Quem se interessa pelo meio ambiente pode acrescentar o mercado financeiro na lista de possibilidades para trabalhar com sustentabilidade. Em uma época em que a conscientização sobre os impactos das ações no meio ambiente cresce, muitas empresas investem em melhorias neste sentido – e, para isso, precisam de profissionais capacitados e apaixonados.
É o caso de Fabio Guido, Líder da célula de Finanças Climáticas no Itaú Unibanco. Sua porta de entrada na área foi a graduação em Engenharia Ambiental, escolha que só fez por se frustrar com impossibilidade de cursar sua primeira opção, Medicina, por conta de dificuldades financeiras. “Comecei a ler cadernos de profissões e o autor de um texto sobre Engenharia Ambiental, dizia que o engenheiro ambiental é o ‘médico do planeta’”, lembra.
Hoje, Fabio, que faz parte da rede de Líderes Estudar, da Fundação Estudar, comanda um squad de finanças que busca entender riscos e oportunidades que as mudanças climáticas trazem para o setor financeiro. Ele e sua equipe trabalham para “definir modelos e indicadores capazes de prever no tempo certo e da forma correta os impactos nos diferentes negócios de um banco, com a relevância adequada para mover a instituição para os cenários ideais”.
Tendo atuado na área de sustentabilidade em empresas grandes como Santander, HSBC, além do Itaú, o engenheiro ambiental percebeu que os maiores obstáculos estão em ligar os dois universos – tão diferentes por definição. Essencialmente, em “traduzir as informações científicas para o dia a dia das organizações, construindo pontes entre os dois e engajando a alta liderança para estabelecer metas que sejam alinhadas com os objetivos de sustentabilidade do cenário global”, conta.
Dentro das companhias do setor financeiro, o profissional especializado pode ter um grande escopo de responsabilidades, principalmente ligadas à promoção da ecoeficiência (diminuir impactos ambientais e consumo de recursos naturais) e à implementação de ações, em geral, para melhorar a relação da instituição com o meio ambiente. Segundo Fabio, isso se traduz em atividades como: “pensar no impacto das mudanças climáticas, fazer inventário de carbono, participar de licenciamento ambiental, entender licença social, pensar a organização e sua estratégia sob a ótica da sustentabilidade, implementar uma governança da sustentabilidade, compreender os riscos socioambientais da atividade e mensurar impacto e externalidades”.
Fabio conta que, nos anos 80 e 90, a tendência de investimentos que privilegiam setores e empresas que promovem iniciativas como energia renovável, biotecnologia e reciclagem – chamada de “filtro positivo” – cresceu. Durante as próximas décadas, as metodologias dos fundos de sustentabilidade foram se tornando mais complexas. Passaram a avaliar empresas com base em indicadores sociais, ambientais e de governança e também a incorporar medidas de perdas e ganhos relativos ao ESG (sigla, em inglês, para “meio ambiente, sociedade e governança”) já no valor da companhia.
Atualmente, ele explica que existem os chamados “Investimentos de Impacto”, “ações de investimento que, sem abrir mão do retorno financeiro, investem em companhias que resolvem problemas sociais e ou ambientais”. Dentro dos “Investimentos de Impacto”, há diversas modalidades, sendo os exemplos brasileiros mais famosos o “Dr. Consulta” na área de acesso saúde, e a “Vivenda” na de moradia digna, diz.
No HSBC, o engenheiro foi Conselheiro dos fundos de sustentabilidade. O papel dos membros do Conselho consistia em validar as análises de sustentabilidade das empresas investidas, vetar possíveis investimentos controversos e apresentar tendências de mercado.
Como Líder da célula de Finanças Climáticas no Itaú, Fabio tem outros foco: entender e precificar como as mudanças climáticas impactam as indústrias de financiamento, investimento e seguros, além de desenvolver modelos de riscos e trabalhar na agenda de oportunidades com linhas de financiamento para a economia de baixo carbono, fundos de investimentos responsáveis e de impacto positivo.
Graduação em Engenharia Ambiental não é um pré-requisito para trabalhar com sustentabilidade, de acordo com Fabio. Quem busca carreira nesta área também pode fazer outros cursos correlatos como Gestão Ambiental, Biologia, Geologia e Turismo. Até menos relacionados, como Administração, Economia, Contábeis e Ciências Políticas, por exemplo. “Todas as carreiras têm espaço na sustentabilidade”, diz ele.
No entanto, há anos no setor, Fabio cita competências mais comuns nestes profissionais. São apaixonados e possuem “alto poder de articulação e engajamento”. Além disso, precisam estar antenados nas tendências e nos temas e serem capazes de traduzir o conhecimento para diferentes escalões. “É imprescindível que tenham visão de curto, médio e longo prazo e que consigam enxergar todas as inter-relações, mais do que as partes de um processo”, esclarece. Por último, o engenheiro pontua habilidades de comunicação clara e de compreender o contexto de cada unidade de negócio.
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