Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é inovação radical.
O que acham que é
Um novo produto que seja surpreendente, ousado, muito diferente dos que já existem no mercado.
O que realmente é
Algo que é novo para o mercado e que traz uma grande mudança tecnológica, estrutural ou operacional. Para o instituto americano Radical Inovation Group, referência mundial no assunto, a definição de inovação radical é a seguinte: a criação de uma nova linha de negócios, tanto para a firma quanto para o mercado, que ofereça de 5 a 10 vezes mais melhorias na performance ou de 30% a 50% (ou mais) de redução nos custos. É comum que o termo seja confundido com inovação disruptiva. Os dois são mesmo parecidos. Só que inovações radicais são disruptivas, mas nem toda inovação disruptiva é radical. Complicou? Um jeito fácil de diferenciar os dois é saber que, para ser disruptiva, uma inovação não precisa ter uma tecnologia totalmente nova, basta ser mais simples, mais barata, mais prática (uma forma nova de chamar o taxi, por exemplo, com um aplicativo).
Quem inventou
O primeiro a falar em inovação radical foi o economista austríaco e professor de Harvard, Joseph Schumpeter (1883–1950). Ele classificou as inovações de acordo com seu grau de novidade em três tipos: a radical, completamente diferente de qualquer uma que veio antes, como a lâmpada ou o telefone; a incremental, que é uma melhoria em cima de algo que já existe, exemplo do telefone sem fio e dos tablets; e ainda as revoluções tecnológicas, clusters de inovações que juntas são capazes de causar um grande impacto, como a invenção dos computadores pessoais.
Quando foi inventado
Em 1939, no livro Business Cycles (1939), Schumpeter entra no assunto para explicar como a invenção de tecnologias revolucionárias cria ondas de “destruição criativa” — literalmente destroem mercados anteriores e tomam o seu lugar.
Para que serve
Para a academia, entender as inovações radicais ajuda a estudar as transformações no mercado e tudo o que podem influenciar — do treinamento dos funcionários ao comportamento dos consumidores. Para os empreendedores, definir o tipo de inovação que está sendo feita ajuda a entender quais serão as necessidades da empresa. Como entrar no mercado e se posicionar contra concorrentes, se é preciso registrar patente, e até como enfrentar a falta de legislação na área. “Para a saúde financeira da empresa, no médio e no longo prazo, a radical é o tipo de inovação mais importante”, afirma o professor Mario Sergio Salerno, coordenador do laboratório de gestão da Inovação da Poli-USP. “Quem faz inovação radical tem uma vantagem competitiva clara em relação aos concorrentes. Pode dominar o mercado por um bom tempo. Por isso tantas empresas vêm investindo em áreas de pesquisa e desenvolvimento”, diz.
Quem usa
Os exemplos vêm desde a invenção da roda, passando pelos carros, pelas vacinas que erradicaram doenças e pelos pesticidas que deixaram na história as grandes crises de fome do mundo. Casos recentes como o do Walkman, da Sony, e o das cápsulas de Nespresso, da Nestlé, mostraram a força que inovações radicais podem ter para garantir liderança no mercado. O que não significa que o sonho dure para sempre: bastou que expirassem as cerca de 1 700 patentes que protegiam as cápsulas e máquinas de café da companhia suíça para que o mercado fosse inundado de cópias mais baratas.
Efeitos colaterais
O mais comum é ter que trocar todo o “maquinário” antigo pelo novo, como acontece em fábricas. Se nas casas as máquinas de café Nespresso relocaram as cafeteiras tradicionais para o fundo do armário, na construção civil as impressoras 3D para construção prometem acabar com várias etapas e aposentar equipamentos caros que deixavam as obras tão complexas. A exemplo das inovações disruptivas, essa mudanças de mercados também costumam causar demissões. Se cinco ou seis máquinas podem ser subsituidas por apenas uma (a impressora 3D), muita gente vai precisar procurar outro lugar no mercado. Esse é justamente um dos efeitos da “destruição criativa” que Schumpeter explicou.
Quem é contra
Não é exatamente uma briga, mas muitos teóricos criticam a supervalorização das inovações radicais e defendem as inovações incrementais. É que as primeiras podem ser caras, difíceis de implementar, e nem sempre lucrativas. “É uma visão comum que o impacto cumulativo de inovações incrementais é tão grandioso (se não maior), e que ignorá-lo poderia levar a uma visão enviesada no longo prazo das mudanças economicas e sociais”, afirma Jan Fargenberg, professor da Universidade de Oslo, na Noruega, autor de vários livros sobre inovação. Dois bons exemplos disso são o buscador do Google e o Gmail. Não foi a gigante do Vale do Silício quem inventou os sites de pesquisa nem o e-mail gratuito, mas foi quem os fez melhor.
Para saber mais: Assista à aula sobre gestão da inovação O que é inovação: tipos e graus, da Poli-USP, leia o livro The Oxford Handbook of Innovation, e leia o artigo You Call That Innovation?, do The Wall Street Journal.
Gisela Blanco é jornalista mestre em Business Innovation pela Universidade de Londres.
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Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT