De pior aluno da turma a cientista chefe do próprio instituto, o médico Leonardo Metsavaht sabe uma ou duas coisas sobre obstáculos. Quando a família enfrentou uma crise financeira, por exemplo, acabou perdendo um ano da faculdade por excesso de faltas – e aumentou em cinco vezes a produção de botas do empreedimento que assumiu no processo para ganhar um dinheiro extra. “Não sei se é qualidade ou defeito, mas sou destemido mesmo”, diz.
Hoje, servem como termômetro do seu sucesso não só os pacientes (em seu consultório ele atende esportistas como o tenista Rafael Nadal, o lutador Victor Belfort e a triatleta Fernanda Keller, além do empresário Jorge Paulo Lemann) mas também os seguidos reconhecimentos científicos; foi premiado pela escola de medicina de Harvard durante sua pós-graduação e recebeu o prêmio Michel Pistor, importante distinção em uma de suas especialidades médicas, a mesoterapia.
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Nos vídeos a seguir, ele conversa com o Na Prática sobre os desafios de sua carreira, que servem de lição para jovens profissionais da área médica ou de qualquer outra. Assista:
A carreira na medicina
Foi a carreira que motivou sua mudança de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, onde hoje mantém o Instituto Brasil de Tecnologias da Saúde (IBTS) e a própria clínica. Especializado em Ortopedia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, passou um período na Harvard Medical School, em 2010. Era o único ortopedista do programa que cursava. “Eu me senti o burrinho da turma”, lembra. Ao final, foi premiado pelos professores.
O amor pela profissão veio da infância. Leonardo fazia visitas ao banco de sangue do pai, também médico, e invadia armários em busca de seringas e frascos coloridos. “Eu dava injeção em lagarta, lesma, caracol… Era determinado”, lembra.
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O mau aluno Os primeiros anos de ensino, no entanto, não foram fáceis. Dono de notas problemáticas, passava horas cumprindo castigos na diretoria e repetiu a oitava série antes de decidir-se por um intercâmbio nos EUA, onde concluiu o ensino médio. A experiência fora, pela qual é grato, também trouxe um problema de ajuste na hora do vestibular e exigiu um ano de cursinho preparatório.
Quando finalmente ingressou na Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA), Leonardo pensava em ser cirurgião plástico. Ivo Pitanguy, amigo da família e referência no campo, estava disposto a recebê-lo com uma condição. “Ele disse que eu era bem-vindo na clínica desde que fosse primeiro um grande médico”, conta.
A escolha da especialização
Ao longo dos estudos, Leonardo desencantou-se com a especialização, em que via pouca dedicação às cirurgias reparadoras. Encontrou-se no mestrado em ortopedia, no Rio. “Fiquei muito feliz e a coisa foi fechando”, diz. O talento veio à tona e ele ficou entre os trinta melhores colocados na prova da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Profissionalmente, passou pelo Ambulatório de Cirurgia do Joelho do Hospital da Lagoa e instalou-se de vez na cidade. Entre 1999 e 2009, trabalhou na Santa Casa de Misericórdia do Rio, onde coordenou o curso de Pós-Graduação em Cirurgia Reconstrutiva da Mão e Membro Superior e formou mais de quarenta alunos.
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Conhecido por empregar e estudar técnicas minimamente invasivas – até 2014, era presidente deste departamento na Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação –, foi assim que conquistou a clientela fiel de esportistas e atletas de alta performance.
O sucesso, explica, veio antes do esperado e deixou-o meio perdido. Apesar de gostar do trabalho, começou a ansiar por fazer mais. “Operei quatro mil pacientes em meu tempo na Santa Casa, mas queria fazer algo maior, atingir milhões de pessoas”, diz.
O aprendizado com Jorge Paulo Lemann
A chave veio em meados de 2007, quando tratou Jorge Paulo Lemann e tornou-se próximo do empresário. A combinação do modus operandi dos dois, cada um bem-sucedido em sua área, fez com que Metsavaht passasse a incorporar no seu dia a dia de médico e pesquisador ferramentas de produtividade que tinham se provado nas empreitadas de Lemann. Assim, levou para suas iniciativas na saúde a famosa cultura de metas, e passou a pensar em ‘sonho grande’.
O sonho grande
Juntos, os dois planejaram um centro de pesquisas em três linhas – risco de lesão em esportes e de queda em idosos, otimização de medicamentos e estudo de casos raros ou complexos – e criaram o IBTS. “Foquei em tentar inventar alguma coisa e encontrei essa brecha na biomecânica”, conta ele, que ocupa o posto de cientista chefe da instituição e divulga suas pesquisas internacionalmente. Quando pensa no futuro, o médico aposta no desenvolvimento de áreas como análises de movimentos em 3D e biomecânica e sonha com melhorar a qualidade de vida de idosos.
Ao lado das pesquisas, mantém sua clínica privada ativa em Ipanema. Como sobreviver às custas de ciências é difícil no Brasil, diz, é ela quem acaba sustentando seu lado científico teórico. Ambas as partes vão bem, e Leonardo não está surpreso. “Aprendi com meu pai que a medicina é muito honesta e, se você for medíocre, não vai conseguir ser medíocre por muito tempo”, conclui.
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“Decida pelas coisas que você tem prazer”. Esta, para o médico, é uma condição para o sucesso, e vale também para quem está escolhendo a carreira. Cultivar uma veia empreendedora, independente da profissão, e focar em grandes objetivos também são práticas que ele valoriza.