A história do Brasil nos últimos 100 anos certamente se confunde com a história da Copa do Mundo de futebol. E, seja nos momentos de vitória ou nos de derrota, a verdade é que sempre vemos o jogo muito além do esporte.

Nos anos que antecederam nosso primeiro título mundial, por exemplo, o cronista Nelson Rodrigues cunhou em A pátria de chuteiras um termo que, mais tarde, seria analisado para pensar nossa autoestima.

O “complexo de vira-latas” era, segundo o autor, um sentimento coletivo que nos impedia de acreditar no nosso potencial. Por essa postura, dizia ele, acreditávamos ser incapazes de vencer um torneio esportivo, mas também de alcançar grandes feitos de modo geral na vida.

Com o passar do tempo, de 1958 até 2022, campeonatos mundiais sempre representaram uma chance, ainda que esporádica, de mostrarmos que era possível almejar sucesso como nação e como indivíduos.

Mas é isso mesmo? O futebol, a Copa e o modo como lidamos com a vida tem tanta conexão assim?

Para ajudar a pensar o jogo e a vida profissional, o Na Prática traz hoje 3 lições que a Copa do Mundo de 2022 te ensinou e você nem percebeu. Confira a seguir!

#1. O poder de ser autêntico

Richarlison marcou o primeiro gol da caminha rumo ao Hexa da Seleção Brasileira (Imagem: CBF)

Antes da bola rolar no Catar, só os mais fanáticos por futebol conheciam o atacante capixaba Richarlison de Andrade, de 25 anos, que há anos havia deixado o país. Mas, tão logo saiu seu gol incrível na partida de estreia do Brasil, seu nome começou a ser comentado em muitas rodas de conversa.

Acontece que, apesar de Richarlison nunca ter sido unanimidade entre críticos e analistas de futebol, sua força de vontade e garra em campo sempre foram destaque aonde quer que ele fosse. Desde o início da sua carreira no América de Minas Gerais, passando pelo Fluminense e até chegar à Inglaterra, um traço nunca deixou o jogador: a autenticidade.

Valor essencial dos brasileiros, que às vezes são criticados pela imprensa estrangeira por dançar em celebrações, a autenticidade valorizada deu a Richarlison a confiança necessária para ele ser quem é. Na medida em que o jogador era aceito, com suas características essenciais e inerentes, ia ganhando mais confiança como pessoa e atleta.

Exemplos dessa confiança são percebidos dentro e fora de campo. Em entrevista coletiva recente, o jogador se negou a utilizar o tradutor para responder a uma pergunta de um jornalista britânico. “Eu falo inglês, meu amigo”, brincou ele em inglês ao se desafiar em uma língua que ele ainda não domina completamente.

Segundo a pesquisadora Brené Brown, autora de A coragem de ser imperfeito, a vulnerabilidade e a autenticidade são características que denotam inteligência emocional nas pessoas. Para ela, isso ocorre porque pessoas com essas características se permitem errar mais e, com isso, conseguem aprender e se desenvolver mais profundamente. Deixar de reprimir as emoções se torna, nesse caso, a chave para aproveitar o poder da autenticidade.

“Acho que a primeira coisa que temos que fazer é descobrir o que está nos mantendo fora da arena [da vida]. Qual é o medo? Onde e por que queremos ser mais corajosos? Então, temos que descobrir como estamos nos protegendo da vulnerabilidade. Qual é a nossa armadura? Perfeccionismo? Intelectualização? Cinismo? Entorpecimento? Controle?”, questiona Brown em seu TEDTalks. “Foi aí que eu comecei. Não é uma caminhada fácil para essa arena, mas é onde nos tornamos vivos.”

#2. O que é ser velho demais?

Aos 39 anos, Daniel Alves é o jogador mais experiente a atuar pelo Brasil em uma Copa do Mundo de Futebol (Imagem: CBF)

Outro craque da seleção brasileira tem ganhado manchetes e debates nas redes sociais. Ao contrário do que acontece com Richarlison, porém, o lateral direito Daniel Alves, atualmente jogador do Pumas, do México, vem sendo alvo de críticas da torcida brasileira.

O jogador, que tem 39 anos de idade, tem sido considerado “velho demais” para atuar pela Seleção Brasileira. Como acontece em diversas empresas, algumas pessoas acreditam que, após os 30 anos, ele começou a perder valor – ainda mais em um ambiente tão competitivo quanto uma Copa do Mundo.

No Brasil, o cenário é preocupante. Dados de uma pesquisa da consultoria Hype mostram que 39% dos profissionais acima dos 55 anos se sentem descartados pelo mercado de trabalho. Segundo o Ipea, no entanto, mais da metade dos trabalhadores terá mais de 45 anos até 2040.

Em outro ponto, que ajuda a entender as consequências do quadro, um estudo da Toolkit mostra que a exclusão de profissionais com mais de 40 anos aumenta o índice de doenças mentais e custa bilhões em tratamentos aos cofres públicos.

E o caso é que, quando não há preconceito, as empresas acessam uma série de benefícios advindos da experiência. Segundo a Convenia, plataforma de gestão de recursos humanos, profissionais mais velhos comprovadamente:

  • Ampliam a cooperação com ideias para mais jovens
  • Abrem espaço para humanização dos planos de carreira
  • Geram menos rotatividade de funcionários
  • Impulsionam inovação a partir da diversidade
  • Melhoria na reputação da empresa

#3. Resiliência contra os obstáculos

Aos 22 anos, Vinicius Jr foi autor do gol que deu o título de campeão europeu ao Real Madrid (Imagem: CBF)

Outro exemplo de sucesso no futebol brasileiro é o atleta Vinicius Junior, do Real Madrid, que em 2022 foi eleito um dos dez melhores jogadores do mundo. O jovem, que recentemente ganhou a titularidade do Brasil, foi ainda o autor do gol que deu ao seu clube o título de campeão da Europa.

Nos últimos anos, porém, Vinicius Junior precisou superar uma série de desconfianças de torcedores, colegas de clube e jornalistas. Ainda aos 18 anos, logo após desembarcar na Espanha, o carioca de São Gonlaço foi alvo de discriminação racial por parte da imprensa, que passou a subestimar seu pontecial na elite do futebol mundial. Depois, enquanto se adaptava no novo clube, Vinicius precisou lidar ainda com o boicote do principal atacante da sua equipe. Em vídeo gravado no túnel de acesso ao campo de jogo, o atacante francês Karim Benzema recomendou a um outro atleta que não tocasse a bola para o brasileiro. Segundo ele, Vinicius estaria “jogando contra” a equipe.

Pouco tempo depois, mesmo com as críticas e com os pedidos para que ele saísse do time, Vinicius conseguiu conquistar espaço na equipe titular. Com treinos regulares, e sem criar polêmicas com as declarações de terceiros, ele passou a ser um jogador fundamental no seu clube e um dos principais do planeta.

Hoje, Vinicius é respeitado por todos à sua volta, inclusive por seus antigos detratores, e conseguiu seu sucesso porque teve a resiliência necessária para continuar se desenvolvendo mesmo em momentos difíceis.

Segundo a psicóloga Suzanne C. Kobasa, considerada uma das principais estudiosas do assunto, pessoas resilientes são aquelas capazes de:

  • Ver dificuldades como desafios
  • Comprometer-se (consigo e com outros)
  • Manter o autocontrole

Marting Seligman, que se inspirou nos estudos de Kobasa, definiu os 3 passos para se tornar mais resiliente. São eles:

  • Errar sem medo
  • Soltar o controle
  • Ser colaborativo

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