Maioria dos negócios sociais olha para a educação e dá pouca atenção à avaliação do próprio impacto

O 1º Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental, que analisou 579 startups brasileiras das áreas de educação, saúde, finanças sociais, cidadania, cidades e tecnologias verdes, aponta que 38% dessas empresas têm como foco a resolução de problemas da educação. Além disso, metade dos negócios mapeados disseram que podem revolucionar a educação, ainda que alguns tenham um foco em outras áreas. O levantamento inédito feito pela plataforma de negócios sociais Pipe.Social foi divulgado neste mês de junho, em São Paulo (SP).

Criado a partir da articulação de 40 organizações do setor, a iniciativa tem como objetivo medir os esforços dos diversos atores que estão construindo e fomentando um novo setor da economia no país.

Além de uma parte quantitativa, foi incluída uma outra, qualitativa, realizada com base em entrevistas com empreendedores mapeados na primeira etapa e revisões de especialistas em negócios de impacto. Na sequência, esses dados foram ainda comparados com outros secundários a respeito do setor de impacto nacional e do exterior. Na fase final, foram feitas três sessões de trabalho com representantes das áreas especializadas dos patrocinadores do estudo para refinamento dos resultados.

Leia também: Empresas B, ONGs, negócios de impacto… Entenda o beabá do empreendedorismo social

Perfil dos negócios em educação

Entre os 291 empreendedores que associam sua solução com educação, 65% estão na região sudeste. No sul do país estão 17%, no nordeste, 9%, no norte, 4%, e no centro-oeste apenas 3%. Uma parcela de 2% não respondeu.

Em sua maior parte, esses negócios sociais estão estruturados como sociedade limitada (46%), têm de duas a quatro pessoas no time fixo (47%) e foram fundados apenas por homens (52%). Dentro da jornada desafiadora, que inclui ideia, validação, protótipo, piloto, MVP (sigla em inglês para produto mínimo viável), organização, tração, pré-escala e escala, a maior parte deles já passou pela primeira metade do caminho. Entre os que responderam, 19% estão na fase de organização, 14% na tração, 12% na pré-escala e 14% já na fase de escala.

Como modelo de negócio, 57% adotam venda a outras empresas (business-to-business, segundo jargão em inglês) ou para pessoa física, 56% (business to consumer) – sendo que 43% dizem atuar nas duas modalidades.

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Uma peculiaridade da área em relação às demais é que, apesar de 34% sinalizarem o propósito de impacto em sua comunicação externa, 40% das empresas não julgam necessário adotar processos que monitorem e avaliem suas ações e 23% sequer definiram quais indicadores podem balizar seu trabalho.

Ao analisar o caixa das empresas, 33% disseram não ter obtido faturamento no último ano e 30% ganharam até R$ 100 mil. E mais, quase metade (40%) das empresas disseram não ter recebido qualquer tipo de investimento.

Quando perguntados quais seriam as ajudas mais urgentes necessárias, além de dinheiro (46%), empreendedores em educação mencionam a necessidade de mentoria (20%) e comunicação (18%).

Desafios

Apesar de considerar negócios de impacto socioambiental um mercado do futuro (projeções chegam a R$ 50 bilhões em 2020), o estudo coloca como primeiro desafio para o setor como um todo a desconexão entre o que investidores cobram e o que o empreendedor brasileiro oferece.

No Brasil, podem ser considerados entraves ao crescimento do setor a preferência de investidores por produtos financeiros de baixo risco (títulos bancários ou públicos), a falta de casos de sucesso de empresas que trouxeram retorno ou mesmo de empreendedores capazes de cumprir as exigências dos fundos.

Um segundo desafio está ligado à desigualdade de gêneros presente no setor. Apesar de pesquisas atestarem claramente os ganhos diretamentes ligados à diversidade, os negócios mapeados que foram criados por mulheres ainda são minoria – inclusive em educação. Além de poucas, elas recebem menos ajuda financeira e, por isso, tendem a recorrer mais a sua rede de amigos e familiares.

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Por outro lado, negócios fundados só por mulheres tendem a se comprometer mais com a definição e acompanhamento do impacto. Entre as 113 empresas lideradas somente por mulheres, 48% afirmam que o propósito está presente em toda a comunicação externa; 34% afirmam que definem indicadores, ou seja, há impacto social e ambiental monitorado. Entre os homens, os índices são 41% e 26%, respectivamente.

Por fim, o mapa coloca como desafio o entendimento e uso estratégico de tecnologias inovadoras. Segundo a Pipe.Social, ainda é tímido o uso de ferramentas capazes de trazer mudanças disruptivas que tragam maior escala aos negócios.

Avanços

Mesmo com a atual crise política, existe a expectativa que a queda dos juros básicos da economia atraia investidores para soluções que entreguem maior retorno, ainda que acompanhadas de maior risco. Um segundo ponto é o amadurecimento do mercado. À medida que um maior número de negócios ganha escala, pode-se provar que retorno financeiro e social caminham juntos. Por fim, os marcos legais estão sendo simplificados. O estudo cita como exemplo a Lei Complementar 155, de 27 de outubro de 2016, que traz maior segurança jurídica e facilita o investimento de pessoas físicas com capital próprio.

 

Este texto foi originalmente publicado em Porvir por Vinícius de Oliveira e a íntegra da pesquisa está disponível em www.pipe.social/mapa2017 

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