Pedro Henrique de Cristo

Filho de arquitetos, formado em Administração, mestre em design de políticas públicas pela Universidade de Harvard. Em contato com arquitetura desde os 11 anos, desenhou e construiu sua primeira casa aos 17. Essa trajetória simplificada descreve um pouco da vida do paraibano Pedro Henrique de Cristo. O detalhe que falta, e que fez o brasileiro se destacar internacionalmente, entretanto, foi outro: a ideia de ser um arquiteto de espaço, políticas públicas e tecnologia, com foco nas cidades e comunidades mais pobres.

Depois de trabalhar como aprendiz no ateliê dos pais, Pedro encarou a formação em administração – tanto a pública quanto a de empresas – e logo conseguiu uma oportunidade na área de urbanismo. Ele já tinha familiaridade com o tema, graças à experiência em desenho de arquitetura e urbanismo.

A graduação na Universidade Federal da Paraíba funcionou, para ele, como uma forma de “entender como gerir gente e dinheiro”. Pedro colocou em prática o que aprendeu em sua passagem pela Prefeitura de João Pessoa, como coordenador da “Operação Respeito”. O projeto buscou melhorar o uso da água e energia, além do desenho de espaços públicos para sustentabilidade e a cidadania na capital paraibana e acabou premiado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Com a bagagem profissional e a vontade de se aprofundar na área de políticas públicas, Pedro candidatou-se ao mestrado em Harvard. Era o único currículo, entre as instituições americanas renomadas, que se encaixava na ideia dele: de unir o design às políticas públicas. “O desenho programático em Harvard, em geral, estava bem à frente do oferecido pelas outras”, resume ele. Aceito, ele embarcou para o mestrado com o apoio do programa Líderes Estudar, da Fundação Estudar.

Dois anos em Harvard, um ano na favela

 

Foi em Harvard que Pedro desenhou as bases para alguns de seus projetos mais recentes, em favelas do Rio de Janeiro. Além de oferecer a ele a oportunidade de cursar um programa que se alinhava com suas expectativas, a universidade deu margem para muito engajamento. “Eu trabalhei como teaching assistantteaching fellowresearch associate… Fiz muita coisa. Era interessante ter esses trabalhos, porque você se engaja em outro nível”, conta o brasileiro.

Como aluno de Harvard, o brasileiro também podia se dividir entre matérias da Kennedy School of Government e as disciplinas ensinadas em outras escolas e instituições, como o MIT (Massachussetts Institute of Technology). A possibilidade de tornar seu currículo ainda mais interdisciplinar fez com que cursasse disciplinas desde “Sustainability for Design Planning” até “Space and Violence”.

A dissertação de mestrado de Pedro Henrique de Cristo acabou por virar uma matéria em Harvard

Ainda que o ensino em Harvard unisse um corpo docente de renome e diversas oportunidades de aprendizado, Pedro “concluiu” seu mestrado pra valer ao retornar ao Brasil. Era a chance de ultrapassar os muros da universidade e colocar sua dissertação de mestrado em prática, através do projeto Brazil School for Year 2030. Com o conhecimento do trabalho de campo em comunidades como a Maré, a Rocinha, Santa Marta e Cidade de Deus, Pedro desenvolveu um projeto que tornava as escolas centros de integração. Unindo tecnologia, design e políticas públicas, era possível fazer com que a comunidade se apoderasse desses espaços e se engajasse. “O papel social da escola é ainda maior na favela”, sintetiza Pedro.

A premissa era criar um espaço não só para as atividades educacionais que são associadas a uma escola tradicional, mas também trazer para esse espaço atividades ligadas à comunidade como um todo. Fazia parte do projeto, ainda, criar meios de integrar as comunidades ao restante da capital carioca. A dissertação, apresentada ao professor Hashim Sarkis, acabou por virar uma matéria na Harvard Graduate School of Design. Depois de concluir o curso, o brasileiro continuou atuando nas favelas — trabalhando, por cinco anos, em seu estúdio na região, sempre em contato com Harvard.

Inovação na favela

Para Pedro Henrique de Cristo, ainda é preciso desassociar o conceito de inovação aos robôs extremamente complexos e aos arranha-céus. “Todo mundo fala que inovação é Silicon Valley”, comenta ele. O problema é que, tomando o polo de inovação como modelo, empresas como a Apple e a Microsoft falam somente com “as 2 bilhões de pessoas que vivem nos países mais ricos”.

E, nas palavras de Pedro, o robô que funciona em Manhattan não necessariamente funciona na Índia, nem no Vidigal. Esse é um dos exemplos citados por ele, para dar a dimensão do problema. Para mapear uma comunidade, por exemplo, o jeito é buscar as alternativas. “Nós usamos nanotecnologia para soltar pequenas estruturas na privada das casas. Elas iam descendo pelo morro, mapeando e traçando a rede subterrânea de água e esgoto”, conta o brasileiro.

Como ele defende, um dispositivo pensado para tais cenários apresenta vantagens. “Se você fizer uma tecnologia que funciona na favela do Vidigal, ela funciona em qualquer lugar”. Regiões como as das favelas no Rio de Janeiro são cruciais para pensar o desenvolvimento, as cidades e as políticas públicas. Isso porque as favelas ao redor do mundo abrigam, hoje em dia, uma em cada sete pessoas – um número que só tende a aumentar.

Se você fizer uma tecnologia que funciona na favela do Vidigal, ela funciona em qualquer lugar

Para conseguir desenvolver tais dispositivos e pensar novas ideias ambientadas nas comunidades, o caminho é certeiro:  passar mais tempo dentro das favelas e mudar o conceito pronto que se tem de tecnologia. Afinal, tecnologia nada mais é do que a capacidade de adaptação das pessoas para resolver problemas. “O que acontece na favela não é gambiarra, é um sistema de síntese para resolver esses problemas com o que se tem à mão”, resume Pedro.

Os projetos mais recentes de Pedro, no Brasil e no exterior, só comprovam a teoria. Como um dos criadores do estúdio +D – Design com Propósito, ele somou seus esforços e o de especialistas vindos de Harvard às demandas da comunidade no Vidigal. Essa junção fez com que, em 2012, começasse a ser construído o Parque Sitiê, em uma região da favela em que antes havia entulho acumulado. “De um lixão, isso virou um parque de 2,8 hectares, criado e liderado por uma favela”, diz Pedro Henrique de Cristo.

 

* Foto: O ativista social Pedro Henrique H.F. de Cristo nas ruas do Jacarezinho / Crédito: Sebastian Liste, October 2012 para Financial Times

 

Esta matéria foi originalmente publicada no portal Estudar Fora, da Fundação Estudar

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