Jovem escreve em quadro

Os irmãos André e Luis Eduardo começaram a empresa Prática com uma sacada genial: uma parcela totalmente desproporcional dos custos de padarias e restaurantes era proveniente da conta de luz que seus equipamentos consumiam. Entendendo que havia uma grande oportunidade aí, criaram fornos elétricos que economizavam substancialmente esses custos para seus clientes. No entanto, eles não contavam com um grande gargalo que o país viveria: o apagão. Como o principal insumo de seus equipamentos era justamente a energia elétrica, os irmãos tiveram que se reinventar e criaram uma nova tecnologia a gás que trazia a mesma proposta de valor de eficiência energética.

Essa história representa várias vezes o conceito de gargalo, que nada mais é do que um “ponto de estrangulamento”, ou seja, algo que restringe a capacidade produtiva ou de entrega de uma empresa. Primeiro, a conta de luz representava um grande gargalo para seus clientes. Possivelmente, os custos exorbitantes desse insumo impedia que esses clientes expandissem seus negócios. Entendendo esse gargalo como oportunidade, os sócios da Prática desenvolveram seu negócio para solucionar esse problema. Depois, com o contexto do apagão, a energia elétrica se tornou um novo gargalo para a solução que eles tinham inventado, obrigando-os a se reinventar e desenvolver outra tecnologia para seus equipamentos.

Que o Brasil tem grandes gargalos, como de infraestrutura, de burocracia, de impostos, todo mundo sabe. Não é novidade que vários entraves – sobretudo nas áreas de transporte, logística e fornecimento de energia – impedem um crescimento mais robusto e duradouro do país. E mesmo com a realização de grandes eventos internacionais por aqui, ainda não demos o salto estrutural necessário para que isso ocorra: de acordo com pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial que mede a qualidade da infraestrutura de vários países, o Brasil marcou 3,6 de 7, ficando atrás de China e México.

Isto, no grande panorama. Fechando um pouco o escopo na questão do empreendedorismo, é fato que os negócios costumam ser muito afetados por essa realidade. Afinal, é comum que, para contornar um gargalo, o empreendedor se veja obrigado a despender uma quantia adicional de recursos e de tempo. E isso, sobretudo para quem está começando, pode se transformar em um fardo bastante difícil de se sustentar.

Mas este artigo não pretende chover no molhado. A ideia aqui não é lamentar uma situação que, ao menos pelo momento, parece irresolúvel. Isso já é feito à exaustão em quase todos os veículos de mídia. Na verdade, aqui queremos fazer o contrário: inspirados pela famosa afirmação de Nizan Guanaes, “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”, queremos incentivar você a olhar esses gargalos de outra forma – para, quem sabe, enxergar não um obstáculo, mas uma oportunidade de fazer grandes negócios, assim como o André e o Luis Eduardo fizeram.

Problemas e soluções De acordo com esta matéria do portal G1, grandes chances podem surgir quando você muda de postura diante de um gargalo. Afinal por trás de toda grande oportunidade há sempre um grande problema. E é neste momento que a sua criatividade de empreendedor pode fazer a diferença – principalmente se você tiver um negócio que pode solucionar ou ameniza esses gargalos.

Leia também: Seis ideias de negócio promissoras para 2015

A ideia que deve orientar suas ações é a de encontrar um caminho inexplorado, um tesouro escondido – neste caso, soterrado pelos problemas que todos enfrentamos. E o texto do G1 traz um exemplo interessante: o da AgroInova, cujo insight surgiu da constatação de que a tecnologia usada por criadores de rãs e peixes era quase paleolítica, representando um gargalo para seu crescimento. Então, os empreendedores resolveram renovar processos do agronegócio.

E a solução foi o desenvolvimento de um aplicativo de gestão para estes criadores. O programa cuida da administração completa: número de animais no tanque, peso médio e total de ração consumida. Todos esses dados são inseridos em um tablet. É uma baita duma facilidade para quem antes tinha de registrar tudo em uma prancheta e, no final do dia, inserir em um computador (quando inseria).

Os resultados não poderiam ser melhores. Um ano depois, o número de clientes da AgroInova triplicou, e o faturamento quadruplicou. Deu tão certo que os sócios descobriram uma nova forma de ganhar dinheiro: o varejo eletrônico. Por meio do app, a AgroInova consegue saber se o nível de ração de um criador está baixo, fazendo a oferta do produto.

Este é apenas um exemplo de como o gargalo pode se transformar em oportunidade de negócio. E os campos para essas experimentações são vários: de acordo com uma pesquisa realizada com investidores, as áreas de internet, aplicativos, educação, saúde e biotecnologia apresentam alto potencial para solucionar gargalos.

Os especialistas afirmam que questões tributárias e logísticas – ou seja, os gargalos econômicos – acabam criando oportunidades preciosas para quem chega com ideias inovadoras.

A este propósito, Joi Ito, diretor do MIT (Massachussetts Institute of Technology), afirma que a receita para transformar um gargalo em negócio é preciso aliar oportunidade e conhecimento. Na opinião de Ito, agricultura, aquicultura e energia são exemplos de áreas que ainda usam tecnologia muito, muito antiga. Ou seja, podem oferecer oportunidades preciosas para quem, como a AgroInova, propõe ofertas criativas.

O exemplo Como dissemos, Nizan Guanaes é uma grande inspiração para este artigo. Afinal, ele começou a montar um dos maiores grupos de comunicação do mundo no momento em que o Brasil enfrentava uma séria crise, graças a um gargalo de proporções inimagináveis: o congelamento promovido pelo plano Collor.

Neste artigo, lemos sobre como Nizan iniciou seu empreendimento: “Abri a agência DM9 no dia 19 de setembro de 1989, com investimento de U$ 1 milhão obtido no mercado financeiro. Collor assumiu a Presidência em janeiro de 1990, e seu plano congelou todo o dinheiro a ser investido. Passei um dia inteiro deitado, sem saber o que fazer. No dia seguinte, levantei com meu espírito decidido a liderar na crise e comecei a ter uma atitude de líder”.

O texto conta como Nizan, hoje um dos empresários de comunicação mais respeitados do mundo, resolveu mudar a forma de olhar para aquele imenso gargalo subitamente imposto pelo governo. Veiculou um anúncio (cujo título é a afirmação mais acima, sobre choro e lenços) para convocar uma coletiva de imprensa – o evento foi marcado em uma unidade do McDonald’s.

E o teor da coletiva? O próprio anúncio explica: “Não é porque sua verba desapareceu que a sua agência vai desaparecer. Nós vamos estar aqui do seu lado. Venha ver as saídas na nossa apresentação no McDonald’s (o lugar você compreende, o nosso dinheiro também sumiu)”.

A sequência desta história é mais do que conhecida.

De toda forma, estes são apenas alguns entre muitos exemplos de como você, empreendedor, pode transformar gargalo em negócio. Afinal, todo mundo está cansado de saber que o Brasil tem inúmeros problemas. Mas está mais do que na hora de mostrar que também tem soluções criativas e muito rentáveis.

Este artigo foi originalmente publicado em Endeavor

Os melhores conteúdos para impulsionar seu desenvolvimento pessoal e na carreira.

Junte-se a mais de 1 milhão de jovens!
Casdastro realizado, fique ligado para os conteúdos exclusivos!
Seu cadastro não foi realizado, tente novamente!

O que você achou desse post? Deixe um comentário ou marque seu amigo: