Pessoa escorregando em casca de banana

Numa cultura que busca a perfeição, a pesquisadora Brené Brown ousou falar sobre um segredo vergonhoso: o fracasso. Professora de serviço social da Universidade de Houston, ela ganhou fama ao elogiar a vulnerabilidade em uma TED Talk que viralizou em 2010.

Três bestsellers depois, Brown ainda é a primeira a falar sobre seus tempos difíceis. Após a palestra, por exemplo, não conseguiu sair de casa por três dias: estava com a pior “ressaca de vulnerabilidade” de sua vida. “Eu falei para quinhentas pessoas que eu tinha tido um colapso nervoso. Eu tinha um slide escrito ‘colapso nervoso’! Como achei isso uma boa ideia?”

“Só me interesso pelo fracasso porque me interesso pela coragem”, explicou tempos depois à TIME. “Ascende mais rápido quem é mais capaz de sentir desconforto. Se você não consegue se sentir desconfortável, isso te leva ao perfeccionismo, à culpa, à racionalização – sem levar aos principais aprendizados.”

Tais aprendizados só podem ser absorvidos, diz ela, se a pessoa aceitar ser vulnerável em relação a sentir e falar sobre seus fracassos e emoções, como dor, vergonha e medo. “Vivemos em um mundo vulnerável e uma das formas com que lidamos com isso é anestesiar a vulnerabilidade”, falou.

Daniela Lemes, responsável pelo Autoconhecimento Na Prática, programa de autoconhecimento do Na Prática, diz que Brown foi fundamental para colocar o assunto em pauta. “Antes acreditávamos que a conexão com o outro se fazia através do reconhecimento de nossas qualidades e conquistas, mas hoje estamos descobrindo um novo universo, em que as conexões são mais genuínas se incluírem também seus defeitos e derrotas – o todo.”

“Vulnerabilidade é o indivíduo é se entender como um quebra-cabeça complexo e o autoconhecimento é interessante para conhecer todas as pecinhas”, continua ela. “Assim não parece que somos superherois ou que só tivemos experiências ruins na vida.”

Celebrando o fracasso

Na esteira das milhões de views acumuladas por Bené Brown, surgiram grupos de apoio e “conferências de fracasso”, como a Fuck Up Nights e FailCon, que se esforçam para tornar o processo mais fácil – e promovem encontros recorrentes em diversas cidades brasileiras. 

“A vergonha precisa de três coisas para crescer: segredo, silêncio e julgamento”, resumiu Brown. O propósito desse tipo de evento, em que voluntários sobem ao palco para contar uma história de fracasso pessoal, é encarar os três de uma vez só.

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Julia Melo é representante do Fuck Up Nights – que surgiu em 2012, no México – em São Paulo e organizou dez edições em um ano e meio, nenhuma com menos de cinquenta pessoas na plateia.

“O fracasso é mais abundante que o sucesso em qualquer carreira, então como ver as coisas boas nessa palavra que ainda é tão pesada? Queremos desmistificar a ideia de que o fracasso é algo proibido e ver as virtudes dessa ferida”, conta ela, que trabalha com empreendedorismo social no Instituto Amani.

Flávio Steffens e Rafael Chanin trouxeram a FailCon – que nasceu no Vale do Silício, nos EUA, e é voltada para empreendedores de startups –, em 2012. Tiveram dificuldade em convencer os palestrantes no começo. “Era incrível como as pessoas tinham receio de falar sobre seus fracassos”, lembra Flávio. “Com o passar do tempo, o assunto foi se tornando menos tabu e passamos a ser contatados por pessoas dispostas a falar.”

A dupla organiza pelo menos um evento do tipo por ano em Porto Alegre, além de bate-papos e eventos internos para empresas, uma demanda crescente. “O fracasso tem muito a ensinar porque os aprendizados de um empreendedor que errou podem servir como referência para outro”, explica. “Existem vários exemplos que se repetem durante os eventos, como ‘não se apaixone por sua ideia pois isso te deixará cego’ ou ‘não desenvolva um produto sem antes saber se existem pessoas dispostas a compra-lo’.”

Hoje no comando do Bicharia, uma plataforma de crowdfunding para animais carentes, ele gosta de lembrar que cometeu justamente esses erros em sua primeira startup, que levou um ano e R$ 50 mil para ficar pronta – e não teve nenhum cliente. Rafael, seu parceiro, gastou o dobro em uma startup que também não deu certo.

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“Ouvir outras pessoas falando disso torna o evento um grande abraço coletivo, onde todos nós percebemos que somos humanos”, conclui Flávio. “Saber que outros cometeram o mesmo erro te deixa mais seguro de que você não é incompetente ou um ‘fracassado’, no sentido pejorativo da palavra.”

Julia concorda. “Subir no palco exige coragem e assistir é praticar a empatia”, diz. “E quando você vê lá de cima que todo mundo te escutou, se identificou e te admirou, esses exercícios se encontram.”

Nas aulas do Catálise, em que a prática do autoconhecimento é aprofundada ao longo de três aulas, Daniela sabe que essa identificação é fundamental para que os outros engajem com o conteúdo, que envolve falar sobre fraqueza, medos e desafios.

“Sempre começo falando sobre como passei por crises e friso a hashtag #tátudobem”, conta ela. “E vejo as pessoas sorrindo e se sentindo acolhidas naquele momento.”

Autoconhecimento como chave

Ser vulnerável não exige, necessariamente, um microfone. No cotidiano, isso significa praticar o autoconhecimento através da sinceridade consigo mesmo – o que você está de fato sentindo e não o que você acha que deveria sentir, por exemplo – e o mapeamento de pontos fortes e fracos, que o Na Prática já explicou como funciona aqui.

Daniela recomenda também carregar um caderno e tornar um hábito anotar nele reflexões sobre suas ações e escolhas. “É preciso entender que o autoconhecimento é um processo sem fim e que a pergunta ‘quem sou eu?’ se refaz o tempo todo”, tranquiliza.

Uma pessoa em sintonia com sua vulnerabilidade tem ganhos pessoais e profissionais. Ao se enxergar melhor, ela também é capaz de ver o outro de maneira mais empática, entendendo suas dificuldades e pontos de vista, e tem relacionamentos melhores com colegas, chefes e pessoas próximas.

“É difícil ser vulnerável porque você não é acostumado a falar sobre esse seu outro lado, mas uma vez que consegue, entende como é bonito se conectar de maneira integral”, conclui Daniela. “Precisamos tornar um hábito essa questão de falar sobre tudo.”

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