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Como a atuação de uma trainee no governo impactou a educação no Ceará

trainees do vetor em frente a secretaria da educacao do ceara

Lucas Fernandes é o primeiro a admitir: estava em busca de um braço direito. Coordenador de cooperação com municípios da Secretaria de Educação do Ceará, seu trabalho envolve projetos de educação infantil e fundamental, mais de cem municípios e vai de convênios e transporte escolar a prestação de contas e pedagogia.

Quando o Vetor Brasil lhe ofereceu a chance de trabalhar com um trainee selecionado e preparado pela organização para impactar a gestão pública, ele aproveitou. A escolhida foi Emília Marinho, que chegou em seu escritório há seis meses e já responde por ele em sua ausência, às vezes até para o próprio Secretário de Educação – aos 25 anos. 

“Há alguns programas que são prioritários aqui, como educação em tempo integral e educação profissional, e eu queria direcionar alguém para essas áreas”, explica Lucas, que não selecionou um projeto específico para ela. “Emília está aprendendo e entregando muito acima das expectativas, que já eram altas.”

Chegar em Fortaleza não foi a primeira grande mudança na vida dela. Aos 17 anos, Emília deixou Goiânia por Piracicaba, no interior paulista, onde estudou ciências econômicas na ESALQ-USP. De lá, mudou-se para Espírito Santo do Pinhal e seu primeiro emprego. Ao descobrir que queria na verdade atuar com educação, fez as malas para São Paulo, onde trabalhou na Fundação Lemann até ser selecionada pelo Vetor Brasil – que está com inscrições abertas até o dia 19 de setembro, por aqui

“Essa posição de liderança é incrível e sou muito grata pela confiança dele”, diz a trainee. “Tenho aqueles choques em que me pergunto se estou preparada para o desafio, mas de fato nunca estamos preparados para os maiores, por mais que treinemos. E ter uma equipe que te dá espaço, acredita em você e te valoriza é o melhor de tudo.”

Emília conheceu a iniciativa através do portal Estudar Fora. Interessada em cursar um mestrado em políticas públicas, acabou encontrando uma coluna de José Frederico Netto, bolsista da Fundação Estudar, cofundador do Vetor e então mestrando em Harvard. “Não queria apostar errado e estudar algo sem saber como funcionava na prática”, lembra ela. “Conversei com o José e achei sua ideia de ter contato com o setor público incrível.”

Amadureceu o plano ao longo de um ano e meio, em que fez diversas atividades de autoconhecimento e participou de programas como Imersão Gestão Pública e Imersão Impacto Social, ambos do Na Prática. “Foi uma decisão bem segura de que era uma ótima oportunidade para ter a vivência que eu queria”, resume ela, que ainda planeja seu mestrado.

Já Lucas conheceu o trabalho da organização em idos de 2011, quando participou do projeto piloto através da coleta de dados e desenvolvimento de planos de educação. A primeira turma do programa de trainees veio três anos depois.

“Sou um ferrenho defensor do Vetor, que oferece uma capacidade de dinamização muito grande”, diz. “São pessoas bem capacitadas que passaram por um processo seletivo bacana e chegam com vontade de fazer a diferença. Com um bom gestor para mostrar o caminho das pedras, podem ter grandes resultados.”

Há dois anos e meio na Secretaria, Lucas já identificou alguns dos maiores problemas do setor público. Um deles é a falta de preparação dos funcionários que ocupam posições técnicas. A defasagem entre o topo da pirâmide, em que há gestores muito qualificados, e a parte de baixo cria uma vácuo – e a oportunidade para uma ponte.

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“O perfil do trainee do Vetor é ocupar esse espaço e começar a gerar resultado rápido”, explica. A dificuldade fora do programa é atrair o perfil correto para dentro da máquina pública, tanto pelo processo difícil, que envolve concursos públicos, quanto pelo salário, muitas vezes abaixo do que um jovem profissional do nível necessário espera.

Desde que começou seu trabalho em Fortaleza, onde deve morar até 2018, Emília se surpreendeu com a sucessiva quebra de estereótipos da gestão pública. “Vi muitas pessoas comprometidas, engajadas e excepcionais”, diz. “Gostei muito do cenário e fui bem acolhida desde o começo.”

Cotidiano Naturalmente, nem tudo são flores. “Há dias e dias no setor público”, ri ela. “Às vezes surge um decreto, uma falha em licitação, a necessidade de criar um novo parecer… Pode acontecer tudo que está em sua agenda – inclusive nada!”

A linguagem da burocracia e os meandros da gestão pública ela aprendeu depressa, principalmente nos treinamentos oferecidos pelo Vetor aos seus trainees. (Além de dois presenciais ao ano, há vários outros online.) “É realmente um diferencial”, resume. “Se eu tivesse entrado por outras vias, não teria a capacidade que tenho desde a primeira semana: nós conseguimos juntar e amarrar as ideias, que muitas vezes vem soltas, e somos mais eficazes ao propor soluções.”

Emilia Marinho - Vetor Brasil
[acervo pessoal]

Uma de suas implementações recentes foi a criação de uma rotina departamental, que inclui planos de ação desenvolvido com colegas e um sistema simples com indicadores de farol – prioridade verde, amarela ou vermelha – para antecipar situações críticas e tratar problemas de maneira mais igualitária. “Antes, quem fosse na frente ganhava a atenção do gestor e isso causava atraso para todos.”

A aceitação das novidades – que também incluem um questionário para apontar problemas de comunicação – tem sido boa. “Já estamos num bom caminho”, diz ela. “E isso nos faz perceber que a estrutura vai poder ser utilizada mais para frente, que é um ponto-chave para nós.” 

Tem a ver com a missão dupla do Vetor Brasil, que preza pelo desenvolvimento pessoal e profissional do trainee assim como a criação de boas práticas no setor público que devem seguir funcionando muito depois dos dois anos de programa.

Desenvolvimento O feedback rápido entre Lucas e Emília rende evoluções pontuais, especialmente quando se trata de habilidades de comunicação, essenciais no setor público em que existem interações com diversas organizações e pessoas. “Melhorei muito, especialmente quando se trata de defender meus pontos de vista no formato de diálogo, sem criar resistência com quem pensa diferente”, fala ela. “É algo que tem tido muitos retornos positivos, porque você não traz mais uma carga negativa quando se posiciona e as pessoas querem colaborar.”

Observando de longe, Lucas consegue ver muitos avanços. “Ela está aprendendo tecnicamente sobre o lado administrativo e começando a aprender sobre a área pedagógica, além de conseguir lidar com equipes e pessoas em diferentes níveis e fazer acontecer”, fala. “E tem sido uma via de mão dupla: as pessoas que trabalham com ela também estão aprendendo muito.”

Proatividade, empatia e capacidade de resolver problemas e entender a estrutura pública são algumas das características tidas como essenciais por Lucas para trabalhar no setor. Resiliência também é importante. “Não adianta querer entrar para mudar o mundo se não estiver pronto pra tomar pancada e aprender a navegar”, fala. “É preciso aprender a localizar seu processo dentro do todo, entender o que está sendo feito e ouvir as pessoas que estão ali há 20 anos, que tem muito a agregar.”

Atualmente, 73 funcionários trabalham com a dupla, muitos deles ex-professores. “Minha esperança é que meu trabalho esteja criando sementes e reativando a inquietação que eles tinham para buscar uma qualidade melhor para o aluno que está na ponta”, resume ela, que tem melhorar a educação como propósito. “Meu impacto é salientar que o agente é coautor e parte dessa história.” Uma história, vale lembrar, que tem impacto direto em 440 mil crianças.

 

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