O sonho de muitos pais é que o filho ou filha se forme em medicina. Mas, e quando ele começa a faculdade e descobre que existe algo que lhe dá mais prazer na vida? Nesse tipo de situação, a desconfiança da família tende a ser grande… Ainda assim, nada que tenha amedrontado o ator Fred Veloso, que percebeu que pode promover o bem-estar das pessoas para além dos hospitais — mais especificamente, em cima do palco.
Filho de um biomédico, Fred Veloso foi aprovado no concorrido vestibular de medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). No quarto ano do curso, em 2006, participou de um projeto de extensão do Diretório Acadêmico chamado “O Caminho”, que promovia encontros entre estudantes e pacientes do Hospital das Clínicas afim de humanizar o atendimento hospitalar. Nesses encontros, passava muito tempo com os pacientes e interagia com eles, promovendo pequenos jogos ou sketches (atuações rápidas). Ali, ele finalmente encontrou o que lhe deixava feliz.
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“Quando eu comecei a fazer teatro para aqueles pacientes, eu me senti feliz — pela primeira vez — diante de um ofício. É difícil explicar, mas eu sempre busquei ser médico por um motivo nobre, de ajudar o próximo, de fazer a diferença, mas eu nunca havia pensado no que eu realmente queria”, afirma Veloso.
As coisas ficaram mais sérias e, ao lado de outros colegas, decidiu sair daquele projeto para criar um grupo de teatro amador chamado “Os Pelegos”. Nesse grupo, Fred teve contato com o renomado ator Jorge de Paula, grande fonte de inspiração para a mudança de carreira.
“Jorge de Paula foi o meu grande mentor e inspirador para que eu mudasse de carreira. O grupo amador foi crescendo, Jorge nos orientou para fazer uma peça infantil e, por meio de conversas com ele, eu finalmente percebi que tinha que mudar de carreira. Que, apesar de achar medicina muito legal, era de atuação e do palco que eu gostava mais, o que eu amava fazer e era feliz fazendo”, afirma o ator.
Com a nova paixão, Veloso decidiu abandonar a faculdade de medicina, mas foi convencido pela mãe a terminar o curso. Medicina e Teatro passaram a conviver até o fim da graduação, mas ele sabia o que realmente queria. “Sempre estudei o dobro do necessário para todos os meus trabalhos como médico. Eu nunca queria ser chamado atenção por levar ‘uma vida dupla’, de ser médico querendo ser ator”, explica.
A rotina na medicina, quase sempre ligada à área de emergência, tinha alguns obstáculos. “O que mais me incomoda é que o ambiente de trabalho é muito fechado. Os médicos acham que tudo gira ao redor daquilo ali e que não há nada lá fora. É um mundo fechado, onde as pessoas consideram que ter mais técnica significa serem melhores médicos e desconsideram que o mundo e os seres humanos têm outras multitudes”, analisa.
Com todo seu talento atuando, a estreia como profissional no teatro não demorou e veio em julho de 2007 com a peça O Rififi no Picadeiro, com texto de Marco Camarotti, grande pesquisador de teatro infantil. Já formado em medicina, Fred Veloso decidiu estudar teatro fora do país. Fez um curso de verão na tradicional Escola Guildhall, na Inglaterra, e depois, em 2010, foi aprovado na escola Stella Adler, em Nova York (EUA).
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Assim, o jovem que descobriu o teatro durante o curso de medicina ingressava na escola de atuação que formou atores do porte de Marlon Brando, Robert De Niro, Warren Beatty, Elaine Stritch e Candice Bergen.
Autoconhecimento A vida fora do país não é nada glamorosa, ao contrário do que muitos podem imaginar. Fred credita um aprendizado enorme ao período morando nos Estados Unidos. “Viver fora do Brasil me abriu os olhos para entender muito mais sobre minha personalidade. Acho que me ajudou a entender que sou eu que tenho que fazer as coisas acontecerem. Aqui no Brasil a gente gosta muito de estereótipos. Falo às pessoas que sou ator e fiz peça infantil, então eles julgam uma peça de má qualidade com palhaços esquisitos e gente gritando e cantando músicas no palco. Eu falo que sou médico, então eles acham que sou Patch Adams [médico que inspirou o filme estrelado por Robin Williams]”, afirma.
Depois de graduado, voltou ao Rio de Janeiro e ainda concilia a rotina de médico com os palcos. E, segundo ele, existem habilidades comuns nos dois ramos. “Eu ainda trabalho como médico, tenho que pagar o aluguel (risos)! Mas eu decoro textos muito facilmente como ator, porque eu tinha milhares de técnicas mnemónicas que tive que aprender fazendo medicina. Decorar em medicina é como respirar. Logo, como ator, fica fácil memorizar textos. Mesmo Shakespeare, que tive que encarar mais de uma vez em inglês, foi bem tranquilo”, ressalta.
E os pacientes que são atendidos pelo médico Fred Veloso ganham de brinde sonhos especiais. “Eu penso em teatro todo dia, pratico textos todos os dias. Faço monólogos de Shakespeare para meus pacientes dormindo — assim eles não pensam que eu sou louco — e isso me deixa muito feliz. Qualquer oportunidade para atuar é infinitamente bem-vinda. Mesmo que seja um pequeno teste”, relata.
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Para o futuro, Fred Veloso pretende se afirmar como ator e se dedicar integralmente à nova carreira. “Ser ator não é fácil, obviamente. Eu não me importo, eu sei o que me faz feliz e eu vou buscar isso para sempre. Eu penso que, no futuro, estarei fazendo muito teatro, filme, seriados, tv …Parece fantasioso e talvez seja, mas eu não consigo visualizar outra pessoa daqui a dez ou vinte anos”, finaliza.