Daniela Barone Soares

Ela disse um sonoro não ao abonadíssimo mercado financeiro de Londres para começar do zero no incerto mundo das ONGs. Daniela Barone Soares, 40 anos, havia decidido que não correria mais atrás do primeiro milhão, do segundo… A virada aconteceu em 2004, exigiu a troca de apartamento e o corte de alguns mimos e fricotes, mas lhe caiu muito bem. Essa mineira de Belo Horizonte – aluna AAA do curso de economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pós-graduada na meca dos administradores, a escola de negócios de Harvard com bolsa da Fundação Estudar – é um dos nomes mais respeitados do terceiro setor na Inglaterra.

Já foi chamada de “anjo dos negócios” pelo jornal The Guardian e, em 2009, entrou para o ranking das 100 personalidades “que fazem o Reino Unido mais feliz”, do jornal The Independent. Foi dessa maneira que a revista Claudia apresentou Daniela em uma matéria de destaque em 2010. Aquele foi um período de muita visibilidade da carreira de Daniela, que naquele momento recebia o reconhecimento pela mudança radical de carreira feita anos antes.

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Mudança de carreira

Daniela teve uma carreira muito bem-sucedida no mercado financeiro antes de entrar no terceiro setor, onde há mais de dez anos lidera a ONG Impetus. A organização arrecada doações para entidades filantrópicas e ensina a elas gerenciamento, administração e formas de obter financiamentos, uma área de trabalho recente, baseada no know-how do mercado financeiro.

A convite da ImpulsoBeta, Daniela aceitou compartilhar um pouco de sua jornada profissional e inspirar pessoas em movimentos ousados de carreira em busca de seus sonhos. Fiquem com a Daniela:

O que você planejava para a carreira na época da faculdade?

Na época, eu sabia que queria fazer a diferença, mas não sabia ainda como. Tinha pensado em seguir carreira política, brevemente, mas na área social não via muitas alternativas que tivessem o meu perfil. Fui trabalhar no setor financeiro, combinando meu interesse na área com a visão de que a experiência no setor abriria portas futuramente.

Com menos de 30 anos você já era vice-presidente do BancBoston Capital. Como foi esse momento da sua carreira, estando na liderança tão cedo?

O BancBoston Capital na Inglaterra tinha uma estrutura super flat, a hierarquia era muito pouca. Era um escritório pequeno, cobrindo toda a Europa, então era muito empreendedor. Eu focava mais nos países Ibéricos e Itália — desde construir relacionamentos para co-investimento até efetuá-los e integrar o conselho. Era uma mistura de estratégia, análise, finanças e empreendedorismo, pois estávamos apenas começando a fazer investimentos em private equity nas empresas desses países.

Acho que em private equity, em geral, é necessário bastante thick skin (pele grossa). Time pequeno, muita viagem, o tempo todo, trabalho bem intenso, num ambiente quase exclusivamente masculino. E bom humor unido a competência é essencial.

Em que momento você começou a decidiu mudar seus rumos profissionais?

Eu gostei da minha experiência de private equity e venture capital. Mas encontrei algo que faz muito mais sentido pra mim. Na verdade, sempre fiz voluntariado, geralmente diretamente com as pessoas carentes. Quando estava trabalhando em private equity, tive a oportunidade de ajudar uma CEO de uma ONG a fazer um plano de negócios, a estruturar a organização, a pensar mais estrategicamente. Esse foi meu grande ‘insight’: ver que as habilidades que adquiri no meu MBA e na carreira em private equity e venture capital, onde se tem uma visão mais abrangente de negócios, eram muito relevantes para o terceiro setor. Então veio a determinação de combinar essas habilidades de negócios, gerenciamento e empreendedorismo com algo onde eu pudesse fazer uma diferença social maior e mais significativa.

Leia também: O que foi falado sobre liderança feminina no Fórum Econômico Mundial?

E como foi a adaptação para o terceiro setor?

A adaptação foi fácil e difícil. Fácil pois foi imensamente gratificante. Difícil pois no ano seguinte recebi menos de salario do que tinha pago de imposto no ano anterior. Fácil porque realmente escolhi uma posição onde minhas habilidades eram incrivelmente úteis e em demanda. Difícil porque tinha muito o que aprender em relação ao setor, à dinâmicas do setor e o constante malabarismo de fazer ‘mais com menos’, pois recursos são sempre escassos em relação ao problema social que se quer resolver.

Quais são para você suas principais realizações profissionais e pessoais?

Estou há quase 10 anos no comando da Impetus. Nesse período, a organização passou de uma startup de duas pessoas full-time para uma organização de excelente reputação e reconhecimento na Inglaterra, dez vezes maior em receita, com 45 funcionários e tendo investido e escalonado mais de 50 instituições, alcançando mais de 250 mil pessoas no ano passado. Ter dado forma a essa organização incrível foi um grande privilegio.

Pessoalmente, construí uma carreira onde tenho participação ativa em todos os três setores da economia e adoro isso. No terceiro setor como CEO da Impetus, no setor corporativo como Diretora Não-Executiva dos Conselhos de Administracao da Evora S.A. holding no Brasil e da Halma Plc na Inglaterra, e no setor publico como co-fundadora do Education Endowment Foundation, um fundo de £140m (R$ 630 milhões) do Departamento da Educção da Inglaterra, alem de participação ativa em duas grandes iniciativas do Primeiro Ministro David Cameron: Big Society Capital (o primeiro banco de investimentos sociais no mundo) e, mais recentemente, o G8 Social Impact Investment Taskforce, onde participei como chair de uma das iniciativas, sendo homenageada pelo Chanceller, George Osbourne.

Que dicas você dariam para mulheres que estão passando por uma transição de carreira?

Bem, depende muito da carreira e da trajetória de cada um. Em geral, pela minha experiencia, eu diria:

♦ Busque se autoconhecer, veja profundamente o que motiva você.

♦ Traduza suas motivações em pré-requisitos para o que você busca.

♦ Converse com muita gente que já fez este percurso que você quer fazer e veja o que se aplica a você.

♦ Se tiver oportunidade, experimente! Teste o campo onde quer atuar, sem compromissos de longo prazo (engaje-se em projetos, voluntariado, etc). Teste suas hipóteses na prática.

♦ Ainda que seu primeiro emprego na nova área não seja o que você sonhou, persista. Sua determinação e amor ao que faz criarão oportunidades dentro ou fora dessa primeira posição.

E para mulheres que aspiram chegar a uma posição de alta liderança, qual o conselho?

A história de cada pessoa é diferente, então não existem caminhos predefinidos. Importante em qualquer caminho é o autoconhecimento e autoaprimoramento. Saber como contribuir em cada situação, saber onde investir seu tempo e habilidades, saber o que se quer e aonde se quer chegar. Definir, por si própria, o que sucesso significa – e avaliar-se de acordo, honestamente. Entender profundamente o que motiva e energiza você e então ir atrás de uma carreira coerente com isso. Para mim, liderança natural é aquela que combina paixão com competência e disciplina na implementação..

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Renata Moraes é empreendedora e fundadora da ImpulsoBeta, uma plataforma que busca impulsionar carreiras de mulheres. Antes de empreender, trabalhou na Revista Veja, no Grupo Máquina e na Fundação Estudar. Colunista do Na Prática, formou-se em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e é aluna de MBA no Instituto Superior de Pesquisa (Insper-SP).

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