Em junho de 2013, um aumento de vinte centavos na tarifa do transporte público de São Paulo deu origem a uma onda de protestos nacionais. Desde então, multidões de brasileiros se acostumaram a ir às ruas para exigir mudanças, e um grupo de jovens viu ali uma oportunidade para cultivar a cultura política no país – e empreender!
Trata-se da Politize!, startup criada em 2014 por membros da Global Shapers – uma rede de líderes associada ao Fórum Econômico Mundial – e mais conhecida por sua plataforma online, que oferece conteúdos gratuitos políticos e apartidários com uma linguagem fácil, concisa e didática.
“Aquele ano foi um momento importante de virada, especialmente para jovens que estavam se manifestando pela primeira e dando voz a uma insatisfação muito grande com o cenário político nacional”, fala Diego Calegari, que trabalha na gestão da Politize! e é um dos fundadores.
O interesse crescente pela política trazia consigo um perigo: a falta de informação sobre o funcionamento do sistema, algo que diminuía as chances de se criar um ambiente de debates qualificados e resultados eficazes. “Foi aí que surgiu a ideia de tentar preencher essa lacuna de conhecimento com tecnologia, levando um conteúdo apartidário de maneira fácil e descontraída para qualquer lugar”, continua.
A Politize!
Com a ideia na cabeça, um dos primeiros passos do projeto foi olhar para fora e pesquisar o mercado. Assim, para entender melhor o cenário, Diego conversou com uma centena de atores envolvidos com a política nacional. Queria, primeiramente, entender que espaço não estava sendo ocupado e onde uma contribuição verdadeira poderia ser feita.
“Foi importante fazer esse reconhecimento de campo e entender onde poderíamos somar esforços”, continua Diego, destacando as alianças importantes e boa vontade criadas na época.
Os recursos financeiros iniciais vieram através de um crowdfunding, que arrecadou 67 mil reais em setembro de 2014. Pouco depois, a Politize! levou o prêmio de 10 mil dólares do “Shaping a better future” em Davos, cidade-sede do Fórum Econômico Mundial. Patrocinado pela Coca-Cola, o prêmio escolhe as melhores iniciativas de impacto social.
[Exemplo de infográfico da Politize! / Reprodução]
Quase três anos depois da conquista e um ano após começar a funcionar de fato, a equipe da startup soma oito integrantes fixos e uma rede de voluntários com mais de cinquenta pessoas, que abastece a internet com conteúdo multimídia que trata de transparência, dinheiro público, legislativo, partidos e eleições e democracia digital, entre outros temas.
Os assuntos escolhidos costumam acompanhar o noticiário e vão da linha de sucessão para a Presidência da República (na época do impeachment), o que faz um prefeito (durante as eleições) à base jurídica para indenização de detentos mortos (após as rebeliões em prisões brasileiras).
O público também compareceu: hoje, há entre 700 mil e um milhão de visualizações mensais.
Em expansão
O sucesso da empreitada fez com que o grupo começasse a pensar em novas aplicações para o conteúdo, como podcasts, jogos escolares sobre educação política e um aplicativo próprio sobre o tema. (Atualmente, a equipe já gere o app PolitiQuiz.)
Em 2016, saíram vitoriosos de Davos novamente. Com o novo cheque, pretendem acelerar o amadurecimento da startup e impactar cerca de 15 mil estudantes brasileiros em três anos com o projeto “Politize! nas Escolas”, que trabalhará os temas dos três poderes, ferramentas de acompanhamento do governo e participação social.
Para Diego, que é também Chief Technology Officer dos projetos da Secretaria de Educação de Santa Catarina, uma fonte qualificada de informações é mais importante do que nunca.
“Em uma era em que notícias falsas são criadas e espalhadas, o Politize! é um canal importante de conteúdo consistente e que tem uma curadoria forte”, conta. “É um espaço plural em que pessoas com ideias diferentes podem encontrar ali conhecimento de qualidade para enriquecer seu repertório e tomar uma posição.”
O legado que eles esperam deixar é, no final, uma democracia fortalecida, em que valores como empatia, pensamento crítico e coletivo e responsabilidade pelas próprias escolhas sejam primordiais.
“Queremos que as pessoas tenham capacidade de agir politicamente de forma qualificada e exercitar sua cidadania”, resume Diego. Uma tarefa hercúlea, é verdade – e capaz de enormes consequências.
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