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Sempre que você alcança um sonho, é preciso buscar outro maior

Vinícius Neri, do InEvent

Nascido em Salvador, Vinicius Neris descobriu o seu sonho em São Paulo. Quando tinha 16 anos, sonhava em se tornar engenheiro. Aos 22, começou a empreender durante o curso de Engenharia, na Universidade de São Paulo (USP). Aos 24 anos resolveu trancar a faculdade para focar completamente em seu negócio, depois de ter passado por programa de aceleração na Europa e ter vivenciado a forte cultura empreendedora do Vale do Silício — lá, foi o único brasileiro da sua turma selecionado para temporada na Draper University com jovens de mais de dez países diferentes.

Ele também é membro do Núcleo, a comunidade alumni dos programas presenciais do Na Prática. A seguir, deixa o seu relato sobre as dificuldades de empreender e a decisão de ter interrompido a faculdade para se dedicar a esse sonho:

Quer fazer parte do Núcleo e ter a chance de compartilhar sua história no Na Prática? Saiba mais aqui!

Como todo jovem brasileiro, eu também tinha o sonho de chegar a uma universidade pública no Brasil. Aos 15 anos, quando morava em Salvador, descobri o que era sonhar grande: naquela época era ser aceito no curso de Engenharia no ITA, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, graças a um professor de Física e a outro professor de Matemática. Foi também quando, meio sem querer, percebi que precisava ter mentores, pessoas experientes que iriam me levar a lugares bons que não ainda conhecia, e esses professores se tornaram meus mentores.

Eu não teria muitas chances se permanecesse no colégio que eu estudava, por isso resolvi tentar a sorte em São Paulo, na cidade de São José dos Campos. Só consegui isso graças a esses mentores e a um colega que também nutria do mesmo sonho que eu. Juntos conseguimos uma bolsa de estudo para nos prepararmos para o ITA e também nos tornamos grandes amigos. Ali percebi que precisava ter pessoas boas ao meu lado lutando pelo mesmo sonho que eu. Precisa preencher as minhas fraquezas e também suprir as de outros, nos complementando e nos incentivando.

Em 2010 ingressei na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, no curso de Engenharia Mecânica, local que me proporcionou um ambiente rico de trocas, contatos e aprendizados para que começasse a empreender. Eu não me adaptei à sala de aula na faculdade. Até fui um bom aluno nos primeiros anos, principalmente pela forte bagagem de exatas do ensino médio, mas a minha vida era nos ambientes de interação com outros alunos da faculdade. Me envolvi com grupos acadêmicos, esportes e eventos.

O que me motivava era criar, inventar, testar, fracassar, aprender e tentar de novo. A sala de aula não acompanhava esse ritmo de aprendizado, tudo era muito lento e o sonho de se tornar engenheiro ficava distante.

Então, no início de 2013, comecei a descobrir sobre empreendedorismo, entender melhor sobre startups e acompanhar grandes empreendedores que estavam motivando pessoas como eu, um tanto desiludidas dos caminhos pré-definidos pela sociedade.

Naquele momento, percebi de fato que os meus aprendizados não podiam ficar limitados à sala de aula e à um diploma. Eu precisa fazer da minha vida a verdadeira escola e aprender todos os dias em qualquer situação que vivesse e através de qualquer canal. Na época em que vivemos, a informação e o conhecimento estão amplamente disponíveis na internet.

Foi aí que a figura do mentor ressurgiu na minha vida e muitos desses empreendedores que eu seguia apenas nas redes sociais se tornaram referências reais pra mim, mesmo eu não os conhecendo pessoalmente ainda. Eu já tinha aprendido que precisava estar perto dos melhores, então faria de tudo para conhecer essas pessoas de sucesso com histórias incríveis e inspiradoras, pois elas me ajudariam a moldar uma atitude e comportamento empreendedor para chegar ao sucesso.

Então, em março de 2013, surgiu a oportunidade de estudar uma escola de empreendedorismo que acabara de ser criada no Brasil. O Seitii Arata, um dos mentores que eu seguia e sigo até hoje nas redes sociais, estava dando 10 bolsas para quem tivesse uma ideia, criasse um projeto e colocasse em prática em poucos dias.

O tempo era curto e eu teria que fazer algo acessível. Eu não tinha muita grana para criar nada muito inovador. Comecei então a olhar ao meu redor e pensar nos problemas que eu ou os meus colegas poderíamos enfrentar. Lembrei então que todos os dias eu ia almoçar no restaurante universitário e várias vezes esquecia caneca, por isso ficava sem tomar suco, e observando o ambiente, percebi que existia uma demanda, pois era algo que ocorria com muita gente também. Não perdi tempo: juntei o máximo de canecas que eu podia, fiz um cartaz e fiquei na porta do restaurante divulgando e emprestando canecas para quem estava sem.

Eu consegui a bolsa, e, além disso, essa atitude chamou a atenção do meu futuro sócio, um grande empreendedor e desenvolvedor de software, a pessoa certa para me complementar nos negócios. Em novembro de 2013, nos tornamos sócios na InEvent, aplicativo mobile de comunicação e interação durante eventos.

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Vinicius e os sócios Pedro Góes e Maurício Giordano [acervo pessoal] 

Empreender era um sonho para mim e consegui começar esse sonho. Mas toda vez que você alcança um sonho você precisa de um outro maior para perseguir.

Vieram então os primeiros clientes e sabíamos que pra acelerar o nosso processo nada melhor do que uma aceleradora de negócios. Conseguimos uma do outro lado do Atlântico! Não pensamos duas vezes, pegamos o dinheiro que tínhamos de clientes e partimos para essa jornada no Lisbon Challenge. De novo, aquela sensação de adrenalina e felicidade de dar mais um importante passo.

Foram três meses muito intensos de aprendizados e altos e baixos no processo de aceleração com mais outras 29 startups do mundo todo. Nos dedicávamos dia e noite pelo nosso sonho e sobrevivíamos nos alimentando com menos de dez euros por dia para os três sócios. Até coelho a gente aprendeu a cozinhar! Voltamos então de Portugal sem novos clientes e com mais dúvidas do que quando fomos. Estávamos sem grana e, se nenhum novo cliente surgisse até o final do ano, a InEvent iria morrer.

Nesses momentos é hora de respirar, reavaliar nosso sonho grande, se ele permanecerá o mesmo ou não e traçar uma nova rota até esse sonho grande. O que não podemos fazer é ficar dando desculpas e não ter resiliência para prosseguir.

Nós somos uma geração de mal acostumados e incapazes de nos prepararmos para os nossos sonhos grandes — eles duram no máximo um mês de ralação. Adoramos falar que pensamos fora da caixa e que estamos criando a próxima ideia de um bilhão de doláres, mas somos incapazes de ter disciplina para estudar conceitos importantes para tornar o sonho viável e trabalhar horas e horas por isto, abrindo mão de curtir férias, finais de semana e baladas com os amigos.

Leia também: Aprenda com a história de sete grandes empreendedores brasileiros

Foi aí que conheci um cara que também acreditava nisso: o criador do Epicentro, um festival de empreendedorismo no Brasil que reúne muita gente boa durante dois dias em Campos do Jordão. Eu acreditei no evento dele e decidimos que iríamos entrar como apoiador, fazendo o app do evento de graça pra ele. Graças a isso, conseguimos um cliente que ele nos apresentou e permitiu continuar rodando com a InEvent por mais alguns meses, era mais um fôlego.

Ao contrário do que a sociedade diz, decidi que não era preciso ter um diploma de graduação para ser bem-sucedido com a minha empresa. Resolvi trancar a faculdade pelos próximos meses.

Também deixei para trás a tranquilidade e conforto do interior paulista para vir morar em São Paulo. Abri mão da vida sossegada em São Carlos para ajudar a cumprir o propósito da nossa empresa: empoderar pessoas em eventos.

Queremos ser responsáveis por mudar a indústria de eventos no mundo e ter pessoas autônomas e felizes trabalhando com a gente, de qualquer lugar do Brasil ou do mundo, sem ter que ir para um escritório todos os dias. Empresas de Internet podem acessar o mundo inteiro, não acreditamos que deva ser diferente para quem trabalha conosco. Não estaremos em nenhum lugar, mas estaremos em todos ao mesmo tempo, graças ao poder que temos com a Internet.

Estamos passando por uma verdadeira montanha-russa todos os dias. O país passa por uma crise econômica e o corte de gastos vem se dando em todas as áreas. Nesse momento é preciso inovar ainda mais no nosso negócio, e não apenas no produto.

Nós podemos até fracassar, que será quando desistirmos de vez da InEvent, caso isso aconteça algum dia. Até lá nós vamos tentar de tudo, inclusive ir ao Vale do Silício captar dinheiro com investidores caso seja necessário. Se a sorte bater a nossa porta, ela vai nos encontrar trabalhando.

Eu sei que é difícil ter um diploma de engenharia por exemplo, mas é muito mais difícil ter um projeto e fazê-lo dar certo, nada vai te ensinar mais do que isso, nem mesmo um MBA de Harvard. Não queira apenas estudar em um MBA, queira sim se tornar um case de estudo e ter sua história estudada por alunos de um MBA. Você vai falhar muito pra tentar chegar lá. Pode ser que na InEvent a gente tente muito e nunca chegue, porém, se nunca lutarmos para isso, é fato que nunca estaremos lá e continuaremos sendo meros espectadores de nossa própria vida.

 

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O Núcleo é a maior comunidade de jovens transformadores do Brasil, formada por ex-participantes dos programas presenciais do Na Prática. Os membros do Núcleo também têm essa coluna quinzenal no portal Na Prática, espaço exclusivo para contar suas histórias e inspirar mais jovens brasileiros! Saiba mais aqui.

Ex-trainee do Itaú dá dicas para iniciar carreira no banco

Homem anotando no caderno enquanto olha o computador

O portal MyTrainee conversou com Marcelo Costa Souza, um dos dois profissionais escolhidos como destaque da divulgação da campanha trainee e atual consultor de negócios da área de cartões do Itaú Unibanco.

Ele falou sobre como os estudos no exterior o incentivaram a se interessar pelo mercado financeiro, os desafios da dinâmica de grupo e muito mais. Além disso, deu uma grande dica para aqueles que vão participar do processo seletivo: aderência aos valores do Itaú Unibanco são fundamentais para trabalhar na empresa. As inscrições para o programa de trainee estão na reta final, por aqui.

Compartilhe conosco um pouco da sua trajetória profissional. Onde estudou? Quais foram as suas experiências anteriores?

Sou de Goiânia/GO, onde iniciei minha graduação em Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Goiás (UFG). No início do quarto ano, fui aprovado no programa de bolsas de estudo da Comunidade Europeia e depois de passar por universidades na Áustria e Portugal, concluí meu curso de Engenharia Elétrica na Espanha.

Durante a universidade, tanto no Brasil quanto na Europa, fiz alguns estágios em empresas de engenharia e em laboratórios de engenharia. Cheguei a trabalhar com projetos de linhas de transmissão de energia.

Como surgiu o seu interesse em trabalhar no mercado financeiro?

A abordagem dos cursos de engenharia na Europa é um pouco diferente da abordagem tradicional do Brasil. Aqui, a engenharia tem um viés mais técnico, diferente das universidades europeias que tive a oportunidade de conhecer, onde a engenharia tem um foco maior em gestão, avaliação financeira de projetos, qualidade, etc. Aí percebi que tinha mais interesse pela área financeira, econômica e administrativa do que pela engenharia “pura”. Juntou-se a isso a percepção que trazia dos meus estágios em engenharia, quando ficou muito claro para mim que de nada adianta toda robustez das soluções de engenharia se a empresa não é bem gerida. Explico: de nada vale um projeto de engenharia perfeito se a equipe de execução não está motivada, se o controle financeiro da empresa não estiver funcionando bem ou a equipe de suprimentos não buscar as melhores negociações.

Comente sobre a estrutura e o suporte ao desenvolvimento dos jovens profissionais.

Nas primeiras semanas os trainees já têm uma agenda focada nos principais conhecimentos necessários para trabalhar em uma instituição financeira: conceitos de economia, matemática financeira, risco, ferramentas de administração, gestão, entre outros. Depois desse primeiro nivelamento, as oportunidades de alavancar o desenvolvimento seguem crescendo porque o trainee tem palestras com os principais executivos de todas as áreas do banco, o que é um momento único para se aproximar da estratégia dos negócios e saber os desafios de cada área. Soma-se a isso a rotina de job-rotation, onde o trainee tem projetos reais para atuar e possibilidade de apresentar soluções criativas para as lideranças do banco. A etapa de job-rotation permite que o trainee faça inúmeras conexões, tanto entre assuntos quanto relacionamento com pessoas e, no banco, saber se conectar e engajar pessoas é um ativo muito valioso.

Durante o processo seletivo, qual foi o maior desafio na sua opinião?

O processo seletivo é um momento para mostrarmos de forma natural nossas principais características e tentar conectá-las ao perfil da empresa, tangibilizando as características que se espera de um trainee: vontade de aprender, fazer a diferença e crescer. Porém, por saber que você está sendo “monitorado”, muitas vezes o candidato se perde e acabando agindo de uma forma não natural, o que na minha opinião pode ser a maior armadilha ao candidato: o trade off entre ser você mesmo e tentar demonstrar quanto você pode agregar ao negócio.

Por quais áreas você teve a oportunidade de trabalhar dentro do banco?

Entrei para a área de Eficiência Corporativa, que na época era uma diretoria apartada, mas com interação e atuação em todas as áreas do banco. Por isso, meu job rotation foi entre diversas áreas do banco: Empresas, Cartões, Finanças e Riscos.

Leia também: Veja a trajetória de carreira de um profissional do Itaú

O Programa Trainee Itaú busca proporciona a participação em projetos que permitem uma ampla visão do negócio. Compartilhe conosco um projeto ou case de sucesso que tenha participado.

Quando entrei no banco, no início de 2012, o nosso presidente, Roberto Setúbal, havia acabado de assumir um compromisso com o mercado de tornar a instituição mais eficiente. Desta forma, atuar na Área de Eficiência Corporativa, naquele período, foi um enorme aprendizado porque pude conhecer e passar em quase todas as áreas do banco com o foco de melhorar a forma como tratamos nossos custos. Com muito trabalho e diversos projetos implementados, vejo que o maior legado para a instituição foi a mudança cultural e difusão da atitude de dono de cada colaborador em relação aos recursos do banco. Hoje, eficiência é algo que está no DNA do Itaú-Unibanco. Não vejo as pessoas pensando em novos projetos, negócios, produtos e serviços sem levar em consideração a eficiência.

Como foram as sessões mensais de mentoring que aconteceram durante o período de desenvolvimento? Foi possível perceber uma evolução contínua?

As sessões de mentoring, no meu caso, foram bastante focadas em ensinar o que não se aprende na sala de aula. Os papos foram muito direcionados a comportamento, postura, conversas críticas, leitura de cenário e carreira. É uma grande oportunidade falar sobre esses assuntos com executivos que possuem uma história bacana com o banco e sabem bem o que o banco espera de seus colaboradores.

Por fim, compartilhe conosco as suas dicas para quem deseja iniciar a carreira no banco através do Trainee.

Inicialmente recomendo conhecer bem a instituição, não apenas as linhas do resultado, mas também a cultura e objetivos. É muito importante que o candidato se identifique com os valores da instituição pois isso, além de facilitar a adaptação, deixará o candidato mais motivado a trabalhar em alto nível, correspondendo a expectativa do banco.

 

Este artigo foi originalmente publicado em MyTrainee

Por dentro do trabalho no Bank of America Merrill Lynch

mulher profissional do Bank of America Merril Lynch

Dos seus 24 anos, Agatha Boutaud de la Combe passou os últimos cinco trabalhando no mercado financeiro. Graduada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, começou cedo por indicação de um professor que percebeu a afinidade dela com a área. E, de fato, deu tão certo que ela não pensa em mudar de setor de atuação. Ao entrar no Bank of America Merrill Lynch, banco americano de investimentos e outros serviços, como estagiária, Agatha começou trabalhando no câmbio — atualmente ela está na mesa de juros. Como a efetivação de estagiários depende da disponibilidade de vagas por ano, ela contou com a sorte para ter um posto seu.

“Tenho tido uma carreira rápida no banco”, afirma a administradora. Para ela, o melhor de ter permanecido muito tempo na mesma área da empresa é aprofundar o aprendizado de todos os dias e lidar com os colegas, profissionais com quem é possível crescer em parceria.

As reuniões com a equipe acontecem às 8hs de cada manhã, iniciando o expediente de trabalho. Neste momento são discutidas as notícias que podem incidir sobre a economia no dia. Uma hora depois, o mercado abre e a mesa começa a operar. Até às 18hs a rotina de trabalho é intensa, mas nunca se estende até muito tarde. “Sei que posso marcar compromissos às 20h, que não vou estar no banco, isso é ótimo”, comemora Agatha.

A mesa de operações é responsável por tomar decisões para o próprio banco ou para seus clientes. No caso de Agatha, o trabalho funciona assim: o sales é responsável pelo relacionamento com os clientes; ela entra em contato com o time de sales no banco e eles lhe dizem que um cliente vai precisar de um derivativo de juros de três meses, por exemplo. Cabe a sua função precificar o valor desse derivativo para este cliente. “Cada pessoa tem uma atribuição bem definida na equipe, mas nos ajudamos bastante”, ela diz.

Oportunidades no Bank of America Merryll Lynch

Não é muito comum que os bancos tenham funcionários júnior trabalhando na mesa, explica Agatha, então o mais fácil é que o profissional entre em outra área da empresa até ganhar experiência e poder operar. No caso do Bank of America Merrill Lynch, particularmente, há espaço para júnior na mesa, mas ele precisa ter sido estagiário antes. Além disso, lá não há muita rotatividade na mesa, então as vagas disponíveis não são tão frequentes . São contratados de 80 a 90 estagiários por ano na empresa, mas a efetivação depende de uma combinação de fatores, incluindo postos vazios e performance individual.

Baixe o Especial do Na Prática com tudo sobre a carreira no Mercado Financeiro

Um dos principais pontos positivos do banco é a oportunidade de crescimento. “As pessoas querem te delegar funções porque elas também precisam de ajuda”, explica Agatha. As cobranças e metas, por sua vez, costumam ser gerais para toda a instituição e não segmentadas por áreas, mas dependem também do momento da economia e do mercado.

Apesar de estar numa área majoritariamente masculina, Agatha afirma nunca ter sofrido preconceitos de gênero. “Há uma preocupação interna com diversidade. Sinto que sou avaliada pelo trabalho, como todos”, afirma. Até contratar uma estagiária no ano passado, no entanto, ela foi por muito tempo a única mulher trabalhando na área.

Após ter tirado a certificação CFA, Agatha acredita que o conhecimento referente a prova contribuiu mais para compreender outras áreas do banco do que diretamente no seu trabalho.

Futuro na área

“Por enquanto meu foco é construir a carreira no banco”, ela diz. “Não pretendo fazer MBA agora, mas quero morar fora pelo Bank of America Merrill Lynch para então pensar se devo continuar em trading, em áreas mais gerenciais. Hoje não me vejo fazendo outra coisa, porque gosto muito”.

Agatha Boutaud de la Combe participou do Imersão Mercado Financeiro, programa de preparação e decisão de carreira promovido pelo Na Prática. Quer conhecer melhor as oportunidades de carreira nesse mercado? Saiba mais aqui.

Pesquisar o mercado é a resposta para quem está indeciso com a carreira

grupo de colegas discutindo soluções em frente a mural de postits

Você já sabe onde e com o que quer trabalhar? Tem certeza da carreira que vai seguir? Para muitos jovens, essas dúvidas são te tirar o sono. Anamaíra Spaggiari, coordenadora de carreira da Fundação Estudar, escreveu recentemente um artigo sobre esse tema para o portal UOL. Para ela, a indecisão de muitos jovens em relação a carreira não é um problema, mas mostra a necessidade de conhecer melhor o mercado e as empresas. A seguir, leia o artigo completo:

Muito se fala do quão desafiador é, aos 17 anos, o jovem já ter de escolher para qual curso prestar vestibular. Da opinião de pais e amigos ao status social das profissões, o jovem de ensino médio enfrenta uma série de pressões que influencia sua tomada de decisão.

O mesmo se repete com o jovem universitário, que muitas vezes carece de visão mercadológica e possui pouca clareza sobre qual trilha de carreira seguir. Muitas vezes intitulados “perdidos” por eles mesmos, esses jovens acabam por tomar decisões novamente baseadas em opiniões de familiares e amigos, status social, retorno financeiro imediato ou marca da empresa.

O risco em curto prazo é a insatisfação logo no primeiro emprego, o que leva vários jovens a desistir rapidamente desse trabalho e tentar uma nova oportunidade, em busca do que realmente gosta.

Mas, talvez, nem na segunda ou terceira tentativa ele vai encontrar seu lugar, levando ao fenômeno pelo qual a geração Y é bastante criticada: pular de galho em galho em curtos espaços de tempo.

Em longo prazo, o risco de várias pessoas tomarem uma má decisão de carreira está em criar, no Brasil, uma cultura em que todos veem o trabalho como algo pedante, afetando cada vez mais os ambientes profissionais com gente insatisfeita.

A estatística de que sete em cada 10 brasileiros estão infelizes com sua carreira comprova tal efeito (dados do Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente). Outra recente pesquisa mostra que 77% das pessoas entrevistadas já pensaram em largar o seu emprego e iniciar uma nova carreira (Fonte: Pactive Consultoria, agosto de 2013). 

Por estar trabalhando há cinco anos com jovens universitários e recém-formados, já ter participado da capacitação de mais de 6 mil deles e por eu mesma ter passado recentemente por essa fase de indecisão, percebi que ainda subaproveitamos muitas oportunidades de nos encontrarmos profissionalmente.

O acesso à informação sobre diferentes indústrias, funções e culturas organizacionais é primordial e nem sempre encontrado dentro da sala de aula. Mas, ao invés de colocar a culpa mais uma vez nas instituições educacionais, o próprio jovem pode se colocar como protagonista e correr atrás para embasar suas decisões de carreira.

E não há problema algum em experimentar! Um jovem em início de carreira pode, e deve, buscar informação e capacitação em mais de um setor, caso ainda esteja indeciso. Não sabe se quer trabalhar numa grande empresa ou no governo? Por que não conversar com profissionais de cada um desses setores para conhecer sua rotina de trabalho e as possibilidades de carreira que eles oferecem?

Conheça o Imersão, programa de preparação e decisão de carreira do Na Prática

Ainda não sabe se quer trabalhar com marketing ou finanças? Por que não ir a fundo nas particularidades dessas áreas nas diferentes indústrias e funções para saber quais características elas mais requerem do profissional? E que tal visitar algumas empresas e simular situações reais do seu dia a dia?

Esse comportamento experimental não deve ser visto como desfocado, mas sim como uma forma do jovem antecipar o que ele depois faria no mercado de trabalho, testando diferentes empregos. É melhor ele se embasar com todo tipo de informação e conhecimento sobre diferentes trilhas de carreira desde a universidade do que pular de galho em galho nas vagas das empresas pelas quais passar.

Até mesmo quando o jovem já possui uma opinião formada da trilha de carreira que deseja seguir, muitas vezes ela vem carregada de paradigmas. Nesse caso, ainda assim o jovem deve buscar entender na prática como funciona esse mercado de interesse e a rotina dos profissionais, livrando-se de pré-conceitos e visões distorcidas.

Isso colabora para  a desglamourização de profissões que são recheadas de status social, assim como a valorização daquelas que, a princípio, passam quase despercebidas para muitos jovens.

Uma decisão de carreira assertiva é aquela que leva em conta diversas variáveis de mercado, como indústria, cultura organizacional, função e porte da empresa, e variáveis individuais – como sonho grande, paixões, valores, estilo de trabalho, personalidade e habilidades.

Se todo jovem considerar fortemente essas variáveis na construção de sua carreira, sem dúvidas, teremos ainda mais profissionais realizados contribuindo para um Brasil melhor.

 

Este artigo foi originalmente publicado em UOL

Quais são os maiores erros cometidos pelos empreendedores que estão começando?

jovem empreendedor em mesa de trabalho

Começar qualquer negócio é uma tarefa que oferece desafios múltiplos para os empreendedores. No caso das startups, que possuem características peculiares, alguns erros são recorrentes e acabam prejudicando o desenvolvimento das ações. As tentativas e fracassos fazem parte do jogo. Mas, segundo aqueles que já possuem uma maior bagagem, é preciso humildade para “errar rápido” e não repetir as mesmas falhas.

É o que pensa o sócio fundador da O Panda Criativo (plataforma para criar, promover e gerir iniciativas que usam a criatividade como ferramenta para transformar a sociedade), Fabio Seixas. “Erros são naturais e devem ser identificados o mais rápido possível. Ter humildade para reconhecer e agilidade para resolver são peças fundamentais para diminuir as possibilidades de fracasso”, afirma o empreendedor.

Segundo ele, os testes são cruciais antes do começo das atividades. “Existem ferramentas muito válidas para testar ideias e aprimora-las antes de começar. Mas a verdade é que, uma vez que o negócio está aberto, a principal ferramenta que temos é trabalhar. Não é porque a ideia é boa que as coisas vão acontecer sozinhas. A peça principal disso tudo é o próprio empreendedor”, ressalta Seixas.

O empreendedor mineiro Gustavo Caetano, fundador da SambaTech (startup que oferece soluções em vídeos pela internet), sabe que os erros são parte do processo de inovação em uma startup. “Errar é aceito, mas errar várias vezes é burrice. Evitamos o burro motivado, aquele que gosta de errar. As pessoas não tem medo de errar na Samba. Isso faz parte do processo. Só não pode errar a mesma coisa ou demorar para corrigir o erro”, afirma Caetano.

Com a ajuda do empreendedor Leandro Alvarenga, um dos responsáveis por levar o projeto internacional CreativeMornings para Belo Horizonte (encontros mensais e gratuitos onde é possível ter contato com novos modelos de negócio e novas formas de pensamento), elaboramos uma lista com cinco erros iniciais que podem ser evitados nas startups e algumas dicas para driblá-los.

1. Seguir cegamente um plano de negócios

O plano de negócios é uma ferramenta fundamental para a criação de uma empresa. Por outro lado, a busca por segurança e previsibilidade faz com que o novo empreendedor fique relutante em fugir daquilo que está escrito. Um negócio é sempre mais complexo do que conseguimos prever e por isso é preciso estar aberto para mudanças durante o trajeto.

Leia também: Dez livros que todo empreendedor deveria ler

2. Acreditar que deve trabalhar o tempo todo

Estar sempre pronto para responder às necessidades da empresa é essencial. Mas se o empreendedor passa a abrir mão do tempo livre, o stress começa a impactar a tomada de decisões e falta tempo para conhecer pessoas que podem ajudar no crescimento do negócio. Por isso, não abandone as atividades que te dão prazer e o contato com universos distintos da empresa.

3. Quantidade ao invés de qualidade

Na busca por um crescimento rápido, as empresas frequentemente abrem mão da qualidade dos produtos que a impulsionaram no início. O contrário deve acontecer: os produtos e serviços iniciais são frequentemente portfólio para conquista de novos negócios. Portanto, devem ser priorizados e a qualidade dos mesmos nunca pode cair.

4. Não escutar opiniões alheias

É sempre importante colocar a própria ideia em discussão e entrar em contato com opiniões divergentes e possibilidades antes ignoradas. O segredo pode ser importante em alguns casos, mas na maioria das vezes vale a pena abrir mão dele para receber feedback sobre ideias e serviços. O que vale é entender as necessidades reais dos clientes, não as que você pensa que eles têm.

5. Não há necessidade de preparo para empreender

Esta talvez seja a maior falácia propagada no universo das startups, levando muitos a deixar de lado oportunidades importantes em troca de uma ideia promissora. A formação, seja ela formal ou informal, é essencial. O estudo é fundamental para a maioria e existem diversos cursos disponíveis para cada tipo de negócio. A internet democratizou a informação e vale observar os caminhos daqueles que se prepararam e alcançaram seus objetivos.

Conheça o Imersão Empreendedorismo, programa de preparação de carreira do Na Prática

Especialista explica: como fazer melhores escolhas para sua carreira?

Anamaíra Spaggiari da Fundação Estudar

Ao se formar na faculdade, o sonho de todo jovem é encontrar uma carreira que proporcione satisfação pessoal e profissional. No entanto, nem sempre essa é uma tarefa fácil. Levantamento recente feito pelo Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente (Ipom) mostra que o nível de insatisfação com o emprego está bastante elevado entre os trabalhadores brasileiros.

De cada dez profissionais consultados, sete confessam não estarem satisfeitos com carreira ou emprego e gostariam de trocar de função ou empresa. Outro estudo, dessa vez realizado pela Pactive Consultoria, aponta que 77% dos trabalhadores brasileiros já pensou em largar o emprego e começar uma nova carreira.

Por que os números apontam tanta infelicidade em relação a vida profissional? Segundo Anamaíra Spaggiari, da Fundação Estudar, o resultado está relacionado ao momento de escolher uma carreira. Para ela, as decisões equivocadas muitas vezes são fruto de uma falta de conhecimento sobre o mercado em que o jovem escolhe atuar.

Faça seu Teste Vocacional!

Se você também tem dúvidas sobre como determinado setor ou indústria funcionam, é fácil resolver isso: o Imersão — programa intensivo de três dias realizado pelo Na Prática — dá aos jovens a oportunidade de conhecer o dia a dia de profissionais em diferentes áreas de atuação e de explorar as principais possibilidades de trabalho em cada uma delas. É possível saber mais sobre o programa e se inscrever aqui.

No vídeo que marca a estreia do Na Prática no Portal Administradores, Anamaíra explica como refletir sobre o seu estilo de trabalho e optar por uma carreira que vá te fazer feliz. Intitulado Sua Carreira Na Prática, o canal trará dois vídeos novos todo o mês, com dicas de carreira de especialistas da Fundação Estudar. Assista a seguir:

Quais são e como funcionam as plataformas de crowdfunding no Brasil

mãos segurando moedas economias

Após quase cinco anos do lançamento das primeiras plataformas no país, o cenário do crowdfunding brasileiro está alcançando alguma estabilidade. Das cerca de 80 plataformas que já testaram o modelo por aqui, hoje sobraram pelo menos vinte e quatro com campanhas ativas. Apesar da diminuição do número total de iniciativas, boa parte das que ficaram de pé relatam crescimento em projetos inscritos e arrecadação, apontando para a seleção natural e consolidação do setor.

O termo crowdfunding vem do inglês e significa financiamento pela multidão. A prática, que é uma evolução da boa e velha vaquinha, agora mediada pelas ferramentas digitais, começou a tomar forma em 2005 e ganhou escala a partir de 2009, com o lançamento do Kickstarter nos EUA. No Brasil, fincou raízes em 2011, ano em que tivemos uma safra de plataformas pioneiras: Catarse, Queremos!, Benfeitoria e Sibite, sem falar do Vakinha.com.br, que já existia mas ainda não se entendia como crowdfunding.

Por aqui, o crowdfunding apareceu como uma possibilidade fresca para financiamento independente: de repente, grupos de ativistas e outros diletantes da cultura digital conseguiriam levantar dinheiro não vinculado a empresas ou ao Estado, sem rabo preso com interesses alheios, e assim parecia que seus sonhos se tornariam realidade. O Catarse, a primeira plataforma do país, apareceu propondo este tipo de financiamento cultural e como consequência as primeiras levas de projetos bem sucedidos na plataforma envolvem maluquices como a compra do Ônibus Hacker, que até hoje leva nerds maravilhosos para viajar e interveir pelo interior do América do Sul, e o lançamento do Cidades para Pessoas, projeto que tomou corpo ali e segue de pé, utilizando o jornalismo para redesenhar nossas cidades.

onibus hacker
O crowdfunding deu mobilidade à equipe ônibus Hacker [Bruno Fernandes]

Um segundo movimento envolve o financimento de obras culturais autorais, principalmente música e quadrinhos. Viktor Chagas, pesquisador do Departamento de Estudos Culturais e Mídias da Universidade Federal Fluminense, avalia que o crowdfunding brasileiro tem se especializado em um gênero de microfinanciamentos, ocupando uma lacuna importante no mercado cultural nacional: “A Lei Roaunet(mecanismo federal de arrecadação para projetos culturais) foi um avanço importante, mas seu resultado se mostrou desanimador para os produtores culturais independentes, que atuam em uma faixa de orçamento média ou baixa, em setores produtivos que rendem pouca contrapartida às empresas patrocinadoras”.

Ele entende que é desta demanda que parte uma quantidade expressiva de curtas-metragens, projetos de histórias em quadrinhos, jogos e outros nichos que não encontram escoamento nos mecanismos tradicionais de apoio à cultura: “O mercado de quadrinhos é um caso interessante no qual o crowdfunding foi fundamental nos últimos anos. Mudanças na diversidade da produção nacional puderam ser sentidas em pouco tempo”.

Outra expressão de crowdfunding que está crescendo no país é a doação direta, ou seja, as campanhas sem expectativa de retorno em produtos ou facilidades ao doador. Diversos sites dedicam-se exclusivamente a este tipo de financiamento, que vai desde a compra de uniformes para a creche Pequeno Rebento, como faz ojuntos.com.vc, até o financiamento de cirurgias e outras operações de saúde, praticado pelo CaridadeX. OBicharia é semelhante, mas especializado em doações para animais.

Crowdfunding à brasileira

O cenário brasileiro, porém, é contrário à direção praticada no restante do mundo, onde a boa parte das campanhas são destinadas à pré venda, com empresas buscando financiamento para o desenvolvimento de novos produtos. Os interessados adquirem o tal produto a um preço menor do que será praticado no mercado final, financiando sua criação e o desenvolvimento da própria empresa. Não raro, porém, estas iniciativas falham e os apoiadores se veem sem o produto em mãos. Parte do risco do investidor.

Por outro lado, gadgets, jogos e outras invenções que acertam em cheio a cultura pop recebem um financiamento muitas vezes superior ao que pediram. O maior sucesso da história é o jogo Star Citzen, que pediu 500 000 dólares e já recebeu 87 milhões, 174 vezes mais do que a proposta inicial. Ele é baseado no popular Wing Commander, um clássico dos anos 90 envolvendo uma guerra alienígena e naves espaciais, que foi descontinuado pela empresa que o criou. Os fãs seguiram fiéis e tornaram o Star Citzen milionário.

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O jogo Star Citzen foi o maior crowdfunding da história [Flickr]

No Brasil, porém, ainda são raros os projetos de tecnologia. Além disso, a defasagem em volume financeiro entre o mercado brasileiro e o mundial é enorme. Em 2011, ano em que as primeiras plaformas foram lançadas no país, um total de 434 plataformas já movimentavam 1,5 bilhão de dólares mundialmente. A Massolution, empresa dos EUA que pesquisa e presta consultoria para o setor, publicou recentemente o trabalho 2015CF – Crowdfunding Industry Report, trabalho que coletou dados de 1 250 plataformas ativas por todo mundo para chegar a uma estimativa de 34,4 bilhões de dólares movimentados em 2015 .

A pesquisa desenha um setor baseado em quatro modelos: recompensas, doações, equity e empréstimos. O maior deles, disparado, é o crowddebt, os empréstimos coletivos, onde o proponente anuncia sua necessidade de empréstimo e os financiadores recebem os juros, praticando uma transação com taxas muito mais interessantes do que aquelas propostas pelos bancos. Este modelo deve movimentar 25 bilhões de dólares este ano.

A prática, que cumpre seu potencial disruptivo em outros países, é impossível no Brasil, pois as regras de nosso Banco Central dificultam o empréstimo entre duas pessoas físicas, não permitindo o modelo do crowsddebt. Mas há um gancho que merece ser melhor investigado: em abril de 2010, antes do Catarse, portanto, surgiu no Brasil o Fairplace, plataforma que propunha o crowddebt e por esse impedimento legal foi forçada a fechar as portas no ano seguinte. Perdemos aí a primeira plataforma brasileira de crowdfunding e um precedente valoroso que teria transformado o setor brasileiro.

Mesmo com essa ressalva, as plataformas mundiais devem movimentar 9,4 bilhões de dólares entre equity, doaçãos e recompensas, número ainda distante da realidade brasileira. O Catarse, a maior plataforma nacional, movimentou 32 milhões de reais em seus quatro anos e meio de atividade, ou 0,1% do que será movimentado no mundo todo apenas este ano, segundo a cotação atual de 3,50 reais por dólar. O Sibite está criando agora a primeira experiência de Crowdequity no país, então daqui a um ou dois anos voltamos para escrever a respeito dessa iniciativa.

Quase não há estudos abrangentes sobre o setor brasileiro. Para a realização desta matéria, duas pesquisas foram avaliadas: um levantamento realizado em 2013 por Ariel Tomaspolski, um dos fundadores da juntos.com.vc; e a sistematização realizada pelo microblobg mapadocrowdfunding.tumblr.com, ferramenta digital onde qualquer um pode inscrever uma plataforma. A primeira pesquisa levantou 64 iniciativas, sendo que destas apenas 38 estavam com campanhas ativas em 2013. A segunda contabiliza 72 plataformas, mas apenas 24 estão com campanhas ativas hoje, apontando a concentração que o setor atravessou até chegar ao momento atual.

Leia também: Dez livros que todo empreendedor deve ler

A economista e consultora Julia Taunay aponta que é a concentração em um setor é parte de seu desenvolvimento natural. Na indústria clássica, esse processo se dá principalmente por meio de fusões e aquisições, mas isso nunca aconteceu no crowdfunding brasileiro: “A internet é caracterizada pela euforia, ondas de inovação que transformam tudo. Mas não basta uma boa ideia para fazer sua empresa virar, é preciso ter a capacidade de gerir um negócio. Talvez a pergunta mais interessante seja o que fizeram as plataformas que sobreviveram e estão lucrando hoje”.

Diego Reeberg, um dos fundadores do Catarse, entende que modelo de negócios aplicado no Brasil pela maioria das plataformas necessita de escala. Ele, que assina seu email com o cargo de Malabarista Organizacional, diz: “Muita gente tentou criar plataformas de nicho e viu que é inviável operar sem um retorno razoável. Algumas têm fontes de financiamento externo e não exigem da plataforma sua subsistência, mas quem não tem precisa crescer rápido para se segurar”.

Diego também entende que ainda há muito espaço para crescimento e por isso está botando sua empresa na estrada para difundir a prática pelo país.

Conseguimos falar com 8 das 24 plataformas em atividade hoje no Brasil. Dentre elas, quatro superaram a casa de um milhão de arrecadação: Benfeitoria, Catarse, Juntos.com.vc e Sibite. Em comum, todas estão no ar desde 2011 ou 2012 e apresentam um foco mais generalista, cobrindo uma ampla gama de projetos, principalmente na área da cultura. De anos mais recentes vêm as plataformas setoriais, mais focadas, como aSocialbeers, que financia cervejas artesanais, ou a Bookstart, que faz toda a campanha ao redor do lançamento de um livro. Além delas, existe e está de pé a plataforma Vasco Dívida Zero, que pretende pagar a dívida de mais de 94 milhões de reais do clube carioca. O número é alto, mas a plataforma já arrecadou 1,088 milhão. Boa sorte aos vascaínos.

Abaixo, seguem as fichas detalhadas das 8 plataformas. Esta pesquisa, porém, não está encerrada. É possível que existam mais plataformas em atividade. Caso você queira complementar esta reportagem com informações sobre alguma plataforma listada ou conheça uma outra plataforma em atividade não mencionada aqui, escreva para [email protected].

Em ordem alfabética, as fichas:

Benfeitoria

Lançamento: abril de 2011 (Benfeitoria); setembro de 2014 (Recorrente)
Que tipo de projetos recebe:
Os que contribuam para uma cultura mais realizadora, humana, criativa e colaborativa.
Modelo de participação:
Crowdfunding tradicional, com um prazo de campanha de 1 a 90 dias, recompensas e a dinâmica do tudo ou nada. Não cobra comissão obrigatória, mas convida os projetos bem sucedidos a direcionar à Benfeitoria a porcentagem que quiserem, se quiserem, como retribuição ao serviço prestado. O Recorrente, que é a primeira plataforma de financiamento contínuo do país, não tem prazo de campanha definido, trabalha com recompensas e cobra comissão de 5%.
Diferencial
Plataforma gratuita, com atendimento personalizado para cada projeto e material de auxílio para planejamento e execução de campanhas por meio da UFC – Universidade do Financiamento Coletivo, que por enquanto possui duas vídeo aulas publicadas. Além disso, utiliza a própria ferramenta de financiamento recorrente para financiar suas atividades. Já estão arrecadando mais de 5 mil reais por mês desta forma.
Projetos publicados: 
570 na Benfeitoria; 30 no Recorrente.
Campanhas bem sucedidas: 
410 na Benfeitoria; no Recorrente o trabalho é contínuo.
Quanto já movimentou: 
R$ 5,5 milhões
Número de apoiadores: 
40 000
Balanço de caixa até aqui
Todo lucro é reinvestido na própria empresa.
Próximos passos: 
Vão unir as duas ferramentas de financiamento num mesmo site. Além disso, iniciaram uma rede de caçadores de impacto, pessoas dispostas a encontrar projetos que podem se beneficiar da dinâmica do financiamento coletivo. Já estão na terceira turma e expandindo.

Bicharia

Lançamento: outubro de 2012
Que tipo de projetos recebe:
Apenas os que envolvem a causa animal
Modelo de participação: Recebem 10% do valor dos projetos. Os projetos precisam atingir 50% da meta para serem aprovados.
Diferencial: O foco na causa, tornando a plataforma especialmente atraente para quem deseja publicar ou ajudar um projeto sobre animais.
Projetos publicados na plataforma: 250
Campanhas bem sucedidas: 200
Quanto já movimentou: R$ 650 mil
Número de apoiadores: 15 000
Balanço de caixa até aqui: Nunca teve prejuízo.
Próximos passos: Investem na aproximação de ONGs e outros protetores de peso da causa animal. Buscam formas de aproximar empresas aos projetos e outras fontes de rentabilidade.

Bookstart

Lançamento: agosto de 2014
Que tipo de projetos recebe:
Começaram focados em literatura, agora estão abrindo o leque para cultura, entretenimento e esporte, mas sempre com o livro como centro do projeto.
Modelo de participação:
Se for um projeto somente de publicação do livro, a campanha é tudo ou nada. Se for evento, torna-se uma campanha flexível: se não esgotar o crowdfunding, entra com a venda na porta. Pode funcionar como plataforma meio, ficando com 15% da arrecadação, ou pode funcionar como plataforma executiva, prestando serviços de editoração, marketing e vendas e ficando com 35% do valor total arrecadado.
Diferencial: Estão inseridos no mercado editorial e dentro dele ajudam a organizar o projeto, da concepção até a finalização, inclusive a logística de envio dos livros e recompensas para o país.
Projetos publicados na plataforma:
35
Campanhas bem sucedidas:
25
Quanto já movimentou:
Não informado.
Número de apoiadores:
10 000
Balanço de caixa até aqui:
break even.
Próximos passos:
Buscam investimento para ampliar a equipe, com ênfase ao departamento de marketing. Entendem que no Brasil o crowdfunding, como os livros, ainda é focado em pessoas físicas. Querem atrair mais pessoas jurídicas para o meio, atrelando marcas como apoiadores e parceiros diretos. Pretendem incluir a literatura em mercados de massa, como entretenimento e esportes, fazendo uso do B2B.

Catarse

Lançamento: janeiro de 2011
Que tipo de projetos recebe:
Projetos criativos que tenham começo, meio e fim.
Modelo de participação:
Tudo ou nada com recompensas obrigatórias. A taxa cobrada é de 13%.
Diferencial: É a primeira plataforma do país. Isso, somado à ferramenta sólida, garantiu uma grande porcentagem do setor para o Catarse e uma comunidade atuante ao redor da plataforma. Enxerga o financiamento coletivo como parte de um movimento de empoderamento e independência, não como modelo de negócio.
Projetos publicados na plataforma:
3.700
Campanhas bem sucedidas:
1.857
Quanto já movimentou:
R$ 32 milhões
Número de apoiadores:
221.550
Balanço de caixa até aqui:
não informado
Próximos passos: Estão preparando o Catarse na Estrada, uma série de oficinas itinerantes para levar a cultura do financiamento coletivo para o interior do Brasil.

Juntos.com.vc

Lançamento: maio de 2012
Que tipo de projetos recebe:
Exclusivamente projetos sociais.
Modelo de participação:
0% de taxa, cobra apenas os custos das transferências eletrônicas. Exclusivamente campanhas tudo ou nada e com recompensas.
Diferencial:
Especializada em terceiro setor, oferece consultoria gratuita e financia parte da campanha de marketing via Google Adwords.
Projetos publicados na plataforma:
200
Campanhas bem sucedidas:
150
Quanto já movimentou:
R$ 3,3 milhões
Número de apoiadores:

Balanço de caixa até aqui:
É uma instituição sem fins lucrativos.
Próximos passos:
Ampliar parcerias com empresas e trabalhar diretamente com departamentos de responsabilidade social. Expandir a equipe para mais cidades e estados do Brasil.

Sibite

Lançamento: setembro de 2011
Que tipo de projetos recebe: Nasceu com projetos de cultura, hoje recebe qualquer um que não tenha sido financiado por vias tradicionais
Modelo de participação: Possui três modelos: Crowdfunding tradicional — no qual fica com 12% da arrecadação; Crossfunding — no qual o projeto recebe apoio de marketing, comunicação e execução para buscar incentivo fiscal e patrocínio direto, deixando entre 17 e 23% com o Sibite; Campanha Pessoal — no qual recebe projetos de filantropia e cobra 0%. Estão pesquisando um quarto modelo, o Crowdequity, no qual investidores terão direito a uma porcentagem dos lucros do negócio, tornando-se sócios.
Diferencial: A flexibilidade do Sibite é enorme, os projetos podem ser tudo ou nada ou não, podem ter recompensas ou não, de acordo com a especificidade de cada um. Além disso, funcionam como uma agência publicitária, oferecendo toda a cadeia de serviços da publicidade para boas ideias atrás de financiamento coletivo.
Projetos publicados na plataforma
: 165
Campanhas bem sucedidas: 130
Quanto já movimentou: R$ 3,8 milhões
Número de apoiadores: 20 000
Balanço de caixa até aqui: Não contabiliza lucro ou prejuízo porque está sendo acelerado.
Próximos passos: Entre em contato direto com o Sibite para saber.

Social Beers

Lançamento: fevereiro de 2014
Que tipo de projetos recebe:
Fabricação de cerveja, normalmente projetos de 2 000 litros.
Modelo de participação: Tudo ou nada. A margem varia de 13% a 26%, dependendo de quanta assessoria executiva a Socialbeer vai colocar.
Diferencial: Estão formando um público de nicho ao redor da cerveja. Além disso, os dois sócios são mestres cervejeiros com conhecimento de mercado e técnico, além do encaminhamento burocrático necessário para registro e comercialização do produto. Produzem cervejas especiais para clientes fora do crowdfunding também.
Projetos publicados na plataforma: 13
Campanhas bem sucedidas: 12
Quanto já movimentou: R$ 850 mil
Número de apoiadores: 6 000
Balanço de caixa até aqui: Não divulgado.
Próximos passos: Extensão física do socialbeer, uma loja onde se possa beber e apoiar as cervejas fabricadas via site, além de contar com rótulos exclusivos. Também pretendem investir em melhoria nos processos logísticos.

Variável 5

Lançamento: setembro de 2012.
Que tipo de projetos recebe:
Projetos culturais.
Modelo de participação: Campanhas de 25 a 40 dias, tudo ou nada com recompensa. A plataforma fica com 11% da campanha.
Diferencial: É uma plataforma de realização cultural que, além do financiamento, também presta serviços de produção e comunicação. Oferece os três serviços de forma separada, de acordo com a demanda de cada projeto.
Projetos publicados na plataforma: 49
Campanhas bem sucedidas: 38
Quanto já movimentou: R$ 374.981
Número de apoiadores: 4 575
Balanço de caixa até aqui: Ligeiramente positivo.
Próximos passos: Planeja encontros com realizadores culturais de Minas Gerais e outros estados para discutir as possibilidades do financiamento coletivo em setores culturais ainda pouco presentes em sua plataforma. Pretende também começar a explorar o financiamento via isenção fiscal de projetos que estejam aprovados em leis de incentivo.

As demais plataformas em atividade no país hoje são: CaridadeX, Doare, Eco do Bem, Embolacha, Eu patrocino, Idea.me, Kickante, Make a champ, Mootiro, O Pote, Partio, Queremos, Startando, Traga seu show, Unlock, Vakinha, Vasco Dívida Zero.

O verdadeiro talento do século 21 no trabalho

uma mulheer e dois homens de terno trabalhando em frente ao computador

Problema para uns, oportunidade para outros. A diferença entre estar no grupo destes “uns” ou no destes “outros” reside em uma capacidade crucial aos profissionais: pensamento crítico.

Esta, ao lado da comunicação e da criatividade, faz parte do hall das chamadas habilidades do século 21, segundo explica a professora Giedre Vasiliauskaite, da pós-graduação da Universidade de Rotterdam, na Holanda, e do master em negócios da Rotterdam Business School — em parceria com  o INEPAD — em entrevista a EXAME.com.

Essencial para o sucesso no mundo corporativo, o pensamento crítico, explica a especialista, se faz tão necessário por estar diretamente relacionado à capacidade de resolver problemas, inegável requisito de destaque no currículo executivo.

A seguir, confira trechos da conversa com a professora, em que ela explica o que é pensamento crítico, como se desenvolve e dá exemplos práticos do seu uso ambiente profissional:

O que significa ter pensamento crítico no mundo corporativo?

Giedre Vasiliauskaite: Um executivo que pensa criticamente tem uma maneira de pensar clara e bem estruturada e é capaz de se comunicar claramente, fazer as perguntas certas, de reconhecer o problema atrás do problema e olhar para uma questão sob diferentes perspectivas.

O pensamento crítico nos ajuda a identificar soluções possíveis e, claro, identificar oportunidades, incluindo o potencial das soluções identificadas. A partir do pensamento crítico, é possível encontrar formas de gerar negócios, conexões e perspectivas, simplesmente porque o problema foi correta e criticamente analisado.

Como os profissionais podem desenvolver esta habilidade?

Giedre Vasiliauskaite: Você desenvolve esta habilidade por meio do estudo da teoria do pensamento crítico e também praticando muito em situações reais. As pessoas se questionam se é possível ensinar a habilidade de pensamento crítico. Minha resposta é que, geralmente, sim, é possível.

Todos nós somos, na verdade, pessoas com experiência de 20 a 30 anos em argumentar (dependendo da idade dos estudantes). Quando eu argumento sobre a possibilidade de melhorar dons de pensamento crítico eu me apoio em estudos psicológicos sobre o cérebro: os humanos tem a habilidade de mudar padrões de pensamento e seus comportamentos.

Mas o que as aulas de pensamento crítico fazem efetivamente pelos profissionais?

Giedre Vasiliauskaite: As aulas de pensamento crítico fazem elevam nossos padrões de racionalização cotidianos para o nível da percepção. Quando você entende como o processo de racionalização funciona e quais são os erros comuns em que as pessoas incorrem, é mais fácil controlar o seu processo e, eventualmente, melhorar a sua racionalização. O pensamento crítico também ajuda a entender os elos, as carências e os defeitos na racionalização das outras pessoas.

Qual a principal barreira que bloqueia o pensamento crítico?

A automatização do pensamento é uma barreira para estas habilidades que não funcionam de maneira automática: boa comunicação, criatividade e pensamento crítico.

A senhora pode dar um exemplo concreto da vantagem de pensar criticamente?

O escritor da Harvard Business Review, John Baldoni, dá um bom exemplo nesse sentido: um executivo comum pode identificar o superávit da produção como um problema que o pensador crítico deveria ver como uma oportunidade para renovar o processo de produzir algo novo e, podemos acrescentar, explorar novos mercados, testar outras aplicações e apresentações do mesmo produto.

Leia também: Quais as habilidades necessárias para crescer na carreira?

Pensamento crítico é só necessário para profissionais experientes?

Não é só para os seniores. A nova geração que está chegando ao mercado agora é muito mais focada em colaboração e diversidade e é por isso que o pensamento crítico junto com a comunicação e a criatividade são chamados de talentos do século 21.

Por que é um talento do século 21?

Um estudo conduzido pela Accenture em 2013, chamado The Accenture 2013 Skills and Employment Trends Survey: Perspectives on Training e realizado com mais de quatrocentos empregadores executivos, mostrou que a necessidade crescente vista por empregadores quanto aos dons dos executivos é a habilidade de resolver problemas, e é aqui que age o pensamento crítico.

Quando nós revelamos a estrutura essencial de um argumento se torna mais fácil enxergar como as ideias são interconectadas. Portanto, podemos nos livrar de informações redundantes que embaralham a comunicação e desperdiçam tempo valioso.

Roger Martin, reitor da Rotman School of Management (da Universidade de Toronto, no Canadá), está reinventando sua universidade baseado na importância que ele atribui ao pensamento crítico, e é isso que estamos fazendo na Universidade de Rotterdam também.

Em tempos de crise como o pensamento crítico pode ajudar?

Um executivo com boas habilidades de pensamento crítico, ao invés de imediatamente procurar por uma solução, vai à busca do que e por que o problema aconteceu. Isso não é fácil de fazer. Esse executivo consegue simular possibilidades de intervenção projetando consequências possíveis e então selecionando as alternativas que dão os melhores resultados.

Veja, por exemplo, a questão da crise econômica que se desenvolveu desde 2009: com menos dinheiro no mercado, existe menos estabilidade e menor previsibilidade quanto ao que está por vir, desafiando indivíduos a se tornarem mais empreendedores e visualizar novas oportunidades para geração de negócios.

A mudança necessária tem duas dimensões pois requer não apenas rever as políticas nas organizações, mas também reforçar o padrão de pensamento empreendedor nas pessoas. Isso significa conquistar maior autonomia, mais capacidade para pensamento independente, identificação e aprender por meio dos erros, assim como realização na habilidade de sugerir soluções inovadoras em situações ambíguas.

Este artigo foi originalmente publicado em EXAME.com

Para especialista, aprender programação é importante para qualquer profissional

código de programação

Mitchel Resnick é diretor do grupo Lifelong Kindergarten, do MIT Media Lab, que utiliza as novas tecnologias para promover experiências de aprendizagem criativas. Ele defende que a programação é uma das habilidades do século 21 e deveria ser tão importante quanto ler ou escrever. Segundo ele, em um mundo repleto de tecnologia, quem não aprender a programar será programado.

Para Michael, é importante aprender a codificar, não só pelas oportunidades de trabalho, mas pela possibilidade de ver o mundo de novas maneiras.

A programação seria um caminho para tornar as pessoas fluentes em novas tecnologias. Em sua palestra no evento Transformar 2014, organizado em parceria pelo Portal Porvir, Inspirare e Fundação Lemann,  ele fala sobre a importância de desenvolver essa habilidade:


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Assista ao bate-papo do Na Prática com Rodrigo Kede, ex-presidente da IBM Brasil

A boa notícia é que hoje existem diversas maneiras de pessoas de todas as áreas aprender programação. São iniciativas gratuitas como a Code Amademy, que ensina online leigos a programar; Hour of Code, movimento global que promove mutirões presenciais de ensino de programação; além da Code School e LearnCafe, com aulas virtuais que cobrem de HTML à Git. 

Comunicação interpessoal: dicas para melhorar suas relações corporativas

dois jovens conversando em ambiente descrontraído

Entre os assuntos sobre gestão abordados no portal da Endeavor, você já deve ter percebido que a comunicação sempre aparece.

Da comunicação com a base da pirâmide dos consumidores à nova gestão da comunicação, passando por dicas para eliminar ruídos na comunicação e até mesmo para controlar o tom de voz ao realizar apresentações, o assunto nunca sai de pauta por aqui.

E agora vamos falar sobre um tipo de comunicação essencial para o bom andamento de sua gestão: a comunicação interpessoal.

À primeira vista, a expressão pode parecer um tanto redundante. Afinal, se há comunicação entre duas pessoas, esta comunicação é necessariamente interpessoal.

BTG Pactual: como é o trabalho na área de research do banco de investimento?

profissional do BTG de terno sorrindo

“Posso ter escrito um relatório de 60 páginas, mas tenho 30 segundos para convencer um cliente às 8h15 da manhã a comprar uma ação que pode ser interessante para ele”. É assim que o analista de research João Carlos dos Santos, 34 anos, resume como começa seu dia de trabalho no banco de investimentos BTG Pactual, em São Paulo. Por isso, segundo ele, o cargo vai além da pesquisa profunda e tem um tanto de marketing também.

A área de research no BTG Pactual

O profissional de research é responsável, em um banco de investimentos, por cobrir determinadas áreas temáticas para seus clientes, o chamado buy side, o que faz de João Carlos o sell side. No caso dele, a área de pesquisa é saúde e educação. O que mais o motiva no cargo é esse momento da troca de informações e do relacionamento com o cliente, que acontece todos os dias logo cedo. Após chegar às 7h30 no escritório, ele lê alguns jornais e se prepara para a reunião, a morning call, que acontece às 8h15.

“O cara de research tem que ser bom não só na análise, mas na capacidade de venda”, explica. Isso porque, ele diz, não se pode depender somente da disposição e da capacidade de análise do buy side. A sua área, no entanto, não gera recursos diretamente. Após falar com um cliente sobre o timing de comprar ou vender um papel, o cliente faz isso via seguradora do BTG.

Veja as vagas de estágio, trainee e analista no banco de investimento BTG Pactual

Durante o resto do dia, o acompanhamento do mercado é intenso, assim como ligações e reuniões. “Só quando o mercado fecha, depois que eu paro de falar com tanta gente, no fim da tarde, é que vou escrever um relatório”, explica Carlos. Os relatórios são a análise do mercado que ele cobre e o que dá embasamento para a conversa com os clientes. Em dias normais, o trabalho vai até aproximadamente 21h, mas em períodos de earning season (quando acontecem análises de balanço e escrita de relatórios) esse horário pode se estender.

E vale a pena uma jornada tão longa de trabalho? Segundo João Carlos, os benefícios e a remuneração compensam. “O BTG é um pouco mais puxado porque se trata de um mercado bastante volátil, então a verdade é que não se contrata muita gente e a média fica under staff”, ele explica. Mas é importante que o profissional fique atento aos seus próprios limites, pois na área de research o trabalho é infinito e um tanto de atenção individual a isso se faz necessária.

Trajetória profissional no BTG Pactual

O caminho profissional de João Carlos teve como ponto de partida a faculdade de engenharia mecânica da Universidade de São Paulo. Após trabalhar em um escritório líder em engenharia térmica, percebeu que naquela área dificilmente poderia ter um grande destaque. “Eu não queria ser mais um no mercado de engenharia, então achei que valia a pena olhar pra fora”, ele conta. Então foi trabalhar com consultoria na Accenture e depois na área de cartão de crédito do Itaú. E assim acabou entrando no mercado financeiro.

Apesar do dia a dia bastante cheio de trabalho, o engenheiro está feliz com a carreira que escolheu. Alerta, no entanto, para a característica um tanto solitária da sua função. Sua atual equipe conta com apenas mais duas pessoas, uma delas é o estagiário responsável por levantar dados e fazer pequenas análises. “Para ele já é um aprendizado legal, ele me traz informações já elaboradas”, conta.

Leia também: Como é o dia a dia de um profissional de research no J.P. Morgan?

Os clientes e as pessoas com quem um profissional de research lida costumam ser inteligentes e antenadas nas movimentações do mundo, por isso há uma necessidade constante de se aprimorar profissionalmente. No BTG Pactual a certificação CFA é vista como uma boa alternativa ao MBA.

“Faço uma análise o mais profunda possível para ‘vender’ minha tese”, afirma João Carlos. É interessante, para um analista de research, que seu trabalho circule bastante, então quanto mais análises ele fizer, mais gente estará acessando. Não é raro que profissionais desta área se tornem importantes fontes para a mídia sobre os setores que pesquisam. Mas, claro, a tarefa exige muita dedicação.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

Por que há menos mulheres no setor de tecnologia?

mulher profissional usando Ipad na rua

Em uma tarde no fim de março, o epicentro do mercado de tecnologia em São Francisco deslocou-se de empresas como a Apple ou o Google para um tribunal no centro da cidade. Ali, a executiva americana Ellen Pao movia um processo contra o Kleiner Perkins Caufield & Byers, um dos fundos mais tradicionais do Vale do Silício, com aportes na Amazon e no Twitter. Dona de uma carreira brilhante, formada pelas universidades de Princeton e Harvard, Ellen era sócia do Kleiner.

Na Justiça, alegou ter sido prejudicada nos sete anos em que trabalhou no fundo. Por um motivo singular: ser mulher. Apresentando documentos, afirmou que só os homens que trabalhavam no fundo eram convidados para viagens de trabalho. Ela pedia, na Justiça, uma indenização de US$ 16 milhões. O fundo negou as acusações e alegou que Ellen fora demitida do cargo, cuja remuneração anual batia nos US$ 560 mil, por não ter as “habilidades interpessoais e de liderança necessárias para ter sucesso”.

O mercado de tecnologia prendeu a respiração quando os jurados chegaram a um veredicto. O fundo foi absolvido. Mas a derrota de Ellen não resolveu o assunto. Ao contrário. O debate ganhou o mundo. A ação tocou no nervo exposto do mercado global de tecnologia. Ocupado em criar carros autoguiados, drones e smartphones cada vez mais espetaculares, o setor parece incapaz de resolver uma questão tão antiga quanto urgente – a baixa participação feminina. Nas salas da faculdade de engenharia ou nas divisões mais técnicas das gigantes do setor elas são sempre minoria. As que entram no mercado de trabalho recebem menos e enfrentam dificuldades que suas contrapartes masculinas não têm, como a desconfiança.

Quando o assunto vem à tona, são sempre lembradas, para minimizar o problema, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, e a CEO do Yahoo!, Marissa Mayer. Elas são exceções. A verdade é que o mercado de tecnologia é ainda mais restritivo a mulheres do que empresas de outros setores. Entre as companhias do S&P 100, o ranking com as maiores empresas do mundo compilado pela agência de risco Standard & Poor’s, 20% delas têm, pelo menos, uma diretora. No Vale do Silício, o mesmo acontece só com 10% das empresas.

Ao descer na cadeia hierárquica, o problema persiste. No Google, 30% dos funcionários são mulheres. Se levarmos em conta a divisão mais importante, a de engenharia, a relação é menor: 17%. No Brasil, encolhe ainda mais. Somente 10% dos engenheiros no centro de engenharia de Belo Horizonte são mulheres. Não é um problema isolado. A mesma relação desigual entre homens e mulheres acontece no Facebook (31% são mulheres), na Apple (30%) e no Twitter (30%). Para piorar, só 10% dos aportes financeiros são feitos em startups comandadas por mulheres, segundo estudo da Harvard Business School.

A diferença técnica entre homens e mulheres explicaria esse buraco? “Definitivamente, não”, diz Berthier Ribeiro-Neto, líder do laboratório de engenharia do Google na América Latina, um dos únicos com permissão a alterar o algoritmo de busca do Google. A qualidade é igual. O problema, observam especialistas, em uníssono, é cultural. Começa na infância. O computador virou um brinquedo de meninos. Não à toa, metade das famílias americanas coloca o PC doméstico no quarto do filho, segundo o livro Unlocking the Clubhouse: Women in Computing (“Entrando no clubinho: mulheres na computação”, em tradução literal), da pesquisadora Jane Margolis.

Tal lógica avança sobre as faculdades e o mercado de trabalho. Ela ajudou a moldar o que Jane define como “uma sociedade e uma cultura que relacionam o interesse e o sucesso com computadores a meninos e a homens”. É essa certeza que rege o ambiente de trabalho para mulheres no setor de tecnologia. Distribuída em uma linha do tempo, a carreira delas lembra um funil: quanto mais avança, mais estreito o caminho fica. E o trajeto ainda está cheio de armadilhas. O fundo Kleiner tentou desqualificar Ellen Pao, pelo romance que ela manteve com outro sócio da empresa, casado e pai de dois filhos. Ellen terminou a relação e acusou-o de assédio sexual. Logo depois, parou de ser convidada a comparecer a algumas reuniões da firma.

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O isolamento da faculdade

No Brasil, o isolamento feminino começa na faculdade. Camila Achutti convive com essa realidade desde o primeiro dia do curso de ciência da computação, no Instituto de Matemática e Estatística (IME), da Universidade de São Paulo (USP). Ela não só era a única mulher em uma sala com 49 homens, mas também a única a não saber como um algoritmo funcionava. Todos, ali, haviam cursado o ensino técnico. Camila optou por um colegial normal, o que a obrigaria a horas extras de estudos para acompanhar o ritmo da classe. A moça ainda ouvia dos colegas, que quase não estudavam para as provas e tiravam boas notas: “Mas você está estudando? Você não é muito boa nisso, né?”. “Eu era o patinho feio”, diz. Frustrada e sem ninguém com quem conversar (duas outras alunas entraram em sua turma, mas ambas abandonaram o curso), criou o blog Mulheres na Computação para narrar detalhes da sua experiência com um bando imenso de colegas. Descreveu ali, por exemplo, como os garotos, em trabalhos em grupo, sempre a colocavam para escrever o relatório de um projeto, enquanto eles faziam a programação. Ou ainda que, ao entrar na sala de um professor para pedir a reconsideração de uma nota, a eventual mudança da avaliação era associada a fuxicos sobre favores sexuais.

O blog virou um fenômeno entre as estudantes de tecnologia no Brasil. Elas passaram a enviar histórias semelhantes para Camila. Uma leitora, estudante de computação de uma universidade no Nordeste, reclamava que não tinha banheiro feminino na faculdade. Outra relatava que, ao tentar se impor para fazer tarefas técnicas em trabalhos de grupo, era acusada de desequilibrada ou por “estar com TPM”. Uma terceira enviou a Camila o convite de formatura, com os dizeres: “Não fosse seu blog, eu não teria conseguido terminar a faculdade”.

A relevância do blog é consequên­cia da extensão do problema. Ele vai muito além do IME. Se considerarmos os cursos de engenharia e ciência da computação para o ano letivo de 2015 em outras universidades de ponta do Brasil, a relação entre homens e mulheres permanece baixa. Na Universidade Estadual de Campinas, só 10,7% dos estudantes aprovados no vestibular eram mulheres. Na Universidade Federal de Minas Gerais, 11%. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, 11,8%. A Universidade Federal de Pernambuco se destaca, com 15,9%.

O curioso é que nem sempre foi assim. Ao contrário: as mulheres representavam 70% da primeira turma do bacharelado em ciência da computação do IME, em 1974. Naquela época, a computação era um desdobramento do curso de matemática, tradicionalmente com mais mulheres, diz o coordenador do IME, Carlos Ferreira. Há outras explicações: o início da computação tinha laços estreitos com o secretariado e o processamento de dados. A equipe que programava o Eniac, o primeiro computador da história, era formada por mulheres. Elas passavam tardes conectando cabos em uma estrutura do tamanho de uma sala para que a máquina calculasse trajetórias balísticas. A partir da década de 80, porém, quando os computadores viraram um negócio bilionário, com mainframes em todas as empresas e a proliferação dos PCs, o cenário mudou e os homens passaram a dominar esse mercado.

Ao fim dos quatro anos do curso no IME, entre 50 alunos, só Camila e mais dois se formaram. Ela foi a oradora e, por indicação de um professor, ganhou a chance de estagiar na sede do Google, em Mountain View. Ao fim do estágio, o buscador lhe fez uma proposta. Ela recusou e voltou ao Brasil, para trabalhar na inclusão de mulheres no mercado de tecnologia. Hoje, ela representa o Technovation, um grupo que incentiva meninas no colégio a se interessarem por programação e engenharia.

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Camila Achutti no Fórum Internacional de Software Livre [FISL15]

As que, diferentemente de Camila, escolhem enveredar pelo mundo corporativo, encontram questões sexistas parecidas, potencializadas por uma crueldade adicional: a diferença de salários. Ainda que sejam, na média, mais educadas que os homens, as profissionais de tecnologia no Brasil ganham 30% menos do que eles, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, compilados pela pesquisadora Bárbara Castro para o seu doutorado, na Unicamp.

O estudo identificou também que a estrutura do mercado brasileiro de tecnologia prejudica as mulheres. Em vez de pontocons com produtos globais, como Facebook, LinkedIn e Twitter, o Brasil tem um mercado pulverizado. Das 81 mil empresas do setor, 93% são pequenas e médias, que vendem projetos com software e hardware para bancos e varejistas. Para vencer a concorrência, profissionais dessas empresas trabalham longas horas, sem fins de semana ou feriados. Essa dinâmica, segundo Bárbara, tende a beneficiar homens, principalmente os solteiros e mais novos, e excluir mulheres, sobretudo as que têm filhos. A mulher que é mãe não está sempre à disposição do empregador. Isso faz com que muitas, diz Bárbara, aceitem um cargo em vendas, justamente para trabalhar em casa. A renda cai, já que o home office paga um terço a menos.

Ainda que seja promovida, a mulher tende a ser afastada dos cargos técnicos e ocupa as vagas gerenciais. Esse é um padrão entre as 30 executivas que Bárbara entrevistou para sua pesquisa, relacionado, segundo ela, à desconfiança das habilidades dessas profissionais. “Elas tentam fugir. Pedem demissão, entram em outra empresa como programadoras e, cerca de um ano depois, o ciclo se repete”, diz. Não à toa, só 17% dos programadores no mercado brasileiro de TI são mulheres. Muitas adotam estratégias para se manter nesse ambiente, às vezes inconscientes. É recorrente ouvir casos de mulheres que abdicaram da vaidade para serem aceitas. Em um caso documentado por Bárbara, uma executiva só se sentiu à vontade para usar cabelo longo, maquiagem e joias quando já tinha um cargo gerencial. Na foto do seu crachá, tirada no primeiro ano de trabalho, ela aparece de cabelo curto, cara lavada e camiseta branca básica.

Atraída para uma vaga em uma gigante de software no Brasil, uma executiva, que pediu para não ser identificada, impôs uma condição para assumir o posto: que seu salário fosse igual ao dos homens da divisão. Ao descobrir, meses depois, que ganhava menos, confrontou o chefe e exigiu um aumento. Nos dias seguintes, outras funcionárias, algumas com as quais ela nunca tinha falado, paravam em sua mesa para congratulá-la. Nenhuma, porém, o fez publicamente.

Trata-se de um traço constante: é difícil encontrar mulheres no setor de TI que falem abertamente sobre os problemas do sexismo no trabalho. Para a produção desta reportagem, foram enviadas mensagens para 12 executivas do mercado de tecnologia no Brasil. São fontes que respondem com uma diferença de dias quando o assunto é o mercado em geral. Para falar sobre machismo, menos da metade respondeu, a maioria sob a condição de sigilo do nome. A justificativa mais recorrente para explicar o silêncio é o medo de represálias: ao se levantar contra a desigualdade, a funcionária teme ser encarada como desequilibrada ou que uma eventual promoção seja relacionada à sua queixa.

Mulheres que trabalham no mercado de TI no Brasil, cercadas pela desconfiança, pelas piadas e com salários menores, criam uma espécie de escudo. É o caso de Vanda Scartezini. Aos 27 anos, ela foi indicada para assumir uma posição no recém-criado Sistema Telebras. Presidente da entidade, o general José Antonio de Alencastro relutou em aceitar sua indicação. O motivo? Tratava-se de uma mulher. Só com muita insistência do seu ex-chefe, que a havia indicado, Alencastro permitiu. “Depois que você mostra conhecimento, o homem muda o modo de pensar”, diz.

Pelas décadas seguintes, Vanda virou uma das executivas de maior sucesso da história das telecomunicações no Brasil. Ocupou cargos no Ministério da Ciência e Tecnologia, no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e na Philips. Hoje, é consultora e conselheira do Icann, o órgão internacional responsável por domínios na internet. Mas o tratamento desigual deixou suas marcas. Em sua carreira, foram constantes os salários menores do que os dos homens, associados não raro a uma exigência de performance melhor. “Tive colegas homens que faziam grandes asneiras e os chefes não diziam nada. Eu fazia uma pequena bobagem e levava a maior bronca”, afirma.

O discurso de Vanda tem o pragmatismo de alguém que parece ter se cansado de esperar por uma igualdade que nunca vem. Ao orientar empreendedoras mais jovens, defende que o sucesso dependerá de como elas se comportam frente ao cenário. “Se for mais frágil, desiste, acha que não vai conseguir”, diz. Vanda não sobreviveu em um setor machista (e ainda com militares) à toa: quem trabalhou com ela a descreve profissionalmente “como um trator”. Mas não dá para esperar que toda menina de 17 anos interessada em tecnologia tenha de se proteger atrás de uma carapaça para fazer parte de um mercado onde vai trabalhar mais para ganhar menos e ter sua competência questionada.

Para ter mulheres no setor de tecnologia, é preciso voltar ao começo 

A Justiça pode forçar direitos iguais e criar um ambiente mais inclusivo para as mulheres. Tanto que, dias antes do veredicto do processo de Ellen Pao, funcionárias abriram processos semelhantes contra o Facebook e o Twitter. Mas o tribunal não resolve magicamente a baixa procura das mulheres por cursos de computação. A HP e a IBM criam políticas para garantir que 30% das novas contratações em áreas técnicas sejam de mulheres. Mas é difícil preencher as vagas. “Aí, a empresa contrata a torto e a direito e passa para os engenheiros a impressão de que a mulher não é competente”, diz Camila, da Technovation. É por isso que ações afirmativas parecem ter uma efetividade limitada. A Infosys, por exemplo, quer que, até 2020, 25% da sua diretoria seja composta por mulheres. O problema é: de onde elas virão?

No Brasil, grupos independentes tentam criar uma solução de longo prazo, voltada para a faixa etária onde o mercado concorda que nasce a desigualdade entre meninas e meninos: a juventude. Há iniciativas, como a já citada Technovation, nas quais grupos de garotas do ensino médio desenvolvem apps para a competição global. No ano passado, três estudantes do interior do Pará venceram a competição nacional. Neste ano, esperam-se mais de 1,8 mil meninas, metade de São Paulo. Há ainda iniciativas fora dos grandes centros.

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É o caso da Code Girl, um grupo formado em Natal pela professora Claudia Ribeiro e duas ex-alunas, Suzyanne Oliveira e Nayara Rocha. O grupo montou uma turma com 12 garotas, entre 15 e 18 anos, de escolas públicas. Elas receberam aulas de programação e design. Mas só as aulas não era suficiente, e não só pelo limitado número de alunas. Uma pesquisa feita com 114 estudantes da região mostrou que, além da predominância masculina, o desencorajamento familiar era um dos maiores obstáculos. “A família fala para a menina deixar de lado a computação e fazer medicina ou direito”, diz Suzyanne. Ela conheceu o problema de perto: ao decidir cursar ciência da computação, seus pais acharam que endoidara. Computação era coisa de homem, garantiam. Ficou claro às três: a família precisava participar da conversa.

O trio bolou encontros semestrais nos quais estudantes assistem a palestras de programadoras e executivas sobre a área, acompanhadas de pais e mães. Busca-se desmistificar a ideia de que a computação é uma área para homens. Na primeira edição do evento, em maio de 2014, compareceram 250 pessoas. Em novembro, esperavam-se 500, mas apareceram mais de 800, com direito a caravanas vindas de cidades do interior do Rio Grande do Norte, como São Paulo do Potengi e Mossoró. Ao fim das reuniões, a organização pede que os pais saiam do auditório. Sem eles, algumas meninas chegam a chorar, contando que se interessam por TI mas são obrigadas a enfrentar a resistência no lar. A maioria desiste. É uma história que Suzyanne já viu se repetir incontáveis vezes. Frente a tamanha discriminação, a tarefa de ensinar a mais desafiadora linguagem de programação parece até uma moleza.

 

Este artigo foi originalmente em Época Negócios

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