“Nós não somos todos só responsáveis pela segurança uns dos outros. Somos também, em certa medida, responsáveis pelo bem-estar uns dos outros”, disse Kofi Annan em seu discurso final como secretário-geral da ONU, cargo que ocupou entre 1997 e 2006.
Annan faleceu em 18 de agosto deste ano, com 80 anos de idade, depois de ser acometido por uma “doença breve”, segundo comunicado oficial da fundação que leva seu nome.
O diplomata nascido em Gana, faleceu na Suíça, onde residia há anos. Ele foi o primeiro a ocupar o cargo depois de escalar a ONU como membro do staff. Conheça sua trajetória até chegar a uma das posições mais altas da diplomacia.
O caminho de Kofi Annan até ser secretário-geral da ONU
Liderança na família
Nascido na cidade de Kumasi, em Gana, em 8 de abril de 1938, sob o nome de Kofi Atta Annan, o cresceu em uma família da elite.
Teve contato próximo com a política e diplomacia, já que seu tio e seus dois avós eram chefes tribais. E também por meio de seu pai, que, depois de se aposentar, assumiu o posto de governador provincial.
Primeiros estudos
Na adolescência, Annan frequentou um internato metodista no centro de Gana, onde mais tarde disse ter aprendido que “o sofrimento em qualquer lugar diz respeito às pessoas em todos os lugares”.
Após sua formatura na escola, em 1957, Gana conquistou a independência da Grã-Bretanha; foi a primeira colônia britânica africana a conseguir o feito.
“Foi um período emocionante”, disse Annan ao The New York Times. “As pessoas da minha geração, tendo visto as mudanças que ocorreram em Gana, cresceram pensando que tudo era possível.”
Formação universitária
Formado na escola, ele começou seus estudos na Universidade de Ciência e Tecnologia de Kumasi (hoje Kwame Nkrumah University of Science and Technology), mas concluiu a graduação em Economia na Faculdade Macalester, em Minnesota, nos Estados Unidos, em 1961.
Entre 1961 e 1962, completou sua pós-graduação no Instituto de Assuntos Internacionais, em Genebra, na Suíça. E, em 1972, obteve o título de Mestre em Ciências pela Sloan School of Management, do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Trajetória na ONU
A carreira de Annan na ONU começou em 1962, logo após sua pós-graduação, quando ele conseguiu um emprego como um diretor administrativo e de orçamento da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Desde então, foi um funcionário público internacional, com a exceção de uma pequena pausa de 1974 a 1976, quando trabalhou como diretor de turismo em Gana.
Dentro da organização, ele trabalhou com a Comissão Econômica para África em Adis Abeba (Etiópia), na Força de Emergência em Ismailia, no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, em Genebra, e em vários cargos seniores, em Nova York, lidando com recursos humanos, orçamento, finanças e segurança dos funcionários.
Antes de se tornar secretário-geral, ele foi subsecretário-geral para a manutenção da paz e, posteriormente, representante especial do secretário-geral da ex-Iugoslávia.
Secretário-geral
O Conselho de Segurança das Nações Unidas recomendou que Annan substituísse o secretário-geral anterior, Boutros Boutros-Ghali, do Egito, em 1996. A Assembléia Geral votou a seu favor e Annan iniciou seu primeiro mandato como secretário-geral em janeiro de 1997.
Não só foi o primeiro a assumir um dos postos mais altos da diplomacia – que ocupou em dois mandatos, de 1997 a 2006 -, depois ser um membro do staff da organização, como foi o primeiro negro e o segundo africano.
Entre suas realizações mais conhecidas no cargo, estão a publicação de um Chamado à Ação de cinco pontos, em abril de 2001, para tratar da pandemia do HIV, e sua proposta de criar um Fundo Global de AIDS e Saúde.
Pelo seu esforço nesse sentido e trabalho de revitalizar a ONU, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2001, junto com a organização.
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Outro feito reconhecido de Annan foi a mediação decisiva que levou à resolução do massacre étnico pós-eleições no Quênia, em 2007, com a formação de um governo de coalizão.
No entanto, o diplomata também foi alvo de duras críticas durante sua trajetória, principalmente em relação às ações da ONU para deter a guerra civil – e decorrente genocídio – em Ruanda, nos anos 1990, quando Annan era o chefe das operações de manutenção da paz.
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Nesse e em outros episódios, as ações da organização, e as suas, foram vistas como insuficientes ou inadequadas. Em entrevista à BBC para marcar seu aniversário de 80 anos, em abril deste ano, Annan reconheceu os problemas da atuação da ONU. “Ela pode ser melhorada, não é perfeita, mas se não existisse, você teria que criá-la”, disse.