Quando enfim entregou sua application para estudar na Stanford Graduate School of Business, onde pretendia conseguir seu MBA, Claudio Galeno tinha passado mais de um se preparando. Uma vez no campus californiano, passou outros dois anos focado nos estudos.
“Foi uma injeção de autoconfiança por ter conseguido realizar um sonho grande através de esforço e dedicação”, lembra ele, que foi com uma bolsa de estudos do programa Líderes Estudar. “No final, senti que havia reunido a capacidade e confiança necessárias para vencer em qualquer caminho a partir dali.”
Hoje vice-presidente de serviços clínicos da Alere, uma multinacional que atua na saúde e líder no segmento de diagnósticos rápidos, ainda lembra das aulas de estratégia, finanças, marketing e negociação que teve em Stanford.
Eram conhecimentos necessários para ele, um engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal da Bahia que tinha sete anos de experiência na Vale – entrou como trainee e saiu diretor – e queria seguir carreira em gestão empresarial.
Nos EUA, engatou um emprego em uma grande empresa de tecnologia em comunicações por cinco anos, acostumando-se ao ambiente corporativo americano.
Em seguida, passou quatro em uma empresa menor, que trabalha com distribuição de suprimentos médicos, onde exerceu o lado mais empreendedor.
Em 2012, a experiência empresarial aliada aos conhecimentos em saúde o levaram à Alere e a Miami, na Flórida. Uma aquisição recente de US$ 5 bilhões por parte da Abbott Laboratories aumentou ainda mais o escopo do negócio: hoje são 94 mil funcionários em 150 países.
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Dia a dia em uma empresa de saúde
No cargo atual, Claudio é responsável principalmente pela divisão de serviços cardiometabólicos, que tem 1500 funcionários e atende diabéticos e aqueles que precisam de terapia anticoagulação, além de apoiar um centro de serviços compartilhados nas Filipinas.
No dia a dia estão principalmente análises de indicadores de performance e reuniões com equipe e líderes de projetos-chave. “Também participo de encontros com clientes, e auxilio o time na resolução de problemas críticos assim que surgem”, complementa.
Para se manter a par dos acontecimentos em uma empresa com presença nacional, ele viaja entre uma e duas semanas por mês.
Abaixo, Claudio fala sobre suas experiências trabalhando com gestão empresarial na saúde, o que jovens podem fazer para se destacar no setor e onde estão as possibilidades de disrupção do futuro.
“Ainda existem muitos problemas importantes a serem resolvidos e que terão impacto marcante na vida das pessoas. Somos todos clientes, em maior ou menor grau, no presente ou no futuro”, resume.
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[Claudio Galeno / Foto: Acervo pessoal]
O que o atraiu à área de saúde?
Claudio Galeno: Honestamente, a princípio foi o interesse por uma oportunidade de trabalho específica, aliado ao potencial do mercado em geral.
Hoje o maior atrativo para mim são os problemas e desafios que ainda precisam ser conquistados, dentre eles: dificuldades de acesso aos serviços e variabilidade na entrega, alto custo, resultados clínicos que deixam a desejar e qualidade de vida da população comprometida por doenças crônicas como a obesidade e a diabetes.
Que tipo de impacto suas decisões têm na ponta, ou seja, nos pacientes?
CG: Os nossos serviços auxiliam pacientes a gerenciarem doenças como a diabetes e a fibrilação auricular. Decisões incorretas ou falhas no serviço podem ter consequências gravíssimas.
Portanto, tomamos todo o cuidado, analisamos riscos em detalhe e testamos processos diligentemente quando efetuamos quaisquer alterações antes de implementá-las.
Você já ocupou diversos cargos em empresas de saúde. O que aprendeu sobre o setor com essas múltiplas experiências?
CG: Aprendi que ainda existem grandes e valiosos problemas a serem solucionados – e que a solução destes problemas transformará a vida das pessoas ao redor do mundo para melhor.
Uma disfunção clara do sistema em quase todos os países se refere ao modelo de pagamento unicamente por serviços prestados, independentemente do resultado clinico alcançado e da satisfação do paciente.
Essa realidade ja esta mudando, mas a transformação necessária para corrigir este problema ainda vai gerar bastante ruptura no mercado e trazer benefícios significativos ao consumidor final.
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Que habilidades e competências você precisou desenvolver para atuar na área?
CG: O segmento em que atuo tem sido extremamente dinâmico nos últimos anos, particularmente com relação a redução nos preços dos nossos serviços e ao aumento de complexidade no ambiente regulatório.
Isso nos levou a ter que transformar o negocio, estabelecendo uma estratégia de redução de custos através de economias de escala e offshoring. Ao mesmo tempo, diversificamos o portfolio de serviços em busca de melhores margens. Neste processo, tive que exercitar competências como liderança, perspectiva estratégica, adaptabilidade, compromisso com resultados e motivação de equipes para o alto desempenho.
Que habilidades e competências você procura hoje em jovens?
CG: Em primeiro lugar, buscamos atrair pessoas que demonstrem profundo interesse pela nossa empresa e pela industria. Idealmente, devem também possuir iniciativa, ética, capacidade de liderança e trabalho em grupo, boa comunicação e se encaixar bem na cultura da nossa organização.
E que tipo de conhecimentos específicos acha útil dominar para atuar nessa área?
CG: O mercado de saude é altamente regulamentado. Portanto, é fundamental estar constantemente atualizado sobre requerimentos regulatórios do negocio e operar em conformidade com os mesmos para ter sucesso nesta area.
Outro fator importante é entender como alavancar sistemas e aplicativos para incrementar a produtividade, resultados clínicos e satisfação dos pacientes.
O consumidor esta cada vez mais consciente e envolvido nas decisões sobre sua saúde, utilizando aplicativos e dispositivos wearable para melhorar sua qualidade de vida e bem-estar.
Que conselhos daria para um jovem que está começando e quer fazer carreira em gestão empresarial na área de saúde?
CG: Meu único conselho é: vai fundo! Trabalhar na area de saude é gratificante, mas exige absoluta integridade e responsabilidade.
Ainda existem muitos problemas importantes a serem resolvidos e que terão impacto marcante na vida das pessoas. Somos todos clientes, em maior ou menor grau, no presente ou no futuro.
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Tem alguma história marcante que gostaria de compartilhar em relação ao trabalho com saúde?
CG: A Alere faz um trabalho muito bacana em parceria com a Desmond Tutu HIV Foundation na Cidade do Cabo, na África do Sul.
A prevalência do virus HIV em adolescentes sul-africanos é maior do que em qualquer outro país do mundo e testar os adolescentes para verificar a presença do HIV tem sido desafiador – eles citam a dificuldade para acessar os serviços, o estigma da doença e o desejo por anonimato como principais barreiras.
A Alere colabora com a entidade desde 2015 para expandir o projeto Tutu Teen Truck, que leva os testes rápidos de HIV, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis, saúde reprodutiva e doenças crônicas comuns para comunidades de alto risco.
Em dois anos, serviu a mais de 8 mil adolescentes, 40% dos quais nunca haviam feito o teste do HIV. O projeto demonstra o impacto significativo que a tecnologia de testes rápidos – e inovações na área de saúde, de modo geral – podem ter.
Neste caso, levando exames a jovens que talvez nunca tivessem a oportunidade de realiza-los, e potencialmente salvando vidas.
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