Imagine o seguinte cenário: você sai para trabalhar pela manhã, chega à empresa, sobe pelo elevador e, de repente, se esquece de toda a sua vida pessoal. De uma hora para outra, sua memória é dividida. Agora, você só tem memórias profissionais até o fim do expediente.
Embora aparentemente impossível, essa realidade é a que embasa a premissa da primeira temporada de Severance, série da Apple TV que recentemente se tornou a série mais assistida pelos brasileiros.
O drama, dirigido por Ben Stiller e com elenco recheado de comediantes, acompanha Mark (Adam Scott) e seus liderados no setor de refinamento de macro-dados da gigante corporação Lumon.
Embora nenhum dos personagens saiba muito bem o sentido de seus trabalhos, eles mantém a rotina comum até que o melhor amigo de Mark é aposentado e substítuido por Helly, a nova refinadora que passa a questionar o propósito da empresa.
Ao mesmo tempo, o Mark do mundo real, que não conhece os colegas de empresa, conhece o amigo aposentado e começa uma jornada para descobrir a verdade sobre o trabalho misterioso no qual atua.
Com o sucesso, Severance já está renovada para mais uma temporada, que ainda não tem data para estrear.
Alguns conflitos relacionados ao trabalho real são abordados pela série a partir da premissa aparentemente fora dos padrões de realidade. Alguns deles são:
Quando personagens de Severance tentam retroceder o procedimento de ruptura da memória, eles são acometidos pela “doença da ruptura”. Em uma clara referência ao Burnout, um dos personagens começa a ter sua vivência fora da empresa comprometida por visões do escritório, como se ele revivesse forçadamente os dias de trabalho.
Como nenhum dos trabalhadores têm motivações para além dos muros da empresas (eles mal sabem quem são nem tem memórias da infância, por exemplo), motivá-los é uma missão ingrata. Sobre isso, o roteiro da série faz uma crítica ao gerenciamento de recursos humanos nas empresas ao elencar prêmios sem valor por resultados obtidos.
Em algum sentido, é como se o enredo ironizasse a tentativa das empresas de motivar os trabalhadores pela missão interna. Em geral, os personagem não entendem seus resultados, seus objetivos nem a missão da empresa.
As discussões no entorno do equílibrio entre vida pessoa e trabalho, sem dúvidas, estão no centro do debate em Severance. Muitos dos profissionais da Lumon, no entanto, acabam realizando o procedimento de divisão porque não querem lidar com traumas e conflitos da vida pessoal – como ocorre muitas vezes no mundo real.
A utópica possibilidade de balancear vida e trabalho saudavelmente é vista como impossível pela narrativa.
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