Fachada de vidro de prédio

Nenhuma comparação é tão adequada para um fundo de investimento quanto com um condomínio. Os investidores nada mais são que condôminos que rateiam as despesas com a administração do patrimônio para garantir sua contínua valorização. Ao invés de ser dono de um imóvel, cada investidor detém quotas de um fundo que investe em títulos ou valores mobiliários. O gestor tem responsabilidades parecidas com a do síndico. É ele quem vai contratar os profissionais que darão suporte ao fundo e decidir onde colocar o dinheiro dos condôminos baseado em um estatuto – ou melhor, prospecto. Assim como nas reuniões de condomínio, as mudanças de estatuto precisarão ser discutidas em assembleias de quotistas – que também costumam ter quórum baixo e, vez por outra, algum arranca-rabo.

As vantagens dos fundos também são as mesmas dos condomínios. Investir o próprio dinheiro é uma prática que demanda tempo, experiência e conhecimento do mercado financeiro. Para quem não tem nada disso, a melhor opção é contratar alguém capaz de realizar o trabalho – e ratear as despesas com outras pessoas com interesses semelhantes. Se por um lado o morador de um apartamento dispõe de benefícios como academia e área de lazer por dividir os custos de construção e conservação com seus vizinhos, um fundo garante ao pequeno investidor acesso a ativos mais caros que sozinho ele não conseguiria comprar. Tudo isso explica a popularidade dos fundos de investimento no país, uma indústria que administra nada menos do que 1,5 trilhão de reais.

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Investimentos possíveis 

O Brasil ainda não possui um mercado financeiro tão sofisticado quanto o americano ou europeu, mas, mesmo assim, os gestores encontram um gama muito grande de possibilidades para a aplicação do dinheiro internamente. Uma carteira de investimentos pode conter CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), debêntures, títulos públicos, ações ou derivativos, entre outros papéis.

Os Certificados de Depósitos Bancários são emitidos pelos bancos e rendem uma taxa de juro prefixada ou pós-fixada. Quem compra CDBs empresta dinheiro a uma instituição financeira por meio de um depósito e recebe em troca um rendimento negociado.

Por sua vez, as empresas emitem debêntures para captar recursos, investir ou pagar dívidas. São títulos de renda fixa que asseguram aos seus detentores o direto de crédito. Assim, o investidor torna-se credor da empresa.

Os títulos públicos são papéis vendidos pelo Banco Central e pelo Tesouro Nacional para captar recursos e financiar a dívida pública federal, estadual e municipal. A política de rendimento é determinada na data de compra dos títulos, podendo ser atrelada à variação da taxa básica de juros, à inflação, ou mesmo não depender de qualquer índice. Na última situação, quem aplica já sabe de antemão qual será o valor resgatado no vencimento dos títulos.

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Ao comprar ações, o investidor adquire frações do capital social de uma empresa. Uma vez acionista, ele ganha participação nos resultados na forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.

Finalmente, derivativos são contratos de ativos financeiros ou valores mobiliários que têm valor e características associados a ativos que lhe servem de referência. O valor das transações deriva do comportamento futuro de outros mercados, como o de ações ou de juros. O risco nessas aplicações é alto, balizado pelo grau de incerteza dessas previsões. Em contrapartida, os ganhos podem ser muito maiores que os de outros investimentos.

Na busca por maior rentabilidade, os administradores podem montar a carteira com diferentes ativos. Por sua vez, o investidor tem a opção de diversificar as aplicações participando de diferentes fundos e destinando a cada um quantias consonantes com os planos de utilização do dinheiro. As escolhas devem refletir não apenas os riscos de exposição que o cliente se dispõe a correr, mas suas possibilidades financeiras e horizonte de investimento. Para quem é conservador e tem preferência por um fundo de títulos públicos, por exemplo, é possível ousar um pouco mais. “Se o objetivo do sujeito é simplesmente aumentar sua poupança financeira porque já tem imóveis, previdência complementar e filhos criados, é razoável aplicar 10% do patrimônio em um de fundo de ações”, exemplifica Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

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Regulação do mercado 

O sucesso dos fundos também se deve à eficácia da regulamentação. Segundo Osvaldo do Nascimento, diretor executivo de Investimentos e Previdência do Itaú Unibanco, “esta modalidade de investimento vem crescendo no Brasil principalmente pelo fato de ter um arcabouço regulatório bastante desenvolvido”. Quem fiscaliza, dentre outros itens, taxas e políticas de administração é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do Ministério da Fazenda.

O grande marco para a indústria de fundos brasileira aconteceu em 2004 com a publicação da instrução 409 da CVM. Para dar mais transparência na divulgação das informações, a Comissão consolidou em um único instrumento as normas dos fundos de renda fixa, que eram de atribuição do Banco Central, e dos fundos de renda variável, que já estavam sob sua responsabilidade. Além disso, os fundos foram classificados em sete categorias: curto prazo, referenciado, renda fixa, ações, multimercado, cambiais e dívida externa. Por fim, a CVM impôs a cada um a obrigação de incorporar no nome o tipo de aplicação a que se destinava.

Em 2007, a instrução 450 da CVM deu início à internacionalização dos fundos no país, ampliando o limite de aplicações para investidores ultraqualificados. A medida também preparou a regulamentação para um cenário de menor rentabilidade dos títulos públicos e dos investimentos de renda fixa. Para Nascimento, do Itaú Unibanco, novas alternativas tendem a surgir na esteira das crises econômicas. “Em um cenário onde a renda fixa é a maneira mais cômoda de aplicar, começam a aparecer fundos mais sofisticados de renda variável com a queda de juros”. Atualmente, apenas os fundos com legislação própria não são regidos pela instrução 450. São os fundos imobiliários, de direitos creditórios e de participações.

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Transparência das quotas 

Investir em fundos significa converter o dinheiro em forma de quotas. Uma quota nada mais é do que uma fração do fundo. Quem aplica passa a ser proprietário de parte da carteira de ativos na proporção do capital ali empregado. Quanto maior o investimento, mais quotas terá o cliente. A quantidade destas parcelas permanece a mesma, a menos que o investidor faça novas aplicações e resgates ou pague o Imposto de Renda com o dinheiro das quotas.

O valor de cada uma destas frações é inicialmente decidido pelo administrador do fundo, montante que varia à medida que os papéis que compõem a carteira de ativos oscilam no mercado. Para calcular o preço atualizado de uma quota, basta dividir o patrimônio líquido do fundo pelo número de parcelas existentes. Assim, em um fundo com 500 mil reais e 10 mil quotas, o valor de cada uma será de 50 reais. Suponha que um investidor faça uma aplicação de 5 mil reais. Nesta data, ele terá 100 quotas (valor do investimento dividido pelo preço das quotas). Se dali a um tempo, o patrimônio líquido do fundo aumentar 60%, chegando a 800 mil reais, e o número de quotas crescer 25% (12,5 mil quotas), o valor de cada parcela alcançará 64 reais. Portanto, mantendo inalterado o número de quotas que possui, o sujeito terá agora 6.400 reais e um lucro de 28% em relação à sua aplicação inicial.

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O valor das quotas de um fundo é divulgado diariamente, o que dá transparência à aplicação. Antes de 2002, quando o Banco Central instituiu a marcação obrigatória a mercado, um fundo poderia permanecer incólume às crises do mercado sem que o valor dos seus ativos sofresse qualquer modificação. Mas a baixa volatilidade não poupava surpresas a quem aplicasse. Ao resgatar quotas de ativos superavaliados, era provável que o investidor amargasse um prejuízo com o qual não contava.

Nessa época, um fundo de 1 milhão de reais poderia valer, de fato, 900 mil reais no mercado. De posse de uma informação privilegiada, um investidor poderia, por exemplo, pedir o resgate das suas quotas. No caso, a marcação defasada garantiria a recuperação do dinheiro na íntegra. Quando a desvalorização se tornasse pública e os demais quotistas optassem por fazer o mesmo, o banco precisaria ir a mercado para vender todos os títulos. Neste momento, a diminuição do patrimônio líquido afetaria os investidores remanescentes, que dividiriam entre si a perda dos 100.000 reais.

Alessandro Cruzolini, gerente nacional de desenvolvimento de Fundos e Carteiras Administradas da Caixa Econômica Federal, defende que a prática contrariava a divisão conjunta de recursos e resultados, própria do conceito de condomínio dos fundos. “Felizmente isso não acontece mais porque as parcelas traduzem periodicamente o valor real dos ativos, resguardando o investidor de possíveis surpresas e evitando a transferência de riqueza entre os quotistas”, completa.

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Vantagens e desvantagens 

Avaliando os prós dos fundos de investimento, parece uma tarefa simples optar por esse tipo de aplicação. Bancos e empresas de gestão oferecem diversas alternativas para quem deseja investir em fundos, muitas delas com possibilidades de adesão online ou mesmo através de caixas eletrônicos. Além de colocar ao alcance do investidor uma prateleira de ativos que de outra forma lhe seriam inacessíveis, os fundos são administrados por profissionais especializados. Eles buscam alavancar os lucros segundo objetivos predeterminados, avaliando as oportunidades do mercado diariamente. Tudo isso com um tempo e conhecimento indisponíveis à grande parte dos investidores.

De acordo com William Eid, coordenador do Centro de Estudos e Finança da FGV, os fundos têm, inclusive, risco mais baixo que outros investimentos em geral. “Se o banco quebrar e o cliente tiver aplicado grandes volumes, ele só poderá resgatar 60 mil na poupança, que é considerada bastante segura. Se isto acontecer em um fundo, a CVM vai alocá-lo em outra instituição e o valor do investimento vai permanecer intocado”, afirma.

Embora a indústria de fundos tenha se aprimorado sob o ponto de vista regulatório, garantindo maior proteção e acesso às informações do mercado, o investimento não é 100% seguro. É fundamental analisar a consistência e o desempenho dos fundos ao longo do tempo antes de optar por uma aplicação, já que um bom resultado isolado não indica retornos semelhantes nos anos subseqüentes. Quem aplica também deve ficar atento ao número de quotistas para não sofrer com o saque de um grande investidor, principalmente com títulos de menor liquidez. Para Eid, ainda mais importante é conhecer-se enquanto investidor. “O segredo é ser disciplinado e saber quanto é possível arriscar e pelo quê. Procurar bons fundos para aplicar é apenas parte da brincadeira”, ensina.

Este artigo foi originalmente publicado em EXAME.com

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