cidades inteligentes

O advogado Ronaldo Lemos, sócio responsável pela área de tecnologia e dados do escritório PNM Advogados, é membro da rede de alto impacto da Fundação Estudar conhecida como Líderes Estudar. Com um currículo que também envolve ser um dos nomes por trás da pioneira lei do Marco Civil da Internet, pesquisador do MIT Media Lab, professor visitante da Universidade Columbia, diretor do Instituto de Tecnologia & Sociedade do Rio (ITS), coautor do estudo que formulou o Plano Nacional de Internet das Coisas e ter sido nomeado um Young Global Leader (Jovem Líder Global) pelo Fórum Econômico Mundial, tem como um dos principais temas aos quais se dedica o das cidades inteligentes.

O Programa Líderes Estudar oferece bolsa de estudo, mentoria, orientação de carreira, além do acesso à rede da qual Ronaldo Lemos faz parte. As inscrições para a edição 2020 estão abertas. Candidate-se pelo Na Prática!

Em entrevista ao Na Prática, Lemos destrincha os principais entraves do país para criar espaços urbanos integrados com tecnologia e inovações e palco de ações de desenvolvimento orientadas por dados.

Na Prática: Quais são as principais vantagens das cidades inteligentes? Qual a urgência do tema, na sua opinião? 

Ronaldo Lemos: Tenho sempre falado que governo que não se digitaliza deixa de ser governo, torna-se obsoleto. Esse mesmo raciocínio vale para a administração das cidades. Estamos vivendo um momento de adensamento das cidades globais, conjugado com um aumento da complexidade. É muita gente vivendo junto, com demandas cada vez mais complexas. Se não houver uma camada de inteligência, dados e informação na administração das cidades contemporâneas, o desafio de administrá-las será cada vez mais difícil. Gosto também de citar a frase do ex-prefeito de NY, Michael Bloomber: “Se você não consegue medir, não consegue administrar”. Boa parte da tarefa das Smart Cities é saber obter e utilizar dados em tempo que real que permitam melhor a administração das cidades. Esse tema é urgente.
O uso de dados e essa nova camada de inteligência será tão importante quanto foi a eletricidade.
Vale lembrar que a eletricidade é o que permitiu o surgimento das cidades modernas. Com ela vieram os elevadores, que permitiram prédios altos. Os sinais de trânsito, o bombeamento de água, a iluminação pública e assim por diante. Sem eletricidade a vida nas cidades contemporâneas é inviável. Brevemente, sem inteligência e dados também será.

NP: Como se dá seu trabalho nesse ramo? Por que escolheu atuar com isso?

RL: Sou de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais chamada Araguari. Essa cidade foi escolhida nos anos 80 pelo Ministério das Comunicações para ser a primeira cidade to Brasil a ter TV a Cabo. Isso mudou a minha vida e também de toda a minha geração na cidade. Graças a essa nova modalidade de acesso à informação – que na década de 80 no Brasil era revolucionária – acabei tendo acesso a informação que me levou a ao interesse por tecnologia. Por conta dessa minha experiência pessoal hoje tenho certeza de que a informação é capaz de mudar a vida das pessoas para melhor. Por isso, quando fui para São Paulo estudar direito na USP, no Largo São Francisco, logo me especializei em tecnologia e informação. Isso me levou a participar muito cedo no Brasil sobre os principais debates envolvendo tecnologia e direito. Por exemplo, o Marco Civil da Internet, do qual fui um dos criadores. O Marco Civil é visto internacionalmente como uma lei exemplar. Até o fundador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, elogiou nosso Marco Civil. Tecnologia é uma área que continuo trabalhando até hoje. Meu novo grande projeto é implementar uma identidade digital única no Brasil, revolucionando os serviços públicos, protegendo a privacidade do cidadão e acabando de vez com a burocracia. Nesse sentido estou trabalhando assiduamente com a ideia de GovTech, de como o governo pode usar a tecnologia para ser mais eficiente.

NP: Em que ponto o Brasil está em relação a esse conceito? Quais são os principais entraves, ao seu ver? Há vantagens?

RL: O Brasil é especialista em perder oportunidades na área de tecnologia. Não soubemos aproveitar a revolução dos semicondutores e também não soubemos nos posicionar na primeira geração de empresas da internet. Isso é paradoxal, porque o país é um dos mais ávidos consumidores de produtos e serviços da internet em todo mundo. Somos ávidos por novidades e nosso mercado consumidor é gigantesco.
Vejo como desafio exatamente isso: como deixar de sermos apenas consumidores de inovação e tecnologia para nos tornarmos também produtores.
Tem muito que podemos fazer para isso. Inclusive colaborar com outros países no setor de tecnologia, como os Estados Unidos, Israel e a China. Além disso é preciso destravar a cultura de empreendedorismo inovador no Brasil. Hoje qualquer empreendedor no país precisa ser um herói. Tudo joga contra ele. Para ser empreendedor e inovar ao mesmo tempo é exponencialmente mais difícil. Isso precisa mudar.

NP: Você já falou sobre uma “cultura anti-inovação” que existe aqui. Desde então, vê progresso nesse quesito? Como a questão afeta o desenvolvimento de cidades inteligentes?

RL: Vejo muito progresso no campo da ideias e das aspirações e pouco projeto no campo da prática. Quem olhar o Brasil no papel achará que somos um país muito inovador. Temos estratégias de inovação ambiciosas adotadas na forma de decretos, o governo tem um discurso belíssimo sobre inovação. No entanto, muitas vezes são peças apenas literárias. Na prática falta planejamento, definição de prioridades, investimento, foco e pensamento de longo-prazo. Para inovar não é possível se pautar apenas pelo curto-prazo. É necessário planejar e saber exatamente onde se quer chegar. Mais do que isso é fundamental fortalecer o ecossistema, como a integração da academia com o setor privado, a cooperação internacional, e assim por diante. Sem metas claras, organização e pensamento de longo-prazo nenhum discurso se sustenta.

Leia também: O que é inovação disruptiva?

NP: Existe espaço para contribuir para que o país desenvolva cidades inteligentes? Como?

RL: Sem dúvidas. O plano das cidades é um dos mais promissores para isso. As cidades não precisam esperar o governo federal ou estadual para se alavancarem tecnologicamente. Ao contrário, podem desde já implementar recursos de Internet das Coisas (IoT) e promover programas locais de inovação. Para isso parcerias público privadas são essenciais. Mais do que isso, toda cidade tem hoje o desafio de pensar globalmente. A cidade é não só parte de uma região e do país, mas também integrada globalmente. Enxergar o lugar no mundo de cada cidade e como ela pode se beneficiar do uso da tecnologia é algo muito promissor. Além disso, a ideia de GovTech aplica-se totalmente também às cidades.. Usar a tecnologia no plano municipal para melhorar os serviços públicos é o fruto mais fácil de ser colhido. Esse é um bom caminho para começar.

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