Homem sério

Não é raro termos contato com propagandas bem-humoradas e que nos arrancam boas risadas. Mas uma coisa é trabalhar como publicitário, outra é usar a criatividade em um palco diante de uma plateia lotada. Bruno Costoli, um dos principais nomes do stand up comedy mineiro, nos mostra como é possível tomar um novo rumo profissional aproveitando antigas habilidades.

Com 30 anos atualmente, ele formou-se em Comunicação Social na UFMG, um dos cursos mais concorridos no vestibular. Trabalhou por cinco anos com publicidade, passando por algumas grandes agências como redator publicitário.  “O que mais me agradava na área era a possibilidade de criar algo legal, ter uma ideia boa que fosse veiculada pela cidade. Não acho que a decisão de estudar publicidade tenha sido precipitada, acho que a faculdade só não mostra com muita clareza como vai ser o mercado”, analisa.

E o mercado, muitas vezes, é mesmo cruel. “Quase todos os dias ficava além do horário na agência. Uma das coisas que sempre me incomodou era esse não cumprimento de horários. Eu não conseguia marcar nenhum compromisso durante a semana porque sempre poderia acontecer de precisar ficar até mais tarde. E o que mais me indignava nisso (além das horas extras não serem remuneradas e nem sequer banco de horas eu ter) era o fato desse tempo extra ser muitas vezes culpa da falta de planejamento e organização dentro da empresa”, revela.

bruno costoli mudanca de carreira stand up
acervo pessoal

A rotina desgastante também se traduzia na ausência de férias, fator que acabou por ser fundamental para a grande guinada profissional.  “Quatro dos cinco anos na publicidade foram sem tirar férias, porque muitas vezes eu era o único redator da agência. Na primeira vez que tirei, passei um mês inteiro à toa e tive certeza de que não queria mais aquilo (velha rotina) para mim”, afirma.

Ele voltou do seu descanso e, por incrível que pareça, passou a levar as apresentações de comédia que fazia mais a sério.  “Eu ainda era muito iniciante, mas era o momento em que a comédia stand up começava a crescer em BH. Em poucos meses na área comecei a ter resultados positivos e via um crescimento legal no setor. A comédia se mostrava, a longo prazo, mais interessante do que a publicidade. Quando percebi, já fazia parte de um grupo de comédia e estava me apresentando toda semana”, conta o comediante.

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A rotina atual Bruno se tornou uma das referências no stand up comedy na capital mineira, com apresentações quase sempre lotadas e palestras para diversas empresas. Mas ele se preparou para esse caminho.  “No início, era muito comum os comediantes se apresentarem como convidados nos shows dos outros grupos. Essa troca foi muito boa para o fortalecimento do mercado.  Comecei a ler alguns livros e textos sobre o assunto, ver entrevistas de comediantes famosos, além de vídeos e filmes sobre stand up e comédia em geral. Fiz ainda alguns anos de teatro no Galpão e diversos cursos de improvisação teatral”, relata.

Um dos diferenciais de Costoli é a presença das músicas nas suas apresentações. Com seu violão, toca canções próprias e paródias, como as sobre o Sertanejo Universitário (sucesso de visualizações na internet). Entretanto, ele também aborda assuntos mais sérios.

“A rotina de criação é intensa. Trabalho mais do que na época que era publicitário (risos). Tenho tentado falar sobre assuntos mais relevantes também. Acho que seria um desperdício não usar a oportunidade que tenho de falar para tanta gente (no palco e na internet) sobre algo que considero importante e que possa mudar as pessoas. Fazer rir é bom e necessário, mas fazer pensar também é”, analisa.

Bruno considera importante o período em que trabalhou como publicitário para o sucesso na nova atividade. “Na publicidade eles não se preocupam muito em otimização de trabalho, então, às vezes, você cria o máximo possível. Ao mesmo tempo que isso é um desperdício, para comédia isso é ótimo. Te faz achar piadas que quem para na primeira ideia não vai achar. Isso me mostrou que essa onda de ‘insight’, de esperar a ideia chegar, é bobagem. Há uma glamourização da criatividade, mas é um trabalho como qualquer outro. Sem falar que a publicidade usa o humor de forma recorrente. Até alguns formatos publicitários se parecem muito com o formato de piadas”, acredita.

Liberdade Como pontos positivos na nova carreira, Bruno cita sua autonomia (de horários, de criação e financeira). Agora, ele ganha de acordo com o que produz, escolhe seu horário de trabalho e é o responsável por definir o rumo de suas ideias. “Na publicidade, independentemente de quanto eu trabalhasse, meu salário era o mesmo. Na comédia, se eu consigo mais trabalhos, eu ganho mais. Além disso, antes eu tinha que passar minhas ideias pelo crivo de várias pessoas (chefes). Hoje, minhas ideias passam pelo crivo de muito mais pessoas, mas são os consumidores finais. E a resposta é imediata: riu ou não. Se for ruim, a culpa é minha. Se for bom, o mérito é meu”, enfatiza.

Para quem olha com desconfiança para o novo ofício, ele manda um recado: “Às vezes alguém fala que é só ´ir lá falar umas bobagens´. Até gente da área, por incrível que pareça. Tem muita gente que fala ‘meu amigo ia se dar bem nisso’, como se fosse só chegar lá e fazer. Eu gostaria de ver essas pessoas tentando… Porque uma coisa é fazer seus amigos rirem num churrasco onde todos te conhecem. Outra coisa é fazer rir um bando de gente que nunca te viu na vida e ainda está pagando por isso”.

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