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Antes dos 18 anos, Pedro e Henrique criaram sozinhos uma empresa milionária

Os empreendedores Pedro e Henrique

Dois talentos precoces, uma empresa milionária chamada Pagar.Me, o futuro pela frente e uma ambição: eles querem um império.

Henrique Dubugras tem 19 anos e coleciona passagens por várias escolas mundo afora. Até terminar o ensino médio, no fim de 2013, foram 12 diferentes, sendo que algumas delas ficavam no Canadá e na Alemanha, onde fez intercâmbio durante um ano. Dos 12 aos 14 anos, começou a deixar a mãe um pouco assustada. “Henrique, de onde está vindo todo esse dinheiro?”, perguntava ela, vendo as cifras subirem cada dia mais em sua conta bancária. O que o garoto tinha criado era uma maneira de burlar o pagamento no popular jogo Ragnarok — e ainda faturar com isso.

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Com sua habilidade precoce na área de programação, criou um servidor pirata para hospedar o seu próprio jogo. Assim, atraiu milhares de gamers tão viciados quanto ele, que pagavam para entrar nessa espécie de “sala” e usar os features criados pelo rapaz.

Pedro Franceschi é ainda mais novo, tem 18, e um talento igualmente assombroso. Além de ter um histórico recheado de aceitações em grandes universidades americanas (Stanford e MIT foram só algumas delas), também pode se gabar por um feito de dar inveja em muito programador com anos de estrada. Conseguiu, quando tinha apenas 12 anos, desbloquear o iPhone 3 no Brasil.

Outra façanha também ficaria famosa: dois anos depois, ele fez com que Siri, o comando de voz da Apple, falasse em português. Mais tarde, criou um aplicativo chamado Quasar, que era um gerenciador de janelas para iPad e que ficou cinco meses na lista dos mais baixados da Apple Store.

O portal Draft conversou com eles, que são bolsistas da Fundação Estudar, para contar um pouco mais sobre a trajetória empreendedora dos dois jovens.

A Pagar.Me, startup que eles criaram, tem dois anos de operação. Henrique e Pedro são as duas cabeças pensantes – e executantes – por trás do sistema de pagamentos online que, hoje, já conta com cerca de 200 clientes em todo o Brasil e movimenta milhões de reais por ano. O talento e a ambição dos dois atraiu investidores. No primeiro ano de operação, a Pagar.Me recebeu uma rodada de investimentos de 1 milhão de reais — e desde então é uma figurinha repetida (e vitoriosa) nas competições de startups pelo mundo. No ano passado, ganhou o Innovation Project, da Payments, em Harvard, e o Spark Awards, da Microsoft, em São Paulo.

A diferença do Pagar.Me para os outros sistemas de pagamento online é que ele é um “meio termo” no mercado: atende empresas pequenas e empresas não tão pequenas. Henrique explica que a principal vantagem de fazer negócio via Pagar.Me é a quantidade de conversões de transações aprovadas e o tempo para receber o dinheiro (na empresa, é de 3 a 6 dias, enquanto nas demais é de 6 a 8 meses). A cada transação feita com o Pagar.Me, a empresa fatura 1,5% + 0,50 centavos.

Leia também: Em carta aos investidores, Warren Buffet elogia ex-bolsista da Fundação Estudar

Obssessão geekie e vontade de estudar nos Estados Unidos

Os dois garotos são interessados por computadores e negócios desde muito cedo. Henrique, por exemplo, apostou de verdade em seu talento com os códigos depois de acompanhar o protagonista de sua série favorita, “Chuck”, na TV: “Quando eu tinha uns 14 anos, comecei a ver muito aquela série chamada Chuck, sabe? O cara era um hacker muito bom, mas bastante atrapalhado. Ele estudou em Stanford e eu fiquei obcecado com a história. Queria estudar em Stanford também. Coloquei isso como a minha missão de vida. Fui procurar brasileiros que tinham se formado lá”.

Foi assim que encontrou Gabriel Benarrós, do Ingresse, um site de venda de ingressos online. O empresário, de 26 anos, havia acabado de se formar e estava começando seu negócio. A proposta de Henrique foi simples: “eu programo o que você precisar, sem cobrar nada, e você me ajuda a estudar em Stanford também.”

Henrique passaria um ano trabalhando com Gabriel, mesmo contra a vontade de mãe, que não achava bom um garoto tão novo trabalhar. Quando deixou o Ingresse, decidiu que queria ter sua própria startup. Aos poucos, fez acontecer. Ele lembra: “Pensei: quero uma startup, quero uma startup, quero uma startup. O Gabriel conseguiu, eu consigo também.”

Nesta época, Henrique conheceu dois de seus melhores amigos hoje em dia: Anderson Ferminiano, que hoje tem o Plaay com o João Pedro Motta, e Gustavo Haddad, que ganhou várias olimpíadas e que se formou no MIT em dois anos. “Juntamos nós três e criamos o EstudarNosEua.com.br, onde o que a gente fazia era, basicamente, disseminar o conteúdo sobre como estudar no exterior para todo mundo que tinha esse interesse, mas que não sabia por onde começar”, lembra.

O EstudarNosEua.com.br virou um sucesso logo de cara: em pouco tempo no ar, teve 500 mil acessos. O aplicativo do site feito pelos garotos também ficou em quarto lugar na área de educação da Apple Store, e o projeto recebeu de empresários uma doação de 30 mil reais.

O interesse na área de educação no exterior só cresceu. Henrique e os amigos tiveram, pouco tempo depois, a ideia de lançar o site EduqueMe, em que aprovados do processo seletivo das universidades americanas criavam um perfil e se candidatavam a bolsas de estudos pagas por empresários. O endereço também foi um sucesso e, por causa dele, o grupo foi convidado para participar da Conferência de Venture Capital das Américas (AVCC), realizada nos Estados Unidos.

Em 2012, quando Henrique tinha apenas 16 anos, o encontro reuniu cerca de 25 empresas em estágio inicial para serem apresentadas aos maiores investidores americanos. Esse foi um dos passos que deixou Henrique de cara com a ideia do Pagar.Me.

Três ideias na rua, antes da certeira chegar

O passo seguinte foi aproveitar a viagem ao exterior para participar do Hackathon, uma competição em que programadores têm 24 horas para criar e tirar do papel ideias de programas, sites, aplicativos e afins. Henrique e os amigos criaram o AskMeOut, o primeiro aplicativo, segundo o jovem empresário, que dava um match entre pessoas, como faz o Tinder atualmente.

“O AskMeOut era o Tinder da época, mas um pouco mais nerd. Em vez de disponibilizar perfis por geolocalização, ele dava um match com amigos do seu Facebook. O conceito era: existe uma menina lá com quem você convive diariamente, mas você não quer chegar nela porque se ela falar que ‘não’ vai ficar meio awkward. Então você dá like e, se ela der like também, o app manda o match. Ganhamos a competição com esse aplicativo. O prêmio foi de 50 mil reais”, conta Henrique.

Logo que o aplicativo entrou no ar, Henrique percebeu um problema que considerava grave: os homens sempre clicavam em match com todas as meninas — o interesse era só de se dar bem mesmo, mas as mulheres não. O engajamento feminino no aplicativo era bem menor. Daí a ideia de fazer com que ele tivesse um feature pago.

“Decidimos começar a cobrar os homens. Se eles quisessem descobrir quem era a menina que tinha dado um match de volta, teriam que desembolsar cinco dólares. Só que o processo de implementação do sistema de pagamentos demorou muito tempo, umas duas semanas. Foi difícil achar um sistema que fosse ideal pra gente. Mais ou menos nesta época, conheci o Pedro”, conta Henrique. Pedro foi o terceiro passo para que a Pagar.Me saísse do papel.

Pedro e Henrique se conheceram via Twitter. Henrique começou a segui-lo e percebeu muitas postagens sobre um editor de textos de programação. Não aguentou ficar quieto. Achava que o seu editor de textos era melhor do que o dele. “Tem um negócio no mundo da programação que é quase igual aos times de futebol. O Vim é o Corinthians, que é bom, e o IMAX é o São Paulo, que é ruim”, conta ele.

Por causa dos editores de texto, Pedro e Henrique começaram uma discussão pela rede social. Quando a briga já não cabia mais em 140 caracteres, os garotos levaram a conversa para o Skype. E quando não deu mais para brigar por Skype, eles viraram melhores amigos.

O Pagar.Me seria lançado em 2013, após as tentativas frustradas de adaptar pagamentos para o AskMeOut, criado anteriormente por Henrique. Henrique, que sabia que Pedro já tinha experiência com pagamentos mobile, já que ele trabalhou um tempo numa empresa chamada M4U, posteriormente adquirida pela Cielo, começou a discutir possibilidades com o amigo.

“Por Skype mesmo, começamos um brainstorm do que seria um sistema ideal de pagamentos. Foi aí que pensamos no Pagar.Me. Nos inspiramos, no começo, no que dava certo no mercado e o que era possível fazer aqui. A gente olhava para várias empresas e falava: essa parte específica aqui é boa. As duas principais inspirações foram a Stripe e a Braintree”, revela.

Os investidores chegaram em julho daquele ano, com uma rodada de R$ 1 milhão nas mãos. “O Daniel Ibri, da Grid Investiments, e a ArpexCapital, foram os primeiros a investir na nossa ideia. Fizeram isso mais por causa da gente mesmo, porque nesta época nós só tínhamos mesmo a ideia, ainda não havíamos colocado em prática, não havia operação”, lembra Henrique, que hoje divide um andar inteiro em um prédio na movimentada Avenida Faria Lima com mais empresas do ramo.

Assista ao bate-papo do Na Prática com Bernardo Hees, presidente da Heinz e ex-bolsista da Fundação Estudar

O Pagar.Me entrou no ar seis meses depois, após muito aprendizado. Henrique diz que os garotos precisaram criar moral no mundo adulto. “O conselho que eu dou para quem quer empreender, jovem ou não, é pegar e fazer. Você vai aprender no caminho mesmo, foi o que aconteceu com a gente. Hoje, por exemplo, eu toco mais a parte de negócios. Eu vendo o que o Pedro entrega. É legal porque eu tenho muita noção da parte técnica, já que sou programador também, então consigo fazer uma venda mais especializada, que é o que o mercado pede. Hoje em dia também já consigo até ensinar o time a fazer esse comercial. Você cria confiança com o tempo”, conta.

Em 2014, a startup bateu sua principal meta do ano: dar lucro. Para 2015, a projeção é de que transacione 500 milhões de reais. Este ano também será o último de Henrique e Pedro no Brasil: os dois finalmente realizarão o antigo sonho de estudar no exterior. Foram aceitos em 2014 em Stanford, mas trancaram a matrícula por dois anos para tocar a empresa. Em 2016, garantem que assumem as vagas.

“Foi muito legal quando passamos. O processo de aplicação é bem difícil, bem complicado. Você passa o ano todo buscando os documentos e fazendo as provas e redações que eles pedem. Junto a tudo isso, passamos também para a bolsa de estudos da Fundação Estudar. Não pagaremos nada pelo curso. Somos amigos e já decidimos: não vamos perder a bolsa em Stanford. Vamos treinar gente para ficar aqui e a gente coordenar a Pagar.Me de lá. Se rolar mesmo, vamos juntos. O que decidimos é isso. Ou ficamos aqui juntos, ou vamos pra lá juntos. Separados, de jeito nenhum”, dizem em coro.

A ambição de Henrique e Pedro é formar uma gigante no Brasil. Eles querem disponibilizar produtos que se completam e que facilitam a vida dos usuários. “Não queremos criar uma empresa apenas. Nosso sonho é criar um império”, diz o empreendedor. Stanford já é o primeiro passo para isso. O futuro do empreendorismo no Brasil está nas mãos de gente faminta como eles. Ainda bem.

Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT 

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