Nas formaturas das grandes universidades norte-americanas, é comum que alguns dos maiores líderes da atualidade – ex-alunos ou não dessas instituições – sejam escolhidos para deixar suas mensagens aos estudantes prestes a se de formar.

Autora de “Faça Acontecer”, fundadora do movimento feminista Lean In.org e segunda pessoa mais poderosa do Facebook – ela é Chief Operating Officer (COO) por lá –, Sheryl Sandberg é uma estrela desses discursos de formatura nos EUA (em 2012, fez seu discurso para os alunos de Harvard, que traduzimos aqui). 

Em maio de 2016, porém, ela se superou. Um ano após a morte do marido, aceitou falar aos formandos da ensolarada Berkeley, na Califórnia, onde sua avó estudou. Emocionada em diversos momentos, ela falou sobre a importância da gratidão, da vulnerabilidade e da resiliência.

O discurso de Sheryl Sandberg em UC Berkeley

Leia os melhores trechos abaixo, traduzidos pelo Na Prática:

É um privilégio estar aqui em Berkeley, que produziu tantos vencedores do Nobel, do prêmio Turing, astronautas, congressistas, medalhistas olímpicos… E essas são só as mulheres!

Berkeley abriu suas portas para toda a população cedo. Quando esse campus abriu, em 1873, a classe incluía 167 homens e 222 mulheres. Minha alma mater [a Universidade Harvard] levou outros 90 anos para oferece um único diploma para uma única mulher.

Uma das mulheres que veio para cá em busca de oportunidades foi Rosalind Nuss. Roz cresceu limpando chãos numa pensão no Brooklyn, onde ela morava. Foi retirada do ensino médio pelos pais para ajudar na renda da família.

Um de seus professores insistiu que ela voltasse à escola. E, em 1937, ela sentou onde vocês estão sentados hoje e recebeu um diploma de Berkeley. Roz foi minha avó. Ela foi uma enorme inspiração para mim e sou tão grata que Berkeley tenha reconhecido seu potencial.

Hoje é um dia de celebração. Um dia para celebrar todo trabalho duro que lhe trouxe esse momento.

Hoje é um dia de reflexão. Porque hoje marca o fim de uma era em sua vida e começo de algo novo.

Hoje será um pouco diferente. Ainda vamos jogar os capelos para cima e tirar fotos. Mas estou aqui não para lhes dizer o que aprendi com a vida. Estou aqui para lhes dizer o que aprendi com a morte.

Vou fazer meu melhor para não limpar o nariz nessa bela beca de Berkeley.

Há um ano e 13 dias, perdi meu marido, Dave. Sua morte foi súbita e inesperada. Estávamos no aniversário de um amigo, no México. Tirei um cochilo. Dave foi para a academia. E o que aconteceu depois foi o impensável: entrar na academia e encontra-lo no chão. Voar para casa e dizer aos meus filhos que o pai tinha morrido. Ver seu caixão ser enterrado.

A morte de Dave me mudou de maneira profunda. Aprendi sobre as profundezas da tristeza e a brutalidade da perda. Mas também aprendi que quando a vida de submerge, você pode chutar o fundo, subir à superfície e respirar de novo.

Aprendi que na cara do vazio – ou na cara de qualquer desafio –, você pode escolher alegria e significado.

Leia também: Fracassou? Pegue um microfone e fale em voz alta! Saiba mais sobre vulnerabilidade

É praticamente certo que você vai encarar adversidades maiores e mais profundas [do que as encontradas até então]. Há perda de oportunidades, perda de dignidade, perda de amor. E às vezes há perda da própria vida.

A questão não é se algumas dessas coisas vão acontecer com você. Elas vão. Hoje quero lhes dizer o que acontece depois.

São os dias difíceis – aqueles tempos que te desafiam mesmo – que determinarão quem você é. Você será definido não apenas pelo que conquista, mas por como sobrevive.

Todos nós, em algum momento, vamos viver de algum jeito o plano B. A questão é: o que fazemos então?

Como representante do Vale do Silício, fico feliz em lhes dizer que é possível aprender com dados. Após décadas estudando como as pessoas lidam com contratempos, o psicólogo Martin Seligman descobriu que existem três Ps – personalização, penetração e permanência – que são críticos para como superamos as adversidades.

As sementes da resiliência são plantadas quando processamos os eventos negativos de nossas vidas.

O primeiro P é personalização: a crença de que temos culpa. É diferente de assumir responsabilidade, algo que você sempre deve fazer. Essa lição é que nem tudo que acontece conosco acontece por nossa causa.

O segundo P é penetração: a crença de que um evento afetará todas as áreas de sua vida. Sabe aquela música “Everything is awesome” [tudo é incrível]? Esse é o contrário: tudo é horrível. Não há para onde fugir ou como se esconder da tristeza.

O terceiro P é permanência: a crença de que o luto durará para sempre. Por meses, não importa o que eu fazia, parecia que aquele dor sempre estaria ali.

Frequentemente projetamos nossos sentimentos atuais indefinidamente. Sentimo-nos ansiosos e ficamos ansiosos que estamos ansiosos. Sentimo-nos tristes e ficamos tristes porque estamos tristes.

Deveríamos aceitar nossos sentimentos, mas reconhecer que eles não vão durar para sempre.

Os três Ps são reações emocionais comuns para muitas das coisas que acontecem conosco – em nossas carreiras, vidas pessoais e relacionamentos. Você provavelmente está sentindo um deles agora relacionado a algo em sua vida.

Mas se você puder reconhecer que está caindo nessas armadilhas, pode se segurar. Assim como nossos corpos têm um sistema imunológico físico, nossos cérebros têm um sistema imunológico psicológico – e você pode agir para fazê-lo funcionar.

Encontrar gratidão e apreciação é peça-chave para a resiliência. As pessoas que tiram um tempo para listar coisas pelas quais são gratos são mais felizes e mais saudáveis.

Minha resolução de Ano Novo é escrever três momentos de alegria diariamente, antes de dormir. Essa prática simples mudou minha vida porque não importa o que acontece no dia, vou dormir pensando em algo alegre.

Experimente. Comece hoje quando você terá tantos momentos divertidos para listas – e talvez seja bom fazê-lo antes de chegar no bar e esquecer quais são.

Mês passado, onze dias antes do aniversário da morte de Dave, comecei a chorar ao lado de uma amiga minha. Eu disse: “Onze dias. Há um ano, ele tinha onze dias de vida. E nós não tínhamos ideia.”

Olhamos uma para a outra através das lágrimas e nos perguntamos como viveríamos se tivéssemos onze dias para viver.

Vocês podem se perguntar sobre como viveriam se tivessem onze dias? Quero dizer, viver compreendendo quão precioso cada dia seria. Porque é quão precioso cada dia realmente é.

Um ano após o pior dia da minha vida, duas coisas são verdade para mim hoje. Tenho uma enorme reserva de tristeza que está sempre comigo.

Mas também sei que estou caminhando sem dor. Pela primeira vez, sou grata por cada respiração que entra e sai. Grata pela vida em si.

Espero que você viva sua vida, cada dia precioso, com alegria e significado. Espero que caminhe sem dor e seja grato por cada passo.

E quando vierem os desafios, espero que se lembre que dentro de você está a habilidade de crescer e aprender.

Você não nasce com uma certa quantidade de resiliência. É como um músculo que você pode exercitar e usar quando precisar. Nesse processo você vai descobrir quem você realmente é – e pode bem se tornar a melhor versão de si mesmo.

Construam resiliência dentro de si mesmos. Quando a tragédia ou a decepção chegarem, saibam que têm a habilidade de atravessar qualquer coisa. Prometo. E, como diz o ditado, somos mais vulneráveis do que jamais pensamos, mas somos mais fortes do que jamais imaginamos.

Construam organizações resilientes. Nunca pare de trabalhar para isso, seja num conselho que não é representativo ou num campus que não é seguro. Fale em voz alta. Meu pôster favorito no trabalho diz “Nada no Facebook é problema de outra pessoa”. Quando ver algo quebrado, conserte-o.

Construam comunidades resilientes. Encontramos nossa humanidade – nossa vontade de viver e nossa habilidade de amar – em nossas conexões com os outros. Esteja lá para seus amigos e familiares. E quero dizer pessoalmente, não apenas com uma mensagem e um emoji de coração.

Elevem uns aos outros, ajudem uns aos outros a arrasarem no plano B e celebrem cada momento de alegria.

Vocês têm o mundo todo à sua frente. Mal posso esperar para ver o que fazem com ele.

Leia o discurso de Sheryl Sandberg na íntegra em inglês aqui.

 

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