características da carreira acadêmica

“Se há 20 anos as pessoas enfrentavam uma resistência a certos planos de carreira porque eles não eram estáveis, de longa duração, acho que agora existe um viés que radicalizou um pouco na direção oposta”, afirma Diego Werneck Arguelhes, professor pesquisador da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. “Hoje se você não abrir a sua startup e tiver arrebentado aos 23 anos, 24 anos, é porque você está fazendo alguma coisa errada”, explica, sobre uma realidade que é bem diferente do que acontece para quem escolhe a carreira acadêmica.

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Na prática, o trabalho na Academia é mais uma maratona do que uma corrida de 100 metros rasos, brinca Diego, que também é membro da Rede de Líderes da Fundação Estudar. Escolhendo esse caminho, tudo que se constrói se dá em pequenos passos, cumulativos, que, ao longo de anos, estruturam uma agenda. “Você está construindo uma obra e vai demorar muito tempo para os frutos aparecerem”, resume.

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A ansiedade do reconhecimento como uma voz no debate, na carreira acadêmica, aumenta o risco de engano, de “achar que está inventando a roda” e não perceber que aquilo já foi explorado. E, aí, então, acabar não contribuindo. “É uma combinação difícil entre conhecer o que está sendo feito, mas encontrar os espaços por onde você pode escoar e tentar apontar para uma coisa nova”, diz.

O que lhe ajudou a olhar de uma forma mais distanciada e “macro” foi ter tido uma vivência universitária rica e não restrita ao Direito, o que ele recomenda a quem busca carreira acadêmica, mesmo em outras áreas. Diego se formou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, onde também fez mestrado, e fez doutorado e LLM na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.  

Durante os estudos, cursou matérias em outros departamentos e, assim, desenvolveu uma visão mais ampla sobre a universidade e o Direito em si. A prática também lhe deu mais versatilidade intelectual e uma grande capacidade de conversar com pessoas de outras áreas, o que é útil na medida em que pode trazer insights fundamentais para novas ideias. 

Uma instituição sendo construída e o começo da trajetória

No último ano da graduação, trabalhou como estagiário com a equipe responsável pelo projeto de criação da Escola de Direito da FGV. A oportunidade lhe deu chance de discutir a formação do currículo, repensar o que estava errado na maneira com que o Direito era ensinado no Brasil, as políticas de formação do corpo docente e a estratégia de pesquisa da área.

“Uma coisa que me marcou no período foi pensar em termos de diferenciação. O Brasil já está, por um lado, muito saturado no mercado de faculdades de Direito, mas por outro, esse mercado saturado não entrega várias coisas importantes em termos de ensino e de pesquisa”, destaca o professor pesquisador.

O estágio foi decisivo porque, desde então, Diego não saiu da FGV. De acordo com ele, a instituição lhe ofereceu possibilidades que não via, de outra forma, no Direito. Entre elas, poder escrever sobre problemas da área e até de reformas institucionais possíveis no país. E poder fazer isso como pesquisador em tempo integral, sem ter de lidar com uma atuação que limitasse sua voz.

Vantagens características da carreira acadêmica (e o trade-off)

Essa independência ainda é uma das coisas que o professor mais gosta na carreira acadêmica. A característica da profissão lhe permite defender o que acredita e escolher no que investe seu tempo, praticamente sem barreiras.

“Eu nem sei muito o que é não ter independência no que eu escrevo, no que decido estudar. Isso é muito poderoso e importante para uma vida boa, na minha opinião.”

No entanto, a razão pela qual escolheu trabalhar com pesquisa já na graduação, o mais atrativo para Diego, foi o fato de poder escrever ideias suas, o que nem sempre é possível, em outras profissões. “A ideia de que você escreve alguma coisa, investe seu tempo naquilo, publica, e aquilo se descola e fica como uma contribuição permanente para o debate, sempre achei muito legal”, explica ele. “Seu investimento está associado ao que você acredita que tem que ser dito e à sua produção”, completa.

A ideia de autoria a que se refere, porém, não diz respeito, necessariamente, ao trabalho individual. Na verdade, o trabalho colaborativo é um dos pontos mais importantes e gratificantes que Diego vê em sua profissão.

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Apesar de ter encontrado aspectos que considera muito positivos entre as características da carreira acadêmica, assim como em todas as profissões, inclui um trade-off (uma troca). Segundo Diego, os salários são menores na Academia, e isso não é uma característica apenas do Brasil. Ao analisar a relação entre investimento em estudo e remuneração, você sempre vai ter gasto muito mais tempo estudando e muito mais tempo com a sua formação do que vai receber, em termos de retorno financeiro, diz ele.

“É impossível ser a pessoa que mais produz coisas legais, que mais acompanha o que está sendo escrito, que mais tem independência e que tem o melhor salário”, destaca. E você pode até tentar conciliar duas carreiras, mas deve acabar perdendo em algum ponto, de qualquer forma. Pode até ser inviabilizando alguma das características da carreira acadêmica, já que “independência, criatividade, produção rigorosa de conhecimento e divulgação, tomam tempo”.

Dicas para quem quer seguir carreira acadêmica

#1 Separe o tema do problema

Na mesma medida em que é importante escolher estudar assuntos que te entusiasmem, também é importante não se prender a ele pelo resto da vida. O professor recomenda desenvolver um “faro” para identificar áreas pouco exploradas, ou que devem se tornar importantes no futuro.

Um erro comum é considerar que um tema está saturado e não perceber que ele não foi explorado de todas as maneiras possíveis. “Às vezes, o mesmo tema gera problemas e perguntas muito diferentes, que não foram enfrentadas ainda”, explica ele. Então, separar o tema dos problemas facilita a análise específica do que já foi feito com o escopo.

#2 Não tente imitar o caminho de outra pessoa

“É muito legal você ver a trajetória de pessoas que admira, mas cuidado para não tentar emular o percurso, porque ele pode ter funcionado há dez anos e não funcionar hoje”, diz Diego.

Por isso, não deixe de conversar e acompanhar os outros, mas trace a própria trajetória considerando as diferenças de oportunidades, de nichos e das tendências futuras.

#3 Estude em diferentes instituições

Para Diego, que fez LLM em Yale, nos Estados Unidos, estudar em outras instituições é benéfico porque ajuda a olhar os mesmos temas e problemas a partir de agendas, comunidades e procedimentos de investigação diferentes, o que é extremamente enriquecedor. “É muito importante estudar fora, para qualquer pesquisador”, diz ele, e acrescenta que “fora” é um espectro que inclui mudar de estado, por exemplo, ou da instituição com que se acostumou.

Ele não recomenda, para quem busca seguir carreira acadêmica, que se estabeleça em uma faculdade e por lá fique. “Muita gente faz isso e produz bem mas acho muito arriscado, tende a te viciar nos temas que a instituição tende a favorecer, nos temas que as pessoas que estão acima de você consideram importantes”, afirma o professor.

#4 Questione a si mesmo

Criar, desde cedo, o “hábito de ser um provocador de si mesmo” ajuda a prevenir uma acomodação depois do doutorado, quando há interferência externa no seu trabalho – com prazos, avaliações, etc. Para o pesquisador, os anos de formação até esse nível devem servir como uma preparação para a atitude que, escolhendo uma carreira acadêmica, você precisará ter.

É preciso se acostumar a definir prazos e metas de curto, médio e longo prazo autonomamente, além de se questionar com frequência. “Estou dizendo coisas que acho que importam para mim? Estou construindo uma contribuição minha? Estou sentindo que essa agenda é onde acho que quero que minha voz seja construída e apareça ao longo dos próximos anos?”, exemplifica Diego.

#5 Seja empreendedor

Aqui, o que Diego aconselha é ser um “empreendedor das suas ideias”. O trabalho não acaba depois da produção do material, é necessário se dedicar às outras etapas tanto quanto à primeira. Ou seja, divulgar, encontrar novas aplicações, fazer o trabalho circular pelas áreas conexas. “Você precisa também ser um divulgador sempre”, resume ele.

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