Jovem na estrada

O americano Jacob Rosenbloom deixou um emprego no Goldman Sachs, uma das maiores instituições financeiras do mundo, para investir em uma startup no Brasil – e não se arrepende. “Se fosse hoje, eu investiria três vezes mais”, diz Rosenbloom.

Ele é um dos sócios da Emprego Ligado, uma agência de empregos que usa geolocalização para recrutamento de candidatos e atende clientes como Habib’s, St. Marche e JBS. No início deste ano, a empresa foi premiada pelo Google por seu empenho em tentar melhorar a qualidade de vida das pessoas. “Nossa meta não é apenas juntar candidatos e empresas”, diz Rosenbloom. “Nós selecionamos, entre os melhores para a vaga, aqueles que moram mais próximos do local onde será o trabalho.” Em cidades como São Paulo, com distâncias extremas, isso faz uma baita diferença – para o dia a dia do trabalhador e também para as empresas, que conseguem diminuir a taxa de rotatividade dos funcionários. “Quando a distância entre a casa e o escritório é menor, o turnover pode diminuir em até 50%”, diz Rosenbloom.

Desde a fundação, a Emprego Ligado já recebeu aportes de mais de 20 investidores, entre fundos e angels. Somente no final de 2014, foram US$ 7 milhões de um grupo que incluiu Moshees Capital, e.bricks (do grupo RBS) e Qualcomm Ventures.

Formado em engenharia por Stanford, uma das universidades mais respeitadas do mundo, Rosenbloom chegou ao Brasil em 2007, como analista de investimentos para a América Latina do Goldman Sachs. Foi o primeiro expatriado do banco no país. “O trabalho me deu oportunidades de entender melhor o cenário brasileiro e perceber quais as possibilidades de bons negócios por aqui”, diz Rosenbloom. Antes de ingressar no banco, em 2004, ele já tinha passado pelo Lehman Brothers e havia morado em vários países, onde se envolveu em diferentes projetos ligados a direitos civis, meio ambiente e empoderamento econômico.

Ainda assim, não foi fácil convencer a família quando decidiu mudar-se de vez para cá para investir em uma startup. “Eles não entendiam por que estava abrindo mão de uma carreira, com perspectiva de vida muito confortável, por algo tão incerto”, diz Rosenbloom. Nesta entrevista, ele conta os motivos de sua escolha, fala sobre seu negócio e explica por que faria tudo de novo.

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Por que deixar um emprego em uma das maiores instituições financeiras e abrir mão de algumas certezas, como boa remuneração, para colocar dinheiro em uma startup no Brasil?
Eu não acho que abri  mão das coisas. Ao contrário. Eu abri muito mais possibilidades para minha carreira e para minha vida. Eu estudei em Stanford, um ambiente onde se incentiva a criatividade e o empreendedorismo. Isso somente aumentou a minha vontade de empreender. Quando cheguei ao Brasil, em 2007, fiquei muito bem impressionado com as coisas que estavam acontecendo aqui. Gostei e decidi que queria investir em algum negócio no país. Daí, até a decisão final, em 2012, tive tempo de refletir e planejar tudo.

Foi um proceso difícil?
Para mim, não. Mas tive um certo trabalho para tentar tranquilizar meu pai sobre a certeza da minha decisão. O problema não tinha a ver com a escolha pelo Brasil, mas sim com abandonar um emprego que na concepção dele dava segurança, com perspectivas de vida muito confortável. Meu pai tinha o maior orgulho de ter um filho que trabalhava no Goldman. Desde que entrei no banco, ele me apelidou de Gold Man (algo como homem de ouro, em um tradução livre). E vivia dizendo, esse é o meu Gold Man. Então, foi bastante complicado. Ele não entendeu. Não gostou. Meu pai é contador, trabalhou a carreira inteira em uma mesma empresa. É difícil para pressoas como ele aceitar mudanças, sobretudo quando elas representam uma certa insegurança em relação ao futuro. Demorou dois anos até ele acreditar que, de fato, estava tudo bem. Hoje, acho que ele está bastante satisfeito com minha escolha.

Mas você dependia de recursos da família para começar o negócio?
Não. Eu tinha minhas economias. Juntei o equivalente a R$ 150 mil e consegui outros três sócios, incluindo dois amigos da universidade. No total, foram R$ 450 mil de investimentos.

O que a Emprego Ligado tem de diferente de outras agências de emprego?
Além de utilizar algorítimos para encontrar o melhor candidato para cada vaga, considerando por exemplo qualificações e histórico profissional, a Emprego Ligado também usa geolocalização. A gente seleciona os candidatos e oferece às empresas aqueles que, além de tudo, são os que moram mais perto do local de trabalho. Isso ajuda a diminuir a rotatividade. Nas áreas operacionais, o turnover pode chegar a 40% em seis meses. Em alguns casos, ao contratar funcionários que moram mais perto do emprego, a rotatividade tem se reduzido em até 50%.

Quais têm sido os resultados até agora?
Quem paga pelo serviço são as empresas e nós temos clientes de diferentes perfis entre as grandes corporações do Brasil. Atendemos grupos de telemarketing e também varejo, como Habib’s e St. Marche. Nossa receita aumentou 15 vezes entre 2013 e 2014. Mas não posso divulgar números. Temos uma série de sócios, são mais de 20, e está acordado que faturamento é um dado estratégico que por, hora, não será divulgado.

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Como funciona uma empresa com mais de 20 sócios?
Na verdade, no total, são quase 40. É um modelo muito comum no Vale do Silício. Nós temos mais ou menos 20 sócios investidores, entre fundos e angels, que não participam da operação. Além deles, entre os profissionais trabalhando no negócio, são outros 20.

O quadro geral do Brasil é pior hoje do que em 2007-2008, quando você chegou. Se fosse agora, você ainda deixaria um emprego para colocar parte de suas economias em uma startup aqui?
Sem dúvida. Agora, mais do que nunca. Eu gosto de empreender. Além disso, quando cheguei aqui, era caro investir no Brasil. Hoje, com câmbio favorável ao investidor estrangeiro, certamente poderia pensar em abrir um negócio, três ou quatro vezes maior do que o nosso à época. Eu não me arrependo. E se fosse hoje eu investiria muito mais.

 

Este artigo foi originalmente publicado em Época Negócios, onde é possível ler o texto completo

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