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ALL na prática: a rotina de um superintendente financeiro

Homem executivo usa calculadora para conferir dados do caderno

Enquanto os colegas da faculdade de economia sonhavam em trabalhar em bancos de investimento, de olho nas gordas comissões pagas na compra e venda de empresas, Pedro Albuquerque queria mudar o Brasil. Ele sonhava em trabalhar com obras de infraestrutura, que gerassem valor para a sociedade e contribuíssem para o desenvolvimento do país. “Quando decidi trabalhar em indústria, fora do eixo Rio-São Paulo, me chamaram de louco. Mas quando você faz o que gosta e encontra uma empresa te dá a pista para crescer, o resultado e as oportunidades vêm”, afirma.

Em 2010, recém-formado, Albuquerque aceitou um convite para se mudar para Curitiba (PR) e trabalhar na área financeira da ALL (América Latina Logística), maior empresa de logística da América Latina e maior companhia ferroviária do Brasil. A companhia possui uma frota de 1.095 trens e uma malha de 13 mil quilômetros de extensão que passa por seis estados. Ela transporta produtos para clientes dos segmentos agrícola, como açúcar e soja, e industrial, como combustível e chapas de aço. Seu trabalho lá passava por definir investimentos para a construção mais ferrovias, para melhorar a eficiência das existentes e do escoamento das cargas nos portos.

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Como é sua rotina
Desde que entrou na ALL, o economista foi promovido quatro vezes na área financeira. Em seu último ano na empresa, trabalhou como superintendente, coordenando três equipes: tesouraria, planejamento financeiro e relações com investidores. Entenda como funcionam as áreas:

Tesouraria: cuida dos resultados da empresa, do pagamento de impostos e das dívidas contraídas para financiar projetos. É impossível planejar o futuro da companhia ou conversar com bancos e investidores para levantar capital sem mostrar um retrato claro das finanças, como o histórico de resultados e quanto gastou em cada investimento.

Planejamento financeiro: lidera a equipe que pensa o futuro da empresa, novos projetos e investimentos. O que a ALL estará fazendo ano que vem? E daqui a cinco anos, dez anos e vinte anos? Que áreas têm mais potencial de crescimento? Como pode melhorar sua eficiência? A ALL trabalha com ferrovias, mas decidiu diversificar seu negócio nos últimos anos. Vem investindo em novos segmentos: criou uma empresa rodoviária, uma de armazenamento de carga em contêiner e outra de mineração, que se tornarão relevantes em alguns anos. Foi a área de planejamento financeiro que calculou a viabilidade desses projetos e como vão complementar a atividade da empresa no futuro.

Relações com investidores (RI): a equipe fica em contato com bancos e investidores que financiam a empresa. O trabalho é traduzir os resultados da companhia, levantados pela tesouraria, num discurso interessante. E também mostrar as oportunidades de crescimento da empresa, definidos pelo planejamento financeiro. A pergunta que bancos e investidores mais fazem é: “como a ALL ajudará a superar os desafios logísticos do país?”. Com base nos números e planos, a equipe responde.

Como busca talentos
Na ALL, Pedro também se preocupava em atrair os melhores profissionais para sua área. Ele procurava pessoas criativas que têm vontade de crescer com a empresa. Aprender finanças é consequência, e vem com anos de mão na massa. “Não é porque você vai trabalhar com conta que não precisa pensar em soluções fora da caixa”, afirma. Como as três áreas – tesouraria, planejamento e RI – precisam estar todo o tempo em contato trocando informações, também é importante que a pessoa saiba se comunicar, consiga ajudar e ser ajudado pelos colegas.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

A ascensão meteórica de um diretor comercial na ALL

Homem apresenta dados em reunião de trabalho

Eduardo Fares é um exemplo de carreira meteórica movida pela meritocracia. Com apenas 33 anos, é diretor comercial da ALL (América Latina Logística), maior empresa independente de logística da América Latina.

Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eduardo escolheu a graduação por já estar de olho nas oportunidades futuras: percebeu que havia uma preferência por engenheiros nas posições de destaque do mercado financeiro, além, é claro, da aptidão pelas ciências exatas.

Já sua escolha pela área de infraestrutura tem a ver com as oportunidades resultantes da demanda por investimento e bons projetos. O que não quer dizer que ele não veja obstáculos no setor. “Hoje temos uma série de limitações regulatórias e institucionais que inibem, retardam e às vezes até inviabilizam a maior parte dos projetos do país”, diz.

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Uma empresa, vários cargos

Eduardo ingressou na ALL por meio do programa de trainee em 2003 e, desde então, galgou posições de destaque em diferentes áreas da empresa. Em 2004, foi analista de produção, chegando a coordenador de produção em 2005. Dois anos depois, já era gerente de execução, evoluindo para superintendente da unidade de negócios e granéis em 2009, e diretor comercial em 2011.

Para ele, acumular competências e investir em cursos para suprir outras que ainda não tinha foram fundamentais para sua ascensão profissional. Além da formação como engenheiro, fez MBA em Gestão de Negócios na fundação Getúlio Vargas (FGV) e cursos de Financial Management na Stanford University e Senior Executive Program na London Business School.

[Eduardo Fares, diretor comercial da ALL]

A ligação forte com a empresa onde fez carreira se deve à identificação de Eduardo com os pilares da ALL e a grande curva de aprendizagem resultante de uma crescente delegação de responsabilidade. “Na ALL, o único diferencial para remuneração, promoção e evolução rápida das pessoas é a meritocracia. Com oito anos de companhia, virei diretor aqui dentro. Sem meritocracia você não consegue manter os grandes talentos no médio prazo”, diz.

Segundo ele, há muitos chefes jovens na empresa, e os projetos exigem muito mais responsabilidade de seus gestores do que o mercado normalmente exige de um profissional não tão experiente. Eduardo mesmo passou pelo maior desafio da sua carreira muito jovem, com 25 anos. Ele conta que, em 2006, 70% da produção da empresa circulava no norte do Paraná, através do setor ferroviário, e um acidente de trem derrubou a maior ponte que dava acesso ao porto de Paranaguá, interrompendo o processo de transportação por algumas semanas.

“Criamos uma estratégia emergencial usando outros modais, uma estratégia de guerra para conseguir transportar a carga, e eu fui responsável por essa força de trabalho, que demandou muita criatividade e esforço, com muito risco. Foi uma das grandes escolas que eu tive aqui dentro”, conta.

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O perfil da equipe, segundo o diretor comercial

O diretor acredita que o maior desafio de um cargo de liderança é recrutar, formar bem a equipe e manter os bons talentos na empresa. Boa parte de seu trabalho se resume a fazer gestão de pessoas, isto é, construir e manter um bom time confiante e animado. Conquistar essa façanha, no entanto, não é tarefa fácil.

Eduardo se baseia em três premissas para alcançar seu objetivo: o candidato tem que ser tão ou melhor preparado quanto ele era na época em que aplicou para um cargo equivalente, precisa ser automotivado e apto a sucedê-lo. “Procuro pessoas que eu não precise motivar, que não sejam executores, mas corram com suas próprias pernas. Prefiro contê-las do que empurrá-las”, explica.

Aos interessados nessa área, Eduardo tem três conselhos: pautar sua vida à carreira por um bom projeto, pensar sempre no médio prazo e ter uma postura adequada não à sua atual função, mas à que você quer ter um dia. “Nunca pautei minhas decisões por vaidade profissional ou por um reajuste salarial. Sempre olhei mais à frente e vi que na ALL eu teria um retorno de carreira e remuneração. O jovem profissional tem uma ansiedade inerente, mas, se ele tiver um objetivo para o médio prazo, consegue pautar suas decisões por um projeto, e não por dinheiro.”

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Infraestrutura: do escritório ao canteiro de obras

Encruzilhada de trilhos de trem com reflexo de sol

O brinquedo ou a brincadeira preferida de uma pessoa durante a infância podem dar pistas de qual carreira seguir no futuro. É comum ouvir, por exemplo, atores ou cantores famosos contando, em entrevistas, como costumavam organizar shows particulares para a família quando pequenos. Mas, se o seu jogo favorito eram os blocos coloridos de montar, talvez seja a hora de considerar uma carreira em infraestrutura, o conjunto de elementos e atividades da economia que servem de base para o desenvolvimento de outras atividades. Entram aí sistemas de distribuição de água e tratamento de esgoto, transporte e construção civil.

Segundo um relatório da agência de classificação de risco Moody’s, os investimentos em infraestrutura no Brasil cresceram desde a década de 1970, mas ainda existe uma lacuna de 140 bilhões de dólares, principalmente no segmento de transportes. Os avanços na área de infraestrutura do Brasil acontecem em ritmo lento. Mais lento que o albanês, por exemplo, conforme o Fórum Econômico Mundial. De acordo com a organização, a qualidade da infraestrutura brasileira subiu 0,7 ponto entre 2005 e 2013, metade do que melhoraram Albânia, Geórgia e Indonésia. Se, por um lado, o cenário é ruim, por outro, significa que há oportunidades para crescimento e melhorias neste mercado.

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Prédios e outras obras continuam sendo construídos em várias cidades, especialmente no interior de São Paulo e no nordeste. É lá que as grandes empresas do setor têm buscado profissionais. “É uma região que está recebendo muito investimento. É a bola da vez”, comenta Karine Monteiro, gerente de Gente e Gestão da construtora Alphaville. Um dos seus maiores desafios é encontrar engenheiros sêniores, que consigam tocar um projeto inteiro. “Meu maior volume para contratação ainda é em São Paulo, para o backoffice. A função da empresa é de engenharia, mas ela só acontece com o suporte de todas essas áreas”, explica ela.

Encontrar bons profissionais de marketing, vendas, finanças, tecnologia da informação e negócios é igualmente desafiador, porque eles são disputados com empresas de outro setor. Para driblar a falta de mão-de-obra, as empresas investem em programas de estágio e trainee. A Odebrecht, a Cyrela e a Andrade Gutierrez, da construção civil, recorrem a programas desse tipo e pagam salários de até 6.000 para os jovens selecionados.

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Na área de transportes, a cabotagem, ou o transporte interno de cargas pelo mar, teve uma taxa de expansão de 28% no ano passado, e o setor deve crescer 10% ao ano até 2020. De acordo com Julio Castro, consultor da empresa de recrutamento Michael Page, existe um gargalo na estrutura rodoviária nacional que só pode ser superado com o transporte marítimo. “Estão acontecendo muitas obras de dragagem nos portos, para aumentar a profundidade deles e conseguir receber navios maiores. Isso tudo demanda muita mão-de-obra, do Rio Grande do Sul até o Pará”, comenta.

As contratações no setor, que tem empresas como a Log-In, a Maesk e a Aliança vão desde vagas administrativas e de novos negócios até comandantes especializados por embarcação e chefes de máquina. Com o crescimento de empresas do setor de óleo e gás, que rouba pessoas da área de logística, o mercado tem hoje um gap de cerca de 1.000 funcionários, o que faz com que o profissional saia da escola da marinha mercante ganhando 10.000 reais.

A falta de mão-de-obra qualificada no Brasil tem feito algumas empresas apelarem para a justiça, para contratar estrangeiros. Enquanto isso, em terra firme, a ALL Logística, maior companhia ferroviária do país, investe também em programas de trainee e estágio. A última é a mesma tática usada também por empresas da área de saneamento básico, como Sabesp e CEDAE, com uma diferença: depois de formados, por se tratar de companhias públicas, os funcionários precisam ser concursados.

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Ambev na prática: a experiência de um profissional de operações

Latas vazias

Quando Mario Fernandes começou a graduação em engenharia mecatrônica, ainda não imaginava trabalhar na área de negócios, ainda mais em operações. Depois de cinco estágios diferentes durante a faculdade, percebeu que queria ter uma experiência mais consistente de mercado – para futuramente empreender – e decidiu prestar o trainee da maior cervejaria da América Latina, a Ambev. “Conversei com algumas pessoas que trabalhavam na empresa, e todas diziam ter experiências muito enriquecedoras em um curto espaço de tempo. Elas afirmavam que era possível assumir responsabilidades grandes desde cedo, que tudo acontecia muito rápido lá dentro”, conta Mario.

Selecionado, ele passou por diversas áreas da empresa, até se fixar em operações – apesar de um preconceito que guardava sobre a função de sua experiência em outras empresas. “É uma área menos glamorosa. Você não vai ficar em um escritório no Itaim, e sim trabalhar em um centro de distribuição, usando equipamentos de segurança e almoçando na fábrica. Isso acaba afastando muitos talentos dessa área, pois algumas pessoas podem imaginar que o profissional de operações acaba ficando esquecido, estagnado. Pelo contrário: nessa função é muito mais fácil se destacar e crescer”, diz.

Essa foi uma das razões pelas quais Mario aceitou o desafio. “Eu sabia que tinha mais chances de chegar a uma posição de liderança mais cedo e poderia trabalhar com gestão de pessoas e formação de equipes, habilidades que eu queria desenvolver”, diz. As outras duas razões foram as experiências que a área oferece – do planejamento, análise e raciocínio até a execução de projetos – e o gerente responsável pela área. “Ele me apoiava no início da carreira e poderia ser um bom mentor para mim.”

Liderança e jogo de cintura
Para aqueles que ainda estão indecisos sobre se devem trabalhar com operações, Mario oferece mais motivos: esta é uma área estratégica na empresa – algumas delas têm 75% do quadro alocados nesse departamento –, e haverá a possibilidade de ajudar a desenvolver pessoas. “Há poucos profissionais capacitados trabalhando nessa função, portanto, emprego não falta. Aos de coração forte, é uma área com muita adrenalina. O contexto pode mudar de uma hora para a outra, e as fábricas e entregas não podem parar. Trabalhar com essa imprevisibilidade ajuda você a desenvolver um jogo de cintura”, afirma.

Apesar de gostar muito do trabalho, depois de quatro anos e meio, Mario decidiu ir para os Estados Unidos fazer um MBA em Harvard. Fora do país, teve contato com pessoas de culturas e contextos diferentes, inclusive conheceu quem viria a ser seu sócio. Juntos, criaram a Mobly, empresa que vende móveis pela internet. Para entregar seus produtos, a maioria deles bem grandes, em todo o Brasil, a experiência e o jogo de cintura que conquistou durante seus anos em operações na Ambev ajudam muito.

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Indústrias de base: os pilares da economia

Estacas de aço para sustentação

Quando os portugueses desembarcaram no Brasil, há mais de 500 anos, eles procuravam, sobretudo, ouro. E encontraram, além desse metal, muitas outras preciosidades, como diamantes, turmalinas paraíba e outras pedras, que enriqueceram mineiros e governo por bastante tempo. Hoje, não só das pepitas gira nossa indústria de extração mineral.

Mineração
O Brasil é um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo. Só a Vale, uma das maiores no mercado global, produziu 85 toneladas nos quatro últimos meses do ano. Nossas reservas de nióbio, um metal raro, fundamental para a indústria de alta tecnologia, somam mais de 95% de toda a produção mundial.

Apesar disso, as empresas dessa indústria passam por dificuldades para atrair a atenção de investidores. Para Luciana Pires, diretora de impostos do Centro de Energia e Recursos Naturais da EY, “o cenário atual, de indefinições jurídicas no setor, assusta os investidores estrangeiros”. Segundo Luciana, há também uma escassez de mão de obra qualificada para a indústria, que pode ser agravar nos próximos anos, já que, estima-se, sejam criados 150.000 postos de trabalho no setor até 2015.

Para contornar esse tipo de problema, empresas como Vale, Sama (mineradora de amianto), Anglo American (de níquel) e Samarco (de minério de ferro) investem em treinamentos internos. Os profissionais mais requisitados em campo são engenheiros civis e de minas e geólogos, que estudam os minérios e trabalham como apoio às operações de extração. Para o escritório, a maior dificuldade é encontrar profissionais de vendas familiarizados com o negócio.

Siderurgia
Não só de extrativismo vive a indústria de base. Há também as siderúrgicas, por exemplo, que são dedicadas ao tratamento de aços e ferros fundidos. O Brasil é um dos dez maiores produtores de aço do mundo, com 29 usinas, administradas por 11 grupos empresariais. Entre eles, estão Gerdau, ArcelorMittal Brasil, CSN, ThyssenKrupp CSA, Usiminas e Votorantim.

De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, as siderúrgicas vão investir 28 bilhões de reais entre 2013 e 2016. No setor, a maior parte das oportunidades de emprego ficam em Minas Gerais, o líder na produção de aço do país, mas há empregos em várias regiões.

O programa de trainee da Gerdau, por exemplo, contrata todo ano cerca de 60 jovens, de qualquer área, para trabalhar em sete estados. A Votorantim, na sua unidade de cimentos, que também faz parte da indústria de base, possui o programa Produzindo Futuros, também voltado a jovens recém formados.

Papel e celulose
Um outro setor faz parte dessa indústria – e usa programas de trainee como forma de recrutar profissionais – é o de papel e celulose, alguns dos produtos mais consumidos pela humanidade. Eles estão nos livros, nos jornais, nas revistas, no guardanapo, nos documentos, nas notas de dinheiro, nas cartas, nas embalagens de produtos, no embrulho de um presente, nos convites de casamento e até no nosso banheiro!

Segundo a Indústria Brasileira de Árvores – entidade que representa 62 empresas e emprega cerca de 5 milhões de pessoas direta ou indiretamente –, os projetos de investimento das empresas chegam a 53 milhões de reais até 2020. Entre as maiores do setor estão Suzano, Klabin, Fibria, International Paper e Cenibra.

Por ser um setor que investe em sustentabilidade, as empresas competem por engenheiros ambientais e florestais, focados em redução de custos e impactos ambientais. Do outro lado da indústria, quem tem formação em tecnologia da informação, finanças e administração pode encontrar boas oportunidades.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Educação: a chave para um Brasil melhor

Livros empilhados

Em 1991, apenas 30% da população brasileira com até 18 anos tinha concluído o ensino fundamental. Vinte anos depois, esse percentual era de 55%. Atualmente, o Brasil tem 50 milhões de estudantes matriculados no ensino fundamental e médio – 83% deles na rede pública. Para os mais jovens, o cenário é ainda melhor: o percentual de crianças com 5 e 6 anos frequentando a escola subiu de 37% para 91% no mesmo período.

Também evoluímos no ensino superior. Grande parte do movimento aconteceu no setor privado, que hoje absorve 70% dos alunos. As matrículas em cursos de graduação aumentaram de 4 milhões para 7 milhões na última década, mas ainda há muito a avançar quando nos comparamos a outros países. Apenas 27% dos nossos jovens estão nas universidades, contra 59% no Chile e 71% na Argentina. Mestres e doutores são menos de 0,5% da população brasileira.

Leitura e aprendizado
Se antes o desafio era colocar os jovens na escola, hoje é fazer com que eles aprendam. O Brasil ficou na posição 38 entre os 44 países participantes de um teste de raciocínio lógico aplicado recentemente pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O principal problema está na leitura, porque nossos alunos têm dificuldades em interpretar o enunciado das questões.

Nesse contexto, não há dúvidas de que a competitividade do Brasil no mercado internacional depende de avanços importantes no ensino. O trabalhador brasileiro tem um quinto da produtividade do trabalhador americano, e boa parte da diferença se justifica pela falta de preparo da força de trabalho. Assim, os jovens que se sentem motivados a construir um país melhor podem encontrar seu caminho na educação, mesmo que desafiador.

Mercado de trabalho
Na indústria de educação, o Brasil não só precisa de bons professores, mas também de gestores que tragam visão de negócio e estratégia para as instituições de ensino. Uma formação desejável para quem pensa em construir uma carreira como líder de uma empresa de ensino é administração. Ela pode ser complementada com um curso de especialização em pedagogia, focado em melhorar os processos de aprendizagem.

Conheça áreas que oferecem as melhores oportunidades no mercado:

Ensino superior: nos últimos cinco anos, o pulverizado mercado de instituições de ensino, com mais de 2.000 empresas, começou a se consolidar no Brasil. Há um ano, duas das maiores empresas brasileiras no setor, Kroton e Anhanguera, se juntaram para formar o maior grupo de educação do mundo – são 1 milhão de alunos. Outros grandes grupos são Estácio, Unip, Laureate (Anhembi Morumbi e FMU) e Uninove. Estruturar esses gigantes de maneira a garantir a qualidade do ensino é o desafio dos gestores dessas empresas.

Sistemas de ensino: de duas décadas para cá começaram a se popularizar no ensino fundamental e médio a adoção dos chamados sistemas de ensino. Eles são conjuntos de apostilas adotados em sala de aula para guiar o trabalho do professor que servem como material didático para os alunos. É como se a escola terceirizasse o trabalho de pensar sua proposta pedagógica para empresas que prometem mais qualidade e produtividade em sala de aula. Muitas vezes o trabalho vai além do professor: o sistema dá suporte para escola em ações de comunicação e marketing para chamar novos alunos, e em como usar novas tecnologias de maneira eficiente. Entre as empresas responsáveis por produzir, atualizar e vender para as escolas esses materiais estão: Objetivo, Abril Educação (dos sistemas Anglo, pH, Ser), COC, Pitágoras e Positivo.

Ensino à distância (EAD): não faz muito tempo que cursos online eram vistos como apenas formação complementar. Hoje, a maioria das universidades que são referência no mundo oferecem cursos à distância – algumas delas dão a seus alunos diplomas iguais àqueles dos alunos de aulas presenciais. Por causa do avanço da tecnologia e da comodidade de estudar de casa, o EAD é a modalidade de ensino que mais cresce no Brasil: em uma década passou de 100.000 matrículas para mais de 5 milhões seja graduação, pós, cursos livres ou executivos. Empresas como Anhanguera/Kroton, Unip e Estácio têm centenas de milhares de alunos no EAD. Mas se trata de um campo vasto de trabalho que também está sob a mira de startups, como a Veduca, que oferece cursos online de escolas estrangeiras renomadas como MIT e Yale, traduzidos para o português, e a Descomplica, que funciona como um cursinho de pré-vestibular e ENEM online.

Educação executiva: hoje é esperado que um profissional volte várias vezes à sala de aula para se manter competitivo e atualizado. A exigência para isso nunca foi tão grande. A boa notícia é que há muitas opções – desde os cursos rápidos, de uma semana, até os mestrados profissionais. Entre as principais escolas de negócios brasileiras estão a Fundação Dom Cabral, o Insper, a Saint Paul Escola de Negócios, a Fundação Instituto de Administração (FIA) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Todas elas oferecem módulos internacionais para complementar o curso, experiência desejável no mercado.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Recursos humanos: o desafio de gerir pessoas

Mulher e homem apertam mãos e firmam acordo

“O maior patrimônio de uma empresa são seus colaboradores.” Você provavelmente já se deparou com essa frase. Ela é um importante mandamento do mundo corporativo, mas é especialmente valiosa para o profissional da área de recursos humanos – afinal, a gestão de toda essa riqueza está a cargo dele. Desde o recrutamento, passando pelo treinamento e gestão de pessoas e desembocando na política de remuneração, os preceitos norteadores desse profissional passam por identificar, administrar e potencializar o capital humano.

Muito além do recrutamento

Uma boa notícia para quem planeja trabalhar na área de recursos humanos é que esse é um campo vasto, com diversos subsistemas e possibilidades de atuação. O mais conhecido deles é o de recrutamento seleção, em que o profissional de RH desenha e executa o processo seletivo, identificando junto a empresa as demandas da contratação, entendendo as necessidades de cada área e até auxiliando os gestores na hora da decisão final.

Com características semelhantes, a área de treinamento tem como objetivo identificar as necessidades da empresa e de seus funcionários, propondo, planejando e promovendo cursos de reciclagem e aperfeiçoamento de acordo com as necessidades da empresa e dos gestores.

Também há espaço para os profissionais de recursos humanos nas áreas de cargos e salários, ligada a política de remuneração e meritocracia, e de folha de pagamento, que, como o nome sugere, comanda os pagamentos e gerencia algumas questões trabalhistas.

Perfil estratégico

Uma tendência apontada pelos especialistas é a de um aumento na demanda por perfis mais estratégicos para atuarem como business partners. São profissionais que trabalham junto a uma determinada área da empresa (como, por exemplo, o setor comercial ou jurídico) para que possam propiciar maior sinergia. Essa tendência nasce, principalmente, da necessidade que as empresas sentem de reter talentos.

É papel desse profissional, entre outros, identificar ou responder prontamente a uma necessidade de contratação, treinamento, revisão de plano de carreira e execução de avaliação interna. Para isso, ele precisa conhecer a fundo as operações do setor, participando de perto das atividades cotidianas dos colegas – sempre com o olhar sobre o capital humano.

Vale lembrar que essa é uma visão ampla do mercadode trabalho. Na prática, é importante levar em conta o perfil de cada empresa. Em geral, empresas menores não dispõem de um alto grau de especificidade na atuação do profissional de RH e as circunstâncias exigem que ele atue em diversas frentes ao mesmo tempo, muitas vezes contando com a ajuda de consultorias externas.

Quem se candidata?

Você já deve ter percebido que uma característica básica que os interessados na área devem apresentar é gostar de lidar com gente. É preciso relacionar-se bem, gostar de interagir e saber identificar habilidades, competências e necessidades. Também é fundamental ter intimidade com números e dominar ferramentas e métodos de avaliação.

Os cursos tradicionalmente ligados à área de recursos humanos são psicologia e administração, mas cada vez mais pessoas formadas em outras carreiras têm ingressado na área devido à importância estratégica que ela vem ganhando dentro das empresas. Afinal, se o maior patrimônio de uma empresa são seus colaboradores, é preciso cuidar bem deles.

Como resolver ‘cases’ em processos seletivos de consultorias

Mulher e homem discutem em reunião de trabalho

Se você já participou de algum processo seletivo para trabalhar em uma consultoria, deve ter notado que muitos dos cases que aparecem nas provas parecem um tanto surreais. Os examinadores podem te pedir para descobrir, por exemplo, se uma loja de caixões produzidos à mão na Moldávia é lucrativa ou não – sendo que o único número passado ao candidato é o market share (participação no mercado) da empresa no país.

“Nesse caso, você pode começar estimando a população da Moldávia e a taxa de mortalidade no país. A partir disso, é possível calcular o tamanho total do mercado de caixões lá e estimar o volume de vendas da loja. Então, você supõe qual é a receita, o custo e o lucro esperados, para chegar ao preço médio do empreendimento no mercado em questão”, aponta Caio Dafico, consultor associado da consultoria Bain & Company.

 

Leia também: Guia completo para você conseguir a vaga desejada

 

Depois, é hora de analisar outros dados do case. Suponhamos que o candidato também tenha a informação de que a concorrência começou a produzir caixões industrializados, que custam três vezes menos do que os produzidos manualmente pela loja em questão. “Nesse contexto, a recomendação ao dono do empreendimento é sair do negócio, pois em poucos anos ele vai dar prejuízo. Para traçar uma estratégia de saída do mercado, você precisa calcular quanto valem os ativos da empresa, a fim de descobrir o melhor momento de vender o negócio”, diz.

Outro tipo de case que pode surgir no recrutamento de consultorias é o desafio de abrir um banco para as classes D e E em El Salvador, por exemplo. “Uma ideia para começar a resolver esse problema é calcular a margem financeira desta operação, a partir de uma estimativa do spread bancário (diferença entre a taxa de empréstimo e a taxa de captação). Para tal, basta estimar o PIB do país, supor quantos % do PIB é composto por consumo destas classes e quanto deste consumo é pago através de empréstimos. Este é um excelente primeiro passo para ver se justifica a abertura do banco ou não”, afirma o gerente da Bain Rafael Martines.

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Para Rafael, o segredo é criar uma estrutura lógica de pensamento, fazendo análises a partir de hipóteses. “É o que acontece no dia a dia do consultor. Você precisa elaborar hipóteses primeiro, para depois checar os números reais e exatos. No fim, o que o examinador quer saber é se você é capaz de entender e analisar os problemas dos seus clientes”, diz.

“Sem dúvidas, mostrar sua linha de raciocínio é o mais importante”, concorda Caio. “Mas você também precisa saber fazer cálculos e ter bom senso para estimar a ordem de grandeza em que vai se basear. Se você sugerir um número muito absurdo, isso pode te prejudicar.”

Entrevistas

Além de saber como pensar, saber como se portar em uma case interview também é importante. Com duração média de 45 minutos, a entrevista é uma chance de mostrar um pouco sobre quem você é.

E para ter um resultado satisfatório, saber contar sua história, costurando experiências profissionais e acadêmicas de maneira coerente, é fundamental. É o que diz Bruno Barros, recrutador do Boston Consulting Group.“Também vamos analisar o fit com a empresa, ou seja, se você possui os valores que estamos buscando”,  fala.

Bruno avisa que a maneira como você fala e interage também está sendo analisada, já que ter boa comunicação é uma habilidade imprescindível na área, assim como flexibilidade para adaptar modelos de pensamento. Leia-se: não fique tentando forçar um problema em uma estrutura pronta de case, mas adapte-a conforme for necessário.

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O processo também deve ter duas mãos. É importante fazer perguntas e esclarecer quaisquer dúvidas, sejam sobre dados ou sobre o problema proposto, ao invés de resolver tudo em silêncio e entregar uma resposta. E se for desafiado ou criticado, defenda sua posição – mas evite a arrogância e a postura defensiva, já que frequentemente errar faz parte do processo de resolução.

“Como quase tudo na vida, o case nem sempre tem respostas certas e erradas, e sim caminhos que fazem sentido ou não”, resume Bruno. “A gente quer entender o seu problem solving, como você aborda um problema e como você se estrutura para tentar resolvê-lo.”

Christian Orglmeister, sócio do BCG no Brasil, ecoa a ideia em um Bate-Papo com o Na Prática. “A história que eu quero que você me conte é o que você aprendeu, que situações enfrentou, como isso te transformou numa pessoa diferente”, fala. “Esse é o perfil do consultor: ele está aproveitando tudo que faz para aprender e se tornar uma pessoa melhor.”

Clubes

Para auxiliar no processo de preparação surgiram os consulting clubs, ou clubes de consultoria. Presentes em várias cidades brasileiras, são essencialmente grupos de estudos em que alunos treinam em equipe a resolução de cases.

Em unidades mais estruturadas, o conteúdo pode ir além do treino e incluir palestras com consultores, aprofundamento em projetos ou simulações de outras etapas dos processos seletivos – às vezes até com recrutadores das próprias empresas. Há também uma versão online global, o PrepLounge.

Mesmo para alunos mais bem preparados, participar de um consulting club pode ser útil para expandir horizontes. “O clube acaba assumindo a missão de qualificar os alunos para a área de consultorias utilizando-se de projetos e debates pouco explorados em salas de aula”, diz Lucas Eduardo Assis, diretor de relações institucionais do consulting club da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Como entrar: consultoria Bain & Company

executivos dando aperto de mao

Para entrar na empresa de consultoria Bain & Company, é preciso se preparar. Segundo Daniela Carbinato, consultora da empresa, o processo seletivo é bem particular, extenso e exigente. São duas provas escritas – contendo algumas questões do GMAT e outras sobre cases de negócios –, além de dinâmica de grupo e seis entrevistas, também baseadas em cases.

“É impossível se preparar de um dia para o outro. Não é que vá cair um conteúdo que você nunca viu, mas a prova exige uma agilidade que requer treino. As questões do GMAT, por exemplo, podem parecer básicas para quem estudou exatas, mas cada uma precisa ser respondida em 1,5 minuto, o que é um tempo bastante curto”, diz Daniela.

Sabendo disso, ela apostou no estudo prévio para ganhar fôlego para a prova. “O site Join Bain tem simulados online de preparação. Através deles, você se familiariza com a linguagem e os gráficos usados na seleção, o que te ajuda a ser mais rápido na hora de responder. Se você nunca os viu antes, pode demorar mais tempo para interpretá-los”, afirma.

Exigência para consultoria Bain

Nas entrevistas, o objetivo da Bain não é testar como o candidato lida com o estresse. “Claro que existe pressão como em qualquer seleção, mas os entrevistadores são simpáticos e já demonstram uma postura colaborativa que é muito forte na empresa. Eles querem entender como você adere aos seus valores e abrem espaço para que mostre o seu melhor.”

Caio Dafico, consultor associado da Bain, destaca que para resolver os cases é essencial ter uma base analítica forte. “Não adianta só saber fazer conta, é preciso identificar rapidamente como abordar um problema matemático ou lógico. Para isso, você tem que ter uma ideia de estruturação de cases, o que só se consegue com estudo prévio e muita leitura”, afirma.

“Não conheço ninguém que tenha passado sem estudar nada. A régua dos candidatos é alta, e o nível de preparação de todos é muito bom”, diz Rafael Martines, que trabalha na Bain desde 2008 e atualmente está fazendo um dual degree (MBA e MIA) em Columbia University. “Li vários livros e treinei para a entrevista com um consultor associado da própria Bain.”

Riachuelo na prática: a rotina de uma estilista que coordena marcas

Roupas coloridas em exposição

Quando estava prestes a prestar vestibular, Danielle Oliveira de Almeida costumava dizer que queria trabalhar com algo efêmero. Cada projeto deveria consumir seu determinado tempo e, uma vez encerrado, ela queria não ter que olhar para trás. É exatamente isso que ela faz agora, como estilista de coordenação de marca nas lojas da rede de varejo Riachuelo. Ela é responsável pela marca jovem feminina da empresa.

Diferentemente da maioria dos seus colegas estilistas, Danielle estudou engenharia têxtil – e não moda – na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. “Li, na época do vestibular, que cursar moda não era obrigatório para se trabalhar com isso. Percebi que eu poderia desenvolver o lado criativo em outros cursos complementares depois, enquanto a engenharia têxtil me daria um conhecimento de processo industrial, o que achei interessante”, explica. “Hoje, compro uma matéria-prima já sabendo o que posso fazer com ela, como posso tingir, cortar, quais químicos posso aplicar”, comenta.

A escolha do curso foi um diferencial para sua entrada no mercado. Quando foi chamada para uma entrevista de emprego, sabia que concorreria com diversos graduandos em moda. Mas foi ela a convidada para ser trainee. Ao perguntar à gestora por que a tinham escolhido, a resposta foi “por seu conhecimento técnico”.

Entre viagens e escritório

Há nove anos na empresa, Danielle foi transferida para São Paulo no ano passado, depois de passar muito tempo viajando para a capital paulista uma vez por mês a trabalho. Viajar, aliás, é um ponto-chave da sua carreira. Todo ano, Danielle vai entre quatro e cinco vezes para fora do país, em busca de novas tendências. “Mas não é férias, viu? Trabalhamos muito visitando lojas, fazendo pesquisas. Mal dá para conhecer as cidades”, diz. É importante também saber traduzir a moda estrangeira para os brasileiros. “Não dá para voltar de Londres querendo aplicar exatamente a mesma coisa aqui. Não vai funcionar. Nossos clientes têm gostos e corpos diferentes”, comenta.

Danielle também faz viagens periódicas para outras regiões do Brasil. “Os próprios consumidores brasileiros têm muitas diferenças. Os nordestinos, por exemplo, não compram roupas de tecidos pesados e escuros durante o inverno, porque lá não faz tanto frio. Já as mulheres das regiões sul e sudeste gostam mais de cinza e preto, em qualquer época do ano”, aponta.

Quando o trabalho é no escritório, em São Paulo, os horários são mais flexíveis – e os trajes também. Há pessoas com tatuagens à mostra, cortes de cabelo moderninhos e roupas estilosas. “Como trabalhamos em um ambiente de moda, há bastante liberdade”, afirma. Ela trabalha em conjunto com a gerência comercial e de planejamento da rede. “No varejo, temos um foco muito grande nas vendas, então, sempre tenho um retorno para saber quais peças venderam bem.”

Criação e planejamento

Estilistas de varejo, como Danielle, precisam criar uma nova coleção inteira por mês, enquanto aqueles que trabalham em marcas de alta costura ocupam-se com duas a quatro coleções por ano. Só a Riachuelo, por exemplo, coloca 100 produtos novos nas lojas todos os dias. Isso significa que são produzidos 36.500 produtos todos os anos. Haja criatividade! Por isso, tudo pode servir de inspiração. “Estou sempre atenta aos detalhes nas roupas das pessoas na rua, no teatro, no cinema. O que elas estão usando, falando, querendo”, diz.

No seu dia a dia, a estilista vende ideias e conceitos, mas não só para desenhar novas peças de roupa. “Muito mais do que pensar quais cores e tecidos vou usar em um vestido, preciso planejar o que vai para catálogo, quais produtos vão aparecer em um filme comercial e quais vão entrar em oferta.”

Antes de desenhar uma coleção, Danielle também precisa ter em mente quanto cada peça final vai custar. “Queremos fazer moda a um preço acessível. Nunca posso me esquecer disso. Não adianta comprar um tecido lindo se eu vou ter que jogar o preço lá em cima depois.” Cada coleção tem uma “pirâmide de preços”, para garantir que haja produtos com preços variados. “Para trabalhar com isso, é preciso ter planejamento e organização”, diz. “Aquele cara que pensa que vai viver no mundo dos sonhos, procurando inspirações e só desenhando sem se preocupar com os números está fora de moda”, brinca.

As possibilidades de carreira para quem sonha em trabalhar no varejo

Mulher paga conta em restaurante, café sob a mesa

Para abrir novas lojas e continuar a crescer em vendas, o setor precisa cada vez mais de profissionais capacitados à frente das empresas. Jovens interessados em trabalhar no varejo encontram oportunidades de carreira dos mais variados perfis. O mercado costuma dar preferência a quem tem formação em administração de empresas, economia, engenharia ou marketing. Ter pós-graduação ou MBA em varejo ou gestão de negócios é outro atributo cada vez mais desejável para cargos de gerência.

Conheça as principais carreiras para quem quer trabalhar no varejo:

Comercial ou vendas: é o coração da atividade. Profissional faz os pedidos para a indústria; ajuda a definir quanto cada loja deve vender e trabalha para cumprir a meta; escolhe o que entra e o que sai do portfólio de produtos; e treina a equipe para vender mais e melhor.

Operações ou logística: sua responsabilidade é não deixar faltar ou sobrar produtos nas lojas. Para isso, funciona como elo entre a indústria, que entrega uma grande quantidade de produtos nos centros de distribuição dos varejistas – galpões usados como estoque –, e o abastecimento das prateleiras nas lojas.

Marketing e comunicação: estuda a concorrência e o que o consumidor da empresa deseja encontrar nas lojas; elabora campanhas publicitárias em parceria com agências; é responsável pela qualidade do atendimento nas lojas e responde pelos canais de relacionamento com o cliente, como o atendimento telefônico e via internet; também ajuda na criação de conteúdo e campanhas para engajar consumidores nas redes sociais.

Finanças e relações com investidores: planeja, organiza e controla as atividades financeiras da empresa. Para atingir as metas, define o que é prioridade no curto, médio e longo prazo para cada área da companhia. Empresas de capital aberto (ações negociadas em bolsa) têm área de relações com investidores, responsável por apresentar os resultados da companhia para o mercado e tirar dúvidas. Mais de uma dezena de varejistas brasileiras abriram capital na bolsa na última década.

Recursos humanos: é responsável pela organização dos funcionários da empresa; por definir e implantar políticas de remuneração, assim como de atração e retenção de talentos. Não se trata de um desafio trivial no caso do varejo, um dos setores que mais emprega no Brasil. Só o Grupo Pão de Açúcar tem 160.000 funcionários.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Varejo: a engrenagem por trás da gôndola

Arara com cabides de camisas em loja de roupas

Quando você precisa abastecer a despensa com alimentos ou produtos de limpeza, vai ao supermercado. Se tem que comprar um remédio, passa na farmácia mais próxima. Quando bate aquela fome na hora do almoço, busca um restaurante gostoso. Se quer estar por dentro das tendências de moda, compra sua revista preferida na banca. Quando procura passagens para uma viagem esperada, vai até uma agência especializada. Se quer comprar um celular novo, pesquisa os preços em lojas online. Todos esses empreendimentos, físicos ou virtuais, são parte da indústria de varejo. O conceito da palavra é bastante amplo – e envolve toda e qualquer atividade de venda de produtos ou serviços para pessoas.

Até os anos 1980, essa indústria foi vista com desdém pelo mundo corporativo no Brasil. Salvo algumas exceções, como as antigas lojas de departamento Mesbla, Pernambucanas e Mappin, o universo varejista brasileiro se resumia a padarias, vendinhas e boutiques de bairro. Foi a partir daquela década que alguns lojistas conseguiram profissionalizar sua gestão e a construir redes com dezenas de unidades espalhadas pelo país. Com faturamento de empresa grande, essas companhias começaram a chamar a atenção do mercado e a receber investimentos de terceiros para impulsionar seu crescimento.

Ao longo da última década, porém, o varejo tornou-se o motor da economia brasileira, quando mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam na pirâmide social e passaram a ter acesso a produtos e serviços antes inalcançáveis. Hoje, somos o sétimo maior mercado consumidor do mundo e, segundo as previsões, ocuparemos o quinto lugar até 2023. Algumas das estrelas do varejo no país são:

Supermercados: Grupo Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart

Varejo de móveis e eletrodomésticos: Via Varejo (das redes Casas Bahia e Ponto Frio), Magazine Luiza, Máquina de Vendas (das redes Ricardo Eletro e Insinuante)

Comércio eletrônico: B2W (das marcas Submarino, Shoptime e Americanas.com), Nova Pontocom (PontoFrio.com, CasasBahia.com e Extra.com), Dafiti, Netshoes, Walmart.com

Varejo de moda: Hering, C&A, Marisa, Riachuelo, Lojas Renner

Farmácias: RaiaDrogasil, Drogarias Dp Sp (Drogaria Pacheco e Drogaria São Paulo), Pague Menos

Alimentação: McDonald’s, Burger King, Habib’s, Giraffas, IMC (dos restaurantes Viena e Frango Assado)

Franquias: O Boticário, Cacau Show, Arezzo, Chilli Beans

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