Placa para Vale do Silício, na Califórnia

Depois de trabalhar por quase 10 anos no mercado financeiro, Pedro Englert, 37 anos, resolveu tirar um ano sabático. Ao fim de 2015, desligou-se da XP Investimentos e da InfoMoney, empresas em que foi sócio e atuou de forma determinante, e foi viajar o mundo.

A primeira parada foi no Vale do Silício, na Califórnia, onde encontraria seus amigos e ex-colegas de trabalho Marcelo Maisonnave, 40, e Maurício Benvenutti, 35. Foi lá que ele decidiu encurtar o período de descanso e voltou a colocar a mão na massa.

O resultado da viagem e do encontro foi um projeto que hoje ele comanda ao lado de mais cinco sócios: a StartSe, uma plataforma digital desenhada para conectar todo o ecossistema brasileiro de startups.

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A empresa é uma das principais referências da cena empreendedora nacional, reunindo cadastros de 12 mil usuários, 4 mil startups e mais de 3 mil investidores em uma mistura de rede social, escola de empreendedorismo e portal de conteúdo.

Nela, estão reunidos empreendedores, investidores-anjos, fundos de investimentos, mentores, agências governamentais e empresas já estabelecidas, entre outros. Os acessos variam entre 600 mil e 1 milhão de usuários únicos por mês, segundo Pedro.

Eles se definem como uma plataforma de conexão que usa a educação e a informação para fortalecer o ecossistema de startups, permitindo que os cadastrados tenham acesso gratuito a notícias da área, material educativo exclusivo, como e-books e webinares, e possam se conectar aos demais agentes, como outros empreendedores e potenciais investidores.

Além de conseguir monetizar a iniciativa por meio de cursos, eventos e missões ao Vale do Silício – o que financia o desenvolvimento da plataforma –, o resultado disso é o fortalecimento do ambiente: um empreendedor bem capacitado e informado tem mais chances de ter sucesso, gerando um círculo virtuoso. “De certa forma, estamos repetindo com as startups o que fizemos no mercado de ações. Assim como na bolsa, é preciso ter algum conhecimento da área para poder investir”, explica Pedro.

De acordo com o co-fundador, 60% do faturamento da StartSe provém desta parte educativa do negócio. O carro-chefe da empresa é o Accelerator Day, onde diversos convidados e os próprios sócios da empresa compartilham experiências, ensinam metodologias e apresentam práticas bem-sucedidas.

No entanto, há também eventos voltados para os diversos agentes do ecossistema: como Invest Class, Corporate Class, Power Class (evento mais exclusivo, para apenas 40 pessoas) e Fintech Class.

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O surgimento do negócio

Ainda que o universo de empreendedorismo digital não lhe fosse completamente desconhecido, Pedro tomou um choque ao sentir na pele a energia do Vale do Silício durante a sua primeira visita ao pólo tecnológico, há dois anos.

“Eles estão em um outro tempo, parece que você está viajando para o futuro. E o que está acontecendo de transformação lá vai impactar a vida de todos de maneira muito forte. Como eu vou preparar meus filhos para um mercado de trabalho que não existe hoje, para seguir profissões que nem sequer foram inventadas?”, ele se questiona.

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Sede do StartSe no Vale do Silício [reprodução] 

Este é um exemplo da inquietação que empreendedores – pelo menos aquela parcela que sente necessidade de empreender – trazem na bagagem depois de uma experiência assim. Maravilhado com as inovações e as transformações com que teve contato, Pedro conta o que sentiu na época: “Se eu ficasse um ano parado, não conseguiria buscar isso depois. Era preciso aproveitar o movimento”.

Enquanto esse sentimento crescia, ele se lembrou da StartSe, empresa com que manteve parceria enquanto era CEO da Infomoney e que havia recebido o primeiro aporte de capital de seu amigo Maurício. A empresa – fundada por Júnior Bornelli, 37, e João Evaristo, 37, no início de 2015 – era um embrião do que é agora.

De volta ao Brasil, ele começou a desenvolver a ideia e, em pouco tempo, convenceu seus amigos e ex-colegas de XP Marcelo Maisonnave e Eduardo Glitz, 36 anos, a se juntarem na empreitada. Começava aí a nova fase da StartSe: turbinada com 800 mil reais e as ideias do quarteto, com Pedro no posto de CEO.

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Não é à toa que o projeto favorito de Pedro são justamente as viagens da StartSe ao Vale do Silício – ou “missões”. Maurício, que toca a parte estrangeira da operação da empresa por lá, diz: “Estou aqui justamente para fazer com que essa ponte entre o Brasil e o Vale seja cada vez menor”.

Para se ter uma ideia da popularidade da iniciativa, todas as três próximas viagens agendadas para março, abril e maio deste ano já estão esgotadas e há ainda outras 320 pessoas na lista de espera. O sucesso foi tanto que eles pretendem lançar em breve uma versão da missão para profissionais C-level (os chiefs, como CEOs, CTOs etc.) e outra mais popular, chamada de Learning Experience, que poderia envolver até 90 pessoas.

Nem tudo é startup

Pedro acredita que a maior parte dos investimentos em startups não vêm de pessoas físicas ou de anjos, mas sim de empresas. Tanto a presença delas é desejável quanto elas querem estar sempre por perto, para assim garantir as melhores oportunidades. Por este motivo, 20% da receita da StartSe é proveniente de patrocínios de grandes companhias, que ganham acesso aos eventos e, consequentemente, a um público qualificado. “As parcerias precisam ser boas para os empreendedores, para os patrocinadores e para a própria StartSe, caso contrário não acontece”, diz.

O ciclo funciona assim: se uma empresa de software pode oferecer licenças gratuitas aos participantes dos cursos, por exemplo, isso beneficia as startups que estão começando, mas também traz usuários para sua plataforma.

Por fim, os 20% restantes dos produtos que geram receita para a StartSe são voltados ao mercado corporativo, como execução de screenings (uma espécie de triagem) e programas educacionais dentro de empresas.

Recentemente, a empresa foi contratada em fevereiro pela Visa para ajudar na seleção de startups de fintechs para serem aceleradas em uma parceria com o GSV Labs. “Essa foi a primeira vez que conseguimos de fato monetizar a plataforma”, conta Pedro. Mais adiante, ele prevê que há a possibilidade inclusive de lucrar com corretagem, quando a plataforma conseguir conectar empresas e investidores.

Motivando a equipe

Com tantas frentes de atuação diferentes, a solução foi criar núcleos para gerir cada uma delas. Como se fossem várias empresas semi-independentes dentro da StartSe, cada sócio lidera uma parte. Se, por um lado, a reunião de tantos talentos traz muitos benefícios para a empresa, por outro ela também pode constituir uma potencial fraqueza: “Quando você tem seis pessoas trabalhando na mesma coisa não significa que você vai cumprir seus objetivos seis vezes mais rápido”, conta o CEO. “São seis profissionais com participações praticamente iguais, todos metidos a inteligentes e que gostam de opinar. Foi preciso separar os objetivos de cada um”.

Essa dificuldade foi superada utilizando-se um modelo de gestão oriundo da XP Investimentos: se algum núcleo estiver performando abaixo do esperado, depois de um determinado tempo o sócio responsável por ele seria penalizado com a venda de um pedaço de sua participação. Os demais sócios ou mesmo funcionários que apresentem resultados notáveis poderiam adquirir essas ações e assim ganhar ainda mais relevância dentro da StartSe, que não tem capital aberto.

“O bacana deste modelo é que todo mundo fica motivado a crescer e cria-se um ambiente competitivo dentro da empresa”, ele conta.

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Recentemente, a atuação de Cristiano Kruel, 44, foi premiada por meio de uma espécie de vesting (quando funcionários recebem uma participação acionária). O mais novo sócio da StartSe lidera o Lab de Inovação e a área de Base (a “rede social” da plataforma).

Pedro considera que um dos fatores-chave para o sucesso da empresa é empoderar todos os funcionários da empresa – tanto na forma de incentivo de ação quanto financeiro. Isso é imprescindível para que a empresa se mantenha criativa e inovadora, ele diz: “O ambiente corporativo não permite esse tipo de inovação. Nele, é melhor não fazer nada do que errar. Mas você precisa errar para inovar. E se você inovar muito, você estará criando seu próprio caminho, e então a chance de você errar é muito maior”.

Organizando a casa

A maturidade do grupo de sócios da StartSe e a independência financeira garantida por suas trajetórias pregressas os ajudou a trilhar esse caminho até agora sem maiores dificuldades. Ainda assim, como qualquer jornada empreendedora, obstáculos precisaram ser superados.

Pedro recorda que, na primeira versão da plataforma, todos os integrantes tinham acesso aos contatos dos outros. Resultado: em pouco tempo, as caixas de e-mails dos investidores estavam lotadas com pedidos de financiamento. Isso diminuiu muito o engajamento da rede e fez com que muitas pessoas saíssem dela. Ele comenta a solução: “Na segunda versão da plataforma, que foi lançada cerca de um ano depois, apenas é permitida a interação entre startups, empreendedores e investidores que tenham perfis parecidos. O desafio agora é reconquistar as pessoas que perdemos por causa desse problema inicial”.

Outro momento decisivo que a StartSe passou foi quando eles romperam a parceria com a InfoMoney, que gerava fluxo para o site através de conteúdo. “O veículo nos projetava, mas ficava com toda a autoridade. Precisávamos sair debaixo da asa deles para ganhar relevância”, comenta sobre a decisão.

O momento certo de tomar esta atitude e se eles conseguiriam se manter sem o fluxo de usuários gerado pelo InfoMoney foram muito discutidos internamente, mas a decisão se mostrou acertada: “Quando nós ficamos sozinhos, acabamos ganhando mais relevância no mercado, e aos poucos isso foi compensando a perda. Reforçamos a equipe de produção de conteúdo para ter mais penetração”, diz.

Empolgados pelos resultados alcançados nestes dois primeiros anos de atuação, os sócios já desenharam os próximos passos da caminhada: expansão e diversificação dos produtos ofertados, como é o exemplo das missões ao Vale do Silício. Além disso, boa parte dos recursos obtidos serão investidos no crescimento da plataforma e na geração de novos conteúdos.

Por fim, os sócios ainda querem reforçar a presença regional com a abertura de representações “powered by StartSe”, em um modelo semelhante ao levado a cabo com sucesso na XP. “Ganhamos musculatura sem grandes investimentos. E ainda tem a vantagem de que trazemos para a StartSe pessoas que já estão conectadas aos ecossistemas locais”, diz.

O fato de que em apenas dois anos de vida a plataforma já conseguiu dar algum tipo de retorno é um indicativo de que eles estão no caminho certo, pois o próprio Pedro avalia que “ela só vai ter um valor considerável quando ela for enorme”.

Em um país com 12 milhões de desempregados, ele considera que há potencial para até 2 milhões de participantes na rede de conexões criada pela StartSe. Uma estimativa ambiciosa, mas que pode ser justificada pela receita obtida, que neste curto período passou de 80 mil reais para 500 mil reais mensais. Para 2017, o objetivo é fechar o ano com entradas no total de 15 milhões de reais. Pode parecer um salto muito grande para uma empresa ainda tão nova, mas o time tem conhecimento e mão-de-obra para sonhar alto. O start para isso já foi dado.

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Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT

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