Desde muito jovem, Martina Müller sabia que queria proteger o meio ambiente e garantir um futuro melhor para a sociedade. Ela encontrou uma oportunidade de realizar esse propósito aliando direito e sustentabilidade por meio da área de políticas públicas ambientais. Membro da rede de líderes de alto impacto da Fundação Estudar, funcionária da Organização das Nações Unidas (ONU) e mestre em políticas públicas pela Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, Martina detalha sua trajetória e o que é preciso para ter sucesso trabalhando com meio ambiente e sustentabilidade.
Entrando em contato com a natureza
Quando criança, Martina afirmava que queria ser diplomata quando crescesse. Nessa época, ela já mostrava um grande interesse por proteger o meio ambiente e entender a relação da sociedade com a natureza.
“Eu lembro de uma aula de geografia na qual a professora explicou o quão escassa é a água potável no mundo. Comecei a me preocupar com isso. Pensava em como iríamos sofrer se nada fosse feito e como precisávamos, de alguma maneira, tentar proteger esse recurso natural. Não só para nós, mas também para os outros seres vivos que habitam o planeta”, recorda.
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Uma grande influência para cultivar e desenvolver ainda mais esse desejo de cuidar do meio ambiente foi participar de um grupo de escoteiro. “Fui escoteira dos 11 aos 17 anos. O escotismo é muito próximo da natureza, fazíamos muitos acampamentos e atividades voluntárias. Ajudei a limpar manguezal e a fazer ações educativas em escolas e orfanatos. Isso despertou muito a responsabilidade que temos de cuidar do nosso entorno”, avalia.
Determinada a seguir esse interesse também profissionalmente, Martina percebeu que estudar direito poderia ser uma boa opção. “Eu tinha visto o filme sobre a Erin Brockovich, técnica jurídica e ativista ambiental norte-americana. Nele, ela trabalha para proteger uma comunidade que tinha sido exposta à químicos, que tinham contaminado a água do local. Para mim, isso foi muito inspirador. Decidi estudar direito para entender como funcionam os mecanismos jurídicos para trabalhar nessa área ambiental”, revela.
Políticas públicas ambientais: do Brasil até a ONU
Mesmo cursando direito, Martina sempre conseguiu trabalhar em organizações ligadas ao meio ambiente. Seu primeiro estágio foi em um instituto de pesquisa alemão focado em consumo e produção sustentável. Depois, ela seguiu para um escritório de direito ambiental. “Aos poucos, fui percebendo que eu gostava mais de trabalhar na área pública. Fundamental para mim foi participar do programa da Fundação Botín de fortalecimento da função pública na América Latina, que é voltado para jovens que queiram se dedicar ao serviço público”, indica.
Foi então que a estudante começou a estagiar na área ambiental do Ministério Público Federal (MPF). A jovem também passou pela Missão do Brasil junto às Nações Unidas, que oferece um estágio não-remunerado de três meses e proximidade aos diplomatas e seu cotidiano no órgão, e foi voluntária da ONU na Conferência Rio+20. Além disso, foi assessora de gabinete na Secretária de Estado do Meio Ambiente em São Paulo responsável pela assessoria internacional.
“Quando eu fui para a Secretaria, queria ver como seria o desenrolar das metas de desenvolvimento sustentável no dia a dia. Eu tinha visto as negociações na ONU, mas agora poderia contribuir para a implementação na escala local. Na mesma época, São Paulo passava por uma seca extrema, o que tem uma ligação muito forte com a questão da água que despertou meu interesse na infância. Pude me envolver em projetos importantes para combater essa situação, além de trocar conhecimentos com organizações internacionais e aplicá-los no Brasil”, detalha.
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Contudo, Martina queria se aprofundar ainda mais em políticas públicas ambientais e decidiu ir fazer um mestrado no exterior. Ela foi aprovada na Kennedy School of Government da Universidade de Harvard e seguiu para os Estados Unidos. “Consegui uma bolsa da faculdade especifica para a área ambiental, além de entrar no programa de líderes da Fundação Estudar. Estudei muito sobre desmatamento e politicas estaduais para combatê-lo, analisando casos no Brasil. Quando me formei, fui trabalhar uma ONG em Boston, que faz a interface com investidores e empresas que compram commodities que mais causam desmatamento, para garantir que não viessem de más práticas ambientais”, aponta.
Mas focada em aumentar o impacto do seu trabalho, a advogado prestou um concurso público para trabalhar na Organização das Nações Unidas (ONU). “É um concurso específico para jovens profissionais dedicados que querem construir uma carreira na organização. Fui aprovada na terceira tentativa e me chamaram em fevereiro desse ano. Agora estou há 5 meses trabalhando na ONU e é super interessante porque uma organização internacional desse porte consegue ter um impacto muito grande, por mais que seja indireto”, pondera.
Abrindo portas durante a carreira
Martina revela que inicialmente ela não tinha uma rede de networking que pudesse abrir portas para as oportunidades que queria. “Eu mandava vários e-emails mais de uma vez, torcendo para que alguém respondesse, disposto a me dar uma chance. Eu me candidatei para muito mais oportunidades do que de fato passei. Acho que isso sempre foi um direcionamento que eu tive, de não desistir. Você tem que tentar várias vezes, se esforçar ao máximo e dar o melhor de si, que eventualmente dá certo”, opina.
Mas a advogada aponta que, mesmo antes de se decidir por políticas públicas ambientais, jamais aceitou um trabalho que não contribuísse diretamente para a agenda de desenvolvimento sustentável. “Eu quero dedicar meu tempo e o meu esforço para algo que contribua para a sociedade. Tive tantos privilégios na vida e acho que com esse privilégio vem uma responsabilidade de ajudar as pessoas e dar o melhor que eu posso. Isso me impulsiona e me faz sentir realizada no trabalho apesar das dificuldade”, reforça.
E que habilidades são importantes para a área?
Revendo sua trajetória, Martina acredita que um das coisas mais importantes é ser resiliente. “Você vai ter altos e baixos. Às vezes, você olha para o noticiário e pensa que nada está dando certo. Mas a gente não pode desistir, temos que pensar no longo prazo e no impacto que a gente pode ter. Meu maior norte é pensar no porquê eu estou fazendo isso, porquê eu sou tão apaixonada por essas questões. É porque eu acho que vai ser vital para a sociedade. Sempre os mais prejudicados são os mais vulneráveis e isso não está certo. Nós, como sociedade, precisamos contribuir para que todo mundo tenha a oportunidade de ter um bom futuro”, explica.
Em contrapartida, a jurista aponta que nunca falta trabalho para quem quer atuar na área ambiental. “Sempre vai ter muita coisa para fazer e muita demanda de profissionais. Outra questão é que você não precisa necessariamente decidir fazer um bacharelado em gestão ambiental ou biologia, algo já muito focado na área ambiental. Você pode focar na área ambiental qualquer que seja a sua formação, seja como advogado, internacionalista, engenheiro, até mesmo médico”, indica.
Sobre os conhecimentos importantes para atuar em políticas públicas ambientais, ela afirma que um bom entendimento de mecanismos econômicos é relevante. “Muitas vezes, você vê essa dualidade entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Mas quem tem conhecimento sólido nessa área consegue promover o desenvolvimento econômico que seja sustentável também do ponto de vista ambiental e social. É uma habilidade mais técnica”, aponta.
Por fim, habilidades interpessoais são indispensáveis. “Porque, no final das contas, você trabalha com pessoas. Em qualquer que seja o ambiente, você está dialogando com pessoas, tentando convencê-las, mas também entendendo o ponto de vista delas. Diplomacia tem muito a ver com habilidades interpessoais. Então, tentar nutrir essa curiosidade interpessoal, as técnicas de negociação, de comunicação é muito importante. É um trabalho muito gratificante. Quem decidir fazer uma carreira nessa área de sustentabilidade, pode realmente contribuir para um futuro melhor e impactar muitas pessoa”, finaliza.