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“O dia em que percebi que ao invés de um currículo eu deveria escrever um livro”

Por Isa Gama

 

Já atualizei meu currículo várias vezes, é uma atividade normal para quem está no mercado de trabalho. O processo para isso é rotineiro: organizar suas experiências em ordem cronológica, explicar as atividades desempenhadas em cada função, colocar quais os anos de formação e quais faculdades foram frequentadas. Adicionar se fala outras línguas. Acrescentar suas habilidades e atividades relevantes. Currículo pronto. 

Mas, como acrescentar no currículo: “fui passar vinte dias na Tailândia e fiquei dois anos?”

Como colocar no currículo toda a experiência que adquiri durante esse tempo do outro lado do mundo?

Onde colocar no currículo: trabalhei em uma balada, construí alguns sites, tive mais de 4 mil clientes começando um negócio de turismo com um caderninho, uma caneta e um celular?

Em que parte do currículo eu iria escrever que tomei banho frio durante meses na Tailândia, que fui internada com dengue hemorrágica sozinha no Vietnã, que dei uma palestra sobre mindset para realizar sonhos, em inglês, no Myanmar? 

De qual maneira eu iria explicar no currículo que minhas motivações para ter vivido essa aventura também eram pessoais?

 

Workshop ministrado na West Yangon Technological University no Myanmar (antiga Birmânia) / Acervo pessoal

 

Todas essas dúvidas vieram à minha mente quando um belo dia meu currículo foi solicitado por uma questão burocrática.  Tive muitas dificuldades para elaborá-lo, não conseguia sintetizar todas as experiências, pensei em como esses dois anos tinham sido intensos e pareciam ter sido vinte e percebi que um currículo não era o suficiente. Além disso, me lembrei de um sonho de criança de escrever e decidi que a hora tinha chegado. Eu precisava escrever um livro.

Em um primeiro momento tentei relutar mas não demorou muito para que eu decidisse colocar a ideia em prática. 

O processo de escrita foi intenso. Experimentei muitos sentimentos contraditórios em um curto período de tempo. Passava os dias escrevendo, fazia poucas pausas e quanto mais eu escrevia, mais eu queria escrever. Duvidei se seria possível terminar. Questionei se eu estava fazendo a escolha certa. Chorei e sofri relembrando episódios tristes. Ri e me diverti escrevendo sobre momentos felizes. 

Leia também: Nada de folga! ano sabático é chance de desenvolvimento focado e até mudança de carreira

Realmente não era assunto para um currículo como eu tinha me transformado profundamente. Em um currículo não seria possível retratar os motivos pelos quais tomei cada uma das decisões que acarretaram nas experiências que vivi. Não seria possível falar sobre os lugares que conheci. Também seria irrelevante citar as pessoas que me relacionei. Em um currículo não caberia os aprendizados que conquistei, não teria espaço para as reflexões que fiz e nem para os erros que cometi. Um currículo não contemplaria as dificuldades que superei e as vitórias que comemorei.

E foi assim que surgiram as 261 páginas do livro “Você Ousa Sonhar?”

Não satisfeita em escrever, eu gostaria que as pessoas me lessem. Eu queria incentivar a leitura também. Pensei, quebrei a cabeça, e encontrei a solução: coloquei as 261 páginas do livro nas legendas do feed do Instagram (www.instagram.com/voceousasonhar). Planejei, organizei, ilustrei e postei.

Escritora. Mais um item para adicionar ao currículo. Talvez agora fique mais fácil preparar um.

 

 

Sobre a autora

 

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Isa Gama é engenheira civil por formação, empreendedora e autora do livro “Você Ousa Sonhar?” que pode ser lido através do Instagram @voceousasonhar.

 

 

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