Lisiane Lemos

Embora hoje estampe jornais e revistas frequentemente, não faz tanto tempo que a questão da representatividade e da diversidade – de gênero, étnico-racial, de orientação sexual – entre profissionais entrou de verdade em pauta para empresas do Brasil e do mundo.

Apesar de ser um tema defendido há muito tempo por uma parcela da população, a questão subiu na lista de prioridades conforme a sociedade passou a exigir mudanças e relatórios influentes, como o famoso Diversity Matters, da McKinsey, destacaram as vantagens competitivas que essas ações trazem.

Uma empresa mais diversa se destaca das outras, por exemplo, por ter mais pontos de vista, o que resulta em soluções mais criativas, maior resiliência e produtos melhores, que contemplem uma parcela maior da população.

Segundo a McKinsey, empresas etnicamente mais diversas são 35% mais propensas a terem uma performance superior às menos diversas.

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Um outro ponto importante é que, na batalha cada vez mais ferrenha pelos melhores talentos – que podem vir de qualquer lugar –, é importante tanto atrai-los quanto retê-los. Para isso, é preciso mostrar que existe ambiente inclusivo que combina com eles.

No espaço de diversidade racial, o Brasil – cuja população é de maioria negra – claramente tem muito espaço para avançar.

De acordo com outro relatório, Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, há um afunilamento hierárquico em curso.

Entre as empresas analisadas, negros representam 57,5% dos aprendizes e 58,2% dos trainees (estagiários são 28,8%). No entanto, apenas 6% ascendem à gerência. No quadro executivo, são 4,7%. No conselho de administração, 4,9%.

No caso de mulheres negras, a diferença é ainda maior: apenas 1,6% delas ocupa cargos de gerência. Entre altos executivos, são 0,4%, especificamente duas pessoas – e a única CEO negra do Brasil é Rachel Maia, que lidera a Pandora Joias.

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Conheça Lisiane Lemos

Pensando nisso, o NaPrática.org conversou com Lisiane Lemos, especialista em soluções na Microsoft. Junto com Wagner Cerqueira, Vinicius Vidica e Nanda Thomas, ela fundou a Rede de Profissionais Negros, uma ONG que conecta profissionais negros e empresas em busca de talentos.

Formada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas, ela ocupou diversos postos na AIESEC e entrou na Microsoft um ano após se formar, em 2013. Em 2017, apareceu na lista da Forbes Brasil entre os 91 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos.

Na Microsoft ela também participa do Blacks At Microsoft (BAM), onde funcionários debatem o tema. A empresa tem diversos programas de inclusão e diversidade voltado para negros, mulheres, pessoas LGBT e pessoas com deficiência e no Brasil é liderada por uma mulher, a CEO Paula Bellizia.

O recado de Lisiane é claro: seja uma startup ou uma grande multinacional, todo tipo de empresa pode fazer mais por um país mais inclusivo e representativo – e não é difícil começar.

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Na Prática: Como sua trajetória profissional te trouxe até onde está hoje?

Resumo em estar sempre preparada para o desafio que estava à minha frente, o que envolve algumas renúncias, além de estudar e me preparar mais do que o esperado em diversas situações.

Essas atitudes e boas oportunidades de pôr [conhecimentos] em prática me ajudaram a chegar onde estou agora aos 28 anos: tendo liderado mais de 300 pessoas, vivido no continente africano, ser palestrante em diversos eventos, eleita como uma das jovens que causam a diferença no Brasil e, no último mês, solidificar essa jornada como TEDx speaker.

NP: Que diferença uma iniciativa como o Blacks at Microsoft podem fazer num ambiente corporativo?

Para qualquer funcionário, iniciativas como o Blacks at Microsoft são uma rede de contatos e segurança dentro da empresa, onde ele pode compartilhar dores particulares que todas as minorias têm.

Para o mercado, é uma sinalização de que a empresa tem uma política de atração e retenção que considera as particularidades das minorias. Além disso, é a chance de mostrar para todos que ela se preocupa e está disposta a debater a questão.

NP: Como o preconceito se faz presente para profissionais como você no Brasil?

Primeiro, acho que devemos enfatizar que o preconceito não se dá para o profissional: ele se faz presente para a pessoa. São comuns episódios de perguntarem se trabalho em um restaurante ou uma loja, por exemplo.

Também há momentos que buscam revalidar qualquer título que possuo. Já encontrei pessoas que questionam eu ter feito MBA, perguntam por qual instituição eu consegui e segue nesse tom.

São perguntas sobre minha carreira que deixam claro a existência de preconceito. No entanto, nunca fui impedida de entrar em algum lugar.

O problema do racismo no Brasil não é explícito – e essa é a maior dificuldade em combatê-lo. No meu caso, acrescenta-se que eu sou jovem, mulher e negra no mercado corporativo.

Tenho um ambiente de trabalho confortável, mas preciso lembrar que existem pessoas em outros ambientes que estão desconfortáveis e que não conseguem se sentir parte deles. Preciso então usar esse apoio da Microsoft para alavancar essas pessoas e ajudá-las como eu conseguir.

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NP: Por que criou a Rede de Profissionais Negros?

A Rede surgiu em 2016 quando eu fui ao São Paulo Diverso, um evento organizado pela Secretaria Municipal de Promoção de Igualdade Social de São Paulo com a Microsoft. Lá, encontrei outros profissionais de diferentes empresas que tinham a mesma visão que eu sobre a questão racial em empresas e buscavam fomentar ainda mais esse diálogo no mercado de trabalho.

É uma ONG independente e que busca ser um ambiente neutro e seguro, focado em nos posicionar como referência para os que estão começando e valorizar o trabalho dos que vieram antes de nós. Além disso, buscamos ajudar empresas que querem começar na jornada e, o principal, provar que existem profissionais negros qualificados.

NP: Por que é importante fazer a ponte entre profissionais negros e empresas?

Essa ponte é importante porque, pelo que acompanho, a jornada da diversidade racial é recente e começou a aparecer como política corporativa há aproximadamente quatro anos. Muitos profissionais não enxergam seu lugar na empresa e nós podemos dar suporte a eles e às empresas para tentar mudar esse cenário.

NP: O que outras empresas (de pequeno, médio ou grande porte) podem fazer para auxiliar profissionais negros no país?

Para quem deseja iniciar na jornada, aconselho dois passos simples.

Primeiro, as empresas têm que mostrar que estão engajadas na questão racial. Se eu não consigo me enxergar naquela empresa, não vou considerá-la como um lugar para o qual devo me candidatar. Por exemplo: campanhas de marketing monocromáticas não estimulam negros a utilizarem os produtos das empresas e terem vontade de trabalhar nelas.

Concomitantemente, precisam demonstrar que a igualdade racial é um interesse delas e devem notificar essa vontade de querer aprender sobre o assunto para que os profissionais possam questioná-las sobre suas propostas.

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