O CEO da Airbnb, Brian Chesky, anunciou nesta semana que passará a viver viajando e que vai se hospedar em acomodações oferecidas pela plataforma que administra.
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Segundo ele, o aluguel para estadias longas cresceu significativamente em 2021 e que isso demonstra um desejo das pessoas por uma rotina mais flexível, em que elas podem escolher como e de onde trabalhar.
A ideia é que Chesky possa testar as casas e apartamentos que ajuda a divulgar para melhorar a experiência dos seus clientes no futuro.
Mas, afinal, como é a vida dessas pessoas? Como elas decidem se tornar um nômade digital?
Para tentar responder a essa pergunta e tirar dúvidas sobre o assunto, o Na Prática ouviu um brasileiro que vive dessa forma desde 2017, e ele deu dicas para quem deseja viver viajando como o CEO da Airbnb. Confira!
O que é um nômade digital?
Trabalhar sem chefe e viajando o mundo. Parece uma realidade distante? Na verdade, a internet aumentou significativamente essa possibilidade – e hoje existe até uma classificação para quem segue esse estilo de vida: nômade digital.
Assim como o nome sugere, no nomadismo digital, o profissional cumpre suas atividades independentemente de sua localização, por meio da tecnologia. Sendo funcionários remotos, empreendedores ou freelancers, os nômades têm responsabilidade total pelos seus horários e resultados. “O nomadismo digital é para adeptos do ‘do it yourself’”, resume Matheus de Souza, que trabalha de forma remota desde janeiro de 2017.
Para ele, que nasceu e se baseia na cidade de Tubarão, em Santa Catarina, a parte de “viajar o mundo” começou em setembro do mesmo ano. O que levou os dois a escolherem esse estilo de vida (e trabalho) foi uma inquietação crescente ao tentar combinar a paixão por viajar e um emprego no meio corporativo.
“Nossa decisão se deu após percebemos que o modelo tradicional de trabalho não era para gente”, explica Matheus. “Nos últimos anos, antes de nos demitirmos, não estávamos sequer conseguindo conciliar nossos períodos de férias. Estávamos desgastados no meio corporativo e queríamos mais flexibilidade e liberdade”, completa.
Se agora – 13 países depois – conseguem manter uma rotina que compreende vontade e necessidade, ainda assim, nem tudo são flores. Ficar longe dos entes queridos, inevitável para quem trabalha em diversos lugares, é o principal desafio de ser um nômade digital, segundo Matheus.
“Embora a tecnologia nos coloque em contato com eles em tempo real, esse ano, por exemplo, pela primeira vez perdemos um evento familiar – o aniversário de um aninho do nosso sobrinho”, relata ele. “É o preço que se paga.”
O que um nômade digital faz
Matheus atualmente complementa a graduação em Relações Internacionais e o MBA em Gestão de Negócios com um curso de especialização em Escrita Criativa. Formações condizentes com um nômade digital que escreve e também empreende, como se descreve em seu perfil no LinkedIn.
Na prática, ele produz conteúdo para agências e marcas e contribui como colunista para portais. Ainda mantém e alimenta o blog que fundou com Laís, o be freela, onde o casal discute viagens, trabalho autônomo, marketing, empreendedorismo e o tal nomadismo.
Para quem escolhe trabalhar produzindo material, é imprescindível procurar se manter atualizado – e com o repertório interno abastecido. O empreendedor conta que recorre às newsletters “para ficar atento ao mercado” e, ao mesmo tempo, otimizar seu tempo. No entanto, suas principais inspirações vêm de outras áreas. “Costumo assistir muitos documentários e filmes, além de ler livros de ficção”, destaca.
A trajetória de Matheus, embora muito alinhada com o estilo de vida de um nômade digital, não é a única escolha. São muitas possibilidades de atuação remota. Só há uma regra: que nenhuma distância seja impedimento para exercer a função, da mesma forma que pretende o CEO da Airbnb.
Dentro desse escopo, existem escritores, como ele, fotógrafos, desenvolvedores de software, designers, jornalistas, etc. O maior viabilizador do estilo de vida é a tecnologia – seja a internet, o armazenamento em nuvem, os smartphones. Então, contanto que o profissional faça o nomadismo funcionar com as ferramentas disponíveis, não há limites para o que se pode fazer.
A rotina é a falta de rotina
O fator “rotina” de quem é um nômade digital se dá menos pela semelhança entre os dias – o que é difícil ocorrer quando se atua com tantas variáveis, como lugar, fuso horário, demanda – e mais pela estruturação das tarefas. Algo que Matheus, por exemplo, se esforça em fazer.
“Quando estou viajando, geralmente, acordo cedo e entrego todas minhas demandas”, detalha ele. “Feito isso, interajo nas redes sociais, principalmente no LinkedIn, para fortalecer minha presença digital – o que é fundamental para quem trabalha de forma autônoma”.
Fortalecer (ou aumentar) a presença digital significa, basicamente, alcançar mais pessoas (e talvez seja essa a estratégia de Brian Chesky, o CEO da Airbnb). É um fator importante para os freelancers, porque ajuda a firmar sua marca pessoal e ter mais possíveis clientes. No caso de Matheus, ele utiliza a maior rede social voltada para relacionamentos profissionais, o LinkedIn, para publicar conteúdo que engaja e fazer contatos relevantes.
A estratégia deu tão certo que ele foi considerado o terceiro brasileiro mais influente do LinkedIn em 2016 na lista da rede social de “Top Voices”. Hoje, inclusive, oferece curso em que ensina marketing pessoal baseado nos métodos que funcionaram (e funcionam) para si mesmo.
Voltando ao seu dia a dia, depois de trabalhar, Matheus aproveita para explorar a cidade em que está. “Costumamos viajar para países onde o fuso horário está na frente do Brasil, então é como se ‘vivêssemos no futuro’, o que facilita muito esse estilo de vida”.
Deu certo para o Matheus, mas vai dar certo para você e pro CEO da Airbnb?
“Se você é disciplinado, trabalha ou quer trabalhar de forma remota e adora viajar e conhecer outras culturas, esse é o estilo de vida perfeito – ou o que mais se assemelha a perfeição…”, afirma o escritor e empreendedor. “Disciplinado” é um ponto-chave, já que as entregas, e os retornos, dependem apenas do profissional.
De acordo com Matheus, para ser um nômade digital, “você terá que se mexer”. E não só pela responsabilidade total sobre os resultados, também porque o estilo de vida – e a gestão de um “negócio de uma pessoa só” – exigem autonomia. Para quem se interessa, ele recomenda que busque desenvolver novas habilidades, ou tornar-se “multidisciplinar”. Assim, dependendo cada vez menos de outros.
“Todos os nômades digitais que conheço são multidisciplinares”, destaca ele. Além de ser um profissional de marketing de conteúdo com formações em Relações Internacionais, Gestão de Negócios e Escrita Criativa, Matheus se aprimorou com competências que julgou relevantes para sua atuação, como programação, desenvolvimento de sites e edição de imagens.
Porém, sua principal dica tem a ver com independência: “criar seu próprio trabalho e descobrir meios de gerar alguma renda passiva”. Renda passiva é quando seu produto ou serviço gera receita mesmo quando você não está, ativamente, trabalhando. Se parece que esse é exatamente o problema, Matheus tranquiliza: “há uma demanda crescente por freelancers em várias áreas e o mercado de infoprodutos está bombando”.
Tem também o outro lado, já que “dificilmente uma companhia vai te oferecer uma vaga que permita toda essa flexibilidade – ou então que sustente esse estilo de vida, financeiramente falando”. “Nenhuma empresa vai te pegar pela mão e te colocar num avião com destino à Tailândia”, brinca ele.