que vai mudar serão as habilidades de diagnóstico necessárias para avaliar a natureza dos desafios adaptativos. Os desafios em si evoluem e as comunidades também.

 

O medo aparece com força em muitas das mudanças que estamos passando, como quando se fala das consequências de mudanças climáticas. Como ele influencia o cenário?

O medo, claro, gera suas próprias defesas regressivas e temos visto isso nos EUA em nosso sistema político. Temos um anseio forte pelo arquétipo primitivo do homem forte que pode salvar o dia e salvar a nação das mudanças – seja construindo um muro ou insistindo que não precisamos aceitar uma sociedade multicultural.

Essas mudanças criam um mercado para que as pessoas surjam e falhem em praticar a liderança, mesmo que tenham tudo sucesso na hora de obter uma posição de autoridade.

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E autoridade não necessariamente significa liderança.

É fundamental distinguir entre liderança e autoridade e isso nos dá vantagens para pensar sobre pessoas em posições altas de liderança que falham na hora de liderar.

Assim podemos explicar porque um papel de autoridade lhe dá muito poder e recursos, mas também limita a prática de liderança. Às vezes é mais fácil liderar sem o trabalho do chefe: há mais espaço para fazer as perguntas difíceis e menos pressão.

Podemos também desenvolver pessoas, jovens ou não, para que pratiquem a liderança sem autoridade. Não são apenas os empreendedores que liderarão ao começar novas organizações, mas pessoas que começarem do lado de dentro ou de fora para que a mudança suba pela hierarquia e se espalhe nas quatro direções.

Ou seja, um líder precisa empoderar os outros?

Exatamente. Uma das principais fontes da adaptabilidade que vemos na natureza é a inteligência distribuída. A natureza trabalha tendo uma população diversa, que aumenta as chances de um membro de sua espécie inovar ou começar uma inovação que permitirá que a espécie prospere num novo ambiente.

O trabalho adaptativo, que é diferente da resolução de problemas técnicos, exige a inteligência coletiva. E isso significa que autoridades em posições alta devem fazer as melhores perguntas ao invés de oferecer todas as respostas – e encorajar e proteger as pessoas que fizerem as perguntas difíceis antes que sejam neutralizadas.

O sr. mencionou a importância do equilíbrio emocional e mental e temos visto um número crescente de executivos falarem sobre meditação. O que acha desse tipo de método?

Aplico esse e outros métodos. As pessoas têm muitos jeitos diferentes de administrar o estresse da liderança e manter sua capacidade de distinguir o “eu” do seu papel, de não personalizar as coisas mesmo quando estão sob ataque. Algumas meditam ou rezam, outras vão para a academia ou tomam café com amigos na mesa da cozinha.

Não recomendo nenhuma forma em especial, mas acho muito importante ter algum tipo de santuário e protegê-lo. Se você fosse para Boston, compraria um casaco de inverno! Então, quando praticar a liderança, precisa estar preparado para não ser levado pela correnteza e manter um senso de equilíbrio.

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O Brasil ainda passa por uma grande crise de representação, em que há enorme falta de confiança pública em figuras de liderança política. Como um país pode trabalhar para recuperar essa confiança?

É uma pergunta relevante também nos EUA, quando tanto Donald Trump quanto Hillary Clinton não têm a confiança da sociedade. Tive a oportunidade treinar, ensinar ou aconselhar diversos políticos e eles tem o trabalho muito difícil de renovar a confiança do público. Há enormes tentações relacionadas à corrupção e vivemos num tempo em que o público não tolera mais esse tipo de corrupção – e ao mesmo tempo a alimenta, porque quer tratamento especial para isso ou aquilo.

Então eliminar a corrupção e se tornar uma autoridade digna de confiança é uma das tarefas mais sagradas para líderes nos próximos 20 anos, e isso é muito difícil. Conheço pessoas que não são promovidas no meio político ou corporativo porque não aceitam ou não permitem propina. Acho que é criticamente importante se comportar de maneira íntegra, mas também aconselho as pessoas a fazerem uma transição gradual de um conjunto de normas culturais corruptas para um conjunto mais honesto.

É um grande debate que tenho tido ao longo dos anos e uma grande razão para preparar as pessoas para a liderança desde cedo – para que possam desenvolver as habilidades e se imunizarem contra as muitas tentações que acompanham as altas posições de poder ou riqueza. Precisamos de pessoas que cheguem ao topo e digam: ‘OK, finalmente cheguei aqui e vou mudar as regras do jogo’. E elas precisam ter habilidades para mudar as regras e se manterem vivas politicamente.

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