Desenho de mulher falando palavrão

A maioria das pessoas entende a experiência de ter um colega que as trate inexplicavelmente de maneira grosseira no trabalho. Você não é convidado para um reunião. Um colega pega café para todo mundo – menos para você. Ri ou ignora sua ideia. Você pensa: de onde veio isso? Eu fiz alguma coisa? Por que ele me trata desse jeito? A grosseria do nada pode ser muito estressante e frequentemente não entendemos sua razão.

Um amplo e crescente conjunto de estudos sugere que incidentes do tipo, chamados de incivilidade no trabalho ou grosseria no trabalho, não são apenas muito comuns, mas muito prejudiciais. A grosseria no trabalho não é limitada a uma indústria, mas foi observada em diversos cenários e países com diferentes culturas.

Definido como comportamento anormal de baixa intensidade com a intenção ambígua de machucar, tais comportamentos – falar pequenos insultos, ignorar alguém, levar o crédito do trabalho alheio ou excluir alguém da camaradagem do escritório – parecem estar em todos os lugares no ambiente profissional. O problema é que, apesar de terem uma natureza de “baixa intensidade”, os resultados negativos associados com a grosseria no trabalho são tudo, menos pequenos ou triviais.

Seria fácil acreditar que a grosseria não é “nada de mais” e que as pessoas têm que “superá-la”. Porém, mais e mais pesquisadores dizem que isso não é verdade. Experimentar grosseria no trabalho já foi associado com performance reduzida, criatividade reduzida e intenções de turnover maiores, para nomear alguns dos resultados.

Em certos cenários, esses resultados negativos podem ser catastróficos – por exemplo, um artigo recente mostrou que quando equipes médicas escutam mesmo pequenos insultos antes de operar um bebê, a grosseria decima suas performances e leva à mortalidade (na simulação). Sabendo quão nocivos esses comportamentos são, a pergunta se torna: de onde vem e por que as pessoas fazem isso?

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Enquanto há muitas prováveis razões para comportamentos grosseiros, pelo menos uma que eu e meus colegas exploramos recentemente é de que a grosseria parece ser “contagiosa”. Quer dizer que sofrer grosseria faz na verdade com que as pessoas sejam elas mesmas mais rudes.

Muitas coisas podem ser contagiosas – de gripe ao sorriso, bocejo e outras ações motoras simples, além de emoções (estar ao lado de uma pessoa feliz tipicamente te deixa feliz). E ao que parece, estar com uma pessoa rude pode te fazer rude. Mas como?

Há duas maneiras de comportamentos e emoções se tornarem contagiosos. Um é através do processo consciente de aprendizado social. Por exemplo, se você recentemente chegou num trabalho novo e nota que todo mundo carrega uma garrafa de água, provavelmente não vai levar muito tempo até que você carregue uma também. Este tipo de contágio é tipicamente consciente. Se alguém perguntar: “Por que você carrega essa garrafa?”, você responderia: “Porque vi todo mundo fazendo isso e pareceu uma boa ideia”.

Outro caminho para o contágio é inconsciente: as pesquisas mostram que quando outra pessoa está sorrindo ou batendo um lápis, a maioria imita esses comportamentos motores simples e sorriem ou batem um lápis também. Se alguém perguntasse por que você está sorrindo ou batendo um lápis, você provavelmente diria: “Não faço ideia”.

Em uma série de estudos, meus colegas e eu encontramos evidências de que a grosseria pode se tornar contagiante através de um caminho inconsciente e automático. Quando você sofre uma grosseria, a parte do seu cérebro responsável por processar a grosseria “acorda” um pouco e você fica mais sensível às grosserias.

Isso significa que você provavelmente vai notar mais deixas rudes em seu ambiente e também interpretar interações ambíguas como grosseria. Por exemplo, se alguém disser: “Ei, sapatos bonitos!”, você normalmente interpretaria isso como um elogio. Se sofreu uma grosseria recente, tem mais chances de pensar que aquela pessoa está te insultando. Ou seja, você “vê” mais grosseria ao seu redor, ou pelo menos acha que vê. E porque acha que os outros estão sendo rudes, tem mais chances de se comportar de maneira rude.

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Você pode estar imaginando quanto tempo isso dura. Sem mais pesquisas é impossível ter certeza, mas em um de nossos estudos vimos que sofrer grosseria causa comportamentos grosseiros até sete dias depois. Nesse estudo, que aconteceu em um curso de negociação em uma universidade, os participantes negociavam com diferentes parceiros. Descobrimos que quando os participantes negociavam com alguém rude, seu parceiro da negociação seguinte achava que ele tinha sido rude.

No estudo, algumas das negociações aconteceram sem intervalo de tempo, outras com um intervalo de três dias e às vezes com um intervalo de sete dias. Para nossa surpresa, descobrimos que o intervalo parecia desimportante e que pelo menos numa janela de sete dias, o efeito não parecia estar diminuindo.

Infelizmente, porque a grosseria é contagiosa e inconsciente, é difícil parar. Então o que pode ser feito? Nosso trabalho aponta para a necessidade de reexaminar tipos de comportamentos tolerados no ambiente profissional. Comportamentos anormais mais severos, como abuso, agressão e violência, não são tolerados porque têm consequências claras. Enquanto uma grosseria de uma natureza menor torna suas consequências mais difíceis de observar, não é menos real ou nociva e por isso pode ser tempo de questionar se deveríamos tolerá-la no trabalho.

Você pode estar pensando que será impossível eliminar grosseria no trabalho. Mas culturas organizacionais podem mudar. Funcionários costumavam fumar em suas mesas e eles mesmos diziam que era uma parte natural da vida de escritório, que não poderia ser eliminada. Mesmo assim, fumar no ambiente de trabalho é proibido em todos os lugares agora. Estabelecemos o limite em cigarros e discriminação – e grosseria deveria ser a próxima eliminada.

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O autor Trevor Folk é um doutorando em administração de empresas da Universidade da Florida. Ele se interessa por comportamentos profissionais negativos, dinâmicas de grupo, tomada de decisões e esgotamento/recuperação.

Artigo originalmente publicado no portal Aeon e licenciado via Creative Commons

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