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Estes trainees da gestão pública criaram um coletivo para falar de diversidade racial no governo

Trainees do Vetor Brasil que integram o coletivo Vetor dxs Pretxs

A distância entre as moradias – espalhadas por Pernambuco, Pará, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro – não impediu que um grupo de trainees do Vetor Brasil se reunisse para debater um assunto importante: a importância da diversidade racial para o futuro do país.

Através de seu coletivo Vetor dxs Pretxs, os jovens ajudaram a formular uma nova ação afirmativa da premiada organização, que já está em curso no atual processo seletivo, que seleciona e desenvolve lideranças de alto impacto que queiram trabalhar no setor público por até dois anos. (As inscrições vão até 19/09 e podem ser feitas por aqui.)

Abaixo, o grupo – composto por Amilcar Cardoso, Diego Laurindo, Ellen da Silva, Giovani Rocha, Guilherme Santana, Ivan Brant, Lara Barreto, Lara Vilela, Matheus Lopes e Natália Magalhães Demartino – explica como o coletivo surgiu, compartilha dados sobre a desigualdade racial brasileira e porque um número maior de negros na gestão pública é importante para transformar o Brasil.

O coletivo Vetor dxs Pretxs

Somos jovens de todo o país que compartilham um mesmo valor: queremos construir um Brasil diferente.

Também entendemos que, para pensar o futuro, é preciso levar em conta as diferentes realidades vividas por brasileiros de diferentes contextos regionais, identidade de gênero, raça e religião.

Dentro desse contexto, identificamos que o número de negros finalistas no processo seletivo do Vetor Brasil – um programa de trainees que já se diferencia dos outros ao priorizar a diversidade – correspondia a uma parcela muito menor do que aquela refletida no país.

Foi quando decidimos criar o Vetor dxs Pretxs, um coletivo composto por trainees que se identificam como pretos e pardos – reunidas no grupo “negros”, segundo os critério de declaração de cor do IBGE. Mesmo assim, decidimos estrategicamente nos intitular Vetor dxs Pretxs.

Historicamente, há um distanciamento da identidade negra com o uso de termos como “moreninho”, “escurinho” ou até mesmo a controversa e complexa classificação “pardo”.

Acreditamos que, ao nos declararmos como pretas e pretos, realizamos um ato político fundamental de reconhecimento da contribuição dos afro-descendentes para a história brasileira e de valorização dessa identidade.

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Motivações

O coletivo surgiu da vontade de tornar nosso incômodo um catalisador do debate sobre identidade e desigualdade racial no país e de pensar formas de trazer representatividade racial para a própria rede do Vetor Brasil.

Nossa ação se dá a partir de debates diários por grupos de mensagens e encontros mensais virtuais já que, como trainees de gestão pública do Vetor, vivemos em diferentes partes do país.

Nesses encontros, nosso objetivo é tanto traçar estratégias para aumentar a representação de negros entre os trainees quanto promover um debate sobre o racismo estrutural e suas diversas manifestações objetivas e subjetivas no nosso país, que ainda vive sob a falácia da democracia racial.

Giovani e Ellen, integrantes do Vetor dxs Pretxs e trainees do Vetor Brasil[Giovani Rocha e Ellen da Silva apresentam o conteúdo do Vetor dxs Pretxs em treinamento de trainees / Foto: Vetor Brasil]

Fazemos isso baseados tanto nas experiências pessoais de cada integrante do Vetor dos Pretxs quanto em dados que revelam a gravidade desse cenário.

Basta ver a renda mensal per capita familiar no Brasil: 38,6% dos respondentes negros estão entre os que recebem até meio salário mínimo, enquanto apenas 19,2% dos brancos estão na mesma faixa de renda.

Em espaços de poder, a subrepresentatividade racial é gritante. Na atual Câmara dos Deputados, apenas 20,3% dos representantes são negros ante 50,9% dos negros da população brasileira. Quando falamos de mulheres, a situação é ainda pior: apenas 1,8% das representantes do órgão são mulheres negras, enquanto 27,3% da população se autodeclara como tal.

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A mesma diferença pode ser vista diariamente na mídia, que tem uma imensa capacidade de moldar e reforçar ideias do negro como sempre ocupando espaços de subalternidade.

Um estudo sobre raça e gênero nas novelas brasileiras feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA-UERJ) identificou que, de 1995 até 2014, a média de personagens brancos foi maior que 90% em 11 dos 19 anos avaliados.

Somam-se a esses fatores cenários de vulnerabilidade social nos quais negros têm, na média, níveis mais reduzidos de escolaridade, são menos representados em universidades e têm maiores chances de serem vítimas de homicídios.

Em suma, o entendimento que queremos compartilhar é o de que os desafios do país são sociais, sobretudo raciais. A menos que iniciemos um debate sólido sobre cada uma dessas questões, dificilmente conseguiremos materializar a mudança que queremos causar no Brasil.

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Passos concretos

Recentemente, após uma minuciosa análise dos dados dos processos seletivos do Vetor Brasil, o Vetor dxs Pretxs participou da formulação de uma ação afirmativa que já está em vigor na atual seleção para o programa de trainees.

Agora, na etapa de testes online, candidatos que se autodeclararem pretos no ato da inscrição terão notas de corte diferentes dos demais.

Essa medida foi adotada com o objetivo de aumentar o número de finalistas negros – o que aumenta as chances de termos negros como trainees de alto impacto na gestão pública – e, mais uma vez, permitir que a rede reflita a realidade do país e sirva de exemplo para outras.

Outra importante ação do coletivo foi a formulação de um conteúdo sobre desigualdade racial (que pode ser acessado aqui).

Demandamos da organização um espaço para compartilhar este conhecimento no treinamento presencial dos novos trainees e a experiência teve um retorno positivo dos jovens, que afirmaram ter atentado para várias questões que nunca tinham percebido antes.

Nosso sonho vai além de um Vetor ocupado por negras e negros: queremos que afro-descendentes ocupem todos os espaços possíveis, em especial aqueles de tomada de decisão, visando aumentar a representatividade e a possibilidade de empatia dos líderes com a maioria – e a gestão pública é o caminho que escolhemos para viabilizar este ideal.

 

[1. IPEA – PNAD, Microdados.]
[2. Dados extraídos do texto Johnson III, O. A. and Heringer, R. (2015). Race, Politics, and Education in Brazil:Armative Action in Higher Education. Palgrave Macmillan e do Censo (2010).]

 

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