jovem durante trilha de motocicleta

Foi no caminho de Santiago de Compostela que Thiago Berto desenhou muito do que é hoje a Fundação Ayni, uma cidade escola fundada há pouco mais de um ano em Guaporé (RS). Ele saiu do Brasil rumo ao Butão, na Ásia, e passou anos fora trabalhando como voluntário, depois costeando do Alaska ao Uruguai de moto – uma realidade bastante diferente do que tinha tinha vivido até então aquele engenheiro de sistemas autodidata.

Quando relembra sua trajetória, Thiago volta aos seus 16 anos, quando foi expulso de casa e pegou carona num caminhão até Porto Alegre e recomeçou a vida por lá. A falta de interesse pelas aulas na escola fez com que ele decidisse não terminar o ensino médio na capital e, no lugar disso, mergulhasse nos estudos por conta própria.

Dedicou-se integralmente a aprender como funcionavam redes de computadores, às vezes por 15 horas seguidas. Deu certo. Aos 18 anos, mesmo sem diploma, era engenheiro de sistemas da Microsoft – o mais jovem em toda a América Latina.

[acervo pessoal]
[acervo pessoal]

A carreira ia tão bem que, em 1997, recebeu um convite para trabalhar em uma empresa de tecnologia da Califórnia. Chegou a fazer as malas mas, na hora, a namorada ficou sem visto. Para desespero da família, ele decidiu ficar no Brasil. “Eu seguia meu coração, porque meu maior medo era acordar aos 80 anos e perceber que minha vida havia escorrido pelos dedos”, conta.

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Primeira empresa

Enraizado em Porto Alegre, Thiago resolveu abrir a própria empresa de segurança de informação, aos 19 anos. Durante os onze anos seguintes e com o sucesso da empreitada, chegou a ter quarenta colaboradores.

Um dia, no entanto, o negócio parou de fazer sentido. “Eu pensei: ‘Para que passar minha vida fazendo fortuna se não quero nada?’”, lembra. Vendeu empresa, apartamento e carro. Doou todo o resto.

“Enfrentei todo tipo de desconfiança quando já não fui para os EUA”, diz. “Quando vendi tudo no auge e fui viver na Cordilheira do Himalaia… Isso peneirou e refinou minhas relações sociais.”

Sem plano fechado, só com mochila e alguns livros nas costas, caiu no mundo por três anos.

Na estrada

Na primeira metade da jornada, trabalhou como voluntário. Pegava o próximo trem, barco ou vôo rumo a qualquer lugar, numa jornada de autoconhecimento. “Perdi todas as minhas referências sociais e foi muito importante estar comigo mesmo”, diz.

Finalmente, uma parada em Cusco acendeu uma faísca. Na cidade dos andarilhos, Thiago – que se descreve como um – encontrou um projeto de escola diferente. Inspirado, resolveu visitar outros quarenta tipos de escola espalhados pelo mundo e a ideia de fazer algo no Brasil foi tomando forma.

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“Eu vi que tinha um plano de vida, que era fazer uma escola diferente e inspiradora”, conta.

Há um ano e quatro meses de volta ao Brasil, rumou para sua Guaporé natal, para construir a Ayni. “É um projeto único, mas quero que logo seja muito comum.”

Sem bandeiras

Assim que chegou, Thiago entrou em contato com a prefeitura, apresentou a ideia e ganhou um terreno enorme, cedido por 20 anos, no parque da cidade. Com o próprio dinheiro e doações, começou a erguer 21 construções sustentáveis em outubro.

A ideia é oferecer educação infantil totalmente gratuita, baseada numa filosofia própria de contato com a natureza e cultura de paz mas que siga as diretrizes curriculares do Ministério da Educação. (As crianças, inclusive, já aparecem para ajudar a colocar o barro nas paredes.)

Para que o negócio seja autossustentável, Thiago incluiu na planta uma série de outras atividades, incluindo restaurante, hotel, lojas e um teatro. A escola, que já funciona com projetos e workshops, abre as portas oficialmente no meio de 2016.

[reprodução]

A experiência de Thiago com business também veio a calhar. Deu mais de 150 palestras pelo Brasil, para mais de sete mil pessoas, e angariou para voluntários de 12 países. Agora, passa pelo processo de apresentar o projeto para possíveis parceiros corporativos. Dos 2 milhões de reais estimados para a construção, Thiago tem 15%. A recente recepção em São Paulo, no entanto, foi positiva. “Foi uma injeção de ânimo”, diz.

O sucesso da empreitada ainda depende do tempo, mas Thiago está feliz com sua jornada mesmo assim. “Fora da zona de conforto é onde está a magia da vida”, resume. “E isso acontece quando a gente arrisca. Arriscar é o verbo.”

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