Joel, do Ensina Brasil

Em janeiro de 2017, um grupo diverso de jovens se reuniu para aprender algo que alguns nem sabiam por onde começar: dar aulas. Tratava-se da primeira turma de ensinas, como são conhecidos os profissionais selecionados e treinados pela ONG Ensina Brasil.

Estruturado para desenvolver lideranças, o programa do Ensina Brasil escolhe interessados em impactar a educação brasileira primeiro a curto prazo, como professores em escolas públicas brasileiras durante dois anos. Em seguida, os jovens seguem carreira em diversos setores, contando com ajuda da rede para ampliar seu impacto transformador no país.

Para se inscrever, não é preciso ter experiência anterior como professor nem uma graduação específica, mas é preciso passar em um processo seletivo bastante rigoroso, que avalia competências como resiliência e empatia. Em 2016, foram mais de 3 300 inscritos.

O primeiro grupo, composto por 54 ensinas, é variado. Há, por exemplo, profissionais formados em Relações Internacionais dando aula de Geografia e outros formados em Engenharia dando aulas de Matemática.

Parceiro da rede global Teach for All, o Ensina Brasil está com inscrições abertas para sua nova turma, que já pode se inspirar nas experiências de quem está em campo em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (Parcerias com outros estados já estão em andamento.)

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A formação do Ensina Brasil

A transição para a lousa, que pode parecer intimidante, é facilitada pelas formações do Ensina Brasil, que incluem suporte pedagógico e emocional e acontecem em diversos momentos do programa.

No começo, há cinco semanas intensivas de treinamento presencial que incluem conversas com quem já trabalha no setor e aulas para aprender a planejar, avaliar e entender a função social de uma aula. Aborda-se também autoconhecimento, formação de rede, habilidades de liderança e atividades práticas.

Depois, os ensinas – vários se concentram em Cuiabá e arredores, resultado de uma parceria da ONG com o governo de Mato Grosso, e dividem moradia – se encontram mensalmente para discutir suas experiências e são acompanhados continuamente por tutores pedagógico que assistem suas aulas e oferecem feedbacks.

A primeira turma do Ensina Brasil[Jovens da primeira turma do Ensina Brasil / Foto: Ensina Brasil]

Para quem não tem uma formação específica na disciplina que leciona, o Ensina Brasil também oferece um curso de formação pedagógica em parceria com universidades. Ao final do curso, o participante recebe uma certificação reconhecida como licenciatura pelo Ministério da Educação.

Por fim, os ensinas são apresentados a mentores que atuam em suas áreas de interesse e os ajudam a planejar os próximos passos de uma carreira de impacto – em qualquer setor que queiram.

Abaixo, 6 brasileiros que toparam o desafio de impactar a educação brasileira compartilham seus aprendizados, desafios, conselhos e experiências marcantes.

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As experiências de 6 jovens no Ensina Brasil

Ana Luiza Prado de Almeida

Formada em Relações Internacionais na Universidade de Brasília, Ana Luiza dá aulas de Português para alunos do Ensino Fundamental e e Ensino Médio na Escola Estadual Professora Izaura Higa, em Campo Grande (MS).

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Durante a graduação, pude me envolver com diversos movimentos universitários. Participei do Movimento Empresa Júnior (MEJ), fui presidente da empresa júnior do meu curso e fiz um intercâmbio com a AIESEC, quando trabalhei como voluntária em ações relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

2. O que a motivou a se tornar uma Ensina?

Quando cheguei no momento de escolher uma carreira, senti que, se eu quisesse que meu país fosse diferente, eu mesma precisaria ser parte da mudança. E se eu acredito que a educação precisa ser diferente, eu tenho que ir para a ponta e fazer diferente.

3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

Nunca me desenvolvi tanto em tão pouco tempo.  Aprendi a liderar uma sala de aula – uma das equipes mais desafiadoras que posso pensar –, a ter mais paciência e muita resiliência. Mas meu maior aprendizado foi autoconhecimento. Ser professora exige muito e me leva ao limite.

Aprendi a ter empatia com meus alunos, pais, professores. E aprendi muito sobre o que faço bem e o que preciso melhorar. Eu me obrigo a melhorar todos os dias, porque minhas crianças precisam de uma professora melhor. Não me aprimorar não é uma opção.

4. Você ensina Português. Quais são os maiores desafios?

A parte mais difícil é fazer os meninos lerem. Eles têm muita dificuldade e, por conta disso, desistem. Como professora, não há situação mais triste. Mostrar aos meus alunos que eles são capazes é meu grande desafio.

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5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

Agora, todos os dados da educação deixaram de ser números e passaram a ser pessoas. O problema não é um número da taxa de analfabetismo, mas meu aluno que está deixando de ter um futuro e que está desistindo dos seus sonhos porque não sabe ler.

Ter vivenciado isso faz com que eu me sinta obrigada a fazer algo para mudar essa realidade. Não podemos admitir que os números relacionados à educação no Brasil continuem assim. Não são apenas números, são crianças.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Houve um dia em que estávamos falando de pessoas inspiradoras os alunos estavam muito agitados. Um deles começou a xingar e a sala virou uma gritaria de ofensas. Aproveitei a deixa e fiz um diálogo sobre agressividade: como eles se sentiam quando os outros gritavam, xingavam, batiam? Por que as pessoas agiam assim?

Foi um baita puxão de orelha! Quando o sinal bateu, os meninos pegaram o meu pincel e escreveram no quadro que eu era a pessoa que mais os inspirava. Fiquei emocionada e grata por eles terem me escutado.

7. O que diria para alguém que está considerando se tornar um Ensina?

Se você não tem medo de desafio, se joga. Vai ser o trabalho mais difícil, mas quando um aluno lhe mostrar que você fez a diferença na vida dele ou um pai lhe agradecer pelo que você faz, tudo faz sentido. Por mais que eu me estresse constantemente, durmo com a certeza de que estou contribuindo para construção do país em que eu vou me orgulhar de viver.

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Camila Taira

Formada em Administração pela FEA-USP e em Produção Cultural pela FAAP, Camila dá aulas de Matemática para alunos do Ensino Médio na na Escola Estadual Pascoal Ramos, em Cuiabá (MT).

Camila Taira - Ensina Brasil[Camila em sala / Foto: Ensina Brasil]

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Na FEA, fiz parte da bateria universitária. Hoje, utilizo o que aprendi na faculdade para levantamento de indicadores, planejamento de ações, gestão em sala de aula e realização de projetos.

2. O que a motivou a se tornar uma ensina?

Estagiei em organizações de educação antes, mas queria ter mais contato e trabalhar na ponta. Me tornar ensina era uma oportunidades para isso: nada está mais na ponta do que dar aulas.

3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

Aprendi muito sobre a educação. Hoje entendo melhor o lado dos alunos e professores e consigo enxergar barreiras que antes não podia.

Além disso, estar em sala de aula diariamente desenvolve muito competências como resiliência, flexibilidade, comunicação e solução de conflitos. Desenvolver empatia é inevitável

Nossa convivência reafirma a importância da educação para mudar nosso cenário de desigualdade de oportunidades.

4. Você ensina Matemática. Quais são os maiores desafios?

Meu maior desafio em sala de aula é a defasagem, junto à desmotivação e baixa autoestima – questões que andam juntas.

O desinteresse de alguns está na questão de não entenderem o que está sendo ensinado por não terem base. Quando percebi que muitos dos meus alunos do 1º ano não sabiam fazer divisão e então resolvi voltar para o básico e identificar onde estavam suas defasagens.

Preparei uma lista de exercícios que começava com contas de adição e evoluía para outras operações. Nesta aula, 100% dos alunos realizaram as atividades propostas. Com os resultados, pude ver porque muito não entendem quando falo sobre equação, função e etc.

5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

A principal foi entender quão complexo é o problema da educação pública brasileira. As dificuldades da educação influenciam e são influenciada por outras áreas como segurança, estrutura e contexto social e cultural.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Na escola, fizemos o projeto “Escola dos Sonhos”, que visa empoderar a comunidade escolar através da transformação do espaço físico. Os dias de mutirão foram incríveis! Foi maravilhoso ver nossos alunos empenhados e até mesmo nossos colegas ensinas de outras escolas que foram dar um força.

7. O que diria para alguém que está considerando se tornar um Ensina?

O dia a dia é difícil, mas a experiência vale muito a pena. Você conhece a educação pública e também pessoas incríveis, tanto aos alunos quanto a rede de ensinas.

É um grande desafio todos os dias e que tem pequenas vitórias, por isso é preciso muita persistência e foco no principal objetivo: que um dia todas as crianças tenham acesso à educação de qualidade.

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Caroline Dourado

Formada em Administração de Empresas Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Caroline dá aulas de Português para alunos do 9º ano e 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Juarez Rodrigues dos Anjos, em Cuiabá (MT).

Caroline Dourado - Ensina Brasil[Caroline (à esquerda) jogando futebol com os alunos do 9º ano / Foto: Acervo pessoal]

 

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Ao longo da graduação, destaco três experiências extracurriculares que contribuíram bastante para chegar ao Ensina Brasil: como gerente de projetos na empresa júnior do curso, como diretora de gestão de pessoas na Enactus UFRGS e como embaixadora do Movimento Choice.

Em relação ao meu background acadêmico, vejo que habilidades de planejamento, organização e gestão do tempo desenvolvidas durante a graduação me auxiliam muito como professora. Além disso, também possibilita que eu analise mais adequadamente os problemas que a escola enfrenta em termos de gestão escolar.

2. O que a motivou a se tornar uma Ensina?

Sinto um incômodo muito grande com a enorme desigualdade social e a consequente desigualdade de oportunidades que temos no Brasil. Nunca fez sentido para mim o fato de que uma minoria como eu tivesse diversos privilégios e oportunidades enquanto outros milhares estão fadados a seguir um destino limitado por sua condição socioeconômica.

Assim, eu sentia que precisava trabalhar de alguma maneira para melhorar esse cenário e conclui que a forma mais eficiente e sustentável seria por meio da educação.

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3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

A profissão de professor é complexa e exige lidar com múltiplas variáveis simultaneamente e é dentro da sala de aula que nos desenvolvemos diariamente.

Essa experiência exige de mim muita paciência, resiliência, empatia e humildade, competências que tenho buscado desenvolver para conseguir me relacionar melhor com os alunos e com a comunidade escolar como um todo.

4. Você ensina Português. Quais são os maiores desafios?

Primeiro, os alunos possuem uma absurda defasagem de conhecimento: muitos mal sabem escrever no fim do ensino fundamental. Há alunos com níveis muito diferentes em uma mesma sala e é complicado conseguir dosar o conteúdo.

Outro ponto são os alunos especiais que temos em sala: tenho uma turma com três. A inclusão é muito importante, mas é preciso tratá-la com responsabilidade. Hoje, ela não está incluindo ninguém, pelo contrário.

O aspecto comportamental dos alunos é outro desafio gigantesco e há a necessidade de fazer uma gestão muito forte da sala.

Por fim, há o desinteresse na escola e nos estudos – e o desafio consiste em como despertar o interesse no aluno e também insistir nele.

5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

Hoje, vejo que não é possível afirmar “o problema da educação é X” de maneira contundente  porque, além de envolver diversos aspectos, há fatores que não estão relacionados diretamente com a educação em si e que também contribuem para o cenário atual. É fundamental desenvolver um trabalho integrado entre diferentes setores para avançarmos como nação.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Em uma aula de Literatura, pedi aos alunos do 3º ano do Ensino Médio que fizessem uma atividade em grupo. Cinco minutos depois, um deles levantou a mão e perguntou: “Professora, o que a senhora fazia antes de vir pra cá?”

Eu havia comentado brevemente sobre a minha formação, então imagino que ele tenha ficado com aquilo na cabeça. A forma com que ele fez o questionamento foi tão sincera e interessada que resolvi responder.

Em seguida, ele perguntou: “Mas por que a senhora deixou aquela vida boa e veio se enfiar aqui nessa escola?” Respondi falando sobre o porquê estou aqui, sobre a desigualdade social e de oportunidades, sobre propósito de vida e outras coisas relacionadas com isso.

Ele me olhou e disse: “Quero que a senhora vá na minha formatura. Vou fazer um discurso para falar sobre você, sobre como você é um exemplo pra mim.”

Na correria do dia a dia, com excesso de trabalho e falta de reconhecimento, essas palavras realmente demonstram que estou onde deveria estar. Nunca esqueço daquele momento.

7. O que diria para alguém que está considerando se tornar um Ensina?

Se você leu sobre o programa e pensou: “Muito interessante mas ser professor não é pra mim”, estamos juntos! Eu jamais tinha cogitado ser professora, muito menos nessas condições.

Dê uma chance para si mesmo. Se quiser sair totalmente da sua zona de conforto, viver um ano em um mês, aprender muito e se desafiar diariamente, aqui é o lugar.

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Ivan Gontijo Akerman

Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivan ensina Matemática para alunos do 6º e 7º ano da Escola Estadual José Garcia Neto, em Várzea Grande (MT).

Sala de aula de Ivan, professor do Ensina Brasil

[Alunos de Ivan estudam na biblioteca da escola / Foto: Acervo pessoal]

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Tive uma série de experiências acadêmicas, como monitorias e iniciação científica, além de trabalhar no mercado financeiro. Contudo, as vivências mais interessantes que tive foram no centro acadêmico e um intercâmbio social pela AIESEC no Equador.

Essas experiências de liderança me mostraram como o trabalho coletivo pode gerar um impacto social significativo. Essa também é a essência do Ensina. 

2. O que o motivou a se tornar um Ensina?

Sempre tive muito claro que o caminho para o Brasil se tornar uma nação desenvolvida passava por profundas mudanças no sistema educacional. Também tive experiências como professor e monitor que sempre me deram muito prazer.

Meu plano inicial ao sair da faculdade era emendar um mestrado em economia para conseguir ser professor universitário o quanto antes. Contudo, o Ensina surgiu conectando as duas aspirações: ter uma vivência em sala de aula e conhecer mais sobre a educação brasileira para futuramente ser uma liderança educacional no Brasil.

3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

Passo praticamente o dia inteiro trabalhando, pensando em como meus alunos podem aprender mais, por que não estou atingindo tal aluno, por que a atividade proposta não funcionou. Também é um trabalho que você interage com muita gente, entre alunos, professores e funcionários.

Portanto, é uma função que ser empático é uma questão vital para que seu trabalho aconteça. Também é um trabalho coletivo tanto. Acredito que o desenvolvimento dessas três competências (capacidade de trabalho, empatia e colaboração) são fundamentais na vida de alguém que quer fazer a diferença no século 21 e o trabalho com Ensina está me proporcionando isso.

É necessário uma força mental e tranquilidade muito grande para superar os desafios.

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4. Você ensina Matemática. Quais são os maiores desafios?

Dentro de sala, o o principal desafio é a defasagem: tenho alunos avançados e alunos analfabetos na mesma sala e todos tem que atingir o mesmo objetivo de aprendizagem. Além disso, é um desafio lidar com as questões naturais dessa faixa etária. Eles precisam de atividades lúdicas, jogos, brincadeiras, materiais, de modo que o planejamento é mais complexo.

Já fora da sala de aula, os desafios são ainda maiores. A escola é bastante precária em termos de infraestrutura e está inserida em uma comunidade bastante vulnerável. A maioria dos alunos não tem a cultura de estudar em casa. Os pais, em sua maioria, são pouco presentes na vida escolar dos filhos – um fator essencial para a aprendizagem.

A grandeza desses desafios não pode nos deixar imobilizados, mas sim buscar soluções pontuais e efetivas. O trabalho também nos ensina a comemorar pequenas vitórias, tais como ver uma menina que começou o ano sem saber somar já sendo capaz de resolver problemas de potência.

5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

Com certeza. Na minha opinião, o sucesso da escola pública no Brasil depende de uma série de variáveis.

Destaco três: a primeira é o envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos. A segunda é que coordenadores e diretores são essenciais para o sucesso da escola. A terceira é o desenho de bons incentivos para os bons professores, visto que muitos bons profissionais não se sentem motivados com a forma como o sistema funciona.

Essas são algumas medidas que países e regiões já usaram e que acredito podem ser um caminho para o Brasil.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Um dia, recebi um bilhete de uma aluna no caderno cuja mãe era a antiga professora de matemática. Dizia que ela tinha ficado chateada em perder as aulas naquela escola, mas que estava muito feliz ao ver que sua filha estava gostando e aprendendo bastante matemática.

Essa menina não gostava de matemática antes e esse ano conseguiu ser a aluna da escola com mais pontos na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Esse simples bilhete me deu uma motivação enorme.

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Joel Pereira

Formando em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Joel ensina Matemática para alunos do 7º ano da Escola Estadual Dr. Helio Palma de Arruda, em Cuiabá (MT).

Joel Silveira - Ensina Brasil[Joel dando aulas / Foto: Ensina Brasil]

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Fui presidente e coordenador nacional em uma ONG e entidade estudantil, o Centro de Voluntariado Universitário, onde pude praticar a empatia diariamente – quando olho para os alunos tenho de estar sempre com esse mesmo olhar.

Também me envolvi com iniciação científica e ferramentas tecnológicas e esses conhecimentos agregam muito à gestão do dia a dia do professor – e podem ser um grande diferencial no diálogo com o aluno e tornar os processos da escola mais eficientes.

2. O que o motivou a se tornar um Ensina?

Como costumo dizer que sou filho da escola pública. No trajeto que fiz, vi muito dos meus irmãos caídos: presos na descrença e, em alguns casos, presos por detrás das grades. Vi irmãos sendo mortos. Uma morte que atinge a alma e que pode transpassar a pele.

Essa é a história que eu contei para os meus alunos no primeiro dia de aula. Um pouco menos poética, é verdade, mas sou filho de boia-fria e reconheço o poder transformador que a educação teve em minha vida. Vi a batalha dos meus pais. Vi o quanto é importante o apoio de professores. Vi também a importância de ter uma educação de qualidade.

Vim com o intuito de sonhar junto com meus alunos e fazer deste sonho algo maior do que nós e que pode mudar sistematicamente a educação. E o Ensina tem esse diferencial: pensar a educação a longo prazo.

3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

Resiliência é uma palavra que, quando aprendi, jurava ter. Lidar com pressão diariamente e ver que há muito caos que ainda paira sob o nosso país é algo que nos faz questionar se temos forças para seguir. Na sala de aula tenho o mesmo monólogo e a cada monólogo que venço, tenho mais certeza de que a responsabilidade é nossa. Tenho a sensação de que essa experiência está construindo um novo eu.

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4. Você ensina Matemática. Quais são os maiores desafios?

Ainda é nítida a dificuldade com que os alunos vêm do Ensino Fundamental 1. A tabuada ainda é vista como um bicho de sete cabeças. A divisão é a maçã envenenada. Os alunos a evitam com todas as forças. A alfabetização matemática ainda carece de atenção, como podemos ver em quaisquer índices.

5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

Agora consigo ter um olhar de professor. Quando se é aluno, tudo parece estar na mão do professor. Contudo, vejo agora como a gestão escolar tem a influência na conduta do professor.

Também vejo a necessidade de se questionar, a nível sistemático, o modelo de educação presente hoje nas escolas. Contextualizar o conhecimento para o aluno não é o único passo a ser tomado. É preciso prepará-los para criar, não apenas reproduzir. É preciso trabalhar habilidades socioemocionais.

Mas não basta propor: é preciso também que haja uma capacitação que possibilite aos professores lidar com essas demandas.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Lembro-me de uma aula em que os alunos estavam com um comportamento que dificultava o ensino-aprendizagem. Tinha utilizado diversos meios para o controle da aula, mas não estava obtendo sucesso. Durante uma conversa paralela, soltei a frase: “Desisto! Se vocês não estão querendo aprender hoje, não conseguiremos aprender.”

Logicamente eu não desistiria, mas foi um desabafo do meu primeiro mês. Foi nesse momento que um aluno levantou e disse: “Professor, o senhor não vai desistir! Você não desistiu de mim, então não vamos desistir do senhor!”

Foi um soco no estômago. Virei para a lousa e deixei que uma pequena lágrima fizesse morada nos meus olhos. Esse mesmo aluno, em conversa com seu colega, estava lembrando do ano anterior: “No ano passado quem diria que a gente iria estar aqui estudando, hein? Quem diria que agora a gente é nerd?“. Eu diria.

7. O que diria para alguém que está considerando se tornar um Ensina?

Não gosto de enxergar o programa como um trainee, pois é preciso ver o propósito acima de qualquer ganho unicamente pessoal. Também não é apenas falar de carreira. O Ensina Brasil proporciona uma carreira com propósito. Uma carreira que será traçada por você, com o apoio da rede mundial em que estamos inseridos.

Fazer parte do programa não indica que você tem de ser professor daqui dois anos. Não estamos falando de um programa para formar professores, mas sim, para impactar quaisquer esferas que dialoguem com a educação. Nós, Ensinas, já assumimos que a responsabilidade é nossa. E aí, ela também é de vocês?

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Sofia Fernandes

Formada em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, Sofia ensina Geografia e Sociologia para alunos da 6a série e do Ensino Médio noturno da Escola Estadual Teotônio Vilela, em Campo Grande (MS).

Sofia Fernandes - Ensina Brasil[Sofia Fernandes em sala / Foto: Ensina Brasil]

1. Quais foram suas experiências anteriores?

Durante a faculdade, fiz parte do centro acadêmico, fui presidente da empresa júnior e lecionei em um cursinho pré-vestibular gratuito de Brasília, o Galt Vestibulares. Também estagiei no Ministério da Justiça e no Ministério das Relações Exteriores, o que me ajuda a entender um pouco sobre o trabalho no setor público.

2. O que a motivou a se tornar uma Ensina?

Quando trabalhei no Galt, percebi como as desigualdades no Brasil geravam diferenças de oportunidades. Isso me intrigou de tal modo que eu queria conhecer, na prática, quais eram as principais dificuldades do ensino na escola pública para tentar gerar mudanças não só na ponta, mas, principalmente, produzir melhorias no sistema.

3. Como tem sido seu desenvolvimento até agora?

A liderança. Ser professora é o formato mais difícil de liderança que já vivenciei. Gerir uma sala de aula, garantir o aprendizado de cada um, propor atividades dinâmicas, refletir sobe o propósito social do conteúdo e manter todos interessados é de tirar o fôlego. Mas a curva de crescimento é também exponencial.

4. Você ensina Geografia e Sociologia. Quais são os maiores desafios?

A maior dificuldade é conseguir ensinar conteúdos da geografia apesar das defasagens. O nível dos alunos é muito diverso e muito abaixo do que é necessário. Eles têm dificuldade de interpretação, escrita, leitura e sinto-me responsável por desenvolver cidadãos conscientes e responsáveis. Quase sempre, cem minutos por semana é muito pouco.

5. Sua opinião sobre a educação pública mudou?

Antes, eu via a educação como algo difícil de resolver – e foi só com o ensino que entendi quão complexo era o problema! No entanto, aprendi também que o impacto que geramos em cada aluno é tão grandioso que faz todo esforço valer a pena.

6. Há alguma experiência marcante que gostaria de compartilhar?

Um dia, preparei uma aula sobre sonhos. Conversei com meus alunos sobre onde gostariam de morar, qual escola gostariam de ter e quais lugares gostariam de visitar. Depois, discutimos o que queriam para o futuro e eu tive a impressão que a aula havia sido muito boa.

Até que, ao final da aula, uma das minhas melhores alunas me perguntou algo que me deixou sem ação: “Professora, você poderia me ensinar a sonhar?” Parece um pedido simples, mas por trás dele, existem muitas respostas para as falhas educacionais do sistema brasileiro.

7. O que diria para alguém que está considerando se tornar um Ensina?

Se você está esperando o momento certo para parar a sua carreira e começar a fazer algo que acredita, dificilmente trabalhará com um propósito em sua vida.

É preciso pensar fora da caixinha. O Ensina Brasil é a chance de viver a transformação que você quer ser no Brasil e construir sua carreira com experiências significativas desde já.

O Ensina Brasil está com inscrições abertas até 25/09. Inscreva-se!

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