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O engenheiro por trás da Comic Con Experience

Pierre Mantovani

Se chama Comic Con Experience (ou CCXP) o maior evento de entretenimento pop do país. Sua segunda edição acontece entre 03 e 06/12, em São Paulo, e deve reunir 120 mil participantes entre geeks, empresários, cosplayers, editores, rpgistas, quadrinistas, celebridades, jornalistas e toda sorte de matadores e matadoras de zumbi.

O evento é um desdobramento do portal Omelete, um dos mais antigos a cobrir o mundo nerd brasileiro. Em 2010, após 10 anos produzindo conteúdo e vendendo publicidade, o Omelete passou de nível. Pierre Mantovani, 40, um dos sócios fundadores, assumiu como CEO e o grupo começou a construir um ecossistema de empresas ao seu redor.

Pierre é empreendedor serial, gosta tanto de estruturar empresas quanto de tocar baixo. Porém, ainda na adolescência entendeu que precisava fechar seu mês sem pedir dinheiro para a mãe e que, portanto, seu caminho não seria na música. Foi estudar engenharia elétrica, onde aprendeu programação e a lógica das máquinas, conhecimento que Pierre entende ser “o Matrix dos negócios digitais, igual no filme, aqueles numerinhos caindo, que de repente você entende e tudo faz sentido”. E então, ainda na universidade, abriu a Tribal com seus dois melhores amigos.

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Em 1998, a a agência de marketing digital operava no sotão de sua casa e conseguiu o Citibank como cliente. No ano seguinte, foram para a avenida Paulista, mas gastaram demais e em 2000 recuaram para a Via Funchal, numa sala onde Pierre passou os cabos de rede. Quase quebraram e o empresário entendeu que erros de gestão têm consequência reais na vida de quem faz parte da empreitada.

A empresa se reestruturou e cresceu, conseguiu clientes como Telefonica, ONU, Philips e foi vendida em 2008 para a Digitas, à época a maior agência de marketing digital do mundo. Pierre acompanhou a Tribal por mais três anos, saiu no final de 2010 e logo montou uma aceleradora de empresas, a Techrok. Investiu em seis startups, o Omelete foi a única que deu certo de verdade.

A relação, porém, é bem mais antiga. O Omelete nasceu em 2000, incubado dentro da Tribal. Erico Borgo e Marcelo Forlani, que trabalhavam na empresa, são os grandes geeks por trás do projeto. Os dois realizaram mais de uma década de conteúdo para o Omelete, enquanto Pierre acompanhava decisões administrativas e estratégicas.

Em 2010, propôs assumir a gestão como CEO, queria acelerar o ritmo de trabalho para dominar o mercado. “Eles toparam e hoje colhemos os frutos desse trabalho”, disse.

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Comic Con Experience em NY [TheSharedExperience]

Ecossistema Geek Pierre montou três empresas do ano passado pra cá e não pretende parar. “Mas elas não são para vender, estou construindo porque faz sentido essas empresas conectadas. Hoje, fazer o ecossistema é o que me dá prazer”, diz.

Depois do Omelete veio a Loja Mundo Geek, um e-commerce de produtos relacionados aos universos de fantasia. Ali você encontra desde a garrafa térmica do Batman até o sabre de luz de Darth Vader. O sabre de luz, ou lightsaber, é uma arma elegante. Utilizada por jedis e siths, sua empunhadura é uma engenhoca que utiliza a energia de cristais para emitir um feixe de laser, que é a lâmina luminosa da arma. Seu movimento tem som característco e a espada é infinitamente afiada, capaz de cortar qualquer material sem esforço. Isso nos filmes: a versão da Loja é feita de plástico, custa 69,90 reais e faz quase o mesmo barulho.

Pierre entendeu que histórias dão profundidade a objetos: “Por exemplo, olha este tênis aqui”, e pega o cano alto número 29 que sua filha mais nova, Alicia, deixou sobre a mesa da sala. “Isso aqui poderia ser um tenis rosa com coração. Mas não, é um tênis da Minnie, eu sei disso, você sabe quem é a Minnie, a minha filha sabe, ela já vê a relação atrás do objeto.”

Faz parte da cultura geek o hábito de colecionar quadrinhos, bonecos, peças únicas, peças banais e todo tipo de item que aborde os universos fantásticos de interesse. O Omelete é uma referência brasileira na cobertura destas histórias, com público cativo. Pierre, empresário que entendeu a relação entre narrativa e business, uniu público e produto.

Além do portal, da loja e da conferência, o grupo Omelete acaba de investir 2 milhões de reais na Social Comics, startup brasileira que oferece quadrinhos em streaming, seguindo o mesmo modelo de assinatura por conteúdo do Netflix. Possui, ainda, a CCXP Quest, especializada em turismo ao redor do evento, e está para abrir uma loja especializada em League of Legends, um dos maiores jogos multiplayer do mundo.

A CCXP é o momento de convergência de todo o trabalho.

Experiência e ativação Comic Con quer dizer Comic Conference, conferência de quadrinhos. Não é uma marca, é um tipo de evento e existem várias pelo mundo. A mais famosa é a de San Diego, que absorveu a cultura do cinema da vizinha Los Angeles para realizar um evento mais focado em celebridades da televisão e do cinema do que em desenhistas e escritores de quadrinhos. O Omelete já cobria o evento há anos e só em 2013 Érico e Marcelo conseguiram levar Pierre para lá. Funcionou e ele entendeu que aquela festa daria certo no Brasil.

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O evento é superlativo. Sua primeira edição, em 2014, reuniu 100 000 pessoas. No meio dessa gente toda, no stand da Warner, uma réplica do batmóvel dos anos 60 e da Máquina Mistério, a van psicodélica do Scooby-Doo; mais de 300 quadrinistas assinando seus livros; uma guitarra do Batman autografada pela lenda dos quadrinhos Frank Miller; jovens vestindo roupas colantes com perucas coloridas, empunhando armas de plástico e adorando a experiência.

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Comic Con Experience em SP [CCXP]

Para mitigar os riscos de um evento tão grande, Pierre chamou novos sócios: Renan Pizii, da Piziitoys, a maior empresa de colecionáveis da America Latina e Ivan Costa, da Chiaroscuro Studios, um dos maiores agentes de quadrinistas do mundo. O Omelete trouxe a relação que já mantinha com todos os studios – Disney, Warner, Fox – com canais de TV, indústria de quadrinhos e de games, todos anunciantes do site. Assim, o evento nasceu com amplo relacionamento no mercado onde queria atuar.

A CCXP vende espaço para as marcas montarem seus stands, vende ingresso para o público e espaço publicitário para anunciantes. Pierre entende que a inovação no modelo de negócios não está no evento, mas no modelo do grupo: “Um sponsor não leva apenas o evento, mas também o maior site de cultura pop do país para o ano inteiro. A feira são quatro dias para celebrar um ano de trabalho”.

O grande serviço do Omelete é criar soluções de relacionamento com seu público, estimado em 6 milhões de geeks, nerds ou quase isso. Criam estrategias de comunicação e ativação para empresas de entretenimento: “Quem chega buscando o evento, encontra um ecossistema maior. Ele é poderoso, é o modelo replicável para outros mercados. Temos a intenção de internacionalizar esse jeitinho brasileiro de fazer cultura pop”.

Ano passado, o grupo Omelete cresceu 200% e faturou 14 milhões, impulsionado pelo sucesso da CCXP. Este ano, Pierre espera que o evento tenha público 120 000 pessoas, o máximo permitido na Expo São Paulo, local do evento. No ano que vem, o espaço disponível deve aumentar de 56 para 100 mil metros quadrados e o público deve aumentar junto. “O sábado já está vendido há quatro meses, malandro! 40 mil pessoas e esgotado, olha isso!”

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Ainda há ingressos disponíveis para a quinta-feira, dia 3, (por 139,98 reais a inteira, e a meia-entrada é válida para estudantes ou para quem doar um livro) e para a sexta-feira, dia 4 (por 199,98, no mesmo esquema). Agora, se você é um nerd hardcore mesmo, pode adquirir a credencial “Full Experience”, por 5.999 reais. É um “super pacote especial”, que dá acesso VIP ao estacionamento e prioridade na entrada do evento (filas enormes são comuns), direito a foto e autógrafo com quatro artistas convidados, kit com caneca, camiseta, bonequinhos exclusivos da CCXP, pôster do evento autografado pelo artista e outros mimos.

É possível, ainda, adquirir uma credencial para o evento paralelo à CCXP, o CCXP Business Summit — evento com painéis, mesas redondas e networking que acontece em paralelo à CCXP, voltado a empreendedores do setor — por 999,99 reais.

Um nerd em vendas Pierre não é um geek hardCore. Gosta dos universos de fantasias, foi bastante influenciado pelo pai, este sim um geek de primeira linha que fica arrepiado quando vê o trailer do novo Star Wars. Pierre, nem tanto.

Geek é um tipo de nerd. Nerd é quem nutre um interesse sobre o qual se debruça, estuda e aprende por conta própria, por prazer. Um nerd investe horas para se aprofundar em um assunto, independentemente do que as outras pessoas achem daquilo. Acumula conhecimento e se torna referência. Existem nerds de música, por exemplo, de matemática e de política. Um geek é um nerd de mundos de fantasia. Pierre é nerd de vender.

Hoje, com a maturidade, sente que administrar o caos está ficando normal: “É meio assustador, mas nunca me senti tão multitarefa quanto hoje. Dedico energia mais assertivamente, sabendo distribuir e contaminar pessoas ao redor”. Ele acredita que esse é um ponto de saber escalar tantos negócios ao mesmo tempo: “Voltamos ao relacionamento intrapessoal”.

Seu limite de trabalho é chegar em casa às 19h30. Depois de 15 anos focado no trabalho e nas empresas, sem muito contato com sua família, Pierre fez uma autoanálise e entendeu que precisa estar em casa, com Alicia (1 ano e 5 meses) e Celina (2 e 7), neste horário. Ele recebeu o Draft em sua casa, enquanto as duas pequerruchas sorridentes brincavam em um pula-pula no quintal. O encontro seria no escritório, mas poucas horas antes, recebi o email “Vamos precisar fazer lá em casa porque vou buscar as meninas na escola, tudo bem?”. Pierre passou metade da entrevista com Alicia no colo, até que ela se estabanou, bateu na mesa e começou a chorar: “Ô, gorducha, doeu? Vem cá, vamos curar agora, vem cá, vou dar beijo”.

Por conta do compromisso que assumiu consigo mesmo, com a família, Pierre não marca jantares de negócio. Se preciso for, convida a pessoa para jantar na casa dele, com a esposa e as crianças. O único furo nessa rotina com as meninas é quarta-feira, dia do ensaio da Bala, banda onde toca contrabaixo em músicas do Deep Purple, Led Zeppelin, AC/DC. Pierre também é nerd do rock e abre sorriso para falar do Music Alley, o espaço dedicado à música que a CCXP deste ano vai estrear. Ele fecharam acordos com Gibson, Fender, Marshall e outras produtoras de instrumentos para criar uma área de experimentação, um estúdio aberto para qualquer um tocar o que quiser. Também haverá palco para pocket show e estúdio de tatuagem.

“Nossa disneylandia só fica maior, malandro”, diz o empreendedor serial com skill de vendas e DNA nerd.

“A gente descobriu que com nosso jeitinho brasileiro vamos fazer a ComicCon mais foda do mundo. Por causa da nossa energia, calor humano e da criatividade para criar experiências e ativações incríveis em eventos. Em alguns anos, vamos ser benchmark em muita coisa para o mundo todo, pode anotar”, diz. Empresários do entretenimento pop e seu público agradecem.

 

Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT

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