A postagem mais recente de Thiago Braz em sua página oficial data de 3 de agosto, às vésperas dos Jogos Olímpicos. O texto acompanha uma foto de um salto com vara, esporte que o jovem de 23 anos pratica há quase uma década. ”Que todos possam fazer parte deste voo nas Olimpíadas”, escreveu. Mal sabia ele que, doze dias depois, o voo coletivo seria recompensado com sua primeira medalha de ouro.
Inseguro até então, Thiago era uma aposta que estava demorando para se concretizar. Treinava bem e saltava alto, mas travava em público. Ainda em 2015, durante os Jogos Panamericanos de Toronto, não ganhou nada. No campeonato mundial da modalidade, naquele mesmo ano, ficou em 19º lugar.
No Rio, estava decidido a ser diferente. Criou uma preparação mental para controlar os nervos e, mesmo com os atrasos, chuva e vento forte no dia da prova final, manteve a calma. “Aprendi a ter fé e confiar que tudo vai dar certo”, falou. “Trabalho dessa forma: fico quietinho na minha.” O apoio incansável da plateia, que antes ele temia ver como mais uma pressão, também se tornou uma arma a seu favor.
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Antes de saltar, os atletas devem dizer ao júri quão alto pretendem pular para que o sarrafo seja ajustado. Pouco antes do salto que lhe rendeu o ouro – o competidor tem direito a três chances em cada altura –, Thiago decidiu pular a altura de 5,98 metros e encarar logo os 6,03 metros. Superou o obstáculo de primeira, impecável.
Como seu recorde anterior era onze centímetros menor, a troca foi um tanto inesperada até para ele. Profundamente religioso, dedicou sua inspiração ao divino. “Eu sentia Deus comigo naquele momento”, afirmou. “Antes de saltar, senti que estava um ambiente totalmente diferente. Era maravilhoso. E aí parti.”
Ele estava atuando tão bem no momento que, quando decidiu arriscar, já era dono da prata. “Comecei a acordar para a prova e perceber que poderia brigar por uma outra cor de medalha”, explicou.
Para conseguir completar as provas, Thiago fez uso do que considera seu ponto forte: o foco. “Tento não pensar em nada, só em completar meu salto, sem medo e sem distração nenhuma”, falou, ainda enrolado na bandeira brasileira, logo após o pódio.
A imagem de sua comemoração após o último salto, ainda no ar, viralizou imediatamente. Assistindo o feito, até o jovem se impressiona, como se fosse outra pessoa na tela. “Foi altíssimo!”, riu. “Que salto bonito.”
História Na última edição dos Jogos Olímpicos, em 2012, Thiago ainda estava se aprimorando. Enquanto seus colegas subiam ao pódio em Londres, ele, aos 18 anos, se tornava campeão mundial júnior do salto com vara.
Tinha começado a treinar com um tio, ex-atleta, quatro anos antes. “Eu pensava: ‘Vou pegar a vara e fazer o quê? Correr e me pendurar de ponta-cabeça?’”, lembrou. “Levei duas semanas para acertar o primeiro salto.”
Fluente em inglês e italiano, Thiago mora na Itália desde 2014. Mudou-se a convite do treinador Vitaly Petrov, ucraniano que também tutelou recordistas mundiais como Serguei Bubka e Yelena Isinbayeva e tornou-se uma figura paterna para o brasileiro.
Tomar a decisão não foi fácil. O atleta havia quebrado o punho pouco antes e enfrentava as dúvidas dos colegas. Será que conseguiria saltar novamente? Valia a pena deixar o país? No final, a vontade de se desenvolver falou mais alto.
“Vitaly nasceu para transformar a vida das pessoas e isso aconteceu com Thiago, que cresceu muito como homem”, disse sua esposa Ana Paula de Oliveira, também saltadora de vara. A confiança do atleta no treinador – ponto em comum com o canoísta Isaquias Queiroz, outro medalhista olímpico – também fez diferença. “Pelo fato de ter sido rejeitado, é difícil ele se abrir. Mas quando ele confia, se apega mesmo”, continuou ela.
A rejeição em questão foi um dos assuntos mais comentados pela imprensa. Aos dois anos, Thiago foi abandonado pelos pais na casa dos avós. Passou dias com a mochila nas costas, esperando o retorno da mãe ao portão.
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Hoje, dedica suas vitórias e valores a quem lhe criou. “Todas as qualidades que tenho hoje vieram dos ensinamentos dos meus avós”, afirmou. A matriarca, que apoia sua carreira desde cedo e assistiu à final no estádio, brinca que só aceita vitórias.
As muitas superações na trajetória do atleta não vieram por acaso, mas por esforço e trabalho duro. “Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerce. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Tenha sempre um centro”, escreveu.
Seu sonho – a medalha de ouro – estava em franco desenvolvimento há anos. E para fazer acontecer, Thiago não mediu esforços. Em 2009, apresentou-se num email para Elson Miranda, marido e treinador da brasileira Fabiana Murer, outro ícone do salto com vara, lhe pedindo uma chance. Conseguiu. Dois anos depois, já declarava que queria estar entre os oito melhores saltadores no Rio de Janeiro. Conseguiu – com honras.
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Com a conquista concluída, Thiago pretende tirar férias rápidas antes de voltar ao trabalho. Já pensa no futuro. Quer superar o recorde de 6,14m de Serguei Bubka, estabelecido em 1994 – e competir ao lado da esposa em 2020, em Tóquio.