atleta isaquias queiroz com medalha de prata

Em Ubaitaba, no interior da Bahia, a febre é a canoagem velocidade. Numa quadra de escola, um telão instalado pela prefeitura era palco de festas e fogos de artifício toda vez que o medalhista olímpico Isaquias Queiroz – que nasceu ali em 1994 – aparecia remando na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Foi lá que em 20 de agosto de 2017, durante a final de modalidade nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, ele conquistou a medalha de prata ao lado de Erlon de Souza. A dupla, que liderou a competição até os 750m em um percurso total de um quilômetro, ficou atrás apenas dos experientes atletas alemães.

No dia 16, quando veio sua primeira medalha da Rio 2016 (prata, na categoria individual de 1000 metros), o Brasil havia despertado para um novo ídolo e pôs-se, como Ubaitaba, a assisti-lo avidamente: nos próximos dias, ele ainda conquistaria o bronze na categoria de 200 metros. Com a prata deste sábado, fez história ao se tornar o primeiro atleta brasileiro a conquistar três pódios numa mesma edição olímpica.

No entanto, por trás da excelência demonstrada na competição e que levou euforia aos torcedores brasileiros, existe uma história marcada por valores fortes e sonhos ambiciosos.

Trajetória de Isaquias Queiroz

Do tupi “cidade da canoa”, Ubaitaba é banhada pelo Rio das Contas e, desde pequenos, os locais aprendem a remar para atravessar as águas. Isaquias não era diferente e, ainda cedo, aos 11 anos, começou a treinar a técnica visando melhoria contínua e aprimoração competitiva, por meio do programa Segundo Tempo, hoje descontinuado no município. 

“Sou grato pelo projeto social em que comecei e que me revelou”, disse. “O esporte pode mudar a vida das pessoas. Que o governo veja isso e que meu resultado e de outros possa abrir os olhos da sociedade.”

Decidiu se profissionalizar como atleta em 2009 e, dois anos depois, saiu de casa rumo ao Rio de Janeiro. Passou por diversas cidades até que, em 2014, tornou-se parte da seleção permanente, que hoje treina em Lagoa Santa, Minas Gerais.

E foi para o treinador do time masculino, o espanhol Jesús Morlan, que ele dedicou sua primeira vitória olímpica – e a primeira da história do Brasil na canoagem – no Rio de Janeiro. 

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“Em 2012, eu tinha sumido do mapa da canoagem”, explicou, referindo-se às dificuldades que encontrou para se adaptar à vida no Rio.

A indisciplina acabou lhe custando uma vaga na equipe que participou do Pan-Americano de Guadalajara, e tampouco foi aos Jogos Olímpicos de 2012. Foi nessa época que começou a ser treinado por Morlán.

A diferença fez com que Isaquias sonhasse, mais uma vez, com os maiores louros do esporte.”Podem falar que eu tenho talento, isso e aquilo, mas sem um bom cara para lapidar o diamante você não chega ao ponto certo para ser reconhecido e, sem ele, eu não teria ganhado essa medalha.” 

O reconhecimento da equipe é característica marcante no atleta. “Não é só mérito meu, é da minha equipe toda, que está de parabéns”, fez questão de declarar à imprensa no término da prova de hoje.

Outro incentivo, brinca ele, foi a chance de ter três meses de férias, um para cada medalha. “Eu tive a iniciativa de ganhar três medalhas e falei para o meu treinador. Quando ganhei duas, ele disse: ‘Você já tinha até novembro de férias, falta mais uma para ter até janeiro'”, riu.

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A dupla campeã olímpica Isaquias e Erlon [reprodução]

Superação

O esporte, que se tornou olímpico em 1936, em Berlim, é cheio de meandros. Não há costume de marcar recordes de velocidade, por exemplo, já que fatores como vento e profundidade das águas diferem muito e, não raro, milissegundos são a diferença entre a derrota e a vitória.

Nas Olimpíadas do Rio, Isaquias competiu em três de seis modalidades na canoa. Subiu ao pódio em todas, conquistando o resultado histórico para o país. 

“Quando você tem chance de medalha, você imagina tudo”, disse ele, em maio. “Quero gravar meu nome no Brasil.” Sua ambição não era à toa, mas calcada em anos de trabalho, esforço, disciplina de treinos e constante superação.

Isaquias já era uma aposta entre especialistas e vinha acumulando medalhas internacionais há algum tempo. Trouxe inclusive dois ouros e uma prata dos Jogos Panamericanos de Toronto, em 2015. A surpresa foi o número de vitórias no Rio: ele era favorito na modalidade em dupla, com o também baiano Erlon de Souza, e acabou subindo ao pódio em todas as provas que participou.

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Foi assim, menos de uma semana após colocar a canoagem no mapa, que Isaquias fez muita gente levantar no sábado de manhã para torcer pelo atleta e por sua mãe, presença marcante na arquibancada. As imagens de seus abraços após as corridas, assim como as comemorações de Isaquias dentro da água, conquistaram o país. 

O lema do canoísta é simples, mas pungente. “Desistir nunca, persistir sempre”, declarou. “Essa medalha é para todos os brasileiros que nunca desistiram dos seus sonhos.”

Sonho grande

Como é comum entre esportistas, o caminho até ali teve dificuldades. Na juventude, Isaquias passou por acidentes sérios e chegou a perdeu um rim ao cair de uma árvore, aos 10 anos. 

No ano seguinte, começou a praticar a canoagem. “As pessoas achavam que não daria certo, que seria uma deficiência. Mas acabei mostrando para o Brasil – para o mundo – que não tem nada de problema”, falou.

A falta do rim virou tanto apelido na turma quanto motivação extra para se provar na água. “Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois falar: ‘Eu perdi porque só tenho um rim’. Gosto de competir de igual pra igual. O ruim é quando uma pessoa perde para mim e diz: ‘Nossa, perdi para um cara que só tem um rim!’”

Para se preparar para as provas olímpicas, enfrentou uma rotina intensa: para cada semana de folga, eram oito de atividade. Pouco mudou depois que chegou Rio, mesmo tendo subido ao pódio.

Após comemorar sua primeiro vitória, tirou centenas de selfies com os novos fãs e logo sumiu de vista. Precisava trabalhar. “Eu saio do pódio e treino no mesmo dia, tem que manter o ritmo”, explicou. “Como seria bom ir pra Bahia descansar, não é?”

Na página do Comitê Olímpico Brasileiro, atualizada antes dos jogos começarem, o canoísta escreveu que seus objetivos profissionais envolviam incentivar a canoagem brasileira e ser medalhista olímpico. 

“Agora sabem o que é canoagem e não somos o patinho feio do Brasil”, disse ele, que foi recebido por uma multidão em Ubaitaba e desfilou pelas ruas da cidade num carro de bombeiros.

Sua vontade agora é aprimorar-se todos os dias para chegar em Tóquio, sede dos próximos Jogos Olímpicos, em busca do ouro. “Já tenho prata e bronze. Falta o ouro para completar o pódio.”

A boa fase continua: no Campeonato Sul-Americano de Canoagem Velocidade e Paracanoagem, que ocorreu em abril de 2017, Isaquias levou cinco ouros. No mês seguinte, faturou a medalha de prata na Copa do Mundo da categoria.

Claramente, esse é só o começo.

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