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McKinsey na prática: por dentro da área de consultoria estratégica

Mulher sorri em sala de reunião com um laptop à frente - Como é trabalhar na McKinsey?

Imergir por alguns meses na rotina de uma empresa e ajudar seus executivos seniores a solucionar problemas que eles não foram capazes de resolver internamente, com seu próprio time. É esse o cerne do trabalho executado pelos profissionais da McKinsey & Company, firma global de consultoria estratégica, que presta serviço a clientes dos mais diversos segmentos, no setor privado – finanças, varejo, transportes, energia e mídia, para citar alguns – e também no setor público. A carioca Daniela Anderez, 33 anos, que trabalha há uma década na empresa, ocupa hoje o cargo de sócia-associada na McKinsey.

Daniela formou-se pela UFRJ em Engenharia de Produção, um curso voltado à otimização de processos produtivos e que permite um leque amplo de colocações no mercado – da gerência de fábricas a posições em bancos. Depois de realizar estágios que lhe ofereceram experiências profissionais bastante diversas, durante o curso de graduação – foi monitora de Física em curso pré-vestibular, cuidou de operações logísticas numa fabricante de automóveis e participou da gestão de fundos financeiros –, escolheu atuar na área de consultoria estratégica como forma de continuar a ter um trabalho versátil, com atuação em setores variados e processos individualizados conforme as necessidades de cada cliente. Sempre com um objetivo comum: encontrar soluções para problemas complexos e importantes.

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Daniela explica que um cliente pode procurar a McKinsey para obter ajuda com um problema específico, já identificado, mas que ele não sabe exatamente como resolver – uma empresa familiar com 50 anos de existência, muito bem sucedida, que não formou sucessores, por exemplo –, ou apenas com a constatação de que tem um problema amplo, mas que necessita ainda ser entendido para depois ganhar uma solução – a companhia está tendo prejuízo, mas não sabe de onde ele vem, por hipótese. O consultor age, então, como uma espécie de terapeuta, que ajuda o paciente a ver a própria vida de fora e, assim, ganhar conhecimento sobre si e encontrar caminhos para uma vida mais satisfatória. No caso, a vida em questão é a da empresa. “No começo da carreira, em geral o consultor recebe os problemas já formulados. Conforme vai crescendo, aprende como ajudar o cliente a entender qual o problema dele”, esclarece Daniela.

[Daniela Anderez / Arquivo pessoal]

Dia a dia da profissão

A essência do trabalho na McKinsey é partir do recolhimento de dados sobre o cliente e seu setor de atuação para tecer análises, estruturar problemas e recomendar soluções. Nos quatro primeiros níveis da carreira – estagiário, analista de negócios, associado e gerente de projetos –, cada profissional trabalha com um caso por vez, sendo cobrado a ter um desempenho cada vez mais amplo conforme avança de cargo. Nas três últimas posições – sócio-associado, como Daniela, sócio – deixa de lado o operacional e assume uma postura de coordenação, trabalhando com cinco a seis clientes ao mesmo tempo (dois projetos ativos e mais três ou quatro em fase de conversas iniciais ou de acompanhamento pós-finalização, no geral) – e sócio-diretor.

De segunda a quinta-feira, o consultor trabalha na sede do cliente – que pode ser em cidades diferentes do escritório de McKinsey, portanto, é preciso ter disponibilidade para viajar nesse período da semana. Na sexta, o expediente ocorre no escritório da consultoria, para consolidar dados, planejar próximos passos e se conectar com os colegas de trabalho – mas há também a flexibilidade de se trabalhar em casa. O dia a dia é intenso – são cerca de 12 horas de trabalho diárias, segundo Daniela, sem tempo nem cabeça para olhar Facebook, comprar livros na internet e, às vezes, até retornar ligações pessoais. O atendimento a um único cliente dura, em média, dois a três meses, mas pode chegar a seis meses, em alguns casos.

A Mckinsey oferece a seus funcionários, geralmente no terceiro ano de empresa (depois de percorrer um ano de estágio e dois anos como analista), o patrocínio de MBAs em top schools no mundo. “O MBA é parte da carreira na McKinsey. São raros os casos de pessoas que não o fazem”, diz Daniela. Antes de partir para o Master, no entanto, o funcionário pode optar ainda por tirar uma licença e aderir ao programa Third Year Out, ou “terceiro ano fora”, em que vai trabalhar numa outra empresa à sua escolha, em qualquer lugar do mundo, em qualquer função e em qualquer segmento – uma ONG na África, um banco em Londres ou uma gravadora de discos no Brasil – para experimentar o ponto de vista do cliente.

[Vista do escritório da McKinsey no Rio de Janeiro / Divulgação]

Perfil do profissional da McKinsey

Embora haja muitos engenheiros e administradores no quadro de funcionários da McKinsey, não há restrição quanto à formação de origem – prova disso é que há na equipe também médicos, advogados e até uma oceanógrafa. O que se busca, nos recrutamentos, são pessoas com um mindset voltado à resolução de problemas. Conhecimentos sobre finanças, embora sejam bem-vindos, não são fundamentais – “se a pessoa tem uma boa formação em matemática, é suficiente. Ela aprende facilmente a calcular um EBTIDA, depois de contratada”, comenta Daniela.

Segundo ela, os maiores pontos de entrada de consultores na McKinsey são após a faculdade (~22 anos) e após o MBA (~26 anos). “Como temos uma cultura de ‘up or out’ – ou seja, ou você se desenvolve para ser promovido dentro do prazo planejado ou você é convidado a sair da empresa e dar espaço a outras pessoas –, você pode imaginar que temos um turnover relativamente alto. Faz parte da cultura de alto desempenho e carreira acelerada. Assim, nossa pirâmide tem uma base bem larga nessa faixa (22-30 anos) e fica bem estreita depois.”

O processo seletivo para estagiários e analistas na empresa inclui três etapas: um teste de resolução de problemas, em múltipla escolha, que avalia a capacidade do candidato de analisar dados, estruturar problemas e propor soluções; a análise de currículos; e entrevistas que incluem o relato de experiências pessoais e, mais uma vez, resolução de casos. As entrevistas – quatro ou cinco, no total – são realizadas em duas rodadas, com duas a três semanas de intervalo entre elas. O site da empresa, na versão em inglês, traz exemplos dos tipos de problemas propostos na seleção.

O recrutamento de analistas e estagiários ocorre, tradicionalmente, entre março e maio. Em agosto e setembro abrem-se novas vagas para estágio. Os escolhidos só começam a trabalhar em março do ano seguinte, podendo aproveitar esse intervalo de tempo para fazer intercâmbios, ter experiências profissionais temporárias ou até tirar um sabático. Os associados passam por um processo de seleção semelhante, mas são recrutados em cursos de MBA.

Depois de dez anos de empresa, Daniela continua mostrando entusiasmo pelo que faz. “Na McKinsey as pessoas são tão competentes e legais que, no começo, você pensa até que foi um erro de recrutamento”, brinca.

4 traços essenciais para consultores da McKinsey

Segundo David Eldman, um dos líderes globais da McKinsey Digital, um consultor precisa, fundamentalmente, ter conhecimento e domínio de conteúdo – mas não é só isso.

Abaixo, ele elenca outros quatro traços essenciais para consultores em potencial:

1. Curiosidade e empenho
“Busco alguém que seja como um bom jornalista, que quer a todo custo chegar ao real, à história completa. Sim, dados e análises são importantes. Mas você também precisa gastar sola de sapato: sair, conversar com as pessoas, e ser capaz de fazer as perguntas certas para realmente diagnosticar a situação do cliente.”

2. Uma veia empreendedora
“É necessário ter ceda dose de empreendedorismo, para forçar a arte do possível até o seu limite, surgindo com soluções e ideias, mas também uma atitude realista para entender as restrições que fogem ao nosso controle.”

3. Compreender o efeito cascata
“Para trabalhar com projetos dentro do cliente e fazer proposições efetivas, é muito importante que a pessoa consiga pensar levando em consideração as implicações secundárias e terciárias que suas ideias terão. É preciso ter a capacidade de entender como cada ideia ou mudança de cenário incide, por meio de efeito em cascata, sobre os empregos das pessoas, decisões políticas, incentivos e, acima de tudo, sobre os clientes de nossos clientes.”

4. Ficar confortável no palco
“Em outras palavras, sentir-se confortável de estar em cena em uma grande variedade de situações desafiadoras, que vão desde sessões de feedback e aconselhamento individual, à facilitação de grupos e grandes apresentações. Muitas vezes, motivar os nossos clientes requer um pouco de teatro, e, no mínimo, uma sensação de convicção e energia que você deve transmitir quando entra na sala.”

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