Em 2010, Steve Jobs anunciou em um post que a Apple não iria mais comportar o Adobe Flash em seus aparelhos. À época, o programa era uma ferramenta de desenvolvimento importante para a criação de animações, web games e outros aplicativos da internet. Logo após o anúncio, o número de usuários do Flash caiu vertiginosamente – em 2011, 28,5% dos sites utilizavam o Flash enquanto que, em 2020, apenas 3% deles estavam utilizando a tecnologia, de acordo com pesquisa da W3Techs.

Parece simples, portanto, imaginar que a decisão de Jobs teve um grande impacto sobre o uso do Flash. Mas e quando pensamos nos profissionais de tecnologia que haviam investido tempo e dinheiro para desenvolver uma expertise com o programa? O que houve com eles?

Inicialmente, é preciso dizer que há poucas evidências que nos ajudem a entender o que os trabalhadores fazem para se adequar em casos assim. De qualquer forma, um estudo dos economistas John J. Horton, do MIT, e Prasanna Tambe, da Universidade da Pensilvânia, sugeriu em 2020 que o mercado de trabalho tem, na verdade, uma grande capacidade de resiliência.

Segundo os dados, enquanto a demanda por habilidades relacionadas ao programa diminuía após o anúncio de Jobs, não eram verificados grandes impactos na vida de especialistas em Flash em termos de salários ou competição por vagas de emprego, mesmo quando havia redução de horas trabalhadas. Não havia ainda, segundo o estudo, nenhuma evidência de que os empregadores começaram a ser inundados por candidaturas de especialistas em Flash desempregados. 

Os salários, aliás, mudaram muito pouco devido à velocidade com a qual os trabalhadores se adaptaram para mudar e aprender novos hard skills. Isso porque, de acordo com os dados, os trabalhadores de Tecnologia da Informação que se ajustaram estavam pensando a longo prazo e foram capazes de aprender na prática outras habilidades.

Mover-se rapidamente, pensando no longo prazo

À medida que as habilidades relacionadas ao Flash começaram a sair de evidência, trabalhadores com visão de futuro começaram a se candidatar para trabalhos que eram diferentes quando comparados aos que já haviam tido no passado. Ainda que construir suas habilidades com Flash houvesse demandado investimentos – principalmente em tempo dedicado a treinos práticos -, os trabalhadores eram rápidos na decisão de abandonar habilidades sem perspectiva de futuro.

Em pesquisa com especialistas em Flash, por exemplo, os entrevistados afirmaram que, após o anúncio de Steve Jobs, a primeira estratégia era aprender novas habilidades ao assumir projetos sobre itens que gostariam de aprender. Nesse sentido, eles consideraram a estratégia de “aprender-enquanto-você-faz” como sendo mais importante do que as abordagens tradicionais envolvendo leitura de livros e aulas.

Os entrevistados disseram, no entanto, que foram cautelosos devido ao temor de escolher uma habilidade errada para aprender após o declínio do Adobe Flash. Para reduzir riscos, os trabalhadores contaram que foi preciso se ancorar em informações de outros profissionais, em discussões técnicas e sinais, de fato, vindos dos líderes da indústria a respeito de qual seria a nova tecnologia que estaria em alta no setor – o que evidencia o papel das grandes companhias na tomada de decisões sobre carreira.

Ao passo em que ilustra o que aconteceu com os especialistas em Adobe Flash, a pesquisa de Horton e Tambe não necessariamente representa experiências comuns entre profissionais de TI. E, ainda que a abordagem de “aprender-na-prática” possa ajudar programadores em suas transições de carreira, isso não quer dizer que elas se apliquem da mesma maneira a trabalhadores de outros setores. Isso porque, no caso dos especialistas em Flash, é evidente que eles possuem outras habilidades que os tornam particularmente adaptáveis a esse modo de trabalhar.

Onde entra a educação formal em um mundo tão “mão na massa”?

Considerando o crescimento da força de trabalho em TI – o setor passou de 450 mil trabalhadores em 1970 para 4,6 milhões em 2016 -, a pesquisa dos professores de economia dos EUA sugere que o aprendizado “mão na massa” terá papel principal em uma economia tão rapidamente mutável como a atual. No entanto, o cenário traz à tona a questão sobre onde a educação papel entra nesse novo contexto – e se a educação formal pode acompanhar o crescimento veloz das novas tecnologias.

O aprendizado mão-na-massa relacionado a essa situação dos especialistas em Flash evidencia o valor das escolas de programação e dos bootcamps desenhados para ensinar estudantes habilidades sob demanda em no máximo oito semanas.  E enquanto as escolas tradicionais tendem a compreender suas grades curriculares como tendo uma data final, o cofundador da Lambda School, Austen Allred, espera que seus estudantes retornem à sua escola de programação a cada oito anos para aprender novas habilidades.

“Nós fomos montados para ser uma escola para pessoas life-long learning, não apenas para quem quer ir uma única vez à escola”, explica ele. “A mudança está acontecendo muito rapidamente, não se pode mais estudar uma única vez e ficar livre para sempre.”

Este artigo foi originalmente publicado pelo site Quartz At Work e traduzido para o Na Prática.

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