Estamos a 10 dias do início da campanha eleitoral de 2018 – campanha na qual as novas regras de financiamento de campanha entrarão em vigor e em que o ambiente digital terá mais relevância que nunca. Por isso, a discussão sobre o perigo das Fake News ganha espaço relevante, não apenas pela sua atualidade, mas também pela confusão de definição do que é uma notícia falsa ou fraudulenta e pelos perigos que esta “zona cinzenta” acrescenta.
Trazer mais informação e contexto para esta discussão era o objetivo de um painel sobre Fake News no Encontro Anual 2018 da Fundação Estudar. Nele, a especialista Angela Pimenta, presidente do Projor e coordenadora do Projeto Credibilidade, explicou que o termo “fake news” é muito impreciso, pois engloba um número de categorias noticiosas cujas intenções e efeitos são bastante diferentes. Dentre eles, por exemplo, há a sátira ou paródia – conteúdo humorístico que, embora não tenha a intenção de prejudicar, tem potencial enganoso; a falsa conexão – quando manchetes, legendas e ilustrações não confirmam o conteúdo da notícia; e conteúdo fabricado – totalmente falso, criado com a intenção de manipular e prejudicar.
A confusão em torno do termo se acentua pelo fato de que há pouca ou nenhuma referência internacional para lidar com este tipo de informação. “A Alemanha, por exemplo, passou uma lei que eu não concordo, porque é restritiva demais”, explica Ângela. A preocupação, portanto, deve ser no sentido de regulamentar e tipificar a prática de publicação e compartilhamento de notícias fraudulentas, sem que isso culmine em censura ou cerceamento de liberdade de imprensa.
Para Daniel Bramatti, presidente da Abraji e editor do Estadão Dados e do Estadão Verifica, o risco de que tal cerceamento aconteça é maior para imprensas regionais: “Temos grandes desertos da notícia aqui no Brasil”. Enquanto grandes veículos de abrangência nacional conseguem garantir certa independência e resguardar-se através de assessorias jurídicas, pequenos veículos do interior do Brasil sofrem grande pressão de forças preponderantes – isso quando não são sequestrados por interesses políticos.
Qual é o papel do leitor, cidadão e consumidor de notícias?
Para Angela, não é possível combater o lixo digital se a sociedade civil não estiver engajada. “Isso precisa ser parte dos currículos escolares e das escolas de jornalismo, mas BNCC [Base Nacional Curricular Comum] não contempla esse tema como deveria”, argumenta.
Mas enquanto a educação midiática tem potencial de gerar efeitos a longo prazo, no curto prazo é necessário criar o hábito de verificar informações e buscar sempre fontes confiáveis. Mas, muito além disso, é preciso levantar a exigência de qualidade do conteúdo que circulam em nossos círculos. “Tem que haver uma pressão social, dentro dos grupos de família, no WhatsApp, pra que a pessoa seja alertada. Às vezes, checar está a dois cliques de distância”, defende Daniel.
O WhatsApp é uma das principais preocupações para especialistas que analisam a disseminação de conteúdos fraudulentos, já que, como todo o seu conteúdo compartilhado é criptografado de ponta a ponta, não é possível mapear nem identificar a informação que circula. Adicionalmente, não há algoritmo para determinar a entrega de conteúdos: quem determina a curadoria são os seres humanos. “E as pessoas tendem a compartilhar conteúdo sensacionalista, que mexe com o emocional. E com isso nosso conteúdo imparcial, jornalístico, fica sem terreno”, observa.
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“Aprender a ler, a gostar de ler. Assinar veículos, contribuir… É uma gama de habilidades que tem a ver com a cidadania, que deve ser uma responsabilidade cívica”, conclui Angela.
O Encontro Anual da Fundação Estudar 2018 está sendo transmitido ao vivo em parceria com a Exame.com. Confira: