A professora Claudia Costin, hoje diretora do Centro de Inovação em Políticas Educacionais da FGV-RJ, acumula experiência no setor público. Foi ministra da Administração e Reforma do Estado, secretária de Cultura do Estado de São Paulo e secretária de Educação da cidade do Rio de Janeiro, onde fez os resultados de aprendizagem crescerem 22% durante sua gestão.
Tem, portanto, conhecimento de causa quando afirma que, para mudar a educação, é preciso mudar o jeito que a sociedade vê seus professores.
“O professor não é um coitadinho. É um adulto que escolheu estar lá. Precisamos valorizar e ‘profissionalizar’ essa profissão”, afirmou durante o painel sobre Gestão Pública, Educação e Impacto Social do Encontro Anual da Fundação Estudar, que aconteceu em 7 de agosto, em São Paulo.
No mesmo palco estava Duda Falcão, co-CEO do grupo Eleva Educação, que busca, entre outras coisas, justamente valorizar quem ensina e conecta a cultura de aprendizagem com gestão de resultados e formação de lideranças.
Sob sua supervisão estão 65 escolas pelo Brasil (cinco entre as 30 melhores colocadas no ENEM) e um total de 36 mil alunos e 2500 colaboradores.
[Duda Falcão, co-CEO do grupo Eleva Educação / Foto: Fundação Estudar]
Falcão destacou a importância de ensinar também “habilidades de vida” para formar pessoas para o século 21. Citando pesquisas do economista James J. Heckman, da Universidade de Chicago, ela disse que o conteúdo acadêmico tem uma correlação de 40% com o sucesso.
“Habilidades de vida como resiliência, intraempreendedorismo e senso crítico tem uma correlação de 26%”, continuou. “Isso precisa estar no currículo também.”
Educação deve estar em pauta
Ambas sempre quiseram trabalhar com impacto social e educação – Costin, que aceitou estudar Administração a pedido do pai, se lembra da felicidade que sentiu ao descobrir que poderia fazer um curso chamado Administração Pública –, mas sabem que há muitos problemas estruturais, principalmente no sistema público de ensino.
Nelson Marchezan Júnior, prefeito de Porto Alegre eleito em 2016, descobriu na prática até que ponto esses problemas chegam na rede municipal. O nível de aprendizagem é tão baixo, disse ele, que mais de 90% dos alunos concluem o ensino fundamental sem saber matemática e português corretamente.
O novo prefeito implementou medidas, como reorganizar a rotina escolar e criar um banco de talentos para escolher profissionais para atuar na prefeitura, mas pediu à plateia que se engajasse com o sistema para pressionar políticos e acelerar resultados.
“Quem aqui já foi na Câmara Municipal da sua cidade? Visitou uma secretaria?”, questionou. “Se vocês não forem protagonistas e se não se responsabilizarem, quem não teve as mesmas oportunidades vai continuar sem acesso a serviços.”
Para ele, esse tipo de pressão deve ser constante, antes, durante e depois das eleições. “Político é como uma tartaruga em cima de um poste. Alguém a colocou lá. E a tartaruga não sabe descer do poste: alguém precisa tirá-la.”
Ainda falando sobre pressão e a importância da opinião pública, Costin também sugeriu que se pense em maneiras de empolgar a sociedade e a imprensa em relação à educação. “É preciso que jornalistas achem que educação é notícia não só quando tem goteira na sala de aula.”
Ela garante que, para quem quiser divulgar iniciativas de educação e impacto, há quem esteja disposto a escutar. “Tenho mais de 70 mil seguidores no Twitter. Eu não faço piada, eu não danço – só falo sobre educação”, finalizou.
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