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Entrevistamos a cofundadora do Ensina Brasil, que está formando lideranças na educação

A missão que Erica Butow adotou está na ponta da língua: transformar a educação como forma de contribuir para a igualdade de oportunidades. Cofundadora do Ensina Brasil, tanto o seu objetivo quanto da ONG é desenvolver mais pessoas que desejam gerar impactos no setor.

“Queremos desenvolver lideranças que tenham visão de chão de escola. E, ainda, que estejam dispostos a colocar a mão na massa ao longo dos dois anos de programa e a prosseguirem como lideranças – buscando solucionar esse problema em diferentes aspectos dentro da educação”, afirma Erica.

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O Ensina Brasil seleciona jovens para lecionar em escolas públicas brasileiras por dois anos, tendo como inspiração o Teach For America (TFA). Aliás, foi durante o MBA, na Universidade da Califórnia, em que mesclou com o curso de Educação em Stanford, que Erica tomou conhecimento da organização estadunidense. Porém, já vinha de antes o seu interesse em atuar com a educação básica.

Sob a ótica de dois Brasis

A razão para isso não é muito difícil de entender. Filha de uma empregada doméstica nascida no sertão pernambucano e de um judeu alemão que escapou da 2ª Guerra Mundial, ela teve o poder transformador da educação enraizado em sua trajetória. Ao mesmo tempo, viu de muito perto como a desigualdade de oportunidades marca a vida das pessoas.

“Eu costumo pensar que cresci dentro de dois Brasis. Minha mãe e sua família não tiveram acesso à educação. Meu pai, por outro lado, era uma pessoa muito culta e foi ele quem me permitiu ter acesso à educação formal.”

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Assim, o contraste sempre se mostrou claro durante a sua vida. Mesmo hoje, inclusive. Segundo ela, não é uma rotina fora do comum viajar aos Estados Unidos para discursar em Harvard em uma semana e, na outra, estar no Brasil, visitando familiares que vivem em comunidades carentes.

“Ver e viver essas duas realidades sempre mexeu comigo. Fazendo eu questionar a razão de algumas pessoas – como eu – terem acesso a tantas oportunidades, enquanto outras, tão esforçadas quanto e da minha própria família, não. Percebi, então, que o que realmente pesa são as oportunidades e como elas são disponibilizadas.”

Propósito na educação

Mas isso nem sempre esteve claro para a empreendedora. Formada em Administração pela FEA-USP, Erica passou pela Proctor & Gamble e pela Whirlpool antes de se questionar mais a fundo sobre seu propósito.

Quase cinco anos depois de formada, sentia que faltava algo na carreira. “Olhava para tudo aquilo e pensava: aprendi muito e valorizo essas experiências profissionais. Elas me ensinaram as melhores práticas de gestão, lideranças e pessoas. Mas isso não era para mim, embora eu também não soubesse ainda o que era”, relembra.

Sem muitas pretensões, tornou-se voluntária da ONG Cidadão ProMundo e começou a dar aulas de inglês em comunidades carentes no tempo livre. Logo se viu imersa e a experiência a fez conectar muitos pontos de sua vida e pensar: “é isso o que tenho que fazer e em tempo integral”.

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Conquistada pelo setor e visando aprimorar suas habilidades de gestão, Erica foi fazer MBA nos Estados Unidos. Lá, participou de um programa de desenvolvimento de lideranças em educação e foi alocada por um verão em uma escola pública no Harlem, em Nova York. Percebeu ali que a educação era um problema global, que persistia mesmo em uma das cidades mais ricas do mundo.

Conhecendo o Ensina Brasil

Em fevereiro de 2015, enquanto era gerente de inovação em uma organização voltada para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e tecnologias de educação, Erica começou a engendrar com outros empreendedores sociais o que viria a ser o Ensina Brasil.

A organização, parceira do Teach For All, visa atrair jovens talentos de qualquer formação e desenvolver agentes de transformação para contribuir com a melhoria da educação em diferentes frentes. A primeira turma teve início em 2017.

Uma vez recrutados, os participantes passam por processos de formação de liderança e desenvolvimento – que inclui aprender a dar aulas para aqueles que nunca o fizeram – e em seguida partem para atuar como professores em escolas públicas de alta necessidade por dois anos.

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O contato com a comunidade escolar, que também envolve diretores e pais, é primordial para que haja uma troca verdadeira de experiências no modelo do Ensina Brasil. A percepção do programa é que não adianta cair de paraquedas e começar a escrever na lousa, sem se envolver com a realidade local.

“Hoje temos quase 500 pessoas que fazem parte da rede do Ensina, sendo por volta de 300 em sala de aula que exercem o papel de professor. Além disso, temos 174 alumni sendo que, 80% deles, seguem atuando em educação: seja como professores, coordenadores, diretores, ou como empreendedores sociais ou mesmo dentro de secretarias de Educação”, afirma Erica.

Quem são os Ensinas?

A primeira turma do Ensina Brasil iniciada em 2017. Foto: Divulgação

Não é um requisito ser da área da educação para participar do programa. A seleção da ONG é feita sem considerar a área de graduação. Aliás, ela justamente fornece uma formação específica para eles atuarem como professores.

“Queremos diversidade e, por isso, preparamos pessoas para serem futuras lideranças na educação. Eles enxergam no Ensina a possibilidade de trabalhar com propósito. Uma possibilidade de realmente trabalhar para terem o País que eles desejam – colocando a mão na massa para resolver os problemas.”

A visão do Ensina Brasil, portanto, tem duas medidas. A curto prazo, os jovens talentos levarão novos pontos de vista para as escolas e impactarão os alunos e as comunidades. No longo prazo, conseguem se tornar agentes de transformação em seus campos, sejam eles quais forem, com o apoio de uma rede crescente de ex-participantes.

Liderança do professor

Invariavelmente, segundo a cofundadora do Ensina Brasil, a posição de um professor é muito semelhante ao de um líder. Afinal, as habilidades que um docente precisa para realmente desenvolver os alunos são as mesmas de uma grande. Sendo elas:

  1. Empatia
  2. Comunicação
  3. Resolução de problemas sob pressão

“Estamos invertendo essa lógica de que ninguém quer ser professor no Brasil. Trata-se de um programa específico, mas quando pensando no desenvolvimento atrelado, no papel da liderança do professor, tem muita gente interessada em assumir esse desafio”, afirma.

Prêmio Empreendedora Social do Ano

Em março, Erica foi vencedora da premiação Mulheres que Transformam, promovido pela XP, na categoria Empreendedora Social do Ano – fato que ela atribui ao impacto positivo que a ONG tem gerado. Além disso, ela reforça que a rede tem crescido e mais Ensinas e alumni tem tornado a iniciativa amplamente reconhecida.

“Eu não considero o prêmio para mim, apesar dele se chamar ‘Empreendedora Social’. Todo empreendedora e empreendedor sabe que você é só um pedacinho dessa história. Na verdade, você sabe que tem muita gente boa envolvida e que não é quem está sendo entrevistado ou mesmo em uma posição de holofote.”

Segundo ela, o prêmio é um reconhecimento à rede de Ensinas, às comunidades e também aos alunos atendidos. Atualmente, a organização impacta diretamente por volta de 80 mil alunos, advindos de 70 escolas públicas. A capilaridade de atuação se estende pelos seguintes estados: Espírito Santo, Pernambuco, Maranhão e Mato Grosso do Sul.

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