Para Malcolm Gladwell, autor de bestsellers como Outliers e Ponto de Virada, ser fraco não representa necessariamente um prejuízo – pelo contrário, pode ser a vantagem competitiva determinante para o sucesso no mundo do empreendedorismo.
O raciocínio está explicado em seu último livro, Davi e Golias: enquanto líderes famosos, executivos bem-sucedidos e grandes empresas encontram-se em uma situação confortável no topo, são as pessoas e startups que estão começando e ainda batalhando pelo seu espaço que tem mais urgência em fazer as coisas acontecerem – e por isso mesmo acabam sendo mais ágeis e inovadores, desbancando os figurões do mercado.
Foi assim com o surgimento da Apple, o estouro da Ikea, e até mesmo a invenção do transporte por containers. Todos esses feitos foram executados pelo que o autor chama de underdogs, empreendedores improváveis que começaram do zero, com poucos recursos e uma liberdade enorme para arriscar.
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Para ele, esse ponto de virada na vida do underdog é uma questão de atitude – “algo tão ou mais importante do que dinheiro ou habilidades”, ele explicou durante palestra nessa segunda-feira (9/11), no evento HSM ExpoManagement, em que o Na Prática esteve presente. Segundo o autor, existem três atitudes de liderança que são essenciais a quem quer ser um empreendedor bem-sucedido – e que costumam ser mais abundantes em quem começa na desvantagem:
1. Seja aberto e criativo
“Para inovar, é preciso combinar o pensamento criativo, que foge do óbvio, com um mente aberta e curiosa”, explica Gladwell. Para ilustrar seu pensamento, assim como costuma fazer em seus livros, ele traz uma série de exemplos, que vão desde Malcom McLean, um fazendeiro e caminhoneiro que criou a técnica moderna de transporte de containers em navios, até o artesão sueco Ingvar Kamprad, fundador da Ikea, uma das maiores lojas de móveis do mundo.
Ao perceber que gastava grande parte de seu tempo montando móveis que, depois de prontos, eram extremamente complicados de ser transportados até seus clientes, Ingvar teve a ideia de vender os móveis desmontados para que as pessoas juntassem as peças em casa. Segundo Gladwell, o pequeno artesão inverteu toda a lógica da indústria moveleira até então. Só foi capaz disso porque tinha a mente aberta para conceber uma nova maneira de funcionamento para sua indústria, e era pequeno o suficiente para tomar grandes riscos sem maiores consequências.
Da mesma forma, Mclean precisou de uma alta propensão à abstração para poder levar a lógica de preenchimento de um caminhão para o transporte hidroviário – algo que ninguém havia feito antes – barateando a forma de levar cargas para qualquer canto do mundo com os containers. Empresas gigantescas que haviam sido líderes de mercado por décadas não foram capazes de inovar com tamanha criatividade quanto o pequeno fazendeiro, pois estavam acomodadas na liderança e convencidas pelo bom histórico da sua própria forma de transportar mercadorias. “Quando temos menos recursos, somos mais criativos”, explica o autor.
2. Seja meticuloso e focado
Além de ser criativo o suficiente para inovar, o líder também precisa de organização e foco para fazer a inovação acontecer. “É muito raro encontrar essa combinação de características em alguém”, constata Gladwell. Assim, o empreendedor de sucesso deve ser capaz de seguir com as ideias de maneira ágil e eficiente. Foi esse o diferencial que fez com que Steve Jobs lançasse o Macintosh no início dos anos 80, um dos produtos mais icônicos do Vale do Silício e que colocou a Apple, uma empresa até então desconhecida, no centro do mapa da inovação tecnológica.
A ideia por trás do sucesso do Macintosh – um mouse que permite navegar por ícones na tela do computador – havia sido vista por Steve Jobs alguns anos antes, em visita a Xerox, uma empresa gigante entre as mais lucrativas da época. Apaixonado pelo que viu, Jobs levou a proposta do mouse para sua pequena empresa e estava disposto a botar a inovação no mercado o quanto antes. Foi através de um processo bastante meticuloso e focado que ele conseguiu orquestrar os seus engenheiros em torno do desenvolvimento dessa nova feature de maneira ágil e eficaz, lançando o produto primeiro.
É claro que a Xerox tinha muito mais recursos do que ele – mas aqui, mais uma vez, ser o gigante pode representar uma desvantagem. Steve era mais inteligente que a Xerox? Não, a companhia agregava muito mais capital intelectual do que ele. Era mais visionário? Também não, já que a própria Xerox havia enxergado primeiro a inovação. Então, qual era sua vantagem? A urgência. Steve era o underdog, um pequeno empresário sem nada a perder lutando para que sua startup não falisse. Ele precisava surgir com algo logo, enquanto a Xerox estava confortável no topo.
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3. Seja dissidente e desagradável
Não queira agradar as pessoas ao seu redor, e esteja disposto a ir em frente com seu projeto mesmo que todos pensem que você é louco. Quando Ingvar decidiu mudar sua empresa da Suécia para a Polônia, onde estavam os melhores artesãos, muitos o consideraram louco. A Polônia, na época, era um país socialista em plena Guerra Fria. “As pessoas deram as costas para ele, disseram que ele era um traidor. Mas Ingvar seguiu em frente, porque não tem medo de ser desagradável”, explica Gladwell. Para ele, o empreendedor pode agir com tamanha ousadia porque era um underdog – não tinha uma posição respeitada na Suécia que restringisse sua liberdade de mudar de país, de fazer diferente.
O problema do sucesso “Essa forma de pensar o problema, de ir na direção contrária e inovar de maneira focada, é muito mais comum de ser encontrada nos underdogs do que nos grandes players de um mercado”, explica Gladwell, usando como base a extensa pesquisa que fez para seu livro. “Mas isso às vezes se perde quando o underdog se torna uma grande empresa”, alerta. Mais uma vez justificando seu ponto de vista com um exemplo, ele cita a Microsoft, que nos anos 80 era o underdog competindo com a gigante IBM. Hoje, a empresa de Bill Gates se tornou tão grande quanto a própria IBM, e da mesma forma vem sendo desbancada por startups muito menores porém bem mais inovadoras.
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“O sucesso tende a minar as próprias características que o tornaram possível”, constata o escritor. Para ele, fugir dessa armadilha deve ser uma preocupação constante de todo empreendedor.