Danielle Melo, Talento da Saúde da Fundação Lemann
Danielle Melo, Talento da Saúde da Fundação Lemann / Arquivo pessoal

A Fundação Lemann promove, desde 2017, o projeto Talentos da Saúde, em que conecta profissionais de destaque de diferentes locais e focos de atuação – porém, todos dentro do escopo da saúde -, para refletirem sobre os principais desafios da área. Danielle Melo é uma delas.

Com uma carreira pautada em experiências no mercado privado, foi chamada para trabalhar no município de Fortaleza com a meta de impulsionar a área de captação de recursos. De início, no setor do Turismo, base fundamental da economia local. “Eu ganhava muito menos, financeiramente falando, do que na área privada, mas o prazer era muito grande de estar construindo um projeto enquanto melhoria de comunidade”, conta ela. “E você trabalhar essas relações deixando uma ambiência mais harmoniosa, trabalhar essa dialética enquanto cidade – não consegui me imaginar mais em outro cenário.”

Mas seu convite para fazer parte da rede da Lemann se deu após resultados grandiosos que obteve ao migrar para a saúde, pouco depois. Entre apoiar na mitigação dos efeitos da crise econômica em 2015 e realizar as primeiras acreditações dos ambulatórios especializados da rede de saúde do estado do Ceará, os projetos em que atua na coordenação da Unidade de Gerenciamento de Projetos (UGP) da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará mudaram (e mudam) o cenário da saúde no local.

“Nunca fui aquela pessoa que trabalha de 8h às 17h – sempre trabalhei muito. É muito bom ser uma fazedora, alguém que entrega resultado, mas não deixem de se aperfeiçoar, de estudar”, recomenda ela. “As ferramentas vêm para somar com essa experiência e essa dobradinha é o que vai fazer você ser um profissional diferenciado no mercado.”

Início e encantamento

O interesse do estado em uma administradora com de background em gestão comercial, há 12 anos, partiu da necessidade de captar investimentos além da fonte do Governo Federal. A ideia era que ela começasse a construir um modelo de captação de recursos no município de Fortaleza. Só que os muitos entraves barraram o avanço à época.

Por conta disso, ela foi alocada a frente de projetos prioritários, como o da nova Avenida Beira Mar. Sua falta de expertise em relação à modelagem pública foi a motivação inicial para que fizesse um MBA. “Era um desafio muito grande. Impulsionou-me enormemente dentro da esfera pública no Ceará.”

Nessa função, ela brinca que foi “picada pelo mosquitinho do serviço público”. “Confesso que quando eu fui convidada para trabalhar na prefeitura eu achei que fosse modelar a perspectiva da captação de recursos e rapidamente voltaria para a iniciativa privada, porque meu timing era muito diferente daquilo que eu imaginava.”

O plano foi por água abaixo quando, ainda no projeto da Beira Mar, notou as carências e a necessidade urgente de compromisso e vontade para promover ações grandiosas e desafiadoras – capazes de mudar a realidade da comunidade.

“O profissional comprometido no serviço público ainda sente falta de reconhecimento”

No turismo, Danielle construiu uma carreira de anos, incluindo outro projeto de captação de recursos. Posteriormente, foi convidada para ser coordenadora na UGP da Secretaria de Turismo do Ceará. Apesar de obstáculos próprios, o turismo se caracteriza, segundo ela, por ser uma pasta mais simples de trabalhar, com ações mais concisas do que, por exemplo, a saúde, setor que seria sua próxima parada.

Há cerca de quatro anos foi convidada a aplicar sua capacidade de gestão na área da saúde. “Tomei um grande susto porque vi profissionais maravilhosos, mas desmotivados, que perderam aquele brilho no olhar”, relata. Mesmo em apenas dois anos, duração do trabalho inicial, conseguiu mobilizar os profissionais. Hoje, comanda um time de 30 pessoas.

“Quando a gente faz um bom planejamento de projeto, o impacto que você tem na assistência é tão grande. É isso que eu tento trabalhar com nossa equipe: cada um é parte do processo e tem um papel fundamental.”

A importância que vê no sentimento de pertencimento e de relevância de cada pessoa é tanta que Danielle já chegou a levar os membros do núcleo de aquisição para dentro de um hospital. “Justamente para que vissem que um processo de compra de um tomógrafo, por exemplo, tem um impacto tão ou maior do que a ausência de um profissional lá dentro”, diz. “Não temos bônus, não temos salários altos, então é necessária essa sensibilização, as pessoas precisam [disso].”

“O profissional comprometido no serviço público ainda sente falta de reconhecimento, porque existem muitas amarras – sejam estruturais, financeiras ou do plano de carreira, que ainda não tem uma modelagem aplicada.”

Programa de Expansão e Melhoria da Assistência Especializada à Saúde 

Financiado pelo banco Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa de Expansão e Melhoria da Assistência Especializada à Saúde (PROEXMAES) nasceu em 2009, por uma necessidade de descentralizar a rede de saúde, já que a assistência especializada, até então, se concentrava inteiramente na capital.

A primeira parte do Programa era destinada a preparar a infraestrutura. Basicamente, construir dois grandes hospitais regionais, além de policlínicas e CEOs (Centros Odontológicos Especializados) em todas as macrorregiões de saúde. A partir disso, então, fortalecer as condições de assistência para, depois, trabalhar “linhas de cuidado” – o caminho traçado para o usuário dentro
de uma rede organizada de saúde -, que é o que atualmente vem sendo feito na segunda etapa do PROEXMAES, que objetiva avançar com a gestão da rede.

“Hoje temos 21 policlínicas, 16 CEOs construídos em todo o estado do Ceará, três hospitais regionais, estamos agora construindo mais um”, relata Danielle. Na segunda fase, o programa objetiva otimizar a rede – “não adianta termos toda essa estrutura posta, se ela não se comunica, não é otimizada com todo seu potencial”, explica a coordenadora da UGP. A meta é fazer com que o estado aproveite melhor todo o investimento e integrá-lo também com as demais atenções do sistema, especialmente a primária. É um desafio enorme: o foco são todos os 184 municípios que fazem parte da rede do estado.

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Como sua equipe ajudou a minimizar os efeitos da crise

Em 2015, entre seus efeitos, a crise econômica ainda deixava um rastro de falta de recursos nos setores públicos. No Ceará, no entanto, a primeira fase do PROEXMAES mostrou ser uma vantagem pela estruturação da rede que promoveu.

Na contrapartida, à mesma época, outros estados escolheram outro caminho. Em vez de investir na infraestrutura própria, terceirizaram serviços. Apesar de pouco dinheiro disponível, ter uma rede de saúde estruturada e descentralizada ajudou a mitigar a crise econômica. “Naquela ocasião nós tínhamos uma capacidade instalada de assistência muito boa. Faltavam recursos, porém tínhamos como fazer gestão.”

Da mesma forma, a equipe trabalhou para centralizar a compra de medicamentos – e isso também acabou ajudando. “Quando nós chegamos aqui, cada hospital fazia sua compra direta. Não conseguíamos ganhar em volume, em negociação”, afirma ela. Embora a UGP tenha ajudado a modelar esse processo, que exigia expertises diferentes, seu foco são investimentos e aplicações novas. Dão o start, mas não realizam a manutenção, explica a coordenadora.

Outra medida foi de também centralizar a administração dos hospitais e a aproximar dos processos de compra. “Foram ações mitigatórias, porque precisávamos passar por esse momento com menos impacto possível”, explica, “começamos a criar métodos e sistemas que reverberaram mais tarde na ponta, que é o que está acontecendo hoje.”

O sucesso das escolhas e resultados do apoio da UPG da Secretaria de Saúde do Ceará foi tão grande que Danielle foi convidada a escrever um artigo para o livro “Boas Práticas de Compras Públicas”, do CONSAD (Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração), e a palestrar no Seminário Internacional da organização.

Porém, no momento de implantação, o projeto foi alvo de muitas críticas. Segundo a coordenadora, principalmente porque existe um “vício” de ter os médicos a frente dos hospitais, mesmo que não tenham conhecimento de gestão. “Ao pensar nesse modelo lá atrás, era para que o médico ficasse mais livre para fazer a assistência.”

“Eles [os médicos] muitas vezes reclamavam que ficavam atribulados com as questões burocráticas. A burocracia no poder público é enorme; e precisa ser. Se o médico que estudou para salvar vidas está perdendo tempo com questões administrativas, tem alguma coisa errada.”

Acreditação da rede de saúde do Ceará

“O primeiro Centro Odontológico [CEO] acreditado no Brasil foi no Ceará”, conta, com orgulho, a administradora. “Acreditação é um selo de qualidade e é muito expressivo na área da saúde, é muito além do certificado de qualidade, se estende ao compromisso com a segurança do paciente.”

O motivo maior do seu orgulho é que o processo foi realizado inteiramente por sua equipe – no início, organizada em um grupo de cinco pessoas que viajavam pelo estado. “Terminar [de acreditar] todas as policlínicas e CEOs é compromisso do programa. Inserimos um indicador a mais e vamos iniciar o processo de acreditação do SAMU”, destaca Danielle.

 

 

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