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Veja os bastidores da carreira de um gestor público

profissional trabalhando com lápis em primeiro plano

A decisão por um curso de graduação não foi nada clara e fácil para Murilo Lemos, como para a maioria dos jovens, aliás. Na época do vestibular, ele desistiu da primeira escolha de curso, ao entender o que um cientista da computação faz na prática e caiu no curso de Administração Pública quase por acidente. Foi a classificação na prova que o fez entrar nesta graduação, não existia um sonho latente de se tornar um gestor público.

Apesar de também ter passado em Economia, na Universidade de São Paulo (USP), optou por seguir no curso da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Começou a faculdade pensando que ia trocar depois, mas um dia uma professora defendeu o terceiro setor e a área pública de maneira tão tocante que ele entendeu que ali era o seu lugar. “Ela disse: quando você coloca a cabeça no travesseiro, vê que ajudou a dar casas, saúde e educação para as pessoas, não a vender bens. Foi nesse momento que eu ouvi o meu chamado, me senti vocacionado”, Murilo conta.

Durante o período de formação, uma experiência marcante foi a participação em um encontro de estudantes em Araraquara, um dos poucos lugares que tinham, em 1999, curso semelhante ao seu. Hoje, aos 37 anos, um dos principais recados que Murilo pode dar a quem ainda está na graduação é: “Vivam a faculdade para além da sala de aula! Essas experiências são fundamentais”.

Primeiras experiências como gestor público

Após a graduação, o administrador público buscou emprego distribuindo currículos para o governo, pois não se sentia impelido a trabalhar no setor privado. “Mesmo sem ter amigos em cargos influentes ou filiação política, passei seis meses buscando vagas, com suporte familiar”. Ao fim deste período um antigo professor que seria secretário na prefeitura de Campinas o convidou para ser seu assessor. “Comecei a trabalhar na área de recursos humanos e me apaixonei, passei quase dois anos lá”, conta.

Depois deste período ele fez uma especialização de um ano em Londres em política social. Ao voltar para o Brasil, era hora de distribuir currículos novamente. Nessa época, os colegas também já haviam assumido alguns postos, então logo a profissional que era responsável pelo RH (Recursos Humanos) do Governo do Estado de São Paulo o procurou.

A partir daí, Murilo experimentou trabalhar em diversos órgãos públicos, sempre na área de RH: Secretaria de Estado da Casa Civil, Secretaria de Economia e Planejamento, Fundação Prefeito Faria Lima, Secretaria de Educação e DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S.A.).

Foi só depois de todas estas experiências que ele trabalhou pela primeira vez como consultor, em gestão de recursos humanos para governos, além de tornar-se professor, após mestrado em Gestão de Políticas Públicas pela FGV. Em 2014, foi para a área de desenvolvimento no RH do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, e em setembro começa a trabalhar como Assessor do Secretário de Desenvolvimento Social do Estado de SP.

Murilo Lemos
Murilo Lemos em seu ambiente de trabalho [acervo pessoal]

Como entrar no setor público? 

Esta é uma das principais perguntas de quem se interessa pelo trabalho público. Primeiro é preciso saber que para trabalhar em administração pública as possibilidades são muito variadas. Além de atuar diretamente no governo, é possível trabalhar em empresas que prestam serviços para ele. “O terceiro setor (ONGs e fundações), no geral, faz o meio de caminho, trabalhando para o governo com dinheiro privado e público. Há também os modelos de concessões e as parcerias público-privadas”, explica Murilo. Além das áreas internacionais e carreira diplomática.

Leia também: Programa de trainee une jovem à carreira no setor público

Há duas portas de entrada para quem quer trabalhar diretamente dentro do governo: concurso público ou cargos de confiança. “A maior vantagem do concurso continua sendo a estabilidade do cargo, mas hoje há muito questionamento sobre a rigidez dessa estabilidade”, diz Murilo.

Atualmente a estabilidade é muito rígida, é preciso muito “esforço” para um funcionário público, ou seja, admitido por concurso, ser demitido. Quanto ao concurso em si, o problema é que a prova testa a pessoa por conhecimentos teóricos, e não contempla tanto a prática ou experiência que ele tem. Já o cargo de confiança, em que alguém é indicado por um profissional que já está no governo, não tem prova e normalmente se trata de cargos mais altos, como gerentes, diretores, administradores, chefes de departamento. “Em sua maioria eles não exigem requisito técnico. Isso quer dizer que podem existir problemas, como um diretor financeiro ser nomeado sem nunca ter trabalhado com finanças”, explica o administrador público.

Para quem acabou de se formar, o principal é investir anos de carreira para passar em um concurso interessante ou entrar por pela porta técnica de assessor, cargo de confiança, ou militar e ainda por meio de movimentos e filiações políticas. “O que pode ser errado não é a porta que se entra, mas a intenção com que se entra”, define Murilo. “O prejuízo que se tem com pessoas erradas em cargos de confiança pode ser gigantesco. É o cara que faz errado simplesmente porque não sabe fazer, não devia estar ali”. Em termos de remuneração, como concursado o salário inicial nem sempre é alto e demora a aumentar, mas pode chegar a níveis altos no fim da carreira. Já o cargo comissionado tem um salário inicial alto, que se mantém estável.

Crescimento como gestor público 

Para o concursado o crescimento existe, mas é lento. Além disso, a tendência é fazer carreira em um só órgão do governo. Há, no entanto algumas carreiras de Gestor Público em que o candidato aprovado entra no governo e pode ser alocado em diversos órgãos. Nestes casos, normalmente se pergunta ao candidato, por classificação, o que ele prefere, mas quase não há análise de perfil. “Infelizmente ainda é comum nos governos um RH engessado e focado no operacional, que não pensa muito no desenvolvimento humano, esse é um caminho que precisa melhorar cada vez mais”, diz Murilo.

 

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