Rogerio Bonatti

Com apenas 23 anos, o engenheiro mecatrônico Rogério Bonatti foi aprovado para fazer um PhD (equivalente ao doutorado) em ciência da computação na Carnegie Mellon, que detém o título de maior centro de robótica no mundo, logo após terminar a graduação. Atualmente, Rogério trabalha com robótica, especialmente veículos aéreos autônomos, e estuda machine learning, tendo inclusive estagiado no projeto de pesquisa tecnológica da Microsoft.

Ele é membro dos Líderes Estudar, rede de alto impacto da Fundação Estudar. Inclusive, o programa Líderes Estudar está com as inscrições abertas para sua edição de 2020. Além de acesso à rede, oferece bolsas de estudo, mentoria e outras oportunidades de desenvolvimento. O Na Prática trouxe uma série de trajetórias-inspiração de talentos de tecnologia para ficar de olho. Já contamos as histórias de Renner Lucena, Paulo Fisch, Carla Cosenza e Gabriel Bayomi. Conheça agora a história do engenheiro Rogério.

Interessando-se por robótica

Trabalhar com robótica não era um sonho de infância para Rogério. Ele tinha afinidade com matérias relacionadas a ciências na escola e pensava em seguir carreira em medicina. “Meus pais eram médicos e eu adorava biologia, então fazia sentido para mim. Quando eu estava no último ano do ensino médio, fizemos uma visita ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). No museu de lá, eu vi robôs batalhando e outras coisas que nem imaginava. Aquilo abriu minha cabeça para a engenharia e eu decidi mudar minha inscrição do vestibular, optando pela mecatrônica”, relembra.

Rogério foi aprovado na Universidade de São Paulo (USP) e foi lá que começou a ter contato com a área e a pesquisa científica. “Já no primeiro semestre, eu comecei a fazer pesquisa em laboratório de engenharia biomédica. Combinei meu interesse em biologia com a engenharia. E lá desenvolvia um respiradouro para pequenos animais. Fiz essa pesquisa por quase um ano e meio com bolsa de iniciação científica da FAPESP. E também foi super fundamental para meu treinamento como cientista, para saber escrever um relatório, escrever um paper científico”, aponta.

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No terceiro ano da graduação, Rogério foi selecionado para o programa de intercâmbio Ciência Sem Fronteiras e estudou um ano na Universidade de Cornell. “Sempre quis fazer algo no exterior, conhecer novas maneiras de pensar, ter novas experiências e crescer como cidadão global. No primeiro mês, fui atrás de laboratório para fazer pesquisa, além das aulas que a gente tinha. Foi um período fundamental para minha formação. Eu vi o quanto era interessante fazer pesquisa nos Estados Unidos pela quantidade de recursos que eles têm aqui. E isso me 100% me inspirou a me inscrever para fazer o PhD”, aponta. 

Rogério recorda que seu tempo em Cornell o fez se interessar mais pela robótica. “Lá eu fiz várias aulas fantásticas que abriram minha cabeça em termos do que existe no mundo nas áreas mais atuais. Porque muitas vezes o currículo das faculdades brasileiras é desatualizado”, analisa. Após voltar do período no exterior, ele foi selecionado para Rede de Líderes da Fundação Estudar pelo seu alto desempenho.

Ele acredita que a rede foi super importante para a construção do projeto de final de curso, voltado para deep learning e de aplicações em grande escala de machine learning e ciência de dados, umas das coisas que o fez se aproximar da robótica. “Fizemos um projeto com um sistema de resposta automática de e-mails, bem antes do Google desenvolver essa funcionalidade. A iniciativa foi muito bem recebida, chegamos a publicar artigo na maior conferência de inteligência artificial. A Fundação me ajudou muito com bancos de dados e outros líderes me deram ideias de como formatar o produto”, credita.

Da graduação ao PhD

O projeto de Rogério foi tão bem recebido que ele recebeu propostas de investidores que queriam injetar capital na iniciativa. Mas ele já tinha decidido que queria se especializar mais em inteligência artificial e machine learning. Mesmo tendo acabado de terminar a graduação, ele foi aprovado para o doutorado (ou PhD no modelo estadunidense) da Carnegie Mellon, referência mundial em robótica e computação. “Muita gente não sabe que dá para fazer isso. Para conseguir, você precisa mostrar que você tem maturidade num campo de pesquisa, ideias para o futuro e ter papers publicados”, indica. 

Ele detalha que o processo é similar às admissões gerais. “Você precisa comprovar fluência na língua, ter cartas de recomendação, fazer a versão do vestibular deles, que é o GRE (Graduate Record Examination), entregar uma declaração de propósito contando um pouco sobre a sua história, apresentar ideias de pesquisa e citar professores com os quais você gostaria de trabalhar. Você mostra basicamente o que pensa em fazer no futuro, de pesquisa”, detalha.

Para pular o mestrado, Rogério ressalta a importância de ter artigos científicos publicados. “De preferência em conferências internacionais, que sejam famosas e bem reconhecidas porque isso mostra que o candidato já passou pelo ciclo da pesquisa e sabe como fazer um artigo científico, desde a teoria até os experimentos. Eu tinha alguns tanto da pesquisa de engenharia biomédica na USP, da que fiz em Cornell e do projeto de machine learning da resposta de e-mails. Então eu consegui mostrar que eu tinha o conhecimento de como fazer uma pesquisa”, resume. Rogério atua dentro de um laboratório de pesquisa de robótica com de robôs de campo, usando as técnicas de machine learning.

Durante o doutorado, ele conseguiu fazer um estágio de pesquisa acadêmica na Microsoft. “Lá, eles estão pensando no que vai ser importante para dez, vinte anos no futuro. E não só em questão de desenvolvimento de produto, mas quais vão ser as tecnologias fundamentais que vai mudar o cenário de tecnologia. E eles têm um programa de estágio bem grande para PhDs nessa área. Fui para lá no verão passado e foi fantástico. Apesar de estar numa empresa, o foco é fazer pesquisa e publicar um artigo ao final”, revela.

Durante seu tempo da Microsoft, Rogério trabalhou com imitation learning. “É um pouco técnico, mas é basicamente como você pode usar machine learning para imitar um expert para fazer uma tarefa. Focamos na tarefa de corrida de drone. Dentro de um simulador, a gente imitava um especialista que sabia onde estavam todos os portões que você tem que correr, sabia tudo sobre o ambiente. Então eu desenvolvi métodos para imitar esse expert e depois sair da simulação e voar um drone na vida real. Foi mais ou menos isso o estágio”.

O que é preciso para ser bem-sucedido na área?

Para Rogério, ter uma formação teórica forte e experiência prática são essenciais na robótica. “Porque quando você vai desenvolver um robô ou um algoritmo novo para machine learning, você precisa saber programar muito bem. Tem que saber hardware e software e correr atrás de coisas fora do currículo normal da faculdade. Na pesquisa científica, tem que ter publicado um artigo científico durante a graduação. E se possível ter uma experiência de estudo e pesquisa fora do Brasil”, analisa. 

O engenheiro também valoriza as soft skills. “Fazer um projeto científico ou de robótica não é só ser bom em matemática. Você tem que entender quais são os problemas que as pessoas querem resolver e quais são as limitações das tecnologias atuais. E para saber isso não é só ler paper, tem que conversar com gente, entender o mercado, saber vender sua ideia, se expressar de maneira escrita, mas também oral, em apresentações e conferências. Saber se comunicar é super importante”, garante. 

Mas a dica principal de Rogério é ter resiliência. “Porque você não faz um artigo ou um projeto em um dia, uma semana ou um mês. Processo científico demora bastante tempo e as coisas dão errado. Só tendo muita resiliência que você consegue produzir algo novo e ter impacto na tecnologia. As coisas não são nenhum pouco fáceis. Mas vale a pena, quando você investe, quando você se esforça. Vale a pena em todos os sentidos, você faz um projeto incrível e tem impacto no mundo da ciência, dos negócios, produto”, finaliza.

 

 

 

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