Quando Jônathas Silveira passou em 22º lugar no CACD (exame que dá acesso à carreira diplomática no Brasil) em 2016, os moradores de Macau, uma cidade de 27 mil habitantes no Rio Grande do Norte, comemoraram junto. Sabiam dos três anos de esforço que ele tinha investido no concurso, que chegaram a incluir jornadas de estudo de dez horas por dia.
O jovem havia saído de lá nove anos antes para estudar Direito na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, onde se formou em 2013. Conheceu a carreira diplomática por acaso, num intercâmbio de três meses para estudar inglês na Inglaterra.
Durante um debate com colegas de outros países, ele se incomodou com as piadas e críticas sobre o Brasil e o Nordeste, sem base na realidade. Pediu a palavra e começou a apresentar um pouco da história nacional e da região.
No fim da aula, um colega suíço se aproximou e disse que ele deveria ser diplomata. A ideia vingou. Quando voltou para Natal, em 2009, Jônathas começou a pesquisar aquela possibilidade.
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A carreira de diplomata
A carreira cumpria dois de seus requisitos básicos: trabalhar com outros idiomas e ser um serviço público, algo que o inspirava desde criança. “Minha mãe é técnica previdenciária e, desde pequeno, eu me admirava com seu amor em servir os segurados do INSS. Seu trabalho sempre foi motivo de orgulho para mim.”
Com o Itamaraty firme no horizonte profissional, Jônathas empregou uma abordagem realista: sabia que o desafio era enorme e que teria dificuldade em utilizar cursos preparatórios, que ficavam em outras capitais e custavam caro para um professor de inglês como ele.
A carreira no Itamaraty, órgão governamental conhecido também como o Ministério das Relações Exteriores, atrai milhares de brasileiros todos os anos. Em um só exame do Instituto Rio Branco – o CADC – que seleciona brasileiros para o cargo de diplomata, por exemplo, há uma média de 5 mil candidatos.
O jeito que encontrou foi pesquisar a bibliografia exigida e, aos poucos, montar sua própria biblioteca. Mas ele sabia que não seria suficiente para vencer a concorrência: não passou da primeira fase em sua primeira tentativa, em 2014. Ao mesmo tempo, precisava se manter.
No ano seguinte, decidiu deixar a diplomacia de lado por um tempo e prestar também outros concursos públicos. Logo ficou entre os dez primeiros colocados em um concurso do Tribunal de Contas do Estado do Ceará. Para sua surpresa, passou também na primeira fase do CACD.
“Minha família foi muito importante nessa época: meus pais e meu tio me ajudaram a pagar os cursos de segunda e terceira fase e me apoiaram durante todo o processo”, fala Jônathas, que chegou à etapa final naquela vez. “Embora eu não tenha sido aprovado, meu desempenho me motivou a voltar a sonhar com a carreira de diplomata.”
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No ano seguinte, endividado com cursos preparatórios e sem perspectiva de ser convocado pelo órgão cearense em que tinha passado, decidiu tentar o CACD de novo. Ganhou bolsas para cursinhos e compartilhou material com amigos. Em dezembro de 2016, finalmente viu seu nome na lista.
Hoje no segundo semestre do curso de formação do Instituto Rio Branco, em Brasília, ele estuda com uma turma diversa em tempo integral, de segunda à sexta-feira. Além das aulas de inglês, francês e espanhol diplomáticos, também estuda árabe instrumental. Ao todo, a rotina puxada inclui 14 disciplinas.
Jônathas não reclama. “O curso é um importante rito de passagem para que nos adaptemos à vida de diplomata. Além de podermos estreitar laços com colegas que estão começando a carreira, também podemos conviver com diplomatas mais antigos, uma vez que boa parte da equipe de professores é composta por colegas com vasta experiência no Itamaraty.”
De vez em quando, entre uma aula e outra, os novos diplomatas participam de atividades práticas. Em julho de 2017, por exemplo, estiveram na XII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
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Jônathas integrou a equipe responsável pelas chegadas e partidas das delegações. “Nossa função era receber os chefes de delegação e cuidar de todos os trâmites diplomáticos que facilitam a chegada de autoridades diplomáticas estrangeiras, conforme a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961”, explica.
Outro ponto que destaca no curso é um novo programa de coaching, em que cada diplomata em formação tem um diplomata experiente como mentor. “Eu já tive a oportunidade de conhecer meu mentor e ter uma conversa muito produtiva e motivadora. Acredito que ainda tenho muito a aprender com ele”, empolga-se.
Hoje, oito anos depois daquela sugestão inusitada em uma aula na Inglaterra, Jônathas sonha em representar o Brasil na Organização Mundial do Comércio. Aos jovens que pensam em seguir seus passos, ele recomenda foco, disciplina, paciência e proatividade.
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“A aprovação no concurso deve ser vista como um projeto de longo prazo”, aconselha. “Evite a ansiedade de querer passar logo – isso provavelmente não vai acontecer. E também não espere até que melhores condições apareçam. Comece onde você está, com o que você tem.”