Muhammad Yunus

Em passagem pelo Brasil durante o mês de maio, o economista e banqueiro Muhammad Yunus, vencedor do Nobel da Paz em 2006, aproveitou para instigar os jovens universitários a desafiarem a teoria e pensarem em novas formas de fazer negócios.

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O comentário fez parte do discurso de lançamento da rede Yunus Universidades no país (até então, só existia na França), que contou com a presença de cerca de setenta representantes de universidades brasileiras. O objetivo é atrair instituições interessadas em aprofundar sua atuação em negócios sociais, uma nova categoria de empresas elaborada pelo próprio economista – onde o impacto social, e não o lucro, é a motivação do negócio.

Para ele, a concentração de capital intelectual nas universidades torna esse ambiente muito propício para a experimentação, porém a academia precisa aprender a ir além de seus próprios muros e promover ações com impacto na sociedade. Para essa mudança de atitude, ele conta com o apoio da nova geração!

“Os jovens querem aprender, mas também querem fazer coisas, e estão demandando isso das universidades”, diz. Citando a experiência da rede Yunus Universidades na França, ele explica que em vez de criarem um think tank (grupo de pessoas que se reúnem para pensar sobre um mesmo tema), os estudantes de lá criaram um action tank, que não corre o risco de perder de vista a ação.

Como exemplo de inovação partindo da academia, ele cita a sua própria experiência na época em que começou a elaborar o conceito de negócios sociais. “Ao contrário das universidades de São Paulo, localizadas em regiões mais centrais, a universidade que eu trabalhava em Bangladesh, embora muito estruturada, fica no meio das vilas bastante pobres”, ele conta. “Isso me fez pensar sobre o isolamento que é a academia.”

“Eu dava minha aula de economia na universidade, mas a alguns metros da minha sala tinham pessoas morrendo de fome. Como mudar isso?”, ele questiona.

Diante dessa situação, Yunus resolveu quebrar essas barreiras de sua própria maneira. Como? Emprestando dinheiro de seu próprio bolso para as famílias mais pobres, sob condições de pagamento mais justas do que as praticadas pelos agiotas da região; até então os bancos tradicionais não tinham demonstrado interesse nessa camada da população. Foi assim, empiricamente, que nasceu o conceito de negócios sociais.

Seu primeiro empréstimo foi de 27 dólares. Ele não sabia, mas essa seria a semente do que em alguns anos se tornaria o Grameen Bank, primeiro banco do mundo especializado em microcrédito para pessoas de baixa renda – iniciativa que também lhe renderia projeção internacional e o prêmio Nobel da Paz, em 2006.

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“Meus colegas na universidade debochavam de mim, achavam que aquilo era uma bobagem, que o que eu estava fazendo era muito pouco e não mudaria a vida de ninguém”, conta Yunus sobre o início do negócio, quando emprestava dinheiro informalmente para um número pequeno de pessoas.

O descrédito da comunidade acadêmica não poderia se provar mais equivocado. Hoje o Grameen já conta com 2185 agências e, desde sua fundação, em 1991, emprestou o equivalente a 5,72 bilhões de dólares para 6,61 milhões de clientes, 97% dos quais são mulheres. Sua taxa de inadimplência é baixíssima, de fazer inveja aos mais bem administrados bancos comerciais do mundo: apenas 1,15%, o que significa que o Grameen recebe de volta 98,85% dos empréstimos que concede.

“A teoria econômica é vazia se você não encontra uma aplicação prática para ela”, conta. Para ele, o trabalho de pesquisa e docência na universidade lhe garantiu um olhar de pássaro, que enxerga o todo, porém a uma grande distância. É importante, mas precisa ser complementado pelo que ele chama de olhar terrestre, que só é possível para quem transpõe os muros da universidade e vai falar com as comunidades, com a população.

Também é preciso tomar cuidado para que essa mesma teoria não seja um fator limitante. “Muitas pessoas falavam para mim que o que eu estava fazendo era impossível, que não era um negócio porque não tinha como objetivo ganhar dinheiro”, ele conta. De acordo com a teoria econômica ortodoxa, eles estavam certos, mas isso não preocupou o economista em nenhum momento.

“Se a teoria não se encaixa no que eu estou fazendo, é a teoria que está errada e não eu”, ele defende. Do mesmo modo que propôs uma nova forma de fazer negócios, Yunus estimula os jovens a empreenderem e não terem medo de ser protagonistas de inovações.

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“Do jeito que é ensinada, a teoria econômica, focada sempre na maximização dos lucros, força as pessoas a pensarem apenas dessa forma. Se a liberdade de inovar começar a fazer parte do processo de aprendizagem das pessoas, elas vão ser capazes de criar um mundo não só diferente, mas melhor”, acredita o economista.

Para ele, o empreendedorismo será a solução para grandes problemas globais, como pobreza, desemprego e mudanças climáticas. Ao final da palestra, o professor conclamou os brasileiros a sair de suas zonas de conforto para buscar soluções criativas para mudar e impactar a realidade. “Temos que incentivar os jovens na universidade a serem criativos. É esse o caminho para surgimento de empreendedores sociais”, concluiu.

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