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Wellington Vitorino / Reprodução

A agenda de Wellington Trindade é cheia. Com pouco mais de 20 anos,
ele acabou de se formar no Ibmec, onde cursou Administração de Empresas, e mesmo com uma vida profissional atribulada ainda encontra tempo para cuidar de seus projetos. O principal deles é o Programa ProLíder, curso gratuito que começou em maio de 2016 com o objetivo dar boas bases para futuras lideranças públicas no Brasil. Hoje, o programa faz parte do Instituto Four, iniciativa também de Wellington e que pretende abarcar também outros projetos.

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Wellington faz parte do Líderes Estudar, rede de jovens talentos apoiados pela Fundação Estudar. Seus valores, explica, foram moldados ao longo de suas experiências. Diz que o senso de legado e vontade de retribuir, por exemplo, vêm dos tempos em que vendia picolé no Batalhão da Polícia Militar, dos 12 aos 15 anos – a vontade de trabalhar e ganhar o próprio dinheiro já existia desde a infância. “Tinha um combinado com o comandante-geral de mostrar meu boletim todo final de semestre”, lembra ele, sobre a condição para ser autorizado a fazer suas vendas por lá. “Até hoje mantemos contato.”

Na época, Wellington cogitava entrar na força militar e quem sabe se tornar Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Mudou de ideia sobre o trajeto, mas não sobre a vontade de impactar a sociedade. Hoje cogita a carreira política, entre outras áreas – e fala abertamente sobre o sonho de, um dia, ser presidente do Brasil. Mas antes, insiste em construir uma carreira sólida, estudar fora e adquirir independência financeira. 

Ainda no ensino médio, teve outra vivência intensiva na realidade da gestão pública quando ganhou bolsa para estudar na Escola Parque, na Gávea, área nobre do Rio de Janeiro. Foi convidado por uma professora a passar as noites em uma escola pública da região para evitar o (longo) trajeto diário até São Gonçalo, onde morava. Para retribuir, Wellington se oferecia como monitor voluntário e ajudava na limpeza.

Estudando com bolsa em uma escola de primeira linha, ficou indignado com os contrastes entre o ensino público e particular. “Quando faltava algum professor – e sempre faltava! –, eu entrava para dar monitoria. Houve dias que entrei de segunda à sexta”, lembra.

A rotina já era puxada: Wellington estudava das 7h às 17h e acompanhava os alunos das 17h às 22h. Mas a generosidade é natural. “Dentro das minhas condições e habilidades, me sinto no dever de retribuir”, explica ele, que também já tinha feito parte do grêmio estudantil e foi representante de turma. Hoje, faz parte do diretório acadêmico no Ibmec.

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Curso de liderança ProLíder

O Programa ProLíder foi criado junto com colegas, todos estudantes universitários de diferentes cursos e faculdades como: Ibmec, FGV, PUC e UFMG – e que atuam como voluntários. Desses, três tiveram papel fundamental na concepção do ProLíder, fruto de conversas que vinham desde a época do colégio sobre o protagonismo da juventude nas transformações do país: os colegas de sala Everson Alcântara, Jonatas Lessa e Pedro Magessi. Ainda assim, ele faz questão de que o texto mencione as outras pessoas que, hoje, fazem o projeto acontecer: Letícia Fernandes, Pedro Seixas, Barbara Romeiro, Wanderson Trindade, Isaac Carvalho e Geovanna Vieira.

“Sempre pensamos em ajudar de alguma forma”, diz Wellington. A faísca veio em novembro de 2015, quando fez pela segunda vez o Laboratório, programa de desenvolvimento de lideranças do Na Prática e que estimula os participantes a tirarem projetos do papel. Em palestra que dividiu com o Nizan Guanaes, ouviu o empreendedor falar sobre quem tem as ferramentas nas mãos e muitas vezes não faz acontecer. 

Diante dessa provocação, a ideia veio literalmente da noite pro dia: na manhã seguinte, o projeto já estava formado na cabeça do estudante. “É um programa de discussão do cenário brasileiro através de aulas e discussões sobre as grandes áreas públicas”, resume.

A intenção é desenvolver futuras lideranças para solucionar os desafios do país, ele explica. Embora o foco esteja nos desafios da esfera pública – que se colocam mais urgentes para o avanço do país – os participantes não precisam, necessariamente, estar interessados em trabalhar no setor público.

Ao longo de cerca de dezoito encontros, sempre aos sábados e em São Paulo, um grupo de jovens com idades entre 18 e 34 anos tem aulas temáticas sobre educação, economia, ética, ciência política e segurança, entre outros, aprendendo diretamente com nomes que são referência nessas áras. Além de participar de leituras e debates, é preciso entregar um projeto final para uma banca julgadora. Para quem é de fora de São Paulo, é possível conseguir uma bolsa para auxiliar com as despesas de transporte. 

Conexão

Wellington entrou em contato com profissionais da área, incluindo atuais e antigos funcionários de governos, CEOs e executivos, para angariar formadores e mentores, além de convidados para paineis. A recepção tem sido positiva. Dez deles já estão confirmados, incluindo Fernando Schüler, professor e ex-Secretário de Estado da Justiça e do Desenvolvimento Social do Estado do Rio Grande do Sul; Marcos Vono, especialista em recursos humanos; Renato Mazzola, sócio do BTG e ex-gestor do Banco Mundial; Marcelo Barbará, CEO do RB Capital, entre outros. “Quando você mete a cara, as pessoas dão atenção e as portas vão se abrindo”, diz Wellington.

Para entender mais sobre os entraves da educação no país, por exemplo, os participantes da última edição tiveram a oportunidade de conversar com Claudia Costin – entre vários outros convidados sobre esse mesmo tópico, que foi o mais discutido. Ex-ministra do governo FHC, ela também já foi diretora de educação no Banco Mundial, secretária municipal de educação do Rio de Janeiro e lecionou em Harvard.

“A abordagem era sempre muito prática, de como fazer as coisas realmente acontecerem”, explica Melissa Benito, que tinha acabado de voltar de um Mestrado em Políticas Públicas na Holanda quando participou da primeira edição.

“Falta a prática para os nossos líderes públicos, por isso focamos em sempre fazer um debate que é aplicável, não ficar só na teoria”, completa o estudante de medicina Bruno Morato, que também faz parte da rede de Líderes Estudar e hoje trabalha na consultoria McKinsey.

Apartidário

Wellington faz questão de destacar: o caráter do ProLíder é apartidário. “A intenção é desenvolver futuras lideranças públicas”, fala.

O processo seletivo leva em conta competências como capacidade de mobilização e cooperação, além de qualidades como integridade, lealdade e ética. “Procuramos pessoas que voltarão para ajudar o projeto de alguma forma.”

A troca livre de ideias é outro pilar do ProLíder, que tem participantes das mais diversas vertentes políticas e ideológicas. “Ninguém nunca vai te execrar por ter uma opinião diferente, e essa abertura sobe muito o nível do debate. Eu aprendi a aceitar muito mais visões diferentes sobre um mesmo assunto”, explica Melissa.

“Hoje eu sou uma pessoa completamente diferente do que era quando entrei e grande parte disso é porque ninguém estava ali para convencer os outros da sua verdade, estavam ali para debater e melhorar o seu conhecimento”, complementa o advogado César Lucca, que também participou da primeira edição do programa, em 2016.

“Me dava um prazer imenso estar no sábado lá e ver gente de alto nível tendo essas discussões práticas, querendo resolver algo”, completa Melissa.

Em um contexto em que dias de folga são cada vez mais raros, ter jovens dispostos a abrir mão de parte do final de semana para se dedicar aos grandes desafios que o país enfrenta, pode ser, de fato, o que o Brasil realmente precisa.

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