Formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com passagem pela consultoria A.T. Kearney, Bruno Laskowsky já atuou nos cargos mais elevados das principais construtoras e incorporadoras do país, como a Cyrela Commercial Properties e a Viver S/A, onde ocupa hoje a posição de CEO. Apaixonado pelo terceiro setor, onde também atua diariamente, Bruno contou à revista Markets um pouco sobre o início de sua carreira, a mudança de indústria e outros temas. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
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Época universitária
Com o que você pretendia trabalhar quando ingressou na universidade?
Na vida real você tem que estar preparado. No modelo educacional brasileiro, nós vamos para a faculdade muito cedo, não somos maduros o sufciente quando temos 17 anos. Não tinha um plano estruturado. Para encontrar uma carreira que agrade, devemos entender no que temos mais afinidade, buscar nossos pontos fortes. Mas, para conseguirmos abraçar as oportunidades que aparecem, o mais importante é estarmos sempre muito preparados.
A diferença é o quão rapidamente você consegue entender quais são as suas inclinações mais fortes. Eu sempre gostei muito de História, sempre fui muito curioso, gostava de coisas mais estruturadas (com estrutura mais lógica). De alguma forma, você acaba se direcionando em função das suas capacitações. A sacada é você tentar identifcar as coisas que você tem mais afinidade.
Como sou mais analítico, acabei indo para consultoria. Lembro-me ainda da minha primeira dinâmica de emprego, onde eu era o único sem terno e gravata. Mesmo assim, fui o único a ser aprovado do grupo para uma vaga de trainee no Citi Bank. Eu respondi às perguntas da maneira que achava mais racional, mas não sei o que eles realmente viram em mim. O segredo é estar sempre antenado e preparado, assim as oportunidades começam a girar em torno de você.
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Transição profissional
Falando um pouco sobre sua vida profissional, como foi a transição da A.T. Kearney para assumir uma incorporadora?
Fiz carreira em consultoria. Consulting é fascinante, pois você tem muitas experiências diferentes como executivo de várias companhias. Isso lhe dá muita oportunidade, pois é possível falar com muitos executivos de muitas companhias. Dá uma capacidade de estruturação mental um pouco melhor do que a média nas posições mais tradicionais. A pessoa que entra, por exemplo, na Volkswagen, não terá a oportunidade de conversar com o CEO tão cedo. No caso do consulting, até uma pessoa de posições mais baixas terá essa oportunidade.
Me tornei sócio da A.T. Kearney, onde fiquei 12 anos. Eu cuidava da parte de financial services na América Latina e estruturava vários produtos para o Bradesco Prime. Montamos o Banco do Brasil nos EUA, depois, me tornei advisor. Depois de muito tempo dando palpites, obviamente fundamentados, eu estava com muita vontade de ir para o outro lado da mesa.
Eu queria me tornar CEO antes dos 40. Comecei a fazer planos. Fui presidente de uma ONG muito grande, com orçamento de 33 milhões de reais e 210 funcionários. Comecei a me testar nessa ONG. Me vi então como um fundraising e me envolvi completamente na política do dia-a-dia da ONG. Surgiu, então, uma oportunidade. Fui convidado para tocar um projeto em real state [a incorporadora CCP – Cyrela Commercial Properties].
No ambiente de consultoria, as pessoas são muito parecidas com você. Você tem uma identidade cultural muito grande. No outro lado da mesa, a situação é completamente diferente. Eu gostava dessa curiosidade das pessoas, muito parecida com a minha.
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Sobre o terceiro setor
Como conciliar a carreira de CEO de uma grande empresa, que vive atarefado de reuniões, com um trabalho que merece igual tempo e dedicação, como é o de presidir uma grande instituição beneficente?
Gosto muito de falar sobre isso. Existe um plano individual e um coletivo. Nos Estados Unidos o aluno e o alumni têm orgulho da sua faculdade. É obrigação, principalmente quando for pública, de o indivíduo devolver para a sociedade o que a sociedade investiu no aluno. Bill Gates, Warren Buffet, todos esses caras fazem isso!
Aqui no Brasil não existe essa cultura do retorno. Mas esse tema de responsabilidade social está começando a mudar. Faz parte da agenda de cada vez mais gente. Um cara, hoje, que não tem uma visão de coletivo, sinaliza uma visão egoísta de mundo, então ele está com um baita problema. Hoje, faz parte do currículo de qualquer jovem uma atividade extracurricular, se não possuir é porque, com certeza, ele ainda não entendeu o contexto em que vive.
Um dos motivos pelo qual entrei nesse negócio foi o fato de eu querer me testar em um ambiente novo, o do psicólogo, do educador. Eu entendi que eu tinha um valor a adicionar nesse ramo que era a capacidade de gestão. Eu poderia introduzir indicadores, plano de carreira, modelos de bonificação em ONGs. Transformei o bazar da Unibes em, de fato, uma operação de varejo. O bazar da Unibes faturava no ano cerca de 200 mil reais. Hoje fatura 7,5 milhões!
A conciliação do tempo está na cabeça. Sempre dá pra fazer um trabalho como esse. Além da Unibes, eu estou no Proa, que atua na profissionalização de jovens entre 15 e 23 anos. Ontem mesmo (17/12/2014) estava lá vendo os TCCs deles, fiquei super feliz! Gente do Jardim Ângela que, em seis meses, teve uma evolução incrível. Agora eles entendem, por exemplo, o que é gestão de caixa e gestão de clientes. Esse tipo de atividade é complementar tanto no plano individual como no profissional.
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Carolina Mendes é estudante de Administração do Insper, e Silvio Doria é estudante de Administração da Universidade de São Paulo. Ambos são colaboradores da revista Markets. Com publicação trimestral, a Markets é escrita e editada por membros da Liga de Mercado Financeiro (FEA-USP), da InFinance (INSPER), da Consultoria Júnior de Economia (FGV-SP) e da GMF Unicamp (UNICAMP). Este artigo foi originalmente publicado na 9ª edição da revista, disponível na íntegra aqui.